Difference between revisions of "A Avó Algarvia de Camões"

From Wikipédia de Autores Algarvios
Jump to: navigation, search
 
(12 intermediate revisions by the same user not shown)
Line 1: Line 1:
  
== A Avó Algarvia de Camões ==
+
== '''Ramiro Santos''' - ''A Avó Algarvia de Camões'' ==
  
[[File:Ramiro-150x150.jpg]]
+
[[File:Ramiro-150x150.jpg]]<br />
  
'''Ramiro Santos''' nasceu numa pequena aldeia do Alentejo, cresceu em África de onde trouxe a luz do Índico, e vive no Algarve respira dos dias azuis e a claridade. Jornalista profissional durante uma vida. A rádio foi a sua casa primordial.
+
'''Ramiro Santos''' nasceu numa pequena aldeia do Alentejo, cresceu em África de onde trouxe a luz do Índico, e vive no Algarve respira dos dias azuis e a claridade. Jornalista profissional durante uma vida. A rádio foi a sua casa primordial.<br />
  
  
'''''A Avó Algarvia de Camões''''' - Artigo de Ramiro Santos publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul de fevereiro publicado em Fevereiro, 2022  
+
'''A Avó Algarvia de Camões'''<br />
 +
Artigo de Ramiro Santos publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul, sobre as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões, publicado em Fevereiro, 2022 <br />
  
  
 +
''É a avó algarvia de Camões. Chamava-se Guiomar Vaz da Gama, casada com Antão Vaz de Camões, e era parente dos Gamas do Algarve. A ligação familiar está documentada, mas continuam a pairar no ar perguntas sem respostas. Por exemplo: quem foram os pais de Guiomar ou que tipo e grau de parentesco tinha ela com a família do almirante da Índia? O que se sabe é apenas o que dizem os primeiros biógrafos do poeta, Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria. (…)<br />E tudo se resume a isto: que “Antão Vaz de Camões casou com Guiomar Vaz da Gama, parente dos Gamas do Algarve, vindos do Alentejo, da família do grande navegador”. Uma versão que foi sendo replicada sucessivamente por outros historiadores e genealogistas ao longo dos séculos. Sem um ponto a mais, a narrativa ficou assim parada no tempo. Como dizia Faria de Sousa, “quien lo entendiere mejor me lo diga”.<br />Que os Gamas passaram do Alentejo para o Algarve e por cá deixaram descendência, é um dado adquirido. O mais notável deles, Vasco da Gama, de família com origens em Sines e na Vidigueira, casou com Catarina de Ataíde, uma algarvia filha de Álvaro de Ataíde, alcaide mor de Alvôr. O primeiro a colocar o nome de Guiomar como avó de Camões, e a ligação desta a Vasco da Gama, foi Pedro Mariz, numa edição de Os Lusíadas de 1613, comentada por Manuel Correia. Um e outro foram contemporâneos de Luís de Camões e o último seu amigo pessoal, “persona de credito e de la idade do poeta e su amigo”, como diz Mariz. Ninguém como eles e M. Severim de Faria, estaria em melhor posição para o afirmar com tal propriedade. <br />À excepção do que eles disseram – mesmo com algumas imprecisões -, muitos aspetos da vida do épico português persistem envoltos em nuvens de fumo que têm levado ao engano e, não raras vezes, a muitas fantasiosas efabulações. Mas graças a eles, há coisas que são hoje pacificamente aceites: Luís Vaz de Camões era descendente direto de Vasco Pires de Camões, seu trisavô, fidalgo galego que passou a Portugal ao serviço do rei D. Fernando, onde ganhou fama e fortuna. Mais tarde, por ter alinhado ao lado de Castela contra D. João I, em Aljubarrota, caiu em desgraça, foi feito prisioneiro e tudo perdeu.''<br />
  
