Campinas, António Vicente

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António Vicente Campinas

Vila Nova de Cacela, 1910 - Vila Real de Santo António, 1998
Militante do Partido Comunista Português, foi preso e obrigado ao exílio pelo regime do Estado Novo
Poeta e prosador
Começou a editar poesia em 1938, com o livro Aguarelas
Especialmente famoso é o seu poema "Cantar Alentejano", em honra de Catarina Eufémia, musicado por José Afonso, no álbum "Cantigas de Maio" editado no Natal de 1971.

  • Bibliografia

Aguarelas
O azul do sul é cor do sonho (narrativas)
Raiz da Serenidade (Poesia)
Fronteiriços 1952 (Romance)
Aguarelas (poesia), 1938
Recantos farenses (Livraria Campina), 1956
Lisboa, Outono (Livraria Ibérica), 1959
Preia-mar, poesias (Ed.do Autor), 1969
Reencontro, 1971
Escrita e combate – textos de escritos comunistas, 1976
Natais de exílio, 1978
Homens e cães (contos), 1979
Três dias de inferno, (Jornal do Algarve), 1980
Vigilância, camaradas (Jornal do Algarve), 1981
Gritos da fortaleza, (Jornal do Algarve), 1981
Putos ao deus-dará, 1982
Rio Esperança, Guadiana, meu amigo (Jornal do Algarve), 1983
Fronteira azul carregada de futuro (Ed.do Autor), 1984
O dia da árvore marcada (Nova Realidade), 1985
Fronteiriços (Nova Realidade), 1986
Ciladas de amor e raiva (Ed. do Autor), 1987
Segredo do meio do mar (Ed. do Autor), 1988
Mais putos ao deus-dará (Orion), 1988
O azul do sul é cor de sonho, narrativas, 1990
A dívida, os corvos e outros contos (em colaboração com Manuel da Conceição) 1992
Guardador de Estrelas, antologia, 1994



Poemas em memória de Catarina Eufémia
Poema "Manhã de Paz"


2004-06-24

Manhã de Paz (*)
de Vicente Campinas do livro Raiz da Serenidade


Ai a manhã de Primavera
calma e sedosa de perfume e flor
— como qualquer primeiro amor
ornamentado de quimera
Haja o que houver e seja quando for
prometo sim! Prometo ter maneira
de semear rosas onde exista a dor!

Este poema, escrito em 1952, inspirou-se nos crimes e nas dores que pesavam sobre o povo coreano, nesse momento.

Mas, em 1966 é a terra mártir e violentada do Vietname, é o povo mártir e corajoso e heróico do Vietnam que sofre uma guerra sem quartel. Uma guerra criminosa onde a colossal máquina destrutiva dos E.U.A. é lançada em peso contra um pequeno e ainda pouco desenvolvido país asiático. Um país cujo povo se defende com uma coragem inultrapassável. Um povo, cujo espírito de luta e de sacrifício merece a admiração de todos os povos do mundo. Um povo que tem demonstrado, e continua a demonstrar, ser digno da solidariedade universal!
Em ambas as guerras, a que é passada e a que é presente, o espírito selvático, a soldo de interesses monopolistas destruiu e destrói a vida na Terra e a vida no Homem. Onde se fala da Coreia, em 1952, pode substituir-se por Vietnam, em 1966. Os mesmos invasores, o mesmo poder desenfreado de louco gigante tentando amordaçar o indomável pigmeu.
Os anos semearam na Humanidade novas esperanças, e novas conquistas científicas embandeiram a sabedoria humana, elevando-se a uma altura superior à dos deuses… mas ainda existe, numa parte da Humanidade, a semente do crime em lugar da flor da fraternidade. E é contra essa parte desonrosa da raça humana que este grito é lançado. Na forma de um poema? Com o calor de um canto? Sim. Na forma de um poema. Com o calor de um canto. Singelo canto, é certo. Mais firme e sincero. Quente e contagiante, de amor à Paz. Mas dedicado na luta pela manutenção da Paz. Mas simples e fraterno, como o simples gosto de viver.
E se devêssemos dizer algo mais na defesa da Paz, se fosse necessário reforçar o espírito deste poema, diria agora como sempre, e mais:
— A Paz é a «RAIZ DA HUMANIDADE»! A Paz é o perfume da existência! É a alegria de viver! É a alma forte da Humanidade!
Pela defesa da Paz, pelo triunfo da Paz, demos os nossos cantos. A nossa luta. O nosso amor. E, se for preciso, a nossa vida!

