Descalça Vai Para a Fonte - Redondilha - Luís de Camões

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Descalça vai para a fonte

MOTE

Descalça vai para a fonte
Leanor pela verdura;
vai fermosa, e não segura.

VOLTAS

Leva na cabeça o pote,
o testo nas mãos de prata,
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
traz a vasquinha de cote,
mais branca que a nove pura;
vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
cabelos d'ouro o trançado,
fita, de cor d'encarnado,
tão linda que o mundo espanta;
chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura


Vilancete de duas voltas, construídas sobre três versos de um "cantar velho". O pequeno poema, que é um dos mais célebres da Líirica de cam~oes, deve a sua sorte à simplicidade e à nitidez da descrição.
Neste poema, o eu lírico descreve Leanor, uma mulher que caminha descalça até a fonte, de forma graciosa e cheia de beleza. Ele destaca sua vestimenta delicada e refinada, como o pote que ela carrega na cabeça, o cinto de escarlata, o sainho de chamalote, e a touca que descobre a garganta, com cabelos dourados trançados. Sua beleza é tão impressionante que "dá graça à fermosura", e a descrição transmite a ideia de que sua presença é encantadora e até espanta o mundo. A repetição da frase "vai fermosa, e não segura" enfatiza a sua beleza imbatível e a confiança natural com que ela se move, como se fosse impossível conter seu brilho e charme.