Peça de teatro Filodemo - Camões

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Filodemo



Filodemo é uma comédia de moralidade em cinco atos.
Foi composta por Luís de Camões na Índia e dedicado ao vice-rei Dom Francisco Barreto. O tema versa sobre os amores de um criado, Filodemo, pela filha, Dionisa, do fidalgo em casa de quem serve, com traços autobiográficos. Como as suas duas outras peças, o conteúdo geral da obra combina o nacionalismo e a inspiração clássica, na tradição das comédias de Gil Vicente.
In: Wikipedia
"O Auto de Filodemo" é um exemplo do teatro renascentista português, um período em que a literatura buscava harmonizar a tradição clássica com as preocupações humanistas da modernidade.
Escrita em verso, O Auto de Filodemo apresenta uma história de amor, engano e redenção, explorando temas universais que ainda ressoam nos dias de hoje: os conflitos entre razão e paixão, as aparências que enganam e as lições que a virtude nos ensina. Camões, com sua habilidade magistral para o uso da linguagem, mistura humor, crítica social e uma profunda reflexão sobre a natureza humana.
Ler esta peça é embarcar numa viagem ao coração do Renascimento, onde o teatro era um espaço de aprendizagem e deleite, e onde as palavras tinham o poder de transformar mentes e corações. Camões convida-nos a rir, a pensar e, acima de tudo, a entender que, por trás das máscaras que usamos, existe a busca incessante por sentido e verdade.
Descobrir O Auto de Filodemo e mergulhar nesta obra que combina o brilho cómico com a profundidade poética, mostra um Camões tão genial quanto surpreendente. É a oportunidade de celebrar a riqueza da cultura portuguesa e conhecer questões que transcendem o tempo e o espaço.

Resumo
O Auto de Filodemo é uma comédia em cinco atos que explora temas como o amor, a honestidade e os enganos das aparências. A história gira em torno de Filodemo, um jovem nobre apaixonado por Dionisa, uma mulher de beleza e virtudes excecionais. No entanto, o seu amor enfrenta obstáculos devido às dúvidas e incertezas próprias dos enamorados, bem como à interferência de personagens secundárias que complicam a trama.
O enredo desenvolve-se com diálogos ricos e dinâmicos que retratam a luta de Filodemo para superar suas fraquezas e conquistar Dionisa, enquanto figuras como criados e conselheiros fornecem humor e reflexões. No final, a peça celebra a vitória da virtude e do amor verdadeiro, com um desfecho harmonioso e moralizante.

Principais Personagens
Filodemo: O protagonista, um jovem nobre apaixonado por Dionisa. Ele representa o ideal renascentista do homem dividido entre os impulsos do coração e as exigências da razão.
Dionisa: A amada de Filodemo, que simboliza virtude e beleza. Sua presença na peça desafia Filodemo a crescer e amadurecer.

Gelásio: Um criado de espírito astuto e engraçado, responsável por muitas das cenas cômicas. Ele traz uma visão crítica e irônica sobre os dilemas do protagonista.

Tião: Outro criado, mais ingênuo, que complementa o humor da peça e contrasta com a sagacidade de Gelásio.

Clóris: Uma personagem feminina secundária que desempenha um papel crucial nas intrigas e nos diálogos que movimentam a trama.

Outras personagens: Alguns conselheiros e figuras da corte aparecem para adicionar complexidade e lições morais à narrativa.

A peça, embora compacta, combina entretenimento leve com reflexões profundas, o que a torna uma das contribuições mais interessantes de Camões ao teatro renascentista.


