|
|
(27 intermediate revisions by the same user not shown) |
Line 1: |
Line 1: |
− | À laia de introdução à '''obra dramática''' de '''Luís de Camões''':<br />
| |
− | O Teatro de Camões''' (breve explicação):<br />
| |
− | [''' https://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0821117_2011_cap.4.pdf]<br />
| |
| | | |
− | '''I - El-Rei Seleuco'''<br /> | + | '''O teatro de Camões'''<br /> |
| + | (...)<br /> |
| + | '''Camões''' escreveu peças de teatro que foram publicadas após a sua morte. Não há dúvidas quanto à autenticidade dos textos dramáticos. Há,(...) em todos eles qualquer coisa que lhes imprime inconfundível caráter camoniano, ao compará-los com todo o teatro contemporâneo. (...)<br />O (...) trabalho teatral [de Camões] limitou-se a três peças — '''o Auto dos Enfatriões''', de reminiscência plautiana, '''O Auto d'El Rei Seleuco''', próximo de uma tradição vicentina, e '''A Comédia de Filodemo''', talvez, a peça mais renascentista (...)<br /> |
| + | '''O Auto dos Enfatriões''' e '''A Comédia de Filodemo''' foram publicados em 1587 e '''El Rei Seleuco''' veio a lume em 1645, como parte da edição de 1644-45 das ''Rimas de Luís de Camões''.<br /> '''Camões''' não se contentou de imitar a '''Gil Vicente''' em aspetos de forma: ao lado das suas figuras de siso, encontramos, como no teatro do '''Mestre''', o cómico das peças confiado aos criados ladinos e a um parvo; há canto e baile de terreiro entre pastores; há o verdor dum metaforismo popular intercalado entre exibições de delicado conceptualismo petrarquista; e há, (...) o libérrimo ultrapassar das regras clássicas, como se não conhecesse a '''Plauto''' (...).<br />Em todos os autos de '''Camões''' percebemos uma semelhança.(...)Têm uma mesma temática/estrutura que é o amor.<br /> |
| <br /> | | <br /> |
− | '''Personagens:'''<br />
| |
− | Moço, Mordomo (dono da casa), Martins, Ambrósio, escudeiro, representador, El-Rei Seleuco, Rainha Estratónica (sua mulher), Antíoco (príncipe), Leocádio (pajem de Antíoco), Moça, Porteiro, Alexandre (músico), restantes músicos, Frolalta (criada da Rainha), físico, Sancho (criado do físico) e Estácio da Fonseca.<br />
| |
− | <br />
| |
− | '''O tema''' de '''El-Rei Seleuco''' é extraído da história e já anteriormente fora tratado por Plutarco na sua obra Vida de Demétrio.A jovem esposa do velho rei Seleuco é também desejada pelo filho deste, Antíoco. Para evitar uma crise dinástica e, dado que aquela também ama Antíoco, o velho rei cede heroicamente a sua mulher ao filho.<br />
| |
− | <br />
| |
− | Nesta peça, e de acordo com Isabel Pascoal, na introdução à sua obra Poesia Lírica de Luís de Camões, assiste-se a "um predomínio dos aspetos psicológicos e sentimentais, pois omite-se a cedência do reino por Seleuco, insistindo-se apenas na cedência da esposa", afastando-se Camões, neste aspeto, da sua fonte - Vida de Demétrio, de Plutarco.<br />À anedota histórica juntou momentos de farsa, como as pretensões falhadas dum Porteiro junto de uma Moça de câmara, as tentativas ridículas de versificação pelo Porteiro ou o diálogo castelhano entre o Físico e o seu Moço.<br />
| |
− |
| |
− | A peça está enquadrada por um prólogo e um epílogo em prosa, inteiramente desligados do contexto da peça e que descrevem pormenorizadamente o costume de representar autos em pátios de casas particulares lisboetas.<br />
| |
− | In:<br />https://www.infopedia.pt/artigos/$el-rei-seleuco<br />
| |
− | <br />
| |
− | ''' Excerto'''<br />
| |
− |
| |
− |
| |
− | In:<br />- https://ia800206.us.archive.org/8/items/autodeelreise00dant/autodeelreise00dant.pdf<br />
| |
− | <br />
| |
− | '''II - Auto dos Anfitriões'''<br />
| |
− |
| |
− | Da autoria de '''Luís de Camões''', publicada em 1587, juntamente com '''Filodemo''', '''Anfitriões''' é composta à semelhança da comédia de Plauto Amphitruo, embora numa adaptação livre, na qual a introdução de novas personagens atrasa o desenrolar da intriga principal e acrescenta momentos de farsa, mais ao estilo vicentino.<br />
| |
− |
| |
− | '''Personagens:'''<br />
| |
− | Anfitrião, Alcmena (sua mulher), Sósia (seu servo), Brómia (criada de Alcmena), Belferrão (patrão), Aurélio (primo de Alcmena), o servo de Aurélio, Júpiter e Mercúrio (deuses).<br />
| |
− |
| |
− | Desejando Almena, mulher de Anfitrião e aproveitando a ausência do marido, que se encontrava na guerra, Júpiter disfarça-se de Anfitrião, a conselho do mensageiro Mercúrio, seu servo, que por sua vez se disfarça de Sósia, servo de Anfitrião. Com este disfarce, Júpiter faz crer a Alcmena que tinha regressado da batalha. Deste encontro vai nascer um filho "Hércules", acontecimento que vai constituir o final da comédia.<br />É evidente que o regresso do verdadeiro Anfitrião vai criar uma série de equívocos que o autor transforma em alguns episódios dramáticos, protagonizados por Alcmena, mas principalmente em cenas cómicas.<br />O clímax da peça regista-se no momento em que Anfitrião descobre o embuste, mas é obrigado a calar o seu "ciúme conjugal", na medida em que não se atreve e enfrentar um ser divino (Júpiter).<br />
