Ah minha Dinamene! Assim deixaste - Soneto - Luís de Camões
JOSÉ DE GUIMARÃES (n.1939) - Ilustração sobre papel, motivo "Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste…", mancha colorida de 30x20 cm, moldura em madeira pintada com 47x39 cm. Esta composição pertence a uma edição da obra "Variações Camonianas", da Imprensa Nacional Casa da Moeda, de 1981. Nota: José de Guimarães é uma figura cimeira da pintura neo-realista e está representado nos mais importantes Museus Nacionais e Internacionais, como por exemplo, o Centro de Arte Rockfeller em Nova Iorque.
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!
Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!
Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?
O poema expressa a profunda dor do eu lírico pela perda de sua amada Dinamene, que morreu prematuramente. Ele lamenta a separação definitiva e questiona o destino, o mar e a morte, que o privaram até mesmo de uma despedida. O sofrimento causado por essa perda é tão intenso que nenhuma tristeza parece suficiente para expressar sua desolação.
Indicações para leitura em voz alta
Entoação emotiva: Destacar a melancolia e o lamento nos versos iniciais, especialmente em "Ah! minha Dinamene!" e "Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!".
Pausas dramáticas: Respeite as vírgulas e o ritmo natural dos versos para realçar o peso emocional.
Ênfase em palavras-chave: Dê ênfase a palavras como "vida", "morte", "triste", "sorte", que carregam o tema central do poema.
Tom reflexivo: Na última estrofe, adote um tom mais introspetivo e sombrio, refletindo a intensidade da tristeza.
Clareza na articulação: As palavras mais arcaicas ou menos usuais devem ser bem pronunciadas, como "Dinamene" e "asinha".
*Para saber mais:
1. Dinamene
Nome da mulher amada e para sempre perdida, evocada por Camões em sonetos como "Ah! Minha Dinamene, assim deixaste" ou "Quando de minhas mágoas a comprida". Identificada, segundo uma tradição biográfica de contornos mais lendários do que históricos, com uma jovem chinesa que teria perecido num naufrágio, no rio Mecom, são várias as interpretações que têm sido levantadas quanto à identidade deste nome, inclusivamente a de que corresponderia ao nome de uma das ninfas do mar, a que se referem vários escritores da Antiguidade. No âmbito da lírica camoniana, as composições em memória de Dinamene integram um ciclo de sonetos onde a expressão do amante exilado, pela morte no mar da mulher amada, é o ponto de partida para a exploração pungente das dialéticas temáticas amor/morte e ausência/presença.
In: Porto Editora – Dinamene na Infopédia. Porto: Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/$dinamene