Difference between revisions of "Teatro"

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À laia de introdução à '''obra dramática''' de '''Luís de Camões''':
 
  
['''O Teatro de Camões''' (breve explicação) https://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0821117_2011_cap.4.pdf]
 
  
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== '''O Teatro de Camões''' ==
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As peças de teatro de '''Luís de Camões''' ocupam um lugar de destaque na sua obra, demonstrando a sua versatilidade como escritor e o seu profundo  compromisso com as formas culturais e artísticas da sua época. Embora sejam menos conhecidas do que os seus poemas épico e líricos, como “Os Lusíadas” ou seus sonetos, as peças revelam aspetos importantes de seu génio criativo e da sua relação com o teatro renascentista.<br />'''Camões''' escreveu três peças que chegaram até nós: '''''“Auto de Filodemo”, “El-Rei Seleuco” e o “Auto dos Anfitriões”''''', embora a autoria desta última ainda suscite debates entre os estudiosos. Todas elas estão inseridas na tradição do teatro moralista e humanista, característico do Renascimento, mas também apresentam elementos que refletem a sua habilidade em integrar questões universais  num contexto dramático envolvente.<br />O '''''“Auto de Filodemo”''''' é uma comédia moral que combina temáticas filosóficas e amorosas com personagens típicas, ilustrando as virtudes e vícios humanos. A obra trata de dilemas entre razão e paixão, valores que ressoam na poética camoniana de maneira geral.<br />'''''“El-Rei Seleuco”''''', por sua vez, é uma tragédia curta que aborda temas como o amor, o dever e o sacrifício, situando-se em um contexto histórico e lendário. A simplicidade da estrutura é compensada pela profundidade emocional e pela capacidade de explorar conflitos éticos e morais.<br />O '''''“Auto dos Anfitriões”''''' é uma obra que reflete a influência de Plauto, especialmente da peça “Amphitryon”, uma das fontes clássicas do teatro renascentista. '''Camões''' recria a narrativa de forma engenhosa, introduzindo elementos próprios da tradição portuguesa e explorando questões como a identidade, o engano e a moralidade. O enredo gira á volta de situações de confusão e equívocos, provocados pela intervenção de deuses na vida humana, um tema recorrente no teatro clássico. Apesar das dúvidas quanto à sua autoria, a peça é frequentemente associada ao estilo camoniano, devido à sua fluidez dramática e ao equilíbrio entre humor e reflexão.<br />As peças de '''Camões''' refletem a influência do teatro clássico greco-romano, assim como da tradição teatral portuguesa e europeia de sua época. Ele incorpora elementos de Plauto e Terêncio, além de dialogar com as tendências emergentes do teatro renascentista, como o uso de personagens alegóricas e a exploração de temas universais.<br />Apesar de sua produção teatral ser relativamente limitada, ela contribui para o conhecimento do contexto cultural em que '''Camões''' viveu e de como ele utilizou diferentes formas de expressão artística para abordar questões fundamentais sobre o ser humano e a sociedade. Assim, o teatro camoniano é mais uma dimensão da rica herança literária do poeta, unindo arte, filosofia e poesia em um formato dinâmico e envolvente.
  
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'''I - El-Rei Seleuco'''
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[[Peça de teatro adaptada pelo algarvio Júlio Dantas | Auto de El-Rei Seleuco.]]<br />
 
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[[Peça de teatro Auto dos Anfitriões - Camões |  Auto dos Anfitriões.]]<br />
'''Personagens:'''
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[[Peça de teatro Filodemo - Camões |  Auto de Filodemo.]]<br />
Moço, Mordomo (dono da casa), Martins, Ambrósio, escudeiro, representador, El-Rei Seleuco, Rainha Estratónica (sua mulher), Antíoco (príncipe), Leocádio (pajem de Antíoco), Moça, Porteiro, Alexandre (músico), restantes músicos, Frolalta (criada da Rainha), físico, Sancho (criado do físico) e Estácio da Fonseca.
 
 
 
'''O tema''' de '''El-Rei Seleuco''' é extraído da história e já anteriormente fora tratado por Plutarco na sua obra Vida de Demétrio.
 
A jovem esposa do velho rei Seleuco é também desejada pelo filho deste, Antíoco. Para evitar uma crise dinástica e, dado que aquela também ama Antíoco, o velho rei cede heroicamente a sua mulher ao filho.
 
 
 
Nesta peça, e de acordo com Isabel Pascoal, na introdução à sua obra Poesia Lírica de Luís de Camões, assiste-se a "um predomínio dos aspetos psicológicos e sentimentais, pois omite-se a cedência do reino por Seleuco, insistindo-se apenas na cedência da esposa", afastando-se Camões, neste aspeto, da sua fonte - Vida de Demétrio, de Plutarco.
 
À anedota histórica juntou momentos de farsa, como as pretensões falhadas dum Porteiro junto de uma Moça de câmara, as tentativas ridículas de versificação pelo Porteiro ou o diálogo castelhano entre o Físico e o seu Moço.
 
 
 
A peça está enquadrada por um prólogo e um epílogo em prosa, inteiramente desligados do contexto da peça e que descrevem pormenorizadamente o costume de representar autos em pátios de casas particulares lisboetas.
 