| |
− | <br />
| |
− | '''Excerto 1'''<br />
| |
− | <br />
| |
− | Auto chamado dos Enfatriões, feito por Luís de Camões, em o qual entram as feguras seguintes: Enfatrião; Almena sua molher; Sósia seu moço; Brómia sua criada; Belferrão patrão; Aurélio primo dela com seu moço; Júpiter e Mercúrio; e entra logo Almena saudosa do marido que é na guerra, e diz:<br />
| |
− |
| |
− |
| |
− | Ah, senhor Anfitrião,<br /> onde está todo meu bem,<br /> pois meus olhos vos não veem<br /> falarei com o coração<br /> que dentro da alma vos tem.<br /> Ausentes duas vontades,<br /> qual corre mais perigos,<br /> qual sofre mais crueldades:<br /> se vós entre os inimigos<br /> se eu entre as saudades?<br /> Que a ventura que vos traz<br /> tão longe da vossa terra<br /> tantos desconcertos faz<br /> que se vos levou à guerra<br /> não me quis deixar em paz.<br /> Brómia, quem com vida ter<br /> da vida já desespera<br /> que lhe poderás dizer?<br />
| |
− |
| |
− | BrómiaAh, senhor Anfitrião,<br /> onde está todo meu bem,<br /> pois meus olhos vos não veem<br /> falarei com o coração<br /> que dentro da alma vos tem.<br /> Ausentes duas vontades,<br /> qual corre mais perigos,<br /> qual sofre mais crueldades:<br /> se vós entre os inimigos<br /> se eu entre as saudades?<br /> Que a ventura que vos traz<br /> tão longe da vossa terra<br /> tantos desconcertos faz<br /> que se vos levou à guerra<br /> não me quis deixar em paz.<br /> Brómia, quem com vida ter<br /> da vida já desespera<br /> que lhe poderás dizer?<br />
| |
− |
| |
− | Brómia<br />
| |
− |
| |
− | Que nunca se viu prazer<br /> senão quando não se espera.<br /> E portanto, não devia<br /> de ter triste a fantasia<br /> porque, vossa mercê creia,<br /> que o prazer sempre salteia<br /> quem dele mais desconfia.<br /> Eu tenho no coração<br /> do senhor Anfitrião<br /> venha hoje alguma nova.<br /> Não receba alteração,<br /> que a verdadeira afeição<br /> na longa ausência se prova.<br />
| |
− |
| |
− | Almena<br />
| |
− |
| |
− | Dizei logo a Feliseu<br /> que chegue muito apressado<br /> ao cais e busque meio<br /> de saber se algum recado<br /> do porto pérsico veio.<br /> E mais lhe haveis de dizer,<br /> isto vos dou por ofício,<br /> de alguma nova saber<br /> enquanto eu vou fazer<br /> aos deuses sacrifício.<br />
| |
− |
| |
− | '''Excerto 2'''<br />
| |
− | Júpiter<br />
| |
− |
| |
− | Tu não vês que esta mulher<br /> se preza de virtuosa?<br /> Senhor, tudo pode ser,<br /> que para quem muito quer<br />
| |
− |
| |
− | Mercúrio<br />
| |
− |
| |
− | sempre afeição é manhosa.<br /> Seu marido está ausente<br /> na guerra, longe daqui.<br /> Tu, que és Júpiter potente,<br /> tomarás sua forma em ti,<br /> que o farás mui facilmente.<br /> E eu me transformarei<br /> na de Sósia, criado seu,<br /> e ao arraial me irei<br /> onde logo saberei<br /> como se a batalha deu.<br /> E assim poderás entrar<br /> em lugar de seu marido,<br /> e para que sejas crido<br /> poderás também contar<br /> quanto eu lá tiver sabido.<br />
| |
− |
| |
− | Que nunca se viu prazer<br /> senão quando não se espera.<br /> E portanto, não devia<br /> de ter triste a fantasia<br /> porque, vossa mercê creia,<br /> que o prazer sempre salteia<br /> quem dele mais desconfia.<br /> Eu tenho no coração<br /> do senhor Anfitrião<br /> venha hoje alguma nova.<br /> Não receba alteração,<br /> que a verdadeira afeição<br /> na longa ausência se prova.<br />
| |
− |
| |
− |
| |
− | Júpiter<br />
| |
− |
| |
− | Tu não vês que esta mulher<br /> se preza de virtuosa?<br /> Senhor, tudo pode ser,<br /> que para quem muito quer<br />
| |
− |
| |
− | Mercúrio<br />
| |
| | | |
− | sempre afeição é manhosa.<br /> Seu marido está ausente<br /> na guerra, longe daqui.<br /> Tu, que és Júpiter potente,<br /> tomarás sua forma em ti,<br /> que o farás mui facilmente.<br /> E eu me transformarei<br /> na de Sósia, criado seu,<br /> e ao arraial me irei<br /> onde logo saberei<br /> como se a batalha deu.<br /> E assim poderás entrar<br /> em lugar de seu marido,<br /> e para que sejas crido<br /> poderás também contar<br /> quanto eu lá tiver sabido.<br />
| + | [[Peça de teatro adaptada pelo algarvio Júlio Dantas | Auto de El-Rei Seleuco.]]<br /> |
− | In:
| + | [[Peça de teatro Auto dos Anfitriões - Camões | Auto dos Anfitriões.]]<br /> |
− | http://www.cet-e-quinhentos.com/autores
| + | [[Peça de teatro Filodemo - Camões | Auto de Filodemo.]]<br /> |