Caires, Lutegarda
Luthgarda Guimarães de Caires
Poeta e Romancista. Filantropa. Ativista.
Nasceu em Vila Real de Santo António, em 15 de Novembro de 1879 e morreu em 30 de março de 1935 em Lisboa.
Foi a "fundadora" do Natal dos Hospitais.
- Luar do Algarve in Almanaque do Algarve, 1943
Aproxima-se a noite... Tremulando
Desdobra-se a mortalha transparente
De estrelas nos espaços lucilando...
O rouxinol suspira eternamente,
E canta, canta sempre, soluçando...
Ao Deus da Mis'ricórdia, tristemente
Os ciprestes para o céu vão suplicando
Por almas que se evolam docemente...
Saudades! Espalhai o vosso pranto!
E sobre o coração que sofreu tanto,
cantai antes a Glória, a Paz que o encerra!
Mas tu, luar, na campa abandonada,
vem espalhar a luz abençoada,
celestial luar da Minha Terra!
- Anoitecendo do livro póstumo “Anoitecendo”
Silencio! Tangem sinos. São Trindades.
O sol vai pouco a pouco enfraquecendo,
sulcado de violetas e saudades...
Avé-Maria! Vem anoitecendo...
Esp'ranças, ambições, alacridades,
os poentes da vida esmaecendo,
nem o sol lhes empresta as claridades
dos lampejes que, ao longe, vão morrendo.
Porque a noite aproxima-se, rezando,
e o luar, melancólico, sonhando
com tristezas da eterna escuridão...
Mas a alma, que vence e se ilumina,
que lhe importa, no Além da luz divina,
que na terra enregele um coração!...
- Biografia
Lutegarda Guimarães de Caires, nasceu em Vila Real de Santo António, em Novembro de 1879 e morreu em 1935. Muito nova, deixou o Algarve e foi viver para Lisboa onde conheceu e mais tarde veio a casar, o advogado João de Caires. Logo no princípio do seu casamento sofreu a morte de uma filha, experiência amarga que marca profundamente e que fez transparecer tudo isso na sua poesia.
Dedica-se então a causas sociais, sendo a mais relevante de todas as visitas e dádivas que fazia às crianças doentes do Hospital Dona Estefânia, motivo porque se diz ter sido a percursora do “Natal dos Hospitais”, evento que promoveu durante dez anos como “Natal das Crianças dos Hospitais” e que hoje se chama apenas “Natal dos Hospitais”.
Ativista para lá de poetisa, escreve artigos onde denuncia as fracas condições de higiene das cadeias portuguesas, conseguindo que se abolissem algumas das leis vigentes como A Máscara (para penas mais duras) ou a obrigatoriedade da pena do silêncio.
Colabora em vários jornais, Século, Diário de Notícias, A Capital, Brasil – Portugal, Ecos da Avenida e Correio da Manhã.
Foi agraciada a 5 de Outubro de 1931 como Oficial da Ordem de Benemerência, pela sua dedicação às crianças, e com a Ordem Militar de Santiago de Espada. A cidade de Vila Real de Santo António prestou-lhe homenagem em 1937 com lugar na toponímia local e mais tarde, em 1966, com um busto junto do rio Guadiana.
in: Poetas esquecidos, 15 de fevereiro de 2016 · Lutegarda de Caires.https://ptpt.facebook.com/703394263113987/posts/904566396330105/
- Bibliografia
Glicínias (1910)
Papoulas (1912)
A Dança do Destino: contos e narrativas (1913)
Bandeira Portuguesa (1910)
Dança do Destino (1911)
Pombas Feridas (1914)
Sombras e Cinzas (1916)
Doutor Vampiro (1921, romance)
Violetas (1922)
Cavalinho Branco (1930)
Palácio das Três Estrelas (1930)
'Inês' (peça de teatro em co-autoria com Manuel Vieira Natividade e Virgínia Vitorino)
'Vagamundo' (Libretto da ópera musicada por Rui Coelho)
“Tornei a ver te! Agora os meus cabelos embranqueceram já... longe de ti. Foram-se há muito aspirações e anelos mas as saudades ainda as não perdi.
Mas volto à minha terra, tão bonita! Terra onde reina o sol que resplandece, aonde a vaga é murmurar de prece e sinto ainda a ternura infinita.
É que não há céu de tal 'splendor nem rio azul tão belo e prateado como o Guadiana, o meu rio encantado de mansas águas, suspirando amor!”
— Lutegarda Guimarães de Caires Alcoutim Livre domingo, 21 de setembro de 2008 Lutegarda de Caires
Após a implantação da República é convidada pelo ministro da Justiça, a propor melhorias de carácter social.
Da sua pena saem vários trabalhos sobre a situação jurídica da mulher.
Os problemas prisionais merecem-lhe especial atenção. Neste sentido consegue a abolição da máscara penitenciária e do regime do silêncio.
É igualmente pela sua acção que as condições sanitárias das prisões das mulheres sofrem algumas melhorias.
Foi a percursora do “Natal nos Hospitais”.
No campo poético, onde igualmente se notabilizou, obtém em 1913 o 1º Prémio de Poesia nos jogos florais hispano-portugueses de Ceuta, com o soneto Florinha das ruas.
São da sua autoria, em verso, os seguintes trabalhos: Glicínias (1910); Bandeira Portuguesa (1910); Papoulas (1912); Sombras e Cinzas (1916) e Violetas (1923). Por publicar ficou Anoitecendo.
Em prosa deixou: Dança do Destino (contos), 1913; Pombas Feridas (misto de prosa e verso) (1914); Doutor Vampiro (romance) (1923); Palácio das três Estrelas (literatura infantil) (1930). Nesta área, deixou inédito: Águas Passadas (novela); Árvores benditas e Nossa Senhora de Lurdes.
Lutegarda de Caíres abordou outras áreas da literatura. Assim escreveu, Vagabundo, libreto de ópera que subiu à cena em 1914 e mais tarde em 1931. Em teatro, deixou inédito Lenda de Guimer.
Tem desde 1937 o seu nome na toponímia vila-realense.
Em Fevereiro de 2008 é aberto na sua terra natal o 1º Concurso Literário, Lutegarda de Guimarães Caíres (prosa e verso) destinado a todos os alunos do ensino básico e secundário.
Junto ao Guadiana foi levantada uma estátua em pedra que a representa, homenageando-a. ___________________________________________ Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. V Publicado por José Varzeano Tema: Figuras do Baixo Guadiana
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