Difference between revisions of "Teatro"

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À laia de introdução à '''obra dramática''' de '''Luís de Camões''':<br />
 
O Teatro de Camões''' (breve explicação):<br />
 
[''' https://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0821117_2011_cap.4.pdf]<br />
 
  
'''I - El-Rei Seleuco'''<br />
 
<br />
 
'''Personagens:'''<br />
 
Moço, Mordomo (dono da casa), Martins, Ambrósio, escudeiro, representador, El-Rei Seleuco, Rainha Estratónica (sua mulher), Antíoco (príncipe), Leocádio (pajem de Antíoco), Moça, Porteiro, Alexandre (músico), restantes músicos, Frolalta (criada da Rainha), físico, Sancho (criado do físico) e Estácio da Fonseca.<br />
 
<br />
 
'''O tema''' de '''El-Rei Seleuco''' é extraído da história e já anteriormente fora tratado por Plutarco na sua obra Vida de Demétrio.A jovem esposa do velho rei Seleuco é também desejada pelo filho deste, Antíoco. Para evitar uma crise dinástica e, dado que aquela também ama Antíoco, o velho rei cede heroicamente a sua mulher ao filho.<br />
 
<br />
 
Nesta peça, e de acordo com Isabel Pascoal, na introdução à sua obra Poesia Lírica de Luís de Camões, assiste-se a "um predomínio dos aspetos psicológicos e sentimentais, pois omite-se a cedência do reino por Seleuco, insistindo-se apenas na cedência da esposa", afastando-se Camões, neste aspeto, da sua fonte - Vida de Demétrio, de Plutarco.<br />À anedota histórica juntou momentos de farsa, como as pretensões falhadas dum Porteiro junto de uma Moça de câmara, as tentativas ridículas de versificação pelo Porteiro ou o diálogo castelhano entre o Físico e o seu Moço.<br />
 
  
A peça está enquadrada por um prólogo e um epílogo em prosa, inteiramente desligados do contexto da peça e que descrevem pormenorizadamente o costume de representar autos em pátios de casas particulares lisboetas.<br />
+
== '''O Teatro de Camões''' ==
In:<br />https://www.infopedia.pt/artigos/$el-rei-seleuco<br />
 
 
<br />
 
<br />
''' Excerto'''<br />
 
  
<center>
+
As peças de teatro de '''Luís de Camões''' ocupam um lugar de destaque na sua obra, demonstrando a sua versatilidade como escritor e o seu profundo  compromisso com as formas culturais e artísticas da sua época. Embora sejam menos conhecidas do que os seus poemas épico e líricos, como “Os Lusíadas” ou seus sonetos, as peças revelam aspetos importantes de seu génio criativo e da sua relação com o teatro renascentista.<br />'''Camões''' escreveu três peças que chegaram até nós: '''''“Auto de Filodemo”, “El-Rei Seleuco” e o “Auto dos Anfitriões”''''', embora a autoria desta última ainda suscite debates entre os estudiosos. Todas elas estão inseridas na tradição do teatro moralista e humanista, característico do Renascimento, mas também apresentam elementos que refletem a sua habilidade em integrar questões universais  num contexto dramático envolvente.<br />O '''''“Auto de Filodemo”''''' é uma comédia moral que combina temáticas filosóficas e amorosas com personagens típicas, ilustrando as virtudes e vícios humanos. A obra trata de dilemas entre razão e paixão, valores que ressoam na poética camoniana de maneira geral.<br />'''''“El-Rei Seleuco”''''', por sua vez, é uma tragédia curta que aborda temas como o amor, o dever e o sacrifício, situando-se em um contexto histórico e lendário. A simplicidade da estrutura é compensada pela profundidade emocional e pela capacidade de explorar conflitos éticos e morais.<br />O '''''“Auto dos Anfitriões”''''' é uma obra que reflete a influência de Plauto, especialmente da peça “Amphitryon”, uma das fontes clássicas do teatro renascentista. '''Camões''' recria a narrativa de forma engenhosa, introduzindo elementos próprios da tradição portuguesa e explorando questões como a identidade, o engano e a moralidade. O enredo gira á volta de situações de confusão e equívocos, provocados pela intervenção de deuses na vida humana, um tema recorrente no teatro clássico. Apesar das dúvidas quanto à sua autoria, a peça é frequentemente associada ao estilo camoniano, devido à sua fluidez dramática e ao equilíbrio entre humor e reflexão.<br />As peças de '''Camões''' refletem a influência do teatro clássico greco-romano, assim como da tradição teatral portuguesa e europeia de sua época. Ele incorpora elementos de Plauto e Terêncio, além de dialogar com as tendências emergentes do teatro renascentista, como o uso de personagens alegóricas e a exploração de temas universais.<br />Apesar de sua produção teatral ser relativamente limitada, ela contribui para o conhecimento do contexto cultural em que '''Camões''' viveu e de como ele utilizou diferentes formas de expressão artística para abordar questões fundamentais sobre o ser humano e a sociedade. Assim, o teatro camoniano é mais uma dimensão da rica herança literária do poeta, unindo arte, filosofia e poesia em um formato dinâmico e envolvente.
[[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleuco1.png|256px]][[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop2.png|260px]][[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop15 .png|260px]]<br />
 
