Difference between revisions of "Redondilhas escolhidas"

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+
1.-[[Aquela Cativa - Redondilha - Luís de Camões | Aquela Cativa.]]<br />
'''Trovas'''<br />
+
2.-[[De Alma e de Quanto Tiver - Redondilha - Luís de Camões | De Alma e de Quanto Tiver.]]<br />
<br />
+
3.-[[Descalça Vai Para a Fonte - Redondilha - Luís de Camões | Descalça Vai Para a Fonte.]]<br />
'''''a uma cativa com quem andava de amores na Índia, chamada Bárbara'''''<br />
+
4.-[[Esparsa ao Desconcerto do Mundo - Redondilha - Luís de Camões | Esparsa ao Desconcerto do Mundo ]]<br />
<br />
+
5.-[[Menina dos olhos verdes - Redondilha - Luís de Camões | Menina dos olhos verdes.]]<br />
Aquela cativa,<br />
+
6.-[[Pastora da serra - Redondilha - Luís de Camões | Pastora da serra.]]<br />
que me tem cativo,<br />
+
7.-[[Perdigão perdeu a pena - Redondilha - Luís de Camões | Perdigão perdeu a pena.]]<br />
porque nela vivo<br />
+
8.-[[Super Flumina - Redondilha - Luís de Camões | Super Flumina]]<br />
já não quer que viva.<br />
+
9.-[[Verdes são os Campos - Redondilha - Luís de Camões. | Verdes são os Campos ]]<br />
em suaves molhos,<br />
 
que para meus olhos<br />
 
fosse mais fermosa.<br />
 
<br />
 
Nem no campo flores,<br />
 
nem no céu estrelas,<br />
 
me parecem belas<br />
 
como os meus amores.<br />
 
Rosto singular,<br />
 
olhos sossegados,<br />
 
pretos e cansados,<br />
 
mas não de matar.<br />
 
<br />
 
üa graça viva,<br />
 
que neles lhe mora,<br />
 
para ser senhora<br />
 
de quem é cativa.<br />
 
Pretos os cabelos,<br />
 
onde o povo vão<br />
 
perde opinião<br />
 
que os louros são belos.<br />
 
<br />
 
Pretidão de Amor,<br />
 
tão doce a figura,<br />
 
que a neve lhe jura<br />
 
que trocara a cor.<br />
 
Leda mansidão<br />
 
que o siso acompanha;<br />
 
bem parece estranha,<br />
 
mas bárbara não.<br />
 
<br />
 
Presença serena<br />
 
que a tormenta amansa;<br />
 
nela enfim descansa<br />
 
toda a minha pena.<br />
 
Esta é a cativa<br />
 
que me tem cativo,<br />
 
e, pois nela vivo,<br />
 
é força que viva.<br />
 
<br />
 
 
 
 
 
'''Cantiga''' a este mote alheio:<br />
 
<br />
 
'''''Menina dos olhos verdes,<br />
 
porque me não vedes?'''''<br />
 
 
 
<br />
 
'''VOLTAS'''<br />
 
<br />
 
Eles verdes são,<br />
 
e têm por usança<br />
 
na cor, esperança<br />
 
e nas obras, não.<br />
 
Vossa condição<br />
 
não é d'olhos verdes,<br />
 
porque me não vedes.<br />
 
<br />
 
Isenções a molhos<br />
 
que eles dizem terdes,<br />
 
não são d'olhos verdes,<br />
 
nem de verdes olhos.<br />
 
Sirvo de giolhos,<br />
 
e vós não me credes<br />
 
porque me não vedes.<br />
 
<br />
 
Haviam de ser,<br />
 
porque possa vê-los,<br />
 
que uns olhos tão belos<br />
 
não se hão-de esconder;<br />
 
mas fazeis-me crer<br />
 
que já não são verdes,<br />
 
porque me não vedes.<br />
 
<br />
 
Verdes não o são<br />
 
no que alcanço deles;<br />
 
verdes são aqueles<br />
 
que esperança dão.<br />
 
Se na condição<br />
 
está serem verdes,<br />
 
porque me não vedes? <br />
 
<br />
 
 
 
