Aquela Cativa - Redondilha - Luís de Camões
Endechas- Composição poética, fúnebre ou triste, geralmente em quadras de cinco ou seis sílabas.
Endechas a uma cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbara
Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.
üa graça viva,
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha;
bem parece estranha,
mas bárbara não.
Presença serena
que a tormenta amansa;
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva.
Madrigal a uma cativa (escrava) pela qual o Poeta se diz cativo (de amor). Pela sua simplicidade e graciosidade é uma das mais conhecidas poesias de Camões e tem ocupado muito a atenção dos biógrafos para saber quem era esta Bárbara.
In:
Camões, Luís. Lírica Completa I. Prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1980
Neste poema, o eu lírico descreve sua amada, que, apesar de ser "cativa" dele, também é dona de seu coração, mantendo-o preso ao seu encanto. Ele fala de sua beleza única, especialmente de seus olhos sossegados e cabelos pretos, que, embora os outros possam achar que o loiro seja mais belo, para ele são incomparáveis. O amor que sente por ela é descrito como uma "pretidão de Amor", algo doce e envolvente, que transforma sua tristeza em calma. Sua presença é capaz de "amansar a tormenta", dando-lhe paz. A amada, apesar de ser descrita como algo "estranha", é perfeita para ele, e o poeta se vê completamente cativo de sua beleza e presença serena.