Difference between revisions of "Camões - 500 Anos"

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Canção X
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vinde cá, meu tão certo secretário
 
dos queixumes que sempre ando fazendo,
 
papel, com que a pena desafogo!
 
As sem-razões digamos que, vivendo,
 
me faz o inexorável e contrário
 
Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
 
Deitemos água pouca em muito fogo;
 
acenda-se com gritos um tormento
 
que a todas as memórias seja estranho.
 
Digamos mal tamanho
 
a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento,
 
a quem já muitas vezes o contei,
 
tanto debalde como o conto agora;
 
mas, já que para errores fui nascido,
 
vir este a ser um deles não duvido.
 
Que, pois já de acertar estou tão fora,
 
não me culpem também, se nisto errei.
 
Sequer este refúgio só terei:
 
falar e errar sem culpa, livremente.
 
Triste quem de tão pouco está contente!
 
 
 
Já me desenganei que de queixar-me
 
não se alcança remédio; mas quem pena,
 
forçado lhe é gritar se a dor é grande.
 
Gritarei; mas é débil e pequena
 
a voz para poder desabafar-me,
 
porque nem com gritar a dor se abrande.
 
Quem me dará sequer que fora mande
 
lágrimas e suspiros infinitos
 
iguais ao mal que dentro n'alma mora?
 
Mas quem pode algü'hora
 
medir o mal com lágrimas ou gritos?
 
Enfim, direi aquilo que me ensinam
 
a ira, a mágoa, e delas a lembrança,
 
que é outra dor por si, mais dura e firme.
 
Chegai, desesperados, para ouvir-me,
 
e fujam os que vivem de esperança
 
ou aqueles que nela se imaginam,
 
porque Amor e Fortuna determinam
 
de lhe darem poder para entenderem,
 
à medida dos males que tiverem.
 
 
 
Quando vim da materna sepultura
 
de novo ao mundo, logo me fizeram
 
Estrelas infelices obrigado;
 
com ter livre alvedrio, mo não deram,
 
que eu conheci mil vezes na ventura
 
o milhor, e pior segui, forçado.
 
E, para que o tormento conformado
 
me dessem com a idade, quando abrisse
 
inda minino, os olhos, brandamente,
 
manda que, diligente,
 
um Minino sem olhos me ferisse.
 
As lágrimas da infância já manavam
 
com üa saudade namorada:
 
o som dos gritos, que no berço dava.
 
já como de suspiros me soava.
 
Co a idade e Fado estava concertado;
 
porque quando, por caso, me embalavam,
 
se versos de Amor tristes me cantavam,
 
logo m adormecia a natureza,
 
que tão conforme estava co a tristeza.
 
 
 
Foi minha ama üa fera, que o destino
 
não quis que mulher fosse a que tivesse
 
tal nome para mim; nem a haveria.
 
Assi criado fui, porque bebesse
 
o veneno amoroso, de minino,
 
que na maior idade beberia,
 
e. por costume, não me mataria.
 
Logo então vi a imagem e semelhança
 
daquela humana fera tão fermosa,
 
suave e venenosa,
 
que me criou aos peitos da esperança;
 
de quem eu vi despois o original,
 
que de todos os grandes desatinos
 
faz a culpa soberba e soberana.
 
Parece-me que tinha forma humana,
 
mas cintilava espíritos divinos.
 
Um meneio e presença tinha tal
 
na vista dela; a sombra, co a viveza,
 
excedia o poder da Natureza.
 
  
 
=Elegias=
 
=Elegias=

Revision as of 12:35, 14 November 2024

LEITURAS DE CAMÕES no Agr. Tomás Cabreira - 2024/2026

Wiki e Podcast EM CONSTRUÇÃO

Contents

Leituras de Camões

 Leituras de Camões - Apresentação.

Lusíadas

 Leituras de estrofes escolhidas.

Sonetos

 Sonetos escolhidos.

Alegres campos, verdes arvoredos

 Alegres campos, verdes arvoredos.

Alma minha gentil, que te partiste

 Alma minha gentil, que te partiste.

