Lawrence, D. H. - Livro Proibido
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- Lawrence, D. H. (1885 - 1930)
Romancista, contista, poeta e ensaísta inglês. Com um estilo único e altamente controverso, foi autor do livro O Amante de Lady Chatterley, considerado como provocatório, mas atualmente é um clássico da literatura mundial.
- Livro Proibido - O Amante de Lady Chatterley
Obra maior da literatura mundial, este clássico da literatura foi um dos livros mais censurados por todo o mundo e proibido durante décadas em muitos países por alegada obscenidade. Em Portugal terá sido censurado em 1970, mas hoje faz parte das listas do Plano Nacional de Leitura sendo recomendado para maiores de 18 anos.
O agente de Lawrence informou o autor que o seu arrojado conto não poderia ser publicado no Reino Unido, devido tanto ao seu conteúdo sexualmente explícito como à sua descrição das relações então tabu entre membros de diferentes classes sociais. O autor acabou por obter uma impressão limitada em língua inglesa através de uma editora italiana. "Lady Chatterley's Lover" só foi publicado no Reino Unido em 1960, tornando-se o tema de um julgamento marcante sobre obscenidade travado pela editora Penguin Books contra o Estado. A Pinguim ganhou e, no primeiro dia em que o romance ficou disponível, foram vendidos 200 mil exemplares. O livro foi subsequentemente banido na China em 1987 com o argumento de que "corromperia a mente dos jovens e é também contra a tradição chinesa", embora não seja claro se a proibição ainda é aplicada. In:[1]
- Excerpt 1 - Chapter One
Ours is essentially a tragic age, so we refuse to take it tragically. The cataclysm has happened, we are among the ruins, we start to build up new little habits, to have new little hopes. It is rather hard work: there is now no smooth road into the future: but we go round, or scramble over the obstacles. We’ve got to live, no matter how many skies have fallen.
This was more or less Constance Chatterley’s position. The war had brought the roof down over her head. And she had realized that one must live and learn.
She married Clifford Chatterley in 1917, when he was home for a month on leave. They had a month’s honeymoon. Then he went back to Flanders: to be shipped over to England again six months later, more or less in bits. Constance, his wife, was then twenty-three years old, and he was twenty-nine.
His hold on life was marvellous. He didn’t die, and the bits seemed to grow together again. For two years he remained in the doctor’s hands. Then he was pronounced a cure, and could return to life again, with the lower half of his body, from the hips down, paralyzed for ever.
- Excerto 1A - Capítulo 1
A nossa época é essencialmente trágica, por isso nos recusamos a aceitá-la tragicamente. O cataclismo deu-se, estamos entre as ruínas, desatamos a construir novos pequenos habitat, a alimentar novas esperançazinhas. É uma tarefa difícil, já não há nenhuma estrada suave em direção ao futuro: rodeamos os obstáculos, ou passamos por cima deles. Seja qual for o número de céus que desabem, temos de viver.
Esta era, mais ou menos, a posição de Constance Chatterley A guerra tinha sido como um tecto que lhe caísse em cima, e ela compreendera que seria necessário viver e aprender.
Casara-se com Clifford Chatterley em 1917, numa altura em que ele estivera na Inglaterra a gozar um mês de licença. Tiveram uma lua-de-mel de um mês. Regressara depois à Flandres, para voltar outra vez à Inglaterra, seis meses mais tarde, mais ou menos em bocados. Constance, a mulher, tinha então vinte e três anos e ele vinte e nove.
O apego dele à vida foi maravilhoso. Não morreu e os bocados parecerem voltar a juntar-se outra vez. Durante dois anos andou pelas mãos dos médicos. A seguir foi dado como curado e pode voltar de novo à vida com a parte inferior do corpo, da cintura para baixo, paralisada para sempre.
- Excerpt 2
This was in 1920. They returned, Clifford and Constance, to his home, Wragby Hall, the family “seat.” His father had died, Clifford was now a baronet, Sir Clifford, and Constance was Lady Chatterley. They came to start housekeeping and married life in the rather forlorn home of the Chatterleys on a rather inadequate income. Clifford had a sister, but she had departed. Otherwise there were no near relatives. The elder brother was dead in the war. Crippled for ever, knowing he could never have any children, Clifford came home to the smoky Midlands to keep the Chatterley name alive while he could.
