Sonetos escolhidos2

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1.- Ah minha Dinamene! Assim deixaste.(Dinamene 1)
2.- Alegres campos, verdes arvoredos.
3.- Alma minha gentil, que te partiste.
4.- Amor é um fogo que arde sem se ver (também com Amália Rodrigues).
5.- Aquela triste e leda madrugada.
6.- Cristo atado à coluna (Soneto atribuído a Camões por Nuno Júdice).
7.- De tão divino acento e voz humana.
8.- Depois que quis amor Amor que eu só passasse.
9.- Erros meus, má fortuna, amor ardente (também com Amália).
10.- Eu cantarei de amor tão docemente.
11.- Mudam-se os tempos, mudam-se as vontade.
12.- O céu a terra, o vento sossegado...
13.- O dia em que nasci morra e pereça.
14.- Passo por meus trabalhos tão isento.
15.- Pois meus olhos não cansam de choram.
16.- Quando de minhas mágoas a comprida. (Dinamene 2)
17.- Quem diz que amor é falso ou enganoso.
18.- Quem quiser ver d'Amor ua excelência.
19.- Sete anos de pastor Jacob servia.
20.- Transforma-se o amador na coisa amada.
21.- Um mover de olhos, brando e piedoso.


PARA SABER MAIS

Alegres campos, verdes arvoredos

Alegres campos, verdes arvoredos, Claras e frescas águas de cristal, Que em vós os debuxais ao natural, Discorrendo da altura dos rochedos;

Silvestres montes, ásperos penedos, Compostos em concerto desigual, Sabei que, sem licença de meu mal, Já não podeis fazer meus olhos ledos.

E, pois me já não vedes como vistes, Não me alegrem verduras deleitosas, Nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes, Regando-vos com lágrimas saudosas, E nascerão saudades de meu bem.


  • Para saber mais:

1.-A natureza

A natureza é um espaço físico onde se projeta o estado de espírito do poeta. Concebida como locus amoenus, um espaço bucólico marcado pela verdura, pelo arvoredo denso, pelo policromatismo, pelos sons da água corrente e do canto dos pássaros, espelha a felicidade do sentimento amoroso e o equilíbrio espiritual, como ilustram “A fermosura desta fresca serra” ou “Alegres campos, verdes arvoredos”. A natureza é, todavia, também reflexo do desconcerto do poeta. De espaço de plena felicidade a enquadramento de sofrimento pungente, esta metamorfoseia-se em locus horridus, transformação anunciada nos versos «Semearei em vós lembranças tristes, / Regando-vos com lágrimas saudosas, / e nascerão saudades de meu bem». A natureza passa, assim, a ser vista como espaço de horror onde o sujeito projeta a sua tristeza e dor.


Aqui estão algumas sugestões para uma boa leitura em voz alta:

Este soneto tem uma grande carga emocional, refletindo a transição de um estado de felicidade para o sofrimento e a perda, com uma forte ligação com a natureza.

1. Tom e Ritmo O tom da leitura deve ser melancólico e introspetivo, refletindo a transformação emocional do eu lírico, que deixa de ver a beleza nas paisagens ao seu redor devido à dor da separação ou perda. O ritmo pode ser lento e ponderado, para dar ênfase ao lamento e à saudade expressos no poema.

Início (versos 1 a 4): O tom deve ser mais suave e fluido, refletindo a serenidade e a beleza das paisagens, como "Alegres campos", "verdes arvoredos". O ritmo pode ser mais suave e tranquilo, como se estivesse descrevendo um cenário encantador. Mudança emocional (versos 5 a 8): O tom começa a se tornar mais pesado e sombrio, à medida que o eu lírico revela que a beleza da natureza já não é capaz de alegrá-lo. Uma mudança no ritmo para algo mais lento e ponderado pode reforçar o lamento de perda. Clímax emocional (versos 9 a 12): Aqui, o eu lírico começa a semear "lembranças tristes" e fala sobre as "saudades de meu bem". O tom deve ser mais grave, com pausas dramáticas para refletir o peso da saudade e da dor emocional.


2. Ênfase nas palavras-chave "Alegres campos", "verdes arvoredos", "claras e frescas águas": Enfatize essas palavras no início da estrofe, destacando a beleza e a tranquilidade da paisagem, que agora está sendo perdendo seu significado para o eu lírico. "Sem licença de meu mal": Este verso carrega um peso emocional, e a palavra "mal" deve ser lida com ênfase, destacando a dor interna que está afetando a visão do eu lírico. "Lembranças tristes", "lágrimas saudosas": Quando o poema vira para um tom de dor e saudade, enfatize essas expressões, pronunciando-as com mais lentidão e melancolia, para transmitir o lamento profundo do sujeito lírico.


3. Pausas Estratégicas Após "Já não podeis fazer meus olhos ledos", faça uma pausa mais longa, pois é um momento em que a natureza já não tem o poder de alegrar o eu lírico. Após "E, pois me já não vedes como vistes", uma pausa também é importante para marcar a transição do eu lírico de um estado de bem-estar para um estado de dor. Pausas curtas após "Regando-vos com lágrimas saudosas" e antes de "E nascerão saudades de meu bem" podem reforçar a tristeza crescente no poema.

4. Variação de Volume e Intensidade Versos iniciais: Fale com um tom suave e calmo para refletir a beleza da natureza. Versos finais: A intensidade deve crescer conforme o eu lírico revela sua dor e saudade. Falar mais baixo e com maior emoção pode enfatizar a perda e a memória do amor.

5. Dinamismo nas Imagens Poéticas "Semearei em vós lembranças tristes" e "Regando-vos com lágrimas saudosas" são imagens poderosas de transformação. Ao ler, imagine que está realmente semeando e regando a terra com lágrimas, o que traz uma sensação de perda inevitável. Isso pode ser feito com uma voz cheia de pesar, quase como um lamento. Exemplo de leitura: (Com um tom suave e tranquilo) "Alegres campos, verdes arvoredos, Claras e frescas águas de cristal, Que em vós os debuxais ao natural, Discorrendo da altura dos rochedos;"

(Mudança gradual para tom mais sombrio) "Silvestres montes, ásperos penedos, Compostos em concerto desigual, Sabei que, sem licença de meu mal, Já não podeis fazer meus olhos ledos."

(Pausas e aumento da intensidade emocional) "E, pois me já não vedes como vistes, Não me alegrem verduras deleitosas, Nem águas que correndo alegres vêm."

(Pausas dramáticas e melancolia crescente) "Semearei em vós lembranças tristes, Regando-vos com lágrimas saudosas, E nascerão saudades de meu bem."


Ah minha Dinamene! Assim deixaste - Soneto