Brito, Casimiro de - Livro proibido

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Casimirodebrito.jpg 09-Brito, Casimiro de Brito - Vietname em nome da liberdade.jpg

  • Casimiro de Brito (1938 - )
Poeta. Romancista. Contista. Ensaísta. É um dos mais ilustres e consagrados poetas portugueses da atualidade.Foi aluno na  Escola Industrial e Comercial de Faro nos anos 50 do Século XX.
  • Livro Proibido - Vietname ... em Nome da Liberdade, Faro, 1967
"Em Faro, no Algarve, funda, com António Ramos Rosa, os "Cadernos do Meio-Dia" projeto do qual nasceria o movimento poesia 61, integrando poetas como Luiza Neto Jorge, Fiama Pais Hasse Brandão, Gastão Cruz, Maria Teresa Horta, Casimiro de Brito. Esse movimento haveria de marcar a poesia portuguesa, tendo sido importante na criação de uma contra-corrente literária. Num país em que a ditadura amarfanhava e sufocava todos os movimentos literários que não se integrassem no panorama do regime político, a revista seria apreendida pela censura".[1] Em 1967 o livro Vietname ... em Nome da Liberdade foi também proibido.

Em nome da liberdade
foi decretado pela grande nação:
Esse pais não está maduro
para a paz.> E logo
foi o pais transformado
em campo de concentraçao
e lançada foi a guerra contra os que
resistiram
em buracos cavados na terra.

Em nome da liberdade
a guerra faz-se com bombas de napalme
e queimadas vivas são as pessoas,
o gado,
a vegetação
numa longa, inatacável
decomposição.

Em nome da liberdade
os jornalistas foram afastados
das zonas onde se travam as batalhas
e cometem atrocidades
contra o povo.
(Os jornalistas convertem a guerra
em coisa demasiado
espessa).
Poema-Em-nome-da-Liberdade alguns-versos livro-Vietname-de-Casimiro-de-Brito.jpg

OUTROS POEMAS DE CASIMIRO DE BRITO - Livros na biblioteca da ESTC:

Esta manhã não lavei os olhos -
pensei em ti.

Se o teu ouvido se fechou à minha boca
poderei escrever ainda poemas de amor?
A arte de amar não me serve para nada.

Um fogo em luz transformado.
Subitamente, a sombra.

Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.

  • Poente Fantástico


"Ao longe inconfortável
Meu barco imaginário
Transformado em chamas e espuma
Colabora na dança do poente.

Entre palácios fantásticos
Monstros e deuses ferozes
Meus dedos arredondados
Nas saliências da cor.

E do sangue poentino
Em espasmos de ouro e cristal
Serpentes enroscando o mundo
E nascendo flores luminosas
Nos seus ventres gasificados.

Barcos e catedrais em chamas
Virgens poetas e prostitutas de mãos dadas
Circundando a diamantina fogueira do poente
Onde meus dedos arrendondados
Acariciam as saliências da cor."

in Poemas da Solidão Imperfeita (1955 - 1957), pág. 42, 1958
Ouvir-.png Clique aqui para ouvir este poema que foi escolhido pela Adriana Zhuk e lido pela Leonor C. (12º 6 da escola Tomás Cabreira, em 2019/2020).


  • A Recusa das Lágrimas

               A Raul de Carvalho

Quando os vermes passam pela rua
simplesmente como as chagas repetidas
planto minhas mãos nesta carne agonizante
e procuro vermes e chagas e ruas
desejando encontrar outras mãos apenas.


Caminhante segue ! A minha mágoa
não sei onde está, se na carne se no espírito!!
Ah ! Como dói sentir o bafo viril do sol
e não puder acariciá-lo
junto ao meu peito ardente e nu de marinheiro pelo
                  sangue ...

É sômente quando volto para o mar
e nele mergulho meus olhos cansados de olhar,
ansioso por mais olhar,
é,"sômente então, que no caminho descubro
mais do que pedras impenetráveis

_ descubro as lágrimas de um mar imenso
que não chorei ainda
completamente

in Poemas da Solidão Imperfeita (1955 - 1957), pág. 41, 1958


  • Postal para mim

apetece-me comprar
todos os postais
que há nos correios
e a todos os homens
do mundo escrever
em letras de sangue
estas palavras
quotidianas :

                        odeiem-se
                        odeiem-se
                        odeiem-se

talvez então
os homens do mundo
postais na mão
cheias de sangue

                        se amem
                        se amem
                        se amem


in Poemas da Solidão Imperfeita (1955 - 1957), pág. 52, 1958

Frente ao mar
meu peito ardente e nu de marinheiro pelo sangue.

Nas veias o fervilhar feliz
de um milhão de ondas devastadoras.

Nos meus olhos libertos e saudosos
espelhando a minha dor imensa
o abraço líquido que me une a ti

            ó MAR
             pagão de olhar luminoso e belo.

Recebe ó MAR
este ribeiro de sofrimento que para ti corre
e contigo se confunde

            ó MAR que eu amo
            e a quem me ligo
            pelo drama de não ser só teu ...

in Poemas da Solidão Imperfeita (1955-1957), página 13, 1958

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