[[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop16.png|260px]][[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop17.png|260px]][[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop18.png|260px]][[File:Camoes Julio-Dantas AutoDeElReiSeleucop19 .png|260px]]</center>
 
  
In:<br />- https://ia800206.us.archive.org/8/items/autodeelreise00dant/autodeelreise00dant.pdf<br />
 
 
<br />
 
<br />
'''II - Auto dos Anfitriões'''<br />
 
 
Da autoria de '''Luís de Camões''', publicada em 1587, juntamente com '''Filodemo''', '''Anfitriões''' é composta à semelhança da comédia de Plauto Amphitruo, embora numa adaptação livre, na qual a introdução de novas personagens atrasa o desenrolar da intriga principal e acrescenta momentos de farsa, mais ao estilo vicentino.<br />
 
 
'''Personagens:'''<br />
 
Anfitrião, Almena (sua mulher), Sósia (seu servo), Brómia (criada de Almena), Belferrão (patrão), Aurélio (primo de Alcmena), o servo de Aurélio, Júpiter e Mercúrio (deuses).<br />
 
 
Desejando Almena, mulher de Anfitrião e aproveitando a ausência do marido, que se encontrava na guerra, Júpiter disfarça-se de Anfitrião, a conselho do mensageiro Mercúrio, seu servo, que por sua vez se disfarça de Sósia, servo de Anfitrião. Com este disfarce, Júpiter faz crer a Alcmena que tinha regressado da batalha. Deste encontro vai nascer um filho "Hércules", acontecimento que vai constituir o final da comédia.<br />É evidente que o regresso do verdadeiro Anfitrião vai criar uma série de equívocos que o autor transforma em alguns episódios dramáticos, protagonizados por Alcmena, mas principalmente em cenas cómicas.<br />O clímax da peça regista-se no momento em que Anfitrião descobre o embuste, mas é obrigado a calar o seu "ciúme conjugal", na medida em que não se atreve e enfrentar um ser divino (Júpiter).<br />In: https://www.infopedia.pt
 
<br />
 
'''Excerto 1'''<br />
 
<br />
 
'''Auto''' chamado dos '''Enfatriões''', feito por '''Luís de Camões''', em o qual entram as figuras seguintes: Enfatrião; Almena sua mulher; Sósia seu moço; Brómia sua criada; Belferrão patrão; Aurélio primo dela com seu moço; Júpiter e Mercúrio; e entra logo Almena saudosa do marido que é na guerra, e diz:<br />
 
 
'''''Almena'''''<br />
 
 
Ah, senhor Anfitrião,<br /> onde está todo meu bem,<br /> pois meus olhos vos não veem<br /> falarei com o coração<br /> que dentro da alma vos tem.<br /> Ausentes duas vontades,<br /> qual corre mais perigos,<br /> qual sofre mais crueldades:<br /> se vós entre os inimigos<br /> se eu entre as saudades?<br />
 
 
Que a ventura que vos traz<br /> tão longe da vossa terra<br /> tantos desconcertos faz<br /> que se vos levou à guerra<br /> não me quis deixar em paz.<br /> Brómia, quem com vida ter<br /> da vida já desespera<br /> que lhe poderás dizer?<br />
 
 
'''''Brómia'''''<br />
 
 
Que nunca se viu prazer<br /> senão quando não se espera.<br />
 
 
E portanto, não devia<br /> de ter triste a fantasia<br /> porque, vossa mercê creia,<br /> que o prazer sempre salteia<br /> quem dele mais desconfia.<br /> Eu tenho no coração<br /> do senhor Anfitrião<br /> venha hoje alguma nova.<br /> Não receba alteração,<br /> que a verdadeira afeição<br /> na longa ausência se prova.<br />
 
