Menina dos olhos verdes - Redondilha - Luís de Camões

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In: Livro destacado pelo Juri do Prémio Nacional de Ilustração de 2009 pela criatividade e originalidade das ilustrações. Poesia de Luís Camões para todos, ilustrada por Ana Biscaia, seleção e organização de José António Gomes, Porto Editora, Porto, 2009;

Menina dos olhos verdes


MOTE ALHEIO

'Menina dos olhos verdes,
porque me não vedes?


VOLTAS PRÓPRIAS

Eles verdes são,
e têm por usança
na cor, esperança
e nas obras, não.
Vossa condição
não é d'olhos verdes,
porque me não vedes.

Isenções a molhos
que eles dizem terdes,
não são d'olhos verdes,
nem de verdes olhos.
Sirvo de giolhos,
e vós não me credes
porque me não vedes.

Haviam de ser,
porque possa vê-los,
que uns olhos tão belos
não se hão-de esconder;
mas fazeis-me crer
que já não são verdes,
porque me não vedes.

Verdes não o são
no que alcanço deles;
verdes são aqueles
que esperança dão.
Se na condição
está serem verdes,
porque me não vedes?

Neste poema, o eu lírico dirige-se à amada, cujos olhos verdes simbolizam esperança, mas que, paradoxalmente, não lhe concedem a atenção desejada. Ele questiona a contradição entre a cor dos olhos, tradicionalmente associada à esperança, e a indiferença que ela demonstra.
O poeta reflete sobre a "isenção" e distância emocional da amada, ressaltando que, embora seus olhos verdes sejam belos, eles não trazem a promessa ou a reciprocidade esperada. Ele insiste que, se fossem realmente "verdes", como diz a tradição, ofereceriam a ele ao menos um vislumbre de esperança.
O refrão repetido "porque me não vedes" reforça a angústia do amante rejeitado, enquanto ele conclui que os olhos não são verdadeiramente verdes na essência, pois faltam a eles a compaixão e o olhar que ele tanto almeja.