Difference between revisions of "Brito, Casimiro de - Livro proibido"
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Esta manhã não lavei os olhos -<br />pensei em ti.<br /><br />Se o teu ouvido se fechou à minha boca<br />poderei escrever ainda poemas de amor?<br />A arte de amar não me serve para nada.<br /><br />Um fogo em luz transformado.<br />Subitamente, a sombra.<br /><br />Há dias em que morro de amor.<br />Nos outros, de tão desamado,<br />morro um pouco mais.<br /> | Esta manhã não lavei os olhos -<br />pensei em ti.<br /><br />Se o teu ouvido se fechou à minha boca<br />poderei escrever ainda poemas de amor?<br />A arte de amar não me serve para nada.<br /><br />Um fogo em luz transformado.<br />Subitamente, a sombra.<br /><br />Há dias em que morro de amor.<br />Nos outros, de tão desamado,<br />morro um pouco mais.<br /> | ||
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+ | Nos meus olhos libertos e saudosos<br /> | ||
+ | espelhando a minha dor imensa<br /> | ||
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+ | pagão de olhar luminoso e belo.<br /> | ||
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+ | este ribeiro de sofrimento que para ti corre<br /> | ||
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+ | ó MAR que eu amo<br /> | ||
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+ | in '''''Poemas da Solidão Imperfeita (1955-1957)''''', página 13, 1958<br /> | ||
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Revision as of 20:57, 3 March 2024
- Casimiro de Brito (1938 - )
Poeta. Romancista. Contista. Ensaísta. É um dos mais ilustres e consagrados poetas portugueses da atualidade.Foi aluno na Escola Industrial e Comercial de Faro nos anos 50 do Século XX.
- Livro Proibidoo - Vietname ... em Nome da Liberdade, Faro, 1967 - Lido por Miguel G. - PAE3 2024.
Em nome da liberdade
foi decretado pela grande nação:
Esse pais não está maduro
para a paz.> E logo
foi o pais transformado
em campo de concentraçao
e lançada foi a guerra contra os que
resistiram
em buracos cavados na terra.
Em nome da liberdade
a guerra faz-se com bombas de napalme
e queimadas vivas são as pessoas,
o gado,
a vegetação
numa longa, inatacável
decomposição.
Em nome da liberdade
os jornalistas foram afastados
das zonas onde se travam as batalhas
e cometem atrocidades
contra o povo.
(Os jornalistas convertem a guerra
em coisa demasiado
espessa).
- OUTROS POEMAS DE CASIMIRO DE BEIRO - Livros na biblioteca da ESTC:
- Um Pouco Mais Lido por Beatriz L. do 12.º.
Esta manhã não lavei os olhos -
pensei em ti.
Se o teu ouvido se fechou à minha boca
poderei escrever ainda poemas de amor?
A arte de amar não me serve para nada.
Um fogo em luz transformado.
Subitamente, a sombra.
Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.
- Poente Fantástico
"Ao longe inconfortável
Meu barco imaginário
Transformado em chamas e espuma
Colabora na dança do poente.
Entre palácios fantásticos
Monstros e deuses ferozes
Meus dedos arredondados
Nas saliências da cor.
E do sangue poentino
Em espasmos de ouro e cristal
Serpentes enroscando o mundo
E nascendo flores luminosas
Nos seus ventres gasificados.
Barcos e catedrais em chamas
Virgens poetas e prostitutas de mãos dadas
Circundando a diamantina fogueira do poente
Onde meus dedos arrendondados
Acariciam as saliências da cor."
in Poemas da Solidão Imperfeita (1955 - 1957), pág. 42, 1958
Clique aqui para ouvir este poema que foi escolhido pela Adriana Zhuk e lido pela Leonor C. (12º 6 da escola Tomás Cabreira, em 2019/2020).
- A Recusa das Lágrimas
A Raul de Carvalho
Quando os vermes passam pela rua
simplesmente como as chagas repetidas
planto minhas mãos nesta carne agonizante
e procuro vermes e chagas e ruas
desejando encontrar outras mãos apenas.
Caminhante segue ! A minha mágoa
não sei onde está, se na carne se no espírito!!
Ah ! Como dói sentir o bafo viril do sol
e não puder acariciá-lo
junto ao meu peito ardente e nu de marinheiro pelo
sangue ...
É sômente quando volto para o mar
e nele mergulho meus olhos cansados de olhar,
ansioso por mais olhar,
é,"sômente então, que no caminho descubro
mais do que pedras impenetráveis
_ descubro as lágrimas de um mar imenso
que não chorei ainda
completamente
in Poemas da Solidão Imperfeita (1955 - 1957), pág. 41, 1958
- Postal para mim
apetece-me comprar
todos os postais
que há nos correios
e a todos os homens
do mundo escrever
em letras de sangue
estas palavras
quotidianas :
odeiem-se
odeiem-se
odeiem-se
talvez então
os homens do mundo
postais na mão
cheias de sangue
se amem
se amem
se amem
in Poemas da Solidão Imperfeita (1955 - 1957), pág. 52, 1958
Frente ao mar
meu peito ardente e nu de marinheiro pelo sangue.
Nas veias o fervilhar feliz
de um milhão de ondas devastadoras.
Nos meus olhos libertos e saudosos
espelhando a minha dor imensa
o abraço líquido que me une a ti
ó MAR
pagão de olhar luminoso e belo.
Recebe ó MAR
este ribeiro de sofrimento que para ti corre
e contigo se confunde
ó MAR que eu amo
e a quem me ligo
pelo drama de não ser só teu ...
in Poemas da Solidão Imperfeita (1955-1957), página 13, 1958