Camões no Algarve

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Saa, Mário por Julião, Quintinha

Mário Saa dedicou-se à filosofia, à genealogia, à geografia antiga, à poesia, à problemática camoniana, às investigações arqueológicas, e mesmo à astrologia e à grafologia. O seu interesse pela arqueologia e a investigação que realizou sobre vias romanas deram origem à sua obra de maior importância, «As Grandes Vias da Lusitânia», em seis volumes, o produto de mais de 20 anos de investigações e prospecções arqueológicas que é, ainda hoje, uma obra de referência. A par com a arqueologia, Mário Saa destacou-se, também, no panorama da poesia portuguesa das décadas de 20 e 30 do século XX, publicando com assiduidade na revista Presença e privando com os grandes poetas e intelectuais da época no âmbito da boémia literária da Brasileira do Chiado. Em 1959 colaboraria ainda no primeiro número da revista «Tempo Presente».

https://www.e-cultura.pt/efemeride/1328

 Mário Saa: Poeta e Pensador da Razão Matemática reúne as comunicações apresentadas ao colóquio realizado em Janeiro de 2012, dedicado a Mário Saa (1893-1917), um dos de Orpheu e amigo de Fernando Pessoa, que continua a desafiar pelo seu carácter polémico, pela natureza irreverente e por um percurso de vida, de obra e de pensamento trilhado fora da convencionalidade do saber estatuído. Poeta e pensador de alma irrequieta, Mário Saa procurou por forma impenitente o Saber por entre as suas formulações, nomeadamente a Filosofia, a Literatura, a Arqueologia e a Etnologia. Este livro resgata a memória de Mário Saa do esquecimento. É, pelo contributo dos investigadores, um marco de referência no âmbito dos estudos literários, culturais e filosóficos em Portugal, imprescindível para o conhecimento de um dos Autores mais emblemáticos e controversos do nosso Modernismo.

https://www.uceditora.ucp.pt/pt/estudos-de-filosofia/2496-mario-saa.html


Depósitos SAA, Mário, 1893-1971 BNP Esp. D1 BNP F. 1697-1700


Mário Pais da Cunha e Sá nasceu nas Caldas da Rainha, tendo adoptado nas letras a firma arcaízante de Mário Saa em homenagem aos seus mais remotos antepassados. Dado à poesia, aos estudos históricos e genealógicos e à divagação filosófica, foi um dos mais arredios nomes do modernismo português, com que não deixou de identificar-se, oferecendo colaboração esparsa às revistas «Contemporânea», «Athena» e «Presença». Ficou célebre a sua A Invasão dos Judeus (1925), obra em que enfatizou a ascendência judaica de alguns dos próceres do nosso modernismo.

O espólio (178 docs.) compreende a maior parte dos textos autógrafos do escritor, vasta correspondência recebida, documentos biográficos e familiares. Disponível em microfilme parcial.

Foi legado pelo próprio à Junta de Freguesia do Ervedal (Avis) por deixa testamentária e por esta autarquia parcialmente depositado (com exclusão da correspondência e documentos biográficos) na BN em Julho de 1981. Foi devolvido, depois de inventariado, em Novembro de 1986 e Julho de 1987. Instrumento(s) de Pesquisa: Inventário https://acpc.bnportugal.gov.pt/deposito_autores/d01_saa_mario.html


Foi há poucos dias num recanto do “Martinho” a propósito dos seus curiosos estudos e investigações, sempre originais, que Mário Saa, um grande temperamento de intelectual — obrigou a minha atenção a fixar-se nas suas revelação inéditas, acerca de Camões.

Mário Saa falou-me do seu livro já no prelo, Camões no Maranhão em cujas páginas nos conta como e porque o mal-aventurado poeta veio dar a terras do Alentejo do Algarve; e este caso, para mim, inédito, de Camões ter vindo terras algarvias, parece-me digno de contar aos meus comprovincianos que tiverem a simpática mania de se interessar por tudo que, de qualquer forma, se prende à nossa terra.

Desataviado de broquéis literários, eu contarei como ouvi; antes, duas palavras sobre o autor do estudo.

Não conhecem talvez o Mário Saa?
É uma figura minúscula, pouco mais dum côvado de estatura, duas dúzias de anos de idade, com uma cabeça que é pequena — vê-se bem — para conter tenta coisa que tem lá dentro; a sua fisionomia agitada, enriquecida por um olhar penetrante, exterioriza alguns curiosos contrastes: Ele nervoso, ágil, inquieto, e ao mesmo tempo, os seus atos e atitudes são duma grande severidade é simples nas palavras, modesto no vestuário, contudo possui uma notável intuição de elegância e requintes; é comunicativo, dispersando alegria aos punhados, mas os seus olhos humedecem-se de lágrimas à mais pequena emoção.

Mário Saa tem vivido com sábios e estudiosos, tem corrido o país e parte do estrangeiro, consultando pessoas, lendo nas pedras e nas esquinas, enriquecendo os seus estudos rácicos, genealógicos e de arqueologia.

Foi ele quem lançou a audaciosa afirmação de Portugal, presentemente, era governado por judeus, acrescentando: que entrar no Parlamento Português o mesmo é que entrar numa sinagoga; foi ele que nos contou que Afonso Costa é judeu, descendente de Pero da Costa que foi queimado por judaísmo, pela inquisição, em Coimbra, no ano de 1636 — dando-se a coincidência daquele ser queimado num dia 5 de outubro e com a mesma idade que Afonso Costa tinha quando, também a 5 de Outubro de 1910, ajudou implantar a República.

Apesar de moço Mário Saa tem obra — : uma vasta colaboração em revistas e jornais; e os livros: “Evangelho de S. Vito”, “Camões no Maranhão” e “Código Incivil”. E, agora que lhes apresentei homem, vou contar o que ele me disse:

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Luís de Camões em 1546, teve de fugir de Lisboa por causa dos amores com sua prima Isabel Tavares, indo refugiar-se no Alentejo, em Avis, terras de seus parentes, nuns montes próximos duma ribeira que é das mais selvagens que serpeiam pelo Alentejo; ainda hoje, a duas léguas deste local, existe, em ruínas uma torre onde viveu, no tempo de Camões, um outro Luís de Camões, parente daquele, também aventureiro e poeta, e ambos da mesma idade.

Destes sítios partiu o grande épico para o Algarve onde tinha um tio, Pero Vaz de Camões, — de onde descendem, até hoje, os representantes da baronia Vaz de Camões. O alcaide mór de Silves e o alcaide mór de Lagos eram parentes de Camões, presumindo-se que este estivesse refugiado no morgado da Boina, à margem duma ribeira que desce da serra de Monchique — morgado que era também seu parente muito chegado, e irmão do poeta Jorge da Silva que, por amores com uma infanta, fugira da corte, refugiando-se em casa do irmão, na mesma época em que Camões andava desterrado no Algarve. Da nossa província partiu Luís de Camões para Lisboa e logo, depois, para a celebre viagem da Índia. Há versos seus, onde descreve toda a flora e fauna do Alarve, em que faz especiais referências à ribeira da Boina.

Mário Saa contou-me haver desvendado toda a descendência do tio do poeta Pero Vaz de Camões, do Algarve, quase até há presente data; averiguando que um dos últimos varões — amoroso aventureiro, vida agitada — tinha acabado no Alentejo próximo de Crato, onde se suicidara numa Cisterna — minado por dores e desventuras.

JULIÃO QUINTINHA
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