 
'''''Almena'''''<br />
 
 
Dizei logo a Feliseu<br /> que chegue muito apressado<br /> ao cais e busque meio<br /> de saber se algum recado<br /> do porto pérsico veio.<br /> E mais lhe haveis de dizer,<br /> isto vos dou por ofício,<br /> de alguma nova saber<br /> enquanto eu vou fazer<br /> aos deuses sacrifício.<br />
 
 
'''Excerto 2'''<br />
 
 
'''''Júpiter'''''<br />
 
 
Tu não vês que esta mulher<br /> se preza de virtuosa?<br />
 
 
'''''Mercúrio'''''<br />
 
 
Senhor, tudo pode ser,<br />que pera muito quem quer<br />Sempre afeição é manhosa.<br /> Seu marido está ausente<br /> na guerra, longe daqui.<br /> Tu, que és Júpiter potente,<br /> tomarás sua forma em ti,<br /> que o farás mui facilmente.<br />
 
 
E eu me transformarei<br /> na de Sósia, criado seu,<br /> e ao arraial me irei<br /> onde logo saberei<br /> como se a batalha deu.<br /> E assim poderás entrar<br /> em lugar de seu marido,<br /> e para que sejas crido<br /> poderás também contar<br /> quanto eu lá tiver sabido.<br />
 
 
  
In:
+
[[Peça de teatro adaptada pelo algarvio Júlio Dantas | Auto de El-Rei Seleuco.]]<br />
http://www.cet-e-quinhentos.com/autores
+
[[Peça de teatro Auto dos Anfitriões - Camões |  Auto dos Anfitriões.]]<br />
 +
[[Peça de teatro Filodemo - Camões |  Auto de Filodemo.]]<br />

Latest revision as of 13:07, 20 January 2025


O Teatro de Camões


As peças de teatro de Luís de Camões ocupam um lugar de destaque na sua obra, demonstrando a sua versatilidade como escritor e o seu profundo compromisso com as formas culturais e artísticas da sua época. Embora sejam menos conhecidas do que os seus poemas épico e líricos, como “Os Lusíadas” ou seus sonetos, as peças revelam aspetos importantes de seu génio criativo e da sua relação com o teatro renascentista.
Camões escreveu três peças que chegaram até nós: “Auto de Filodemo”, “El-Rei Seleuco” e o “Auto dos Anfitriões”, embora a autoria desta última ainda suscite debates entre os estudiosos. Todas elas estão inseridas na tradição do teatro moralista e humanista, característico do Renascimento, mas também apresentam elementos que refletem a sua habilidade em integrar questões universais num contexto dramático envolvente.
O “Auto de Filodemo” é uma comédia moral que combina temáticas filosóficas e amorosas com personagens típicas, ilustrando as virtudes e vícios humanos. A obra trata de dilemas entre razão e paixão, valores que ressoam na poética camoniana de maneira geral.
“El-Rei Seleuco”, por sua vez, é uma tragédia curta que aborda temas como o amor, o dever e o sacrifício, situando-se em um contexto histórico e lendário. A simplicidade da estrutura é compensada pela profundidade emocional e pela capacidade de explorar conflitos éticos e morais.
O “Auto dos Anfitriões” é uma obra que reflete a influência de Plauto, especialmente da peça “Amphitryon”, uma das fontes clássicas do teatro renascentista. Camões recria a narrativa de forma engenhosa, introduzindo elementos próprios da tradição portuguesa e explorando questões como a identidade, o engano e a moralidade. O enredo gira á volta de situações de confusão e equívocos, provocados pela intervenção de deuses na vida humana, um tema recorrente no teatro clássico. Apesar das dúvidas quanto à sua autoria, a peça é frequentemente associada ao estilo camoniano, devido à sua fluidez dramática e ao equilíbrio entre humor e reflexão.
As peças de Camões refletem a influência do teatro clássico greco-romano, assim como da tradição teatral portuguesa e europeia de sua época. Ele incorpora elementos de Plauto e Terêncio, além de dialogar com as tendências emergentes do teatro renascentista, como o uso de personagens alegóricas e a exploração de temas universais.
Apesar de sua produção teatral ser relativamente limitada, ela contribui para o conhecimento do contexto cultural em que Camões viveu e de como ele utilizou diferentes formas de expressão artística para abordar questões fundamentais sobre o ser humano e a sociedade. Assim, o teatro camoniano é mais uma dimensão da rica herança literária do poeta, unindo arte, filosofia e poesia em um formato dinâmico e envolvente.


Auto de El-Rei Seleuco.
Auto dos Anfitriões.
Auto de Filodemo.