- Excerto 2A
Estava-se em 1920. Clifford e Constance voltaram ao lar deles, ao lar da familia, Wragby Hall. O pai de Clifford falecera, ele era agora um baronete, Sir Clifford, e Constance era Lady Chatterley.
O casal iniciou a sua vida no lar bastante delapidado dos Chatterley com um rendimento razoavelmente limitado. Clifford tinha uma irmã, mas falecera e não havia mais parentes próximos. O irmão mais velho morrera na guerra. Aleijado para sempre, sabendo que nunca poderia ter descendentes, Clifford regressou à fumacenta região dos Midlands para manter vivo, enquanto pudesse, o nome dos Chatterley.
- Excerto 3
Ela continuava imóvel como se estivesse adormecida. Foram dele a atividade e o orgasmo; ela não podia lutar mais. Até o aperto dos seus braços à volta do corpo de Connie, o enérgico movimento de que ela só começou a despertar quando ele acabou e ficou sobre ela, quase ofegante.
Então perguntou a si mesma, vagamente, porquê? Por que é que aquilo era necessário? Por que é que tinha retirado de cima dela uma grande nuvem e lhe dera paz? Seria real? Seria isto real?
Todavia, o seu espírito atormentado de mulher moderna não se deixava tranquilizar. Seria real? Sabia que entregar-se àquele homem era uma realidade; mas sabia também que, tentando conter-se, não seria nada. Estava velha, tinha milhões de anos. E já não conseguia aguentar sozinha a sua carga. Era necessário alguém tomá-la também.
O homem jazia numa imobilidade misteriosa. Que é que ele estaria a sentir? Que é que ele estaria a pensar? Ela não sabia. Ele era um estranho, não o conhecia. Teria de esperar, porque ela não ousava interromper a sua misteriosa quietude. Continuava abraçado a ela, o seu corpo húmido sobre o dela, muito próximo. Totalmente desconhecido. E, apesar de tudo, tranquilo. A sua quietude era serena. Teve consciência disso quando finalmente ele despertou e se afastou dela. Era como um abandono. No escuro, puxou-lhe o vestido até aos joelhos, e por momentos parecia que estava a ajustar as próprias roupas. Depois abriu calmamente a porta e saiu.
- Excerto 4
Connie viu a lua pequena e muito brilhante que espargia por cima dos carvalhos o seu esplendor. Rapidamente, levantou-se e arranjou-se. Depois caminhou em direção à porta da cabana.
Todo o bosque estava mergulhado na sombra, era quase noite cerrada; no entanto, o céu estava claro como cristal, mas não irradiava claridade.
Ele avançou para ela por entre a penumbra com o rosto levantado como uma mancha pálida.
- Vamos? – perguntou ele.
- Aonde?
- Acompanho-a até ao portão.
<Ele resolvia as coisas à sua maneira. Fechou à chave a porta da cabana e seguiu-a.
- Não está arrependida, pois não? – perguntou, enquanto caminhava ao lado dela.
- Não! Não. Você está?
- Arrependido por isso? Não. – Mas pouco depois, acrescentou: - Mas há tudo o resto!
- Qual resto?
- Sir Clifford, as outras pessoas. Todas as complicações.
- Porquê complicações? – perguntou ela, desiludida.
- É sempre assim. Tanto para si como para mim. Há sempre complicações.
Ele continuava a andar com passo firme na escuridão.
- Está arrependido? – perguntou ela, de novo.
- De certo modo – respondeu, olhando para o céu. – Pensei que tudo isso tivesse acabado para mim. Agora recomecei.
- Recomeçou o quê?
- A viver.
- A viver! – repetiu ela, com um estremecimento estranho.
- A vida é isto, não se pode evitar. E quando se evita, mais vale morrer. Por isso não pude evitar mais.
Ela não concordava inteiramente, mas, no entanto…
- É o amor – disse ela, num tom alegra.
- Ou seja o que for – respondeu ele.