 
+
*'''Pode ler o artigo na íntegra''' no link seguinte:<br />
 
 
''É a avó algarvia de Camões. Chamava-se Guiomar Vaz da Gama, casada com Antão Vaz de Camões, e era parente dos Gamas do Algarve. A ligação familiar está documentada, mas continuam a pairar no ar perguntas sem respostas. Por exemplo: quem foram os pais de Guiomar ou que tipo e grau de parentesco tinha ela com a família do almirante da Índia? O que se sabe é apenas o que dizem os primeiros biógrafos do poeta, Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria. (…)''
 
 
 
Assim começa o artigo de Ramiro Santos sobre as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões, que pode ler na íntegra no link seguinte:
 
 
 
https://postal.pt/edicaopapel/a-avo-algarvia-de-camoes/#goog_rewarded
 
 
 
 
 
 
 
O texto explora as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões com o Algarve. Ele sugere que o poeta, além de descendente direto dos Gamas algarvios, manteve relações importantes com figuras influentes da região, como a família Barreto e os Castelo Branco. Apesar das incertezas documentais, o Algarve parece ter desempenhado um papel significativo na vida e na obra de Camões.
 
 
 
É a '''avó algarvia de Camões'''. Chamava-se '''Guiomar Vaz da Gama''', casada com '''Antão Vaz de Camões''', e era parente dos '''Gamas''' do Algarve.
 
 
 
A ligação familiar está documentada, mas continuam a pairar no ar perguntas sem respostas. Por exemplo: quem foram os pais de '''Guiomar''' ou que tipo e grau de parentesco tinha ela com a família do almirante da Índia? O que se sabe é apenas o que dizem os primeiros biógrafos do poeta, '''Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria.'''
 
 
 
E tudo se resume a isto: que ''“'''Antão Vaz de Camões''' casou com '''Guiomar Vaz da Gama''', parente dos Gamas do Algarve, vindos do Alentejo, da família do grande navegador”.'' Uma versão que foi sendo replicada sucessivamente por outros historiadores e genealogistas ao longo dos séculos. Sem um ponto a mais, a narrativa ficou assim parada no tempo. Como dizia '''Faria de Sousa''', ''“quien lo entendiere mejor me lo diga”''.
 
 
 
Que '''os Gamas''' passaram do Alentejo para o Algarve e por cá deixaram descendência, é um dado adquirido. O mais notável deles, '''Vasco da Gama''', de família com origens em Sines e na Vidigueira, casou com '''Catarina de Ataíde''', uma algarvia filha de '''Álvaro de Ataíde''', alcaide mor de Alvor.
 
 
 
O primeiro a colocar o nome de '''Guiomar''' como avó de '''Camões''', e a ligação desta a '''Vasco da Gama''', foi '''Pedro Mariz''', numa edição de Os Lusíadas de 1613, comentada por '''Manuel Correia'''. Um e outro foram contemporâneos de '''Luís de Camões''' e o último seu amigo pessoal, ''“persona de credito e de la idade do poeta e su amigo”'', como diz '''Mariz'''. Ninguém como eles e '''M. Severim de Faria''', estaria em melhor posição para o afirmar com tal propriedade.
 
 
 
À exceção do que eles disseram – mesmo com algumas imprecisões -, muitos aspetos da vida do épico português persistem envoltos em nuvens de fumo que têm levado ao engano e, não raras vezes, a muitas fantasiosas efabulações. Mas graças a eles, há coisas que são hoje pacificamente aceites: '''Luís Vaz de Camões''' era descendente direto de '''Vasco Pires de Camões''', seu trisavô, fidalgo galego que passou a Portugal ao serviço do rei D. Fernando, onde ganhou fama e fortuna. Mais tarde, por ter alinhado ao lado de Castela contra D. João I, em Aljubarrota, caiu em desgraça, foi feito prisioneiro e tudo perdeu.
 
 
 
 
 
Do seu casamento com '''Maria Tenreiro''', vieram os descendentes da família mais próxima do poeta. Primeiro os seus bisavós, '''João Vaz de Camões''' e '''Inês Gomes da Silva''', pais de '''Antão Vaz de Camões''', seu avô, dono de um morgadio em Évora, que veio a casar com '''Guiomar Vaz da Gama'''. Por este facto o poeta é neto, por varonia, de '''Guiomar Vaz da Gama'''. Os seus pais foram '''Simão Vaz de Camões''' e '''Ana de Macedo'''.
 