'''Cantiga''' a este mote:<br />
 
<br />
 
'''''Descalça vai para a fonte<br />
 
Leanor pela verdura;<br />
 
vai fermosa, e não segura.'''''<br />
 
<br />
 
'''VOLTAS'''<br />
 
<br />
 
Leva na cabeça o pote,<br />
 
o testo nas mãos de prata,<br />
 
cinta de fina escarlata,<br />
 
sainho de chamalote;<br />
 
traz a vasquinha de cote,<br />
 
mais branca que a nove pura;<br />
 
vai fermosa, e não segura.<br />
 
<br />
 
Descobre a touca a garganta,<br />
 
cabelos d'ouro o trançado,<br />
 
fita, de cor d'encarnado,<br />
 
tão linda que o mundo espanta;<br />
 
chove nela graça tanta<br />
 
que dá graça à fermosura;<br />
 
vai fermosa, e não segura<br />
 
<br />
 
 
 
'''Cantiga''' a esta cantiga alheia:<br />
 
<br />
 
'''''Pastora da serra,<br />
 
da serra da Estrela,<br />
 
perco-me por ela.'''''<br />
 
<br />
 
'''VOLTAS'''<br />
 
<br />
 
Nos seus olhos belos<br />
 
tanto Amor se atreve,<br />
 
que abrasa entre a neve<br />
 
quantos ousam vê-los.<br />
 
Não solta os cabelos<br />
 
Aurora mais bela:<br />
 
perco-me por ela.<br />
 
<br />
 
Não teve esta serra<br />
 
no meio da altura<br />
 
mais que a fermosura<br />
 
que nela se encerra.<br />
 
Bem céu fica a terra<br />
 
que tem tal estrela:<br />
 
perco-me por ela.<br />
 
<br />
 
Sendo entre pastores<br />
 
causa de mil males,<br />
 
não se ouvem nos vales<br />
 
senão seus louvores.<br />
 
Eu só por amores<br />
 
não sei falar nela:<br />
 
sei morrer por ela.<br />
 
<br />
 
De alguns que, sentindo,<br />
 
seu mal vão mostrando,<br />
 
se ri, não cuidando<br />
 
que inda paga, rindo.<br />
 
Eu, triste, encobrindo<br />
 
só meus males dela,<br />
 
perco-me por ela.<br />
 
<br />
 
Se flores deseja<br />
 
por ventura delas,<br />
 
das que colhe, belas,<br />
 
mil morrem de enveja.<br />
 
Não há quem não veja<br />
 
todo o milhor nela:<br />
 
perco-me por ela.<br />
 
<br />
 
Se na água corrente<br />
 
seus olhos inclina,<br />
 
faz luz cristalina<br />
 
parar a corrente.<br />
 
Tal se vê, que sente,<br />
 
por ver-se, água nela:<br />
 
perco-me por ela.<br />
 
<br />
 
 
 
'''Esparsa'''<br />
 
<br />
 
do Autor ao desconcerto do mundo<br />
 
Os bons vi sempre passar<br />
 
no mundo graves tormentos;<br />
 
e, para mais m'espantar,<br />
 
os maus vi sempre nadar<br />
 
em mar de contentamentos.<br />
 
Cuidando alcançar assim<br />
 
o bem tão mal ordenado,<br />
 
fui mau, mas fui castigado.<br />
 
Assim que, só para mim<br />
 
anda o mundo concertado<br />
 
<br />
 
 
 
'''Cantiga'''<br />
 
a esta cantiga alheia<br />
 
 
 
'''''Perdigão perdeu a pena,<br />
 
não há mal que lhe não venha:'''''<br />
 
<br />
 
'''VOLTAS'''<br />
 
<br />
 
Perdigão, que o pensamento<br />
 
subiu em alto lugar,<br />
 
perde a pena do voar,<br />
 
ganha a pena do tormento.<br />
 
Não tem no ar nem no vento<br />
 
asas, com que se sustenha:<br />
 
não há mal que lhe não venha.<br />
 
<br />
 
Quis voar a üa alta torre<br />
 
mas achou-se desasado;<br />
 
e, vendo-se depenado,<br />
 
de puro penado morre.<br />
 
Se a queixumes se socorre,<br />
 
lança no fogo mais lenha:<br />
 
não há mal que lhe não venha. <br />
 
<br />
 
 
 