In:
 
https://www.infopedia.pt/artigos/$el-rei-seleuco
 
 
 
'''II - Excerto'''
 
 
 
 
 
In:
 
- https://ia800206.us.archive.org/8/items/autodeelreise00dant/autodeelreise00dant.pdf
 
 
 
 
 
Auto chamado dos Enfatriões, feito por Luís de Camões, em o qual entram as feguras seguintes: Enfatrião; Almena sua molher; Sósia seu moço; Brómia sua criada; Belferrão patrão; Aurélio primo dela com seu moço; Júpiter e Mercúrio; e entra logo Almena saudosa do marido que é na guerra, e diz:
 
 
 
 
 
Ah, senhor Anfatrião,086c
 
onde está todo meu bem,
 
pois meus olhos vos nam vem
 
falarei c’o coração
 
que dentro n’alma vos tem.5
 
Ausentes duas vontades,
 
qual corre mores perigos,
 
qual sofre mais crueldades:
 
se vós antre os enemigos
 
se eu antre as saudades?10
 
Que a ventura que vos traz
 
tam longe da vossa terra
 
tantos desconcertos faz
 
que se vos levou à guerra
 
nam me quis leixar em paz.15
 
Brómia, quem com vida ter
 
da vida já desespera
 
que lhe poderás dizer?
 
Brómia
 
 
 
Que nunca se viu prazer
 
senão quando nam se espera.20
 
E portanto, nam devia
 
de ter triste a fantesia
 
porque, vossa mercê crea,
 
que o prazer sempre saltea
 
quem dele mais desconfia.25
 
Eu tenho no coração
 
do senhor Anfatrião
 
venha hoje algũa nova.
 
Nam receba alteração,
 
que a verdadeira afeição30
 
na longa ausência se prova.
 
Almena
 
 
 
Dizei logo a Feliseu086d
 
que chegue muito apressado
 
ao cais e busque meio
 
de saber se algum recado35
 
do porto pérsico veio.
 
E mais lhe haveis de dizer,
 
isto vos dou por ofício,
 
dalgũa nova saber
 
enquanto eu vou fazer40
 
aos deoses sacrefício.
 

Latest revision as of 13:07, 20 January 2025


O Teatro de Camões


As peças de teatro de Luís de Camões ocupam um lugar de destaque na sua obra, demonstrando a sua versatilidade como escritor e o seu profundo compromisso com as formas culturais e artísticas da sua época. Embora sejam menos conhecidas do que os seus poemas épico e líricos, como “Os Lusíadas” ou seus sonetos, as peças revelam aspetos importantes de seu génio criativo e da sua relação com o teatro renascentista.
Camões escreveu três peças que chegaram até nós: “Auto de Filodemo”, “El-Rei Seleuco” e o “Auto dos Anfitriões”, embora a autoria desta última ainda suscite debates entre os estudiosos. Todas elas estão inseridas na tradição do teatro moralista e humanista, característico do Renascimento, mas também apresentam elementos que refletem a sua habilidade em integrar questões universais num contexto dramático envolvente.
O “Auto de Filodemo” é uma comédia moral que combina temáticas filosóficas e amorosas com personagens típicas, ilustrando as virtudes e vícios humanos. A obra trata de dilemas entre razão e paixão, valores que ressoam na poética camoniana de maneira geral.
“El-Rei Seleuco”, por sua vez, é uma tragédia curta que aborda temas como o amor, o dever e o sacrifício, situando-se em um contexto histórico e lendário. A simplicidade da estrutura é compensada pela profundidade emocional e pela capacidade de explorar conflitos éticos e morais.
O “Auto dos Anfitriões” é uma obra que reflete a influência de Plauto, especialmente da peça “Amphitryon”, uma das fontes clássicas do teatro renascentista. Camões recria a narrativa de forma engenhosa, introduzindo elementos próprios da tradição portuguesa e explorando questões como a identidade, o engano e a moralidade. O enredo gira á volta de situações de confusão e equívocos, provocados pela intervenção de deuses na vida humana, um tema recorrente no teatro clássico. Apesar das dúvidas quanto à sua autoria, a peça é frequentemente associada ao estilo camoniano, devido à sua fluidez dramática e ao equilíbrio entre humor e reflexão.
As peças de Camões refletem a influência do teatro clássico greco-romano, assim como da tradição teatral portuguesa e europeia de sua época. Ele incorpora elementos de Plauto e Terêncio, além de dialogar com as tendências emergentes do teatro renascentista, como o uso de personagens alegóricas e a exploração de temas universais.
Apesar de sua produção teatral ser relativamente limitada, ela contribui para o conhecimento do contexto cultural em que Camões viveu e de como ele utilizou diferentes formas de expressão artística para abordar questões fundamentais sobre o ser humano e a sociedade. Assim, o teatro camoniano é mais uma dimensão da rica herança literária do poeta, unindo arte, filosofia e poesia em um formato dinâmico e envolvente.


Auto de El-Rei Seleuco.
Auto dos Anfitriões.
Auto de Filodemo.