Difference between revisions of "Camões - 500 Anos"

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Vinde cá, meu tão certo secretário
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Destino, surdo a lágrimas e a rogo.
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Deitemos água pouca em muito fogo;
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acenda-se com gritos um tormento
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que a todas as memórias seja estranho.
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a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento,
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a voz para poder desabafar-me,
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porque nem com gritar a dor se abrande.
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Quem me dará sequer que fora mande
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lágrimas e suspiros infinitos
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iguais ao mal que dentro n'alma mora?
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Mas quem pode algü'hora
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medir o mal com lágrimas ou gritos?
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Enfim, direi aquilo que me ensinam
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a ira, a mágoa, e delas a lembrança,
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que é outra dor por si, mais dura e firme.
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Chegai, desesperados, para ouvir-me,
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e fujam os que vivem de esperança
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ou aqueles que nela se imaginam,
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porque Amor e Fortuna determinam
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de lhe darem poder para entenderem,
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à medida dos males que tiverem.
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Quando vim da materna sepultura
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de novo ao mundo, logo me fizeram
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Estrelas infelices obrigado;
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com ter livre alvedrio, mo não deram,
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que eu conheci mil vezes na ventura
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o milhor, e pior segui, forçado.
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E, para que o tormento conformado
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me dessem com a idade, quando abrisse
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inda minino, os olhos, brandamente,
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manda que, diligente,
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um Minino sem olhos me ferisse.
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As lágrimas da infância já manavam
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com üa saudade namorada:
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o som dos gritos, que no berço dava.
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já como de suspiros me soava.
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Co a idade e Fado estava concertado;
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porque quando, por caso, me embalavam,
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se versos de Amor tristes me cantavam,
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logo m adormecia a natureza,
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que tão conforme estava co a tristeza.
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Foi minha ama üa fera, que o destino
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não quis que mulher fosse a que tivesse
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tal nome para mim; nem a haveria.
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Assi criado fui, porque bebesse
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o veneno amoroso, de minino,
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e. por costume, não me mataria.
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Logo então vi a imagem e semelhança
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daquela humana fera tão fermosa,
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suave e venenosa,
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que me criou aos peitos da esperança;
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de quem eu vi despois o original,
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que de todos os grandes desatinos
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faz a culpa soberba e soberana.
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Parece-me que tinha forma humana,
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mas cintilava espíritos divinos.
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Um meneio e presença tinha tal
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na vista dela; a sombra, co a viveza,
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Revision as of 12:31, 14 November 2024

LEITURAS DE CAMÕES no Agr. Tomás Cabreira - 2024/2026

Wiki e Podcast EM CONSTRUÇÃO

Contents

Leituras de Camões

 Leituras de Camões - Apresentação.

Lusíadas

 Leituras de estrofes escolhidas.

Sonetos

 Sonetos escolhidos.

Alegres campos, verdes arvoredos

 Alegres campos, verdes arvoredos.

Alma minha gentil, que te partiste

 Alma minha gentil, que te partiste.

Amor é um fogo que arde sem se ver

 Amor é um fogo que arde sem se ver (também com Amália Rodrigues).

Aquela triste e leda madrugada

 Aquela triste e leda madrugada.

Cristo atado à coluna

 Cristo atado à coluna (Soneto atribuído a Camões por Nuno Júdice).

Ah minha Dinamene! Assim deixaste

 Ah minha Dinamene! Assim deixaste.

Quando de minhas mágoas a comprida (Dinamene 2)

 Quando de minhas mágoas a comprida (Dinamene 2).

De tão divino acento e voz humana

 De tão divino acento e voz humana.

Depois que quis amor Amor que eu só passasse

 Depois que quis amor Amor que eu só passasse.

==Erros meus, má fortuna, amor ardente==]

 Erros meus, má fortuna, amor ardente (também com Amália).

==Eu cantarei de amor tão docemente==]

 Eu cantarei de amor tão docemente.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

 Mudam-se os tempos, mudam-se as vontade.

O céu a terra, o vento sossegado...

 O céu a terra, o vento sossegado...

O dia em que nasci morra e pereça

 O dia em que nasci morra e pereça.

Passo por meus trabalhos tão isento

 Passo por meus trabalhos tão isento.

Pois meus olhos não cansam de choram

 Pois meus olhos não cansam de choram.

Quem diz que amor é falso ou enganoso

 Quem diz que amor é falso ou enganoso.

Quem quiser ver d'Amor ua excelência

 Quem quiser ver d'Amor ua excelência.

Sete anos de pastor Jacob servia

 Sete anos de pastor Jacob servia.

Transforma-se o amador na cousa amada

 Transforma-se o amador na coisa amada.

Um mover de olhos, brando e piedoso

 Um mover de olhos, brando e piedoso.

Redondilhas

 Redondilhas escolhidos.

Aquela Cativa

 Aquela Cativa.

De Alma e de Quanto Tiver

 De Alma e de Quanto Tiver.