 
 
Corria-lhe, pois, nas veias, sangue de um fidalgo vindo da Galiza, mestre no manejo das armas e virtuoso na poesia trovadoresca, e de uma ilustre avó algarvia. E terá sido da fusão dessa tradição da poesia trovadoresca, herdada do trisavô, com o cancioneiro popular do Algarve, transmitida pela avó, que lhe terão chegado as influências refletidas de forma clara na sua obra poética.
 
 
 
Mas vale a pena contar que há quem reclame ter supostamente encontrado a chave para o enigma, ligando '''Guiomar''' a uma família e aos seus pais. Trata-se do controverso historiador e genealogista, A. Mascarenhas Barreto. Diz ele que Guiomar Vaz da Gama era filha de Aires da Gama e de Mécia Alves Garcia (Bocanegra), o qual, descendendo de Álvaro Eanes da Gama e da algarvia Maria Esteves Barreto, seria irmão de Estevão da Gama, trisavô de Vasco da Gama.
 
 
 
Aceitando-se esta tese – com pouco consenso entre os genealogistas – , Luís Vaz de Camões e o navegador da Índia, seriam primos em terceiro grau. Além disso, confirmava Guiomar como parente dos Gama do Algarve e avó do poeta. Nesta longa discussão poderia ainda caber outro ramo dos Gamas, cujo nome derivou mais tarde no apelido Rua, com ligações ao Algarve e a Loulé. Mas também este caminho não parece conduzir a lado algum e muito menos à família de Guiomar.
 
 
 
 
 
Se a ligação de '''Vasco da Gama''' ao Algarve resultou, para além de algumas ações de fiscalização da costa, do seu casamento com '''Catarina de Ataíde''', importará realçar também que uma outra mulher homónima, filha de '''Francisco da Gama''' e neta de '''V. da Gama''', é dada como prima ou parente do poeta e sobrinha de Manuel de Portugal. Este foi um dos grandes amigos e confidentes de Camões nos amores do Paço. Não escondia a sua paixão pela algarvia Francisca de Aragão a quem Camões dedicava exaltantes rimas poéticas, escrevendo algumas a pedido do amigo.
 
 
 
E aqui entra outra ligação de Camões ao Algarve.
 
 
 
'''Francisca de Aragão''', que veio a casar com Juan Borja, embaixador de Espanha em Lisboa, era filha de '''Nuno Rodrigues Barreto''', alcaide mor de Faro e senhor do morgadio de Quarteira. O seu tio, '''Francisco Barreto''', foi governador da Índia e a sua relação com o poeta terá sido algo conflituosa. '''Camões''', mestre na sátira mordaz, desatou a denunciar em verso os disparates na Índia, nomeadamente a decadência dos valores portugueses e a corrupção reinante no seio da nobreza e da elite dirigente. Os '''Barretos''' não lhe perdoaram e '''Camões''' foi mandado, primeiro para um exílio dourado em Macau e, mais tarde, regressado à Índia, não demorou até que fosse preso. A vingança suprema veio de '''Pedro Barreto''', governador de Sofala, que deixou o poeta em Moçambique sem meios para regressar ao país. Valeu-lhe a ajuda de uns amigos que seguiam a bordo e entre eles juntaram o dinheiro para lhe garantir a viagem.
 
 
 
Como se sabe, o poeta não ardia no fogo de um amor só. As mulheres foram a sua fonte inesgotável de inspiração e ele com a sua arte de cantar o amor em verso, era um galante sedutor e o mais disputado pelas donzelas da corte. Mas, como dizia '''Gil Vicente''', “a corte era um mar perigoso onde pesca muita gente”, e a inveja mais o descuido do poeta, que nem sempre tratou de proteger o nome das suas musas, determinaram a sua sorte. Camões acabou por ser banido do Paço e desterrado para o Ribatejo e depois para longe da pátria.
 
