|
|
| (3 intermediate revisions by the same user not shown) |
| Line 1: |
Line 1: |
| | | | |
| − | == '''José Carlos Vilhena Mesquita''' - ''UMA QUARTEIRENSE QUE CAMÕES AMOU'' ==
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − | *'''Síntese do Texto:'''<br />
| |
| − | <br />
| |
| − | O historiador '''José Carlos Vilhena Mesquita''' destaca a figura de '''D. Francisca de Aragão''', nobre algarvia e possível musa inspiradora de Os Lusíadas. Nascida na casa senhorial dos Barretos, '''na praia de Quarteira''', Francisca era filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro, e neta de D. Afonso de Aragão, descendente bastardo do rei D. João II de Aragão. Desde jovem, integrou a corte portuguesa ao serviço da rainha D. Catarina, tornando-se uma das mais admiradas damas do