Descalça Vai Para a Fonte

 Descalça Vai Para a Fonte.

Os bons vi sempre passar -

 Esparsa ao Desconcerto do Mundo 

Menina dos olhos verdes

 Menina dos olhos verdes.

Pastora da serra

 Pastora da serra.

Perdigão perdeu a pena

 Perdigão perdeu a pena.

Super Flumina

 Super Flumina

Verdes são os Campos

 Verdes são os Campos 

Canções

 Canção escolhida - Vinde cá, meu tão certo secretário

Canção X



Vinde cá, meu tão certo secretário dos queixumes que sempre ando fazendo, papel, com que a pena desafogo! As sem-razões digamos que, vivendo, me faz o inexorável e contrário Destino, surdo a lágrimas e a rogo. Deitemos água pouca em muito fogo; acenda-se com gritos um tormento que a todas as memórias seja estranho. Digamos mal tamanho a Deus, ao mundo, à gente e, enfim, ao vento, a quem já muitas vezes o contei, tanto debalde como o conto agora; mas, já que para errores fui nascido, vir este a ser um deles não duvido. Que, pois já de acertar estou tão fora, não me culpem também, se nisto errei. Sequer este refúgio só terei: falar e errar sem culpa, livremente. Triste quem de tão pouco está contente!

Já me desenganei que de queixar-me não se alcança remédio; mas quem pena, forçado lhe é gritar se a dor é grande. Gritarei; mas é débil e pequena a voz para poder desabafar-me, porque nem com gritar a dor se abrande. Quem me dará sequer que fora mande lágrimas e suspiros infinitos iguais ao mal que dentro n'alma mora? Mas quem pode algü'hora medir o mal com lágrimas ou gritos? Enfim, direi aquilo que me ensinam a ira, a mágoa, e delas a lembrança, que é outra dor por si, mais dura e firme. Chegai, desesperados, para ouvir-me, e fujam os que vivem de esperança ou aqueles que nela se imaginam, porque Amor e Fortuna determinam de lhe darem poder para entenderem, à medida dos males que tiverem.

Quando vim da materna sepultura de novo ao mundo, logo me fizeram Estrelas infelices obrigado; com ter livre alvedrio, mo não deram, que eu conheci mil vezes na ventura o milhor, e pior segui, forçado. E, para que o tormento conformado me dessem com a idade, quando abrisse inda minino, os olhos, brandamente, manda que, diligente, um Minino sem olhos me ferisse. As lágrimas da infância já manavam com üa saudade namorada: o som dos gritos, que no berço dava. já como de suspiros me soava. Co a idade e Fado estava concertado; porque quando, por caso, me embalavam, se versos de Amor tristes me cantavam, logo m adormecia a natureza, que tão conforme estava co a tristeza.

Foi minha ama üa fera, que o destino não quis que mulher fosse a que tivesse tal nome para mim; nem a haveria. Assi criado fui, porque bebesse o veneno amoroso, de minino, que na maior idade beberia, e. por costume, não me mataria. Logo então vi a imagem e semelhança daquela humana fera tão fermosa, suave e venenosa, que me criou aos peitos da esperança; de quem eu vi despois o original, que de todos os grandes desatinos faz a culpa soberba e soberana. Parece-me que tinha forma humana, mas cintilava espíritos divinos. Um meneio e presença tinha tal na vista dela; a sombra, co a viveza, excedia o poder da Natureza.

Elegias

 Elegias escolhidas.

Éclogas

 Éclogas escolhidas.

Odes

 Odes escolhidas.

Teatro

 Teatro - excertos escolhidos.

Júlio Dantas e o Auto de El Rei Seleuco

  Peça de teatro adaptada por Júlio Dantas.

Auto dos Anfitriões

  Peça de teatro Auto dos Anfitriões.

José Afonso divulgador de Camões

 José Afonso musicou e cantou Camões.

Verdes são os Campos - José Afonso, Cuca Roseta e Salvador Sobral

 Verdes são os Campos (também com José Afonso e Salvador Sobral).

Camões e o Algarve

 Camões e o Algarve - Escolhas e adaptações de algarvios e publicações sobre Camões no Algarve:

Auto de El Rei Seleuco

  Peça de teatro adaptada por Júlio Dantas.

A cidade e o Mar na Poesia do Algarve

 7 estrofes escolhidas pelo poeta algarvio Fernando Cabrita.

Uma quarteirense que Camões amou

 Texto de Vilhena Mesquita no blogue Promontório da Memória.

A Avó Algarvia de Camões

  Texto de Ramiro Santos no Jornal do Algarve - 4/2/2022.

A Algarvia que é ascendente de Camões

  Texto de Nuno Campos Inácio

Cristo atado à coluna

 Cristo atado à coluna (Soneto atribuído a Camões por Nuno Júdice).

Origens algarvias de Camões

  Texto de Vilhena Mesquita no blogue Promontório da Memória.