 
 
'''CAMÕES E AS REDONDILHAS “BABEL E SIÃO”: A POESIA DO EXÍLIO''' – por Manuel Simões<br />
 
<br />
 
As redondilhas constituem, como se sabe, uma formosa paráfrase do salmo 137 do ”Livro dos Salmos” e apresentam uma estrutura que as divide em dois blocos (profano e sagrado)(...) <br />O texto camoniano é altamente polissémico e a sua descodificação não tem sido fácil. A controvérsia anda à volta da interpretação de Babilónia, Sião e Jerusalém, topónimos simbólicos que o poeta recupera do salmo. Começa a paráfrase, seguindo de perto a estrutura do salmo («Sôbolos rios que vão/ por Babilónia, m’achei», vv. 1-2). É, portanto, Babilónia («mal presente», v.9) o termo de comparação com outro tempo, outra realidade de crónica menos amarga. Ele próprio o diz de modo peremptório: «e tudo bem comparado,/ Babilónia ao mal presente,/ Sião ao tempo passado»  (vv.8-10). Sendo assim, Babilónia só pode ser referente de desamor e, como tal, conotado por metáforas de maldição. <br />Sião é, pelo contrário, o segundo termo de comparação, o «tempo passado» que se contrapõe ao «mal presente»: daí «as lembranças de Sião» do v. 4. Este topónimo tem sido largamente associado ao platonismo camoniano, à teoria da reminiscência, passando a ser símbolo do “Céu”.(...) <br />Babilónia e Sião parecem ser, pois, os indicadores de maior relevância para a interpretação global de “Sôbolos rios”.<br />
 
<br />
 
 
 
'''SUPER FLUMINA ...'''<br />
 
<br />
 
Sôbolos rios que vão<br />
 
por Babilónia, m'achei,<br />
 
onde sentado chorei<br />
 
as lembranças de Sião<br />
 
e quanto nela passei.<br />
 
Ali o rio corrente<br />
 
de meus olhos foi manado,<br />
 
e tudo bem comparado,<br />
 
Babilónia ao mal presente,<br />
 
Sião ao tempo passado.<br />
 
<br />
 
Ali, lembranças contentes<br />
 
n'alma se representaram,<br />
 
e minhas cousas ausentes<br />
 
se fizeram tão presentes<br />
 
como se nunca passaram.<br />
 
Ali, despois de acordado,<br />
 
co rosto banhado em água,<br />
 
deste sonho imaginado,<br />
 
vi que todo o bem passado<br />
 
não é gosto, mas é mágoa.<br />
 
<br />
 
E vi que todos os danos<br />
 
se causavam das mudanças<br />
 
e as mudanças dos anos;<br />
 
onde vi quantos enganos<br />
 
faz o tempo às esperanças.<br />
 
Ali vi o maior bem<br />
 
quão pouco espaço que dura,<br />
 
o mal quão depressa vem,<br />
 
e quão triste estado tem<br />
 
quem se fia da ventura.<br />
 
<br />
 
Vi aquilo que mais val,<br />
 
que então se entende milhor<br />
 
quanto mais perdido for;<br />
 
vi o bem suceder mal,<br />
 
e o mal, muito pior.<br />
 
E vi com muito trabalho<br />
 
comprar arrependimento;<br />
 
vi nenhum contentamento,<br />
 
e vejo-me a mim, que espalho<br />
 
tristes palavras ao vento.<br />
 
<br />
 
(...)
 
 
 
In:<br />
 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000163.pdf<br />
 

Latest revision as of 16:28, 20 November 2024

1.- Aquela Cativa.
2.- De Alma e de Quanto Tiver.
3.- Descalça Vai Para a Fonte.
4.- Esparsa ao Desconcerto do Mundo
5.- Menina dos olhos verdes.
6.- Pastora da serra.
7.- Perdigão perdeu a pena.
8.- Super Flumina
9.- Verdes são os Campos