Amor é um fogo que arde sem se ver

 Amor é um fogo que arde sem se ver (também com Amália Rodrigues).

Aquela triste e leda madrugada

 Aquela triste e leda madrugada.

Cristo atado à coluna

 Cristo atado à coluna (Soneto atribuído a Camões por Nuno Júdice).

Ah minha Dinamene! Assim deixaste

 Ah minha Dinamene! Assim deixaste.

Quando de minhas mágoas a comprida (Dinamene 2)

 Quando de minhas mágoas a comprida (Dinamene 2).

De tão divino acento e voz humana

 De tão divino acento e voz humana.

Depois que quis amor Amor que eu só passasse

 Depois que quis amor Amor que eu só passasse.

==Erros meus, má fortuna, amor ardente==]

 Erros meus, má fortuna, amor ardente (também com Amália).

==Eu cantarei de amor tão docemente==]

 Eu cantarei de amor tão docemente.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

 Mudam-se os tempos, mudam-se as vontade.

O céu a terra, o vento sossegado...

 O céu a terra, o vento sossegado...

O dia em que nasci morra e pereça

 O dia em que nasci morra e pereça.

Passo por meus trabalhos tão isento

 Passo por meus trabalhos tão isento.

Pois meus olhos não cansam de choram

 Pois meus olhos não cansam de choram.

Quem diz que amor é falso ou enganoso

 Quem diz que amor é falso ou enganoso.

Quem quiser ver d'Amor ua excelência

 Quem quiser ver d'Amor ua excelência.

Sete anos de pastor Jacob servia

 Sete anos de pastor Jacob servia.

Transforma-se o amador na cousa amada

 Transforma-se o amador na coisa amada.

Um mover de olhos, brando e piedoso

 Um mover de olhos, brando e piedoso.

Redondilhas

 Redondilhas escolhidos.

Aquela Cativa

 Aquela Cativa.

De Alma e de Quanto Tiver

 De Alma e de Quanto Tiver.

Descalça Vai Para a Fonte

 Descalça Vai Para a Fonte.

Os bons vi sempre passar -

 Esparsa ao Desconcerto do Mundo 

Menina dos olhos verdes

 Menina dos olhos verdes.

Pastora da serra

 Pastora da serra.

Perdigão perdeu a pena

 Perdigão perdeu a pena.

Super Flumina

 Super Flumina

Verdes são os Campos

 Verdes são os Campos 

Canções

 Canção X - Vinde cá, meu tão certo secretário

Elegias

 Elegias escolhidas.

Éclogas

 Éclogas escolhidas.

Odes

 Odes escolhidas.

Teatro

 Teatro - excertos escolhidos.

Júlio Dantas e o Auto de El Rei Seleuco

  Peça de teatro adaptada por Júlio Dantas.

Auto dos Anfitriões

  Peça de teatro Auto dos Anfitriões.

José Afonso divulgador de Camões

 José Afonso musicou e cantou Camões.

Verdes são os Campos - José Afonso, Cuca Roseta e Salvador Sobral

 Verdes são os Campos (também com José Afonso e Salvador Sobral).

Camões e o Algarve

 Camões e o Algarve - Escolhas e adaptações de algarvios e publicações sobre Camões no Algarve:

Auto de El Rei Seleuco

  Peça de teatro adaptada por Júlio Dantas.

A cidade e o Mar na Poesia do Algarve

 7 estrofes escolhidas pelo poeta algarvio Fernando Cabrita.

Uma quarteirense que Camões amou

 Texto de Vilhena Mesquita no blogue Promontório da Memória.

A Avó Algarvia de Camões

  Texto de Ramiro Santos no Jornal do Algarve - 4/2/2022.

A Algarvia que é ascendente de Camões

  Texto de Nuno Campos Inácio

Cristo atado à coluna

 Cristo atado à coluna (Soneto atribuído a Camões por Nuno Júdice).

Origens algarvias de Camões

  Texto de Vilhena Mesquita no blogue Promontório da Memória.