(*) Com cortes de Censura a vermelho.
https://web.archive.org/web/20070313061453/http://www.noticiasdaamadora.com.pt/nad/artigodossaut.php?eaid=792&codaut=censura16&lng=pt

Arquivo.pt

https://arquivo.pt/wayback/20001016001248/http://www.3arede.pt:80/ajea/stilus/index.html - AJEA lamenta o falecimento de Vicente Campinas

Poesia do Algarve no Parque das Nações, em Lisboa


O Clube Senior no Parque das Nações recebeu uma embaixada de poetisas algarvias a convite de "Os Amigos da Poesia" que decidiram incluir a nossa Região na 1.ª fase do programa "Os Espaços e os Poetas".

Tudo começou quando uma das animadoras, Dr.ª Maria de Lurdes Esteves, se apaixonou pela "Breve Antologia da Poesia Feminina Algarvia" coordenada pela poetisa Nídia Horta e editada em dois volumes pela Câmara Municipal de Vila Real de Stº António.

As sessões decorreram nos dias 29 de Setembro, 13 e 27 de Outubro, sendo esta última sessão antecedida da apresentação de poetas alentejanos entre os quais destacaria a poetisa e contista Faustina Ripado.

As poetisas Algarvias, muitas incluídas na referida antologia, não se limitaram a dizer os poemas da sua autoria, antes privilegiaram a declaração de outros poetas da sua Região, entre eles Candido Guerreiro e João de Deus ditos por Rosélia Martins, Maria Luisa Pousão Sancho evocou seu avô João Lúcio e Bernardo Passos. Nídia Horta lamentou que o estado de saúde de António Ramos Rosa não lhe tivesse permitido estar presente e, deste laureado poeta, disse magistralmente um belo e difícil poema.

Emiliano da Costa e António Pereira marcaram presença na bonita dicção de Lolita Ramirez. Pelas vozes de Maria Armanda Tavares Belo, Filipa Cristo, Nídia Horta e Lolita Ramirez escutaram-se ainda poemas de Teresa Rita Lopes, Maria José do Carmo, Celorico Drago, Sousa Mealha, Martinho Rita Bexiga, Maria Rosa, Antero Nobre e muitos outros.

Um dos mais belos momentos proporcionados pela embaixada das poetisas algarvias teve lugar quando Nídia Horta homenageou postumamente o poeta vilarealense António Vicente Campinas com a declaração dramatizada do poema "Dança das Conquilheiras," do livro "Antemanhã da Liberdade" da autoria daquele escritor. Antes da declaração, num momento incluído na homenagem, foi invocada a figura humana de Vicente Campinas democrata e pedagogo, pela poesia Dr.ª Lolita Ramirez e por outras presentes que com ele conviveram.

Encantada com o poema das "Conquilheiras" a coordenadora e animadora das sessões sobre ele escreveu "Uma Epopeia Trágico-Marítima", texto que gentilmente cedeu para publicação no Jornal de Monchique. Sobre a prestação das nossas poetisas aquela senhora conhecedora e amante da poesia escreveu para o Jornal do Clube Sénior: As poetisas Algarvias que estiveram presentes nas sessões dedicadas ao Algarve trouxeram a magia desse espaço, nas palavras, na melodia, nos ritmos, nos odores, nos sons, na sinestesia que ressalta dos poemas lidos, declamados e representados. Foi o Algarve que veio passear a Lisboa e que mostrou tanto a riqueza da sua paisagem natural, como da sua paisagem humana.

Alguns homens deram a sua colaboração às sessões, com destaque para João Tavares que leu poemas com excelente dicção e Nuno Moniz Pereira que com sua mulher, a poetisa Maria Luisa Pousão Sancho, interpretou um interessante diálogo de sabor Algarvio.


Uma Epopeia Trágico-Marítima Feminina


No poema "Dança das Conquilheiras", da autoria de António Vicente Campinas, magistralmente interpretado por Nídia Horta, foi recordado o Algarve dos anos 50, as mulheres que, na tarefa árdua da apanha da conquilha, lutavam corajosamente com o mar para conseguirem a sua sobrevivência e a dos seus familiares:

"- Ah! Se não fora o mar como houvera de comer?!"

Com alguma carga de erotismo e de sensualidade este poema apresenta-nos um mar avassalador e devorador da vida das mulheres que ousavam desafiá-lo. Personificado como um amante sedutor e violento, o mar traiçoeiro, ora brinca com as mulheres, ora se vinga das que desafiá-lo "O mar as tem / à mercê./ E mais dia/ menos dia/ mal daquela/ que ele amar."

A batalha pela conquista do pão é uma autêntica epopeia trágica, plena se sofrimento e de angústia, alucinante que é a metáfora da luta diária pela sobrevivência.

Esta paisagem humana natural do Algarve do passado foi recordada e levada ao conhecimento daqueles que, não sendo algarvios, hoje o escolhem para as suas férias de Verão e que talvez desconheçam algo do seu passado e possivelmente também algo do seu presente. E nada melhor do que a poesia para veicular esse conhecimento.


Maria de Lurdes de Freitas Esteves 15 de Outubro de 2000