Difference between revisions of "Camões e a Algarvia"
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Revision as of 15:37, 10 February 2025
Mário Lyster Franco
Camões e a Algarvia
mobo5 be prettibio... Escrita hã bem mais de trinta anos, proferida, primeiro, em Dezembro de 1945, no Sarau do 479 anivérsãrio do Ginásio Clube Farense e, depois, em 29 de Novembro de 1946, na Socie-dade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, no fecho da I Exposi-ção Bibliográfica e de Artes Tlásticas do Algarve, realizada na capital, -esquecida no fundo de uma gaveta e sópublicadano "Correio do Sul" dez anos depois, lembraram-se agora os amigos do GRUPO DE ESTUDOS ALGARVIOS de que podia haver interesse em dar a esta palestra aquela divulgação livresca ou mais prò-priamente opuscular, que mais natural seria então tivesse ti-do Isso decerto melhor desculparia certas ingenuidades e fan tasias, a talVez que demasiada brevidade que o A. lhe deu e õ deixar em branco alguns pormenores, defeitos que, porventura, destinando-a a ser ouvida, tomou então por qualidades ede que - sabe-se lá! - talvez sem grande esforço, destinada que vai ser à leitura, pudesse expurga-la agora! Publica-se, no entanto, na sua pureza original. E fácil se torna reconhecer assim que o A. entende que, no revesti-la ago rada erudição que então não teve, por mais certa e brilhante 11
que ela fosse, não haveria honesto proceder. Teria, de resto, que efectuar leituras e investigações e que embrenhar-Se em problemas que talvez então o tivessem in-teressado mas de que, face a outras preocupações do espirito, se sente de todo afastado no presente. Sem quebra do respeito que merece o labor do falecido Mes tre, julga saber, por exemplo, que 9,qqnceitO,...tofiliano _clã inspiração de Os LuSiadas por D. Francisca de Aragão nunca alcançou perfeito beneplácito dos historiadores e dos críti-cos, tido como mais ou menos sempre foi por cronológicamente inaceitável, e se reconhece que podia fàcilmente desenvolver-o tema como numerosas transcrições poéticas, que dariam ã pli-blicação mais substância, mais conteúdo e maior volúme e afi-velariam mais profundamente não s6 a paixão camoneana, Mas, porém, a que cuidados, mas também a de toda a vasta côrte dos poetas aduladores da "algarvia", confessa que jã não teve paciência para o fazer. De tudo quanto escreveu e deixa escrito, julga,pensa,cal-cula que só talvez apenas o problema que esboçou a volta de Disparates da índia, em que Camões, como que ao geito de re-vindicta, não teve dúvida em malquistar-se com o tio da sua idolatrada, seja o aue permanece por esclarecer definitiva-mente e pode interessar ainda qualquer investigador que nanja ele. Mas, seja como for! Se teve então apenas a pretensã de apresentar a sua palestra, primeiro, como que emgalanteiFait diversa para abrir uma noite de baile e, depois, como simples-diversificação, mais ou menos poética, do fechar de uma expo-sição, não e agora, trinta anos depois, que vai transforma-la e desenvolvê-la, imbuindo-a, decerto que inütilmente, da se-riedade de uma comunicação académica... Camões, mesmo saneado como foi, não precisa - graças a Deus! - da sua achega para 0 imortalidade que possui. E de D. Francisca de Aragão, a quem os próprios herdeiros,não obstan-te as altas posições de que disfrutavam, como quesanearmntam bém não lhe respeitando as últimas vontades, ficará para sem= pre, pelos tempos fora, a recordação, cheia de graça, de uma formosissima donzela que foi o encanto das gentes do seu tem-po. E hoje, tal como outrora, haverá sempre uma mulher bonita para ser o enlevo de qualquer poeta e, apesar de tudo,' vamos lá, um pobre diabo como eu que, com muita ingenuidade então e sem pretensões agora, se disponha a recordar o facto, "Amizade-amorosa", um misto de amor, de amizade, de admi- 12 ração, de apreço e de ternura, perante a impossibilidade de um enlace, que mais podia Camões ter procurado e encontradona lindíssima quarteirense? Isso chegou para seu consolo! "Camões e a Algarvia"! Pois então? Faro, Junho de 1978 M. L. F. 13