 
 
Antes do seu exílio de 17 anos no oriente, '''o autor de Os Lusíadas''' trocou os desenganos dos seus dias atribulados na corte, pela vida de ação e feitos de armas em Ceuta. E como escreveu '''Teófilo Braga''', “na partida para África, parece que a nau aferrou no Algarve, junto a Vila Nova de Portimão, no sítio da Ribeira de Boina”, que ele cantou desta forma: '''''“Por meio de umas serras mui fragosas,/Cercadas de silvestres arvoredos,/Retumbando por ásperos penedos,/correm perenes águas deleitosas/Na Ribeira de Boina, assim chamada,”/celebrada/ porque em prados/esmaltados/com frescura/de verdura,/Assi se mostra amena, assi graciosa,/que excede a qualquer outra mais fermosa”… '''''
 
 
 
A canção não deixa dúvidas quanto à sua presença no morgadio com aquele nome – ou de Santo António dos Casais – pertença de '''Isabel Coutinho''', filha de '''Fernando Coutinho''', bispo de Silves, casada com o alcaide mor da cidade, '''Rui Pereira da Silva'''. Também aqui '''T. Braga''' coloca '''Pereira da Silva e Diogo da Silva''', seu irmão, alcaide mor de Lagos, como seus primos ou parentes. Há mesmo quem afirme que '''Pero Vaz de Camões''', seu tio, também se encontraria por esses lados na mesma altura.
 
 
 
Se não tinha relações de parentesco com '''os Silva''', a verdade é que um filho do alcaide de Silves, '''Jorge da Silva''', era amigo de '''Camões''' e seu companheiro de farras nas noites lisboetas e frequentador como ele dos salões da corte. Diz-se que '''Jorge''' não escondia uma secreta paixão pela Infanta '''D. Maria''' e que isso o terá levado a refugiar-se longe do perigo, para evitar um final de vida no pelourinho real. Terá sido na Ribeira de Boina que Camões o foi encontrar.
 
 
 
Versão diferente é apresentada pelo autor e genealogista algarvio, '''Nuno Campos Inácio''', que no seu livro '''''“História do Condado de Vila Nova de Portimão”''''', diz o seguinte: ''“O mais razoável é que a presença de Camões no Algarve, não esteja relacionada com o tio lacobrigense ou os eventuais primos de Silves, mas sim com alguém que lhe estaria muito mais próximo. Luís Vaz de Camões frequentava a corte onde D. Francisco de Castelo Branco, Senhor de V.N. de Portimão, era camareiro-mor e por onde também andaria o seu filho Martinho”''.
 
 
 
'''Nuno Inácio''' invoca o gosto dos '''Martinhos''' pela poesia, para admitir uma aproximação a '''Camões''' como se “fossem amigos”. E adianta ser ''“concebível que D. Martinho, deslocando-se a Portimão para tomar posse informal do seu Senhorio, se fizesse acompanhar pelo amigo”''.
 
 
 
'''O autor''' destaca a existência de prova documental a ligar os dois homens: ''“O único exemplar sobrevivente da primeira edição de Os Lusíadas encontrava-se no espólio de D. Martinho de Castelo Branco, entre os seus bens que regressaram a V.N. de Portimão, após o seu falecimento em Alcácer Quibir”.''
 
 
 
Em conclusão, não parece normal que um homem que partira para uma campanha arriscada de guerra em África levasse consigo como bíblia, uma obra de poesia épica na sua bagagem de combate. O que só se justifica pela amizade e admiração que tinha pelo autor de Os Lusíadas.
 
 
 
'''Luís Vaz de Camões''', sem um trapo para se cobrir, faleceu em Lisboa em 1580, e foi sepultado em campa rasa na igreja de Sant’Ana, em Lisboa.
 
