Difference between revisions of "Costa, Emiliano da"
Line 22: | Line 22: | ||
E eu sou espátula, pincel, pintor.<br /> | E eu sou espátula, pincel, pintor.<br /> | ||
E eu já não sei o que faça a tanta cor<br /> | E eu já não sei o que faça a tanta cor<br /> | ||
+ | |||
+ | |||
+ | '''Conchas'''<br /> | ||
+ | <br /> | ||
+ | <br /> | ||
+ | Minha infância de Luz mimada ao colo<br /> | ||
+ | Da onda à beira mar, oh minha infância!<br /> | ||
+ | Vais perdida a boiar, feita num rolo,<br /> | ||
+ | farpada de saudade, na distância...<br /> | ||
+ | <br /> | ||
+ | Mal se apagou a estrela sobre o pólo,<br /> | ||
+ | Deixaste a praia em muda extravagância,<br /> | ||
+ | E perdeste pela areia, pelo solo,<br /> | ||
+ | As conchas que juntei, de sonho e ânsia.<br /> | ||
+ | <br /> | ||
+ | Conchas que rendilharam mãos de magas,<br /> | ||
+ | Tão perdida na ausência imemóre!...<br /> | ||
+ | Ah! Se tu, coração - búzio do mar -<br /> | ||
+ | <br /> | ||
+ | Me toasses aquele som das vagas<br /> | ||
+ | Barcarolas azuis, lindo folclore<br /> | ||
+ | Às ondinas cantado no luar!...<br /> | ||
+ | <br /> | ||
+ | (Colectânea Musa Algarvia, 1927)<br /> | ||
+ | |||
+ | |||
Revision as of 14:01, 11 March 2021
- Augusto Emiliano da Costa
Tavira, 03/12/1884 - Faro, 01/01/1968.
Médico, escritor, poeta, pintor.
É patrono de uma das escolas (em Estoi) do Agrupamento de Pinheiro e Rosa, em Faro e frequentou o ensino liceal em Beja.
- Aldeia Branca de Emiliano da Costa
Circunscrito à moldura da janela,
Vai o quadro do dia já a meio,
Potes de azul derramam-se na tela
E o sol a rir-se, a rir, bate-lhe em cheio.
Que inundação! Por cima de quintais,
Sobre telhados, torres, parreiras,
É o céu, é o céu azul demais!
Aflita, a aldeia acorre: e o ar atira
O gesso, a cal, chapões de claridade,
A ver se a cor deslava, o azul se atira.
Que superabundância – a claridade!
E eu visto a bata de escaiolador.
E eu sou espátula, pincel, pintor.
E eu já não sei o que faça a tanta cor
Conchas
Minha infância de Luz mimada ao colo
Da onda à beira mar, oh minha infância!
Vais perdida a boiar, feita num rolo,
farpada de saudade, na distância...
Mal se apagou a estrela sobre o pólo,
Deixaste a praia em muda extravagância,
E perdeste pela areia, pelo solo,
As conchas que juntei, de sonho e ânsia.
Conchas que rendilharam mãos de magas,
Tão perdida na ausência imemóre!...
Ah! Se tu, coração - búzio do mar -
Me toasses aquele som das vagas
Barcarolas azuis, lindo folclore
Às ondinas cantado no luar!...
(Colectânea Musa Algarvia, 1927)
- Breve Biografia:
Emiliano da Costa licenciou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1914. Fixou residência em Estoi onde exerceu a sua profissão. Homem de grande cultura dedicou-se desde sempre à pintura e à poesia, inspirando-se na natureza e nas gentes do campo, com quem se sentia muito próximo. A sua primeira obra poética terá surgido publicada no jornal do Liceu de Faro "O Académico" em 1906.
- Bibliografia:
Heliantos, 1926.
Rosairinha, 1940.
Saudades do Silêncio, 1947.
Pampilhos, 1947.
Poesias Escolhidas, 1956.
- Veja mais sobre Emiliano da Costa nos seguintes links:
- 1986- Emiliano da Costa por José Carlos Vilhena Mesquita
- 2004- Poema "Dor" e biografia de Emiliano da Costa no site da CM de Loulé.
- 2002- Reposição por Elviro Rocha Gomes da sua conferência, em 1956, sobre Emiliano da Costa.