Continuaram a atravessar o bosque escuro, em silêncio, até chegarem quase ao portão.
- Mas não me detesta, pois não? – perguntou ela, ansiosa.
- Não, não…,
E subitamente, abraçou-a de novo com força, com a paixão que os tinha unido.
- Não, para mim foi bom, foi bom! E para si?
- Para mim também – respondeu ela, com alguma falsidade, porque tinha estado pouco consciente de tudo.
Ele beijou-a suavemente, com uma ternura apaixonada.
- Se ao menos não houvesse outras pessoas no mundo – disse, lúgubre.
- Excerto 5 lido por Leo da turma PIA3
“E assim gosto da minha castidade neste momento, porque é como a paz que sobrevém ao amor. Gosto de levar uma vida casta, como as campânulas brancas gostam da neve. Gosto da castidade que é o momento de paz no nosso amor, e que é uma chama branca, muito branca. E quando a Primavera chegar, quando passarmos a viver junto, então poderemos, ao fazer amor, tornar a pequena chama brilhante. Agora é impossível. Agora temos de ser castos, e é bom ser casto, é como um rio de água fria na alma. Gosto da castidade que corre agora entre nós. É água fresca da chuva. Como é possível desejar permanentemente as cansativas aventuras? É terrível ser-se apenas D. Juan e não se ter paz no amor; ser-se como a pequena chama acesa, incapaz de ser casto como ao pé de um rio.
Bem, tantas palavras só porque não te posso tocar. Se pudesse dormir abraçado a ti, a tinta ficaria no tinteiro. Podemos ser castos estando juntos, como podemos sê-lo fazendo amor. Mas, por agora, temos de viver separados, e creio que é realmente mais sensato. Oh! Mas não tenho a certeza.
Não faz mal, não faz mal, não vamos sofrer por isso. Eu acredito realmente na chama e nesse deus cujo nome não sei, mas que não consentirá que se apague. Dentro de mim há tanto de ti que só é pena não poderes estar aqui inteira.
Não te preocupes com Sir Clifford. Se não tiveres notícias dele, não te preocupes. Ele não pode fazer-te mal. Limita-te a esperar, a esperar que ele decida ver-se livre de ti. E, se não for assim, saberemos libertar-nos dele. Mas não, ele acabará por expulsar-te da sua vida como uma criatura abominável.
E, neste momento, não consigo sequer parar de te escrever.
Estamos já muito próximos um do outro. Mas uma grande parte de nós está no outro. É preciso vivermos isso e prepararmo-nos para o nosso encontro. John Thomas despede-se de Lady Jane, um pouco triste, mas cheio de esperança!”
- Excerpt 6 (Cont. I chapter)
Having suffered so much, the capacity for suffering had to some extent left him. He remained strange and bright and cheerful, almost, one might say, chirpy, with his ruddy, healthy-looking face, and his pale-blue, challenging bright eyes. His shoulders were broad and strong, his hands were very strong. He was expensively dressed, and wore handsome neckties from Bond Street. Yet still in his face one saw the watchful look, the slight vacancy of a cripple.
He had so very nearly lost his life, that what remained was wonderfully precious to him. It was obvious in the anxious brightness of his eyes, how proud he was, after the great shock, of being alive. But he had been so much hurt that something inside him had perished, some of his feelings had gone. There was a blank of insentience.
- Excerpt 7(Cont. I chapter)
Constance, his wife, was a ruddy, country-looking girl with soft brown hair and sturdy body, and slow movements, full of unused energy. She had big, wondering eyes, and a soft mild voice, and seemed just to have come from her native village. It was not so at all. Her father was the once well-known R.A., old Sir Malcolm Reid. Her mother had been one of the cultivated Fabians in the palmy, rather pre-Raphaelite days. Between artists and cultured socialists, Constance and her sister Hilda had had what might be called an aesthetically unconventional upbringing. They had been taken to Paris and Florence and Rome to breathe in art, and they had been taken also in the other direction, to the Hague and Berlin, to great Socialist conventions, where the speakers spoke in every civilized tongue, and no one was abashed.
Copyright © 2001 by D.H. Lawrence "About Lady Chatterley's Lover"