  • EXCERTO do Auto FILODEMO


Comédia feita por Luís de Camões, representada na Índia a Francisco Barreto1, em a qual entram as figuras seguintes:
FILODEMO, criado de DOM LUSIDARDOS; VILARDO, seu moço; SOLINA, criada; DIONISA, filha; VENADOURO; DORIANO, namorado; FLORIMENA, etc.
ARGUMENTO DO AUTO
Um Fidalgo Português que acaso andava nos Reinos de Dinamarca, como por largos amores e maiores serviços tivesse alcançado o amor de uã filha d’el-Rei, foi-lhe necessário fugir com ela em u˜ a galé, porquanto havia dias que a tinha prenhe. E, de feito, sendo chegados à costa d’Espanha, onde ele era senhor de grande património, armou-se-lhe grande tormenta que, sem nenhum remédio, dando a galé à costa, se perderam todos miseravelmente, senão a Princesa, que em uã tábua foi à praia. A qual, como chegasse o tempo de seu parto, junto de uã fonte pariu duas crianças, macho e fêmea. E não tardou muito que um pastor Castelhano que naquelas partes morava, ouvindo os tenros gritos dos meninos, lhe acudiu a tempo que a mãe já tinha espirado. Crescidas enfim as crianças debaixo da humanidade e criação daquele pastor, o macho, que Filodemo se chamou, à vontade de quem os bautizara, levado da natural inclinação, deixando o campo se foi para a cidade, aonde, por músico e discreto, valeu muito em casa de Dom Lusidardo, irmão de seu Pai, a quem muitos anos serviu sem saber o parentesco que entre ambos havia. E como de seu pai não tivesse herdado mais que os altos espritos, namorou-se de Dionisa, filha de seu senhor e tio, que incitada ao que por suas obras e boas partes merecia, ou porque elas nada enjeitam, lhe não queria mal. Aconteceu mais que Venadoro, filho de Dom Lusidardo, mancebo fragueiro e muito dado ao exercício da caça, andando um dia no campo após um cervo se perdeu dos seus e, indo dar em uã fonte onde estava Florimena, irmã de Filodemo, que assi lhe puseram o nome, enchendo u˜ a talha d’água, se perdeu d’amores por ela, que se não soube dar a conselho, nem partir-se donde ela estava, até que seu Pai o não foi buscar. O qual, informado pelo Pastor que a criara, que era homem sábio na arte mágica, e como a criara, não teve por mal de casar a Filodemo com Dionisa, sua filha e prima de Filodemo e a Venadoro, seu filho, com Florimena, sua sobrinha, irmã de Filodemo Pastor. E também, pela muita renda que tinha, que de seu Pai ficara, de que eles eram verd seadeiros herdeiros. E das mais particularidades da comédia fará menção o auto, que é o seguinte:

Entra logo Filodemo e um seu moço Vilardo


FILODEMO Vilardo, moço!
Ei-lo vai!

FILODEMO
Falai, eramá, falai.
E saí cá pera a sala!
O vilão como se cala!

VILARDO
Pois, senhor, saio a meu pai,
Que quando dorme não fala.

FILODEMO
Trazei cá uã cadeira.
Ouvis, vilão?

VILARDO
Senhor, si.
Se me ela não traz a mi,
Vejo-lh`eu ruim maneira.

FILODEMO
Acabai, vilão ruim!
Que moço pera servir!
Quem tem as tristezas minhas,
Quem pudesse assim dormir!

VILARDO
Pardeus! Senhor, nestas manhãzinhas
Não há í senão cair.
Por demais é trabalhar
Que este sono se me ausente.

FILODEMO
Porquê?

VILARDO
Porque há de assentar
Que, se não for com pão quente,
Não se há de desaferrar

FILODEMO
Ora, i pelo que vos mando,
Vilão feito de fermento!
Triste do que vive amando,
Sem ter outro mantimento
Que o que está fantasiando!
Uã só cousa me desculpa
Deste cuidado que sigo:
Ser de tamanho perigo,
Que cuido que a mesma culpa
Me fica sendo castigo.

Traz o moço a cadeira em que se assenta, e diz FILODEMO:

FILODEMO
Ora quero praticar
Só comigo um pouco aqui,
Que depois que me perdi,
Desejo de me tomar
Estreita conta de mi,
Vai pera fora, Vilardo...
Torna cá. Vai-me saber
Se se quer já lá erguer
O senhor Dom Lusidardo,
E vem-mo logo dizer.

(Vai-se o Moço:)

Ora bem, minha ousadia:
Sem asas, pouco segura,
Quem vos deu tanta valia,
Que subais a fantesia
Aonde não chega a ventura?
Por ventura eu não nasci
No mato, sem mais valer
Qu’o gado ao pasto trazer?
Pois donde me veo a mi
Saber-me tão bem perder?

Eu, nascido entre os pastares,
Fui trazido dos currais,
E dentre meus naturais
Pera a casa dos senhores,
Donde vim a valer mais.
Agora, logo tão cedo,
Quis mostrar a condição
De rústico e de vilão!
Dando-me a Fortuna o dedo,
Lhe quero tomar a mão!

Mas, oh! que isto não é assi,
Nem são vilãos meus cuidados,
Ò que deles entendi!
Mas antes, de sublimados,
Os não posso crer de mi.
Porque, como poderei crer
Que me faça minha estrela
Tão alta pena sofrer,
Que somente pola ter
Mereço eu a glória dela?
Senão, se Amor, d’atentado,
Por que não me aqueixe dele,
Tem por ventura ordenado
Que mereça o meu cuidado,
Só por ter cuidado dele.

Este excerto apresenta uma troca de diálogos entre Filodemo e o seu moço Vilardo, marcada por ironia, humor e uma reflexão sobre o destino e as dificuldades da vida

In:http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/leit_online/luis_c1.pdf

  • Para saber mais:

https://antena2.rtp.pt/em-antena/diversos-especiais/500-anos-camoes-auto-de-filodemo-31-dezembro-19h00/

file:///C:/Users/Biblioteca2/Downloads/12408-Texto%20do%20Trabalho-37589-1-10-20170720.pdf