Perdigão perdeu a pena - Redondilha - Luís de Camões

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Perdigão perdeu a pena


CANTIGA ALHEIA


Perdigão perdeu a pena,
não há mal que lhe não venha:

VOLTAS

Perdigão, que o pensamento
subiu em alto lugar,
perde a pena do voar,
ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
asas, com que se sustenha:
não há mal que lhe não venha.

Quis voar a üa alta torre
mas achou-se desasado;
e, vendo-se depenado,
de puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
lança no fogo mais lenha:
não há mal que lhe não venha.

Esta cantiga usa a figura do perdigão, um pássaro, como metáfora para alguém que aspirou a algo elevado ou inalcançável e, ao falhar, perdeu tudo, incluindo as forças para continuar. Ao tentar voar para uma "alta torre", símbolo de ambição ou desejo, o perdigão perde suas penas, que representam tanto sua liberdade quanto sua capacidade de superar obstáculos.
Sem asas para sustentar-se, o perdigão fica preso ao tormento e à impotência, incapaz de alcançar seus sonhos ou mesmo de voltar ao estado anterior. A repetição do refrão "não há mal que lhe não venha" enfatiza o acúmulo de sofrimentos que acompanha a perda, sugerindo uma visão fatalista.
A cantiga reflete sobre a fragilidade humana diante de desejos elevados, alertando para as consequências de ambições que superam as capacidades, ou sobre a tristeza de quem, após falhar, vê-se imerso em dores ainda maiores.