 
 
Fontes: ”Rimas Várias de Luís de Camões”, Pedro Mariz; Discursos Vários Políticos”, M. Severim de Faria; “Camões”, Teófilo Braga; “História do Condado de V.N de Portimão”, Nuno Campos Inácio; outras.
 
 
 
 
 
Artigo de '''Ramiro Santos'''
 
jornalista
 
 
 
 
https://postal.pt/edicaopapel/a-avo-algarvia-de-camoes/#goog_rewarded
 
https://postal.pt/edicaopapel/a-avo-algarvia-de-camoes/#goog_rewarded
 +
<br />
  
 
+
*'''Síntese dos temas tratados no artigo em causa'''<br />
'''Avó Algarvia de Camões: Guiomar Vaz da Gama'''
+
<br />
 
+
O texto explora as ligações familiares, amorosas e sociais de '''Luís de Camões''' com o '''Algarve'''. Sugere que o poeta, além de descendente direto dos Gamas algarvios, manteve relações importantes com figuras influentes da região, como a família Barreto e os Castelo Branco. Apesar das incertezas documentais, o Algarve parece ter desempenhado um papel significativo na vida e na obra de Camões.<br />
Camões era neto de Guiomar Vaz da Gama, que foi casada com Antão Vaz de Camões. Guiomar era parente dos Gamas do Algarve, relacionados a Vasco da Gama.
+
'''Camões''' era neto de Guiomar Vaz da Gama, que foi casada com Antão Vaz de Camões. Guiomar era parente dos Gamas do Algarve, relacionados a Vasco da Gama.<br />
Segundo Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria, Guiomar pertencia à família dos Gamas que migraram do Alentejo para o Algarve.
+
Segundo Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria, Guiomar pertencia à família dos Gamas que migraram do Alentejo para o Algarve.<br />
Há especulações genealógicas sobre Guiomar ser filha de Aires da Gama e Mecia Alves Garcia (Bocanegra), conectando-a diretamente ao trisavô de Vasco da Gama. Isso faria de Camões e Vasco da Gama primos em terceiro grau.
+
Há especulações genealógicas sobre Guiomar ser filha de Aires da Gama e Mecia Alves Garcia (Bocanegra), conectando-a diretamente ao trisavô de Vasco da Gama. Isso faria de Camões e Vasco da Gama primos em terceiro grau.<br />
 
+
<br />
'''Relações de Camões com Personalidades Algarvias'''
+
'''Relações de Camões com Personalidades Algarvias'''<br />
 
+
Camões possivelmente manteve ligações com figuras influentes do Algarve, como Rui Pereira da Silva, alcaide-mor de Silves, e seus descendentes, Jorge da Silva, companheiro de Camões em Lisboa.<br />
Camões possivelmente manteve ligações com figuras influentes do Algarve, como Rui Pereira da Silva, alcaide-mor de Silves, e seus descendentes, Jorge da Silva, companheiro de Camões em Lisboa.
+
A ligação de Camões à Ribeira de Boina (Portimão) também é mencionada. O local pertencia a Isabel Coutinho, filha do bispo de Silves, com possíveis laços familiares com Camões.<br />
A ligação de Camões à Ribeira de Boina (Portimão) também é mencionada. O local pertencia a Isabel Coutinho, filha do bispo de Silves, com possíveis laços familiares com Camões.
+
<br />
 
+
'''Ligação com o Poeta Martinho de Castelo Branco'''<br />
'''Ligação com o Poeta Martinho de Castelo Branco'''
 
 
 
 
Nuno Campos Inácio, na sua obra História do Condado de Vila Nova de Portimão, sugere que Camões pode ter acompanhado Martinho de Castelo Branco, filho de Francisco de Castelo Branco, senhor de Portimão.
 
