A Avó Algarvia de Camões

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Ramiro Santos - A Avó Algarvia de Camões

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Ramiro Santos nasceu numa pequena aldeia do Alentejo, cresceu em África de onde trouxe a luz do Índico, e vive no Algarve respira dos dias azuis e a claridade. Jornalista profissional durante uma vida. A rádio foi a sua casa primordial.


A Avó Algarvia de Camões
Artigo de Ramiro Santos publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul, sobre as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões, publicado em Fevereiro, 2022


É a avó algarvia de Camões. Chamava-se Guiomar Vaz da Gama, casada com Antão Vaz de Camões, e era parente dos Gamas do Algarve. A ligação familiar está documentada, mas continuam a pairar no ar perguntas sem respostas. Por exemplo: quem foram os pais de Guiomar ou que tipo e grau de parentesco tinha ela com a família do almirante da Índia? O que se sabe é apenas o que dizem os primeiros biógrafos do poeta, Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria. (…)
E tudo se resume a isto: que “Antão Vaz de Camões casou com Guiomar Vaz da Gama, parente dos Gamas do Algarve, vindos do Alentejo, da família do grande navegador”. Uma versão que foi sendo replicada sucessivamente por outros historiadores e genealogistas ao longo dos séculos. Sem um ponto a mais, a narrativa ficou assim parada no tempo. Como dizia Faria de Sousa, “quien lo entendiere mejor me lo diga”.
Que os Gamas passaram do Alentejo para o Algarve e por cá deixaram descendência, é um dado adquirido. O mais notável deles, Vasco da Gama, de família com origens em Sines e na Vidigueira, casou com Catarina de Ataíde, uma algarvia filha de Álvaro de Ataíde, alcaide mor de Alvôr. O primeiro a colocar o nome de Guiomar como avó de Camões, e a ligação desta a Vasco da Gama, foi Pedro Mariz, numa edição de Os Lusíadas de 1613, comentada por Manuel Correia. Um e outro foram contemporâneos de Luís de Camões e o último seu amigo pessoal, “persona de credito e de la idade do poeta e su amigo”, como diz Mariz. Ninguém como eles e M. Severim de Faria, estaria em melhor posição para o afirmar com tal propriedade.
À excepção do que eles disseram – mesmo com algumas imprecisões -, muitos aspetos da vida do épico português persistem envoltos em nuvens de fumo que têm levado ao engano e, não raras vezes, a muitas fantasiosas efabulações. Mas graças a eles, há coisas que são hoje pacificamente aceites: Luís Vaz de Camões era descendente direto de Vasco Pires de Camões, seu trisavô, fidalgo galego que passou a Portugal ao serviço do rei D. Fernando, onde ganhou fama e fortuna. Mais tarde, por ter alinhado ao lado de Castela contra D. João I, em Aljubarrota, caiu em desgraça, foi feito prisioneiro e tudo perdeu.

  • Pode ler o artigo na íntegra no link seguinte:

https://postal.pt/edicaopapel/a-avo-algarvia-de-camoes/#goog_rewarded

  • Síntese dos temas tratados no artigo em causa


O texto explora as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões com o Algarve. Sugere que o poeta, além de descendente direto dos Gamas algarvios, manteve relações importantes com figuras influentes da região, como a família Barreto e os Castelo Branco. Apesar das incertezas documentais, o Algarve parece ter desempenhado um papel significativo na vida e na obra de Camões.
Camões era neto de Guiomar Vaz da Gama, que foi casada com Antão Vaz de Camões. Guiomar era parente dos Gamas do Algarve, relacionados a Vasco da Gama.
Segundo Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria, Guiomar pertencia à família dos Gamas que migraram do Alentejo para o Algarve.
Há especulações genealógicas sobre Guiomar ser filha de Aires da Gama e Mecia Alves Garcia (Bocanegra), conectando-a diretamente ao trisavô de Vasco da Gama. Isso faria de Camões e Vasco da Gama primos em terceiro grau.

Relações de Camões com Personalidades Algarvias
Camões possivelmente manteve ligações com figuras influentes do Algarve, como Rui Pereira da Silva, alcaide-mor de Silves, e seus descendentes, Jorge da Silva, companheiro de Camões em Lisboa.
A ligação de Camões à Ribeira de Boina (Portimão) também é mencionada. O local pertencia a Isabel Coutinho, filha do bispo de Silves, com possíveis laços familiares com Camões.

Ligação com o Poeta Martinho de Castelo Branco
Nuno Campos Inácio, na sua obra História do Condado de Vila Nova de Portimão, sugere que Camões pode ter acompanhado Martinho de Castelo Branco, filho de Francisco de Castelo Branco, senhor de Portimão. Existe uma prova documental: um exemplar de Os Lusíadas foi encontrado entre os bens de Martinho após sua morte em Alcácer Quibir, indicando uma provável amizade entre os dois.

Relação Amorosa com Francisca de Aragão
Camões teria dedicado poemas a Francisca de Aragão, filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro, e senhor de Quarteira. Francisca era ligada à elite do Algarve e à corte portuguesa.
Essa relação amorosa pode ter contribuído para as intrigas e dificuldades enfrentadas por Camões em sua vida.

Intrigas na Índia e Sofrimento Pessoal
Camões teve conflitos com a família Barreto na Índia, particularmente com Francisco Barreto, governador, e Pedro Barreto, governador de Sofala. Esses conflitos resultaram no exílio de Camões em Macau e dificuldades financeiras em Moçambique.

Presença no Algarve Antes do Exílio
Há relatos de que Camões passou pelo Algarve antes de partir para a África, particularmente em Portimão. Teófilo Braga menciona a Ribeira de Boina, que Camões teria descrito em versos.


Ramiro Santos - A namorada algarvia de Camões

  • Alguns excertos:


Era a mais nova e mais bonita entre todas as donzelas que desfilavam nos paços da Ribeira. Foi ali, naquele salão, junto ao Tejo, que se cruzaram os olhares de Dª Francisca de Aragão e de Camões. Ele, o príncipe dos poetas e ela, uma algarvia acabada de chegar da sua terra natal. Foi um amor vibrante cantado em sonetos e redondilhas. Mas que não passou de uma paixão inconseguida!


Atiravam-se poemas ao vento. Os paços da Ribeira eram, por esses anos, palco de amores e galanteios. Por ali desfilavam as mais belas donzelas da corte e fidalgos que as cantavam em rimas e versos. Daquelas janelas, avistava-se o rio, as naus e as caravelas cheias de contos e aventuras. Traziam notícias da Índia, do Brasil, do Japão, da Malásia e do Mar da China. Ali chegava o cheiro da pimenta, do cravo e da canela. Mais o oiro, escravos e marfim, as porcelanas e mais as sedas.


No meio de bisbilhotices e intrigas, certa vez, tinha o poeta regressado de Ceuta onde perdera o olho direito, Francisca, provocadora, para mostrar um desinteresse que não tinha, atirou-lhe com o defeito à cara, chamando-lhe “o cara sem olho”. Não perdeu pela demora e teve do poeta resposta pronta:
De olhos não faço menção,
Pois quereis que olhos não sejam:
Vendo-vos, olhos sobejam;
Não vos vendo, olhos não são.
E houve trocas de cartas e repetiram-se os motes e as glosas, os sonetos e as canções. Mil cumplicidades partilhadas pelos dois, mas pouco mais do que um devaneio poético.

Pode ler o artigo completo:
https://postal.pt/edicaopapel/a-namorada-algarvia-de-camoes/