Uma quarteirense que Camões amou

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== UMA QUARTEIRENSE QUE CAMÕES AMOU ==

José Carlos Vilhena Mesquita In:
https://algarvehistoriacultura.blogspot.com/2010/03/uma-quarteirense-que-camoes-amou.html

Em 1980 assinalou-se o 4º Centenário da morte do maior vate da Língua portuguesa. Porém, perdeu-se então a oportunidade de, através de uma singela placa evocativa, se perpetuar a existência no Algarve da casa que foi berço a D. Francisca de Aragão, considerada como a musa inspiradora dos Lusíadas. O edifício, na praia de Quarteira, denominada «Estalagem da Cegonha», foi, no século XVI, residência de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro e vedor da Fazenda do Algarve, pai da «loira, viva, esperta e azougada» Francisca de Aragão.
Foi nessa vetusta casa apalaçada do morgadio dos Barretos, que nasceu a formosa Francisca de Aragão, que viria a ser figura de proa nas cortes de Portugal e de Espanha. Trata-se de um assunto pouco conhecido sobre uma jovem algarvia, originária da distinta família dos Barretos, que pontificou na corte portuguesa nos finais do século XVI, no período de transição da perda da nacionalidade para a dominação filipina, cuja descendência foi também eminente na vizinha Espanha.
(...)
Curioso se torna assinalar que a formosa Francisca de Aragão tinha ascendência régia, pois que era filha de D.' Leonor de Mila e neta de D. Afonso de Aragão, mestre de Calatrava e duque de Villahermosa, reconhecido como filho bastardo de D. João II, rei de Aragão. Mas, pelo lado paterno as suas raízes não eram menos importantes, na medida em que seu pai (irmão do célebre D. Francisco Barreto que se notabilizou como vice-rei da Índia) era sobrinho de D. Isabel de Melo Barreto e Menezes, mãe de D.' Leonor de Castro, dama de honor da imperatriz D. Isabel, que casou com D. Francisco de Borja, 4.° Duque de Gandia, que após enviuvar ingressou na Companhia de Jesus. A sua eloquência e bondade de alma haveriam de fazê-lo chegar à mais alta dignidade da Companhia, ao leme da qual viria a falecer com fama e cheiro de santidade, sendo por isso canonizado, no século seguinte, pela Igreja.
Descendente de reis e de santos, D.' Francisca de Aragão prontamente reclamou o seu lugar na corte, para onde partiu com apenas doze ou treze anos, ficando desde logo ao serviço da rainha D. Catarina, esposa de D. João III. Com o decorrer dos anos, veio esta criança a transformar-se na mais bela dama da corte, ofuscando com a sua beleza a própria infanta D. Maria, sendo por isso fervorosamente adulada pelos poetas do seu tempo que, inclusivamente, lhe dedicaram algumas das melhores composições do nosso cancioneiro geral.
(...)
(...) ficou célebre o mote que D.' Francisca ofertou ao galante Luís Vaz de Camões, cujo génio poético já ecoava pelos corredores do Paço, e que se resume a esta simples frase: «Mas, porém a que cuidados?».
O temperamental e fogoso «Trinca Fortes» (alcunha popular do poeta), para fazer valer a sua fama de inspirado versejador, devolveu-lhe o mote glosado de três formas diferentes, das quais não podemos escusar-nos a transcrever aquela que mais nos pareceu identificada com ambos:

«Se as penas que o amor me deu
Vêm por tão suaves meios,
Não há que temer receios;
Que vale um cuidado meu
Por mil descansos alheios?
Tens uns olhos tão formosos
Os sentidos enlevados
Bem sei que em baixos estados
São cuidados perigosos,
Mas, porém, a que cuidados?

(...) Efetivamente, tal como afirma o Dr. Mário Lyster Franco, «a mais alta figura feminina do Paço rendeu-se aos galanteios do Poeta, entretendo e mantendo com ele, não talvez um amor material e arrebatado, propriamente dito, mas ua "terna amizade-amorosa" na feliz expressão de Júlio Dantas, um amor misto de adoração, de admiração e de ternura, que o acompanhou durante sucessivos anos e que, pela unção espiritual que principalmente o caracteriza, constitui urna das mais belas páginas da vida atribulada de Camões».
Esta afectuosa amizade com Camões deveria ter início por alturas do seu regresso de Ceuta, talvez na segunda metade do ano de 1551 e durou até à sua detenção na cadeia do Tronco a 16 de Junho de 1552, por ter brigado com Gonçalo Borges.
(...)

(artigo publicado na revista «Património e Cultura», Ano II, n.° 8, Dezembro de 1982, pp. 10-11 )


Edificada no século XVI, a Estalagem da Cegonha é um edifício emblemático situado à entrada de Vilamoura, Loulé, no distrito de Faro, que era a casa senhorial do Morgado de Quarteira e que, segundo os registos, foi visitada por Dom Sebastião em 1573.

“Os terrenos da Estalagem da Cegonha têm particular relevância por se tratar da casa senhorial do antigo Morgado de Quarteira, adquirida no final dos anos 60 do século passado por Cupertino de Miranda, visto como o primeiro visionário de Vilamoura”, apontou o diretor executivo da Arrow Global Portugal, João Bugalho, citado no comunicado.

https://eco.sapo.pt/2023/10/17/arrow-global-investe-90-milhoes-na-estalagem-da-cegonha-em-vilamoura/


Casa Senhorial da Quinta de Quarteira / Estalagem da Cegonha IPA.00036344 Portugal, Faro, Loulé, Quarteira

Casa do antigo morgado de Quarteira, construída no séc. 16, ampliada posteriormente e adaptada a instalação hoteleira. Atualmente apresenta planta irregular, composta por vários corpos articulados e de coberturas diferenciadas, o da zona mais antiga em L, formando pátio central. As fachadas evoluem em dois pisos, com vários elementos sublinhados a ocre e rasgadas por janelas retilíneas. A fachada principal, virada a nascente, revela diferença na modinatura dos vãos e no remate, criando como que dois falsos panos, certamente resultantes da ampliação ou fases construtivas de épocas distintas. No pano da direita, abre-se portal quinhentista, em arco apontado, biselado, e, no segundo piso, quase ao centro da fachada, óculo polilobado. Ao longo do piso térreo dispõem-se argolas de prisão, em ferro, sobre azulejos, e, no pano esquerdo, pequena sineira.

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=36344