Nuno Campos Inácio, na sua obra História do Condado de Vila Nova de Portimão, sugere que Camões pode ter acompanhado Martinho de Castelo Branco, filho de Francisco de Castelo Branco, senhor de Portimão.
Existe uma prova documental: um exemplar de Os Lusíadas foi encontrado entre os bens de Martinho após sua morte em Alcácer Quibir, indicando uma provável amizade entre os dois.
+
Existe uma prova documental: um exemplar de Os Lusíadas foi encontrado entre os bens de Martinho após sua morte em Alcácer Quibir, indicando uma provável amizade entre os dois.<br />
 +
<br />
 +
'''Relação Amorosa com Francisca de Aragão'''<br />
 +
Camões teria dedicado poemas a Francisca de Aragão, filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro, e senhor de Quarteira. Francisca era ligada à elite do Algarve e à corte portuguesa.<br />Essa relação amorosa pode ter contribuído para as intrigas e dificuldades enfrentadas por Camões em sua vida.<br />
 +
<br />
 +
'''Intrigas na Índia e Sofrimento Pessoal'''<br />
 +
Camões teve conflitos com a família Barreto na Índia, particularmente com Francisco Barreto, governador, e Pedro Barreto, governador de Sofala. Esses conflitos resultaram no exílio de Camões em Macau e dificuldades financeiras em Moçambique.<br />
 +
<br />
 +
'''Presença no Algarve Antes do Exílio'''<br />
 +
Há relatos de que Camões passou pelo Algarve antes de partir para a África, particularmente em Portimão. Teófilo Braga menciona a Ribeira de Boina, que Camões teria descrito em versos.<br />
 +
<br />
  
'''Relação Amorosa com Francisca de Aragão'''
 
  
Camões teria dedicado poemas a Francisca de Aragão, filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro, e senhor de Quarteira. Francisca era ligada à elite do Algarve e à corte portuguesa.
+
== '''Ramiro Santos''' - ''A namorada algarvia de Camões'' ==
Essa relação amorosa pode ter contribuído para as intrigas e dificuldades enfrentadas por Camões em sua vida.
 
  
'''Intrigas na Índia e Sofrimento Pessoal'''
+
*Alguns excertos:<br />
 +
<br />
 +
Era a mais nova e mais bonita entre todas as donzelas que desfilavam nos paços da Ribeira. Foi ali, naquele salão, junto ao Tejo, que se cruzaram os olhares de Dª Francisca de Aragão e de Camões. Ele, o príncipe dos poetas e ela, uma algarvia acabada de chegar da sua terra natal. Foi um amor vibrante cantado em sonetos e redondilhas. Mas que não passou de uma paixão inconseguida!<br />
  
Camões teve conflitos com a família Barreto na Índia, particularmente com Francisco Barreto, governador, e Pedro Barreto, governador de Sofala. Esses conflitos resultaram no exílio de Camões em Macau e dificuldades financeiras em Moçambique.
 
  
 +
Atiravam-se poemas ao vento. Os paços da Ribeira eram, por esses anos, palco de amores e galanteios. Por ali desfilavam as mais belas donzelas da corte e fidalgos que as cantavam em rimas e versos. Daquelas janelas, avistava-se o rio, as naus e as caravelas cheias de contos e aventuras. Traziam notícias da Índia, do Brasil, do Japão, da Malásia e do Mar da China. Ali chegava o cheiro da pimenta, do cravo e da canela. Mais o oiro, escravos e marfim, as porcelanas e mais as sedas.
  
'''Presença no Algarve Antes do Exílio'''
 
  
Há relatos de que Camões passou pelo Algarve antes de partir para a África, particularmente em Portimão. Teófilo Braga menciona a Ribeira de Boina, que Camões teria descrito em versos.
+
No meio de bisbilhotices e intrigas, certa vez, tinha o poeta regressado de Ceuta onde perdera o olho direito, Francisca, provocadora, para mostrar um desinteresse que não tinha, atirou-lhe com o defeito à cara, chamando-lhe “o cara sem olho”. Não perdeu pela demora e teve do poeta resposta pronta:<br />De olhos não faço menção,<br />Pois quereis que olhos não sejam:<br />Vendo-vos, olhos sobejam;<br />Não vos vendo, olhos não são.<br />E houve trocas de cartas e repetiram-se os motes e as glosas, os sonetos e as canções. Mil cumplicidades partilhadas pelos dois, mas pouco mais do que um devaneio poético.<br />
  
