Super Flumina - Redondilha - Luís de Camões
Psalm 137 in the Eadwine Psalter (12th century)
O Salmo 137 (136 de acordo com a numeração da Vulgata Católica e Grega ) é um dos salmos do livro de Salmos mais famoso . Ele é o único dos 150 salmos a evocar o exílio na Babilônia que se seguiu à captura de Jerusalém pelo rei da Babilônia Nabucodonosor em 586 AC. DC De acordo com a tradição rabínica, foi escrito pelo profeta Jeremias . Este salmo é chamado em latim Super flumina Babylonis , após a sua incipit . Foi musicado muitas vezes e também é encontrado na literatura.
Sôbolos rios que vão
SUPER FLUMINA ...
Sôbolos rios que vão
por Babilónia, m'achei,
onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei.
Ali o rio corrente
de meus olhos foi manado,
e tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
Ali, lembranças contentes
n'alma se representaram,
e minhas cousas ausentes
se fizeram tão presentes
como se nunca passaram.
Ali, despois de acordado,
co rosto banhado em água,
deste sonho imaginado,
vi que todo o bem passado
não é gosto, mas é mágoa.
E vi que todos os danos
se causavam das mudanças
e as mudanças dos anos;
onde vi quantos enganos
faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
quão pouco espaço que dura,
o mal quão depressa vem,
e quão triste estado tem
quem se fia da ventura.
Vi aquilo que mais val,
que então se entende milhor
quanto mais perdido for;
vi o bem suceder mal,
e o mal, muito pior.
E vi com muito trabalho
comprar arrependimento;
vi nenhum contentamento,
e vejo-me a mim, que espalho
tristes palavras ao vento.
O poeta, sentado à beira de rios que simbolizam o exílio na Babilónia, lamenta o passado feliz em Sião. Ele reflete sobre a transitoriedade da vida, como as mudanças do tempo trazem dor e arrependimento, e percebe que o bem perdido se transforma em mágoa. Camões conclui que a felicidade é breve, o sofrimento inevitável, e confiar na sorte é um erro, restando-lhe apenas palavras lançadas ao vento.
- Para saber mais:
(...)
Este poema de Camões é uma meditação profundamente melancólica sobre o tempo, a perda e a desilusão da vida. Inspirado no Salmo 137 ("Super flumina Babylonis"), o poeta reflete sobre as saudades de um passado melhor e as dores do presente, traçando paralelos entre a condição dos exilados judeus em Babilônia e a sua própria experiência de sofrimento e saudade.
Principais temas e ideias:
1. Saudade e nostalgia: O rio Babilónico simboliza o presente doloroso, enquanto Sião representa o passado feliz. O eu lírico, ao lembrar-se do que perdeu, experimenta uma saudade que transforma antigos prazeres em mágoas.
2. A fragilidade do tempo e das mudanças: O poema enfatiza como o tempo destrói esperanças e transforma o que era bom em sofrimento. O poeta percebe que o maior bem é valorizado apenas quando perdido.
3. Desilusão com a vida: O eu lírico conclui que o tempo traz enganos, a felicidade é breve, e confiar na sorte leva a um estado miserável. Mesmo as lições adquiridas vêm com arrependimento e dor.
4. Inutilidade do lamento: No final, o poeta reconhece que suas reflexões e palavras são "tristes palavras ao vento", simbolizando a impotência diante das forças implacáveis do tempo e da mudança.
5. Conclusão:
O poema é uma obra-prima do lirismo camoniano, explorando temas universais como a transitoriedade da vida e a inutilidade de lutar contra as mudanças inevitáveis. A escrita expressa uma profunda tristeza existencial, mas também uma aceitação resignada da condição humana.
In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000163.pdf