'''Conclusão'''
+
Pode ler o artigo completo:<br />
 +
https://postal.pt/edicaopapel/a-namorada-algarvia-de-camoes/

Latest revision as of 16:00, 7 February 2025

Ramiro Santos - A Avó Algarvia de Camões

Ramiro-150x150.jpg

Ramiro Santos nasceu numa pequena aldeia do Alentejo, cresceu em África de onde trouxe a luz do Índico, e vive no Algarve respira dos dias azuis e a claridade. Jornalista profissional durante uma vida. A rádio foi a sua casa primordial.


A Avó Algarvia de Camões
Artigo de Ramiro Santos publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul, sobre as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões, publicado em Fevereiro, 2022


É a avó algarvia de Camões. Chamava-se Guiomar Vaz da Gama, casada com Antão Vaz de Camões, e era parente dos Gamas do Algarve. A ligação familiar está documentada, mas continuam a pairar no ar perguntas sem respostas. Por exemplo: quem foram os pais de Guiomar ou que tipo e grau de parentesco tinha ela com a família do almirante da Índia? O que se sabe é apenas o que dizem os primeiros biógrafos do poeta, Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria. (…)
E tudo se resume a isto: que “Antão Vaz de Camões casou com Guiomar Vaz da Gama, parente dos Gamas do Algarve, vindos do Alentejo, da família do grande navegador”. Uma versão que foi sendo replicada sucessivamente por outros historiadores e genealogistas ao longo dos séculos. Sem um ponto a mais, a narrativa ficou assim parada no tempo. Como dizia Faria de Sousa, “quien lo entendiere mejor me lo diga”.
Que os Gamas passaram do Alentejo para o Algarve e por cá deixaram descendência, é um dado adquirido. O mais notável deles, Vasco da Gama, de família com origens em Sines e na Vidigueira, casou com Catarina de Ataíde, uma algarvia filha de Álvaro de Ataíde, alcaide mor de Alvôr. O primeiro a colocar o nome de Guiomar como avó de Camões, e a ligação desta a Vasco da Gama, foi Pedro Mariz, numa edição de Os Lusíadas de 1613, comentada por Manuel Correia. Um e outro foram contemporâneos de Luís de Camões e o último seu amigo pessoal, “persona de credito e de la idade do poeta e su amigo”, como diz Mariz. Ninguém como eles e M. Severim de Faria, estaria em melhor posição para o afirmar com tal propriedade.
À excepção do que eles disseram – mesmo com algumas imprecisões -, muitos aspetos da vida do épico português persistem envoltos em nuvens de fumo que têm levado ao engano e, não raras vezes, a muitas fantasiosas efabulações. Mas graças a eles, há coisas que são hoje pacificamente aceites: Luís Vaz de Camões era descendente direto de Vasco Pires de Camões, seu trisavô, fidalgo galego que passou a Portugal ao serviço do rei D. Fernando, onde ganhou fama e fortuna. Mais tarde, por ter alinhado ao lado de Castela contra D. João I, em Aljubarrota, caiu em desgraça, foi feito prisioneiro e tudo perdeu.

  • Pode ler o artigo na íntegra no link seguinte:

https://postal.pt/edicaopapel/a-avo-algarvia-de-camoes/#goog_rewarded

  • Síntese dos temas tratados no artigo em causa


O texto explora as ligações familiares, amorosas e sociais de Luís de Camões com o Algarve. Sugere que o poeta, além de descendente direto dos Gamas algarvios, manteve relações importantes com figuras influentes da região, como a família Barreto e os Castelo Branco. Apesar das incertezas documentais, o Algarve parece ter desempenhado um papel significativo na vida e na obra de Camões.
Camões era neto de Guiomar Vaz da Gama, que foi casada com Antão Vaz de Camões. Guiomar era parente dos Gamas do Algarve, relacionados a Vasco da Gama.
Segundo Pedro Mariz e Manuel Severim de Faria, Guiomar pertencia à família dos Gamas que migraram do Alentejo para o Algarve.
Há especulações genealógicas sobre Guiomar ser filha de Aires da Gama e Mecia Alves Garcia (Bocanegra), conectando-a diretamente ao trisavô de Vasco da Gama. Isso faria de Camões e Vasco da Gama primos em terceiro grau.

Relações de Camões com Personalidades Algarvias
Camões possivelmente manteve ligações com figuras influentes do Algarve, como Rui Pereira da Silva, alcaide-mor de Silves, e seus descendentes, Jorge da Silva, companheiro de Camões em Lisboa.
A ligação de Camões à Ribeira de Boina (Portimão) também é mencionada. O local pertencia a Isabel Coutinho, filha do bispo de Silves, com possíveis laços familiares com Camões.

Ligação com o Poeta Martinho de Castelo Branco
Nuno Campos Inácio, na sua obra História do Condado de Vila Nova de Portimão, sugere que Camões pode ter acompanhado Martinho de Castelo Branco, filho de Francisco de Castelo Branco, senhor de Portimão. Existe uma prova documental: um exemplar de Os Lusíadas foi encontrado entre os bens de Martinho após sua morte em Alcácer Quibir, indicando uma provável amizade entre os dois.

Relação Amorosa com Francisca de Aragão
Camões teria dedicado poemas a Francisca de Aragão, filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro, e senhor de Quarteira. Francisca era ligada à elite do Algarve e à corte portuguesa.
Essa relação amorosa pode ter contribuído para as intrigas e dificuldades enfrentadas por Camões em sua vida.

Intrigas na Índia e Sofrimento Pessoal
Camões teve conflitos com a família Barreto na Índia, particularmente com Francisco Barreto, governador, e Pedro Barreto, governador de Sofala. Esses conflitos resultaram no exílio de Camões em Macau e dificuldades financeiras em Moçambique.

Presença no Algarve Antes do Exílio
Há relatos de que Camões passou pelo Algarve antes de partir para a África, particularmente em Portimão. Teófilo Braga menciona a Ribeira de Boina, que Camões teria descrito em versos.


Ramiro Santos - A namorada algarvia de Camões

  • Alguns excertos:


Era a mais nova e mais bonita entre todas as donzelas que desfilavam nos paços da Ribeira. Foi ali, naquele salão, junto ao Tejo, que se cruzaram os olhares de Dª Francisca de Aragão e de Camões. Ele, o príncipe dos poetas e ela, uma algarvia acabada de chegar da sua terra natal. Foi um amor vibrante cantado em sonetos e redondilhas. Mas que não passou de uma paixão inconseguida!


Atiravam-se poemas ao vento. Os paços da Ribeira eram, por esses anos, palco de amores e galanteios. Por ali desfilavam as mais belas donzelas da corte e fidalgos que as cantavam em rimas e versos. Daquelas janelas, avistava-se o rio, as naus e as caravelas cheias de contos e aventuras. Traziam notícias da Índia, do Brasil, do Japão, da Malásia e do Mar da China. Ali chegava o cheiro da pimenta, do cravo e da canela. Mais o oiro, escravos e marfim, as porcelanas e mais as sedas.


No meio de bisbilhotices e intrigas, certa vez, tinha o poeta regressado de Ceuta onde perdera o olho direito, Francisca, provocadora, para mostrar um desinteresse que não tinha, atirou-lhe com o defeito à cara, chamando-lhe “o cara sem olho”. Não perdeu pela demora e teve do poeta resposta pronta:
De olhos não faço menção,
Pois quereis que olhos não sejam:
Vendo-vos, olhos sobejam;
Não vos vendo, olhos não são.
E houve trocas de cartas e repetiram-se os motes e as glosas, os sonetos e as canções. Mil cumplicidades partilhadas pelos dois, mas pouco mais do que um devaneio poético.

Pode ler o artigo completo:
https://postal.pt/edicaopapel/a-namorada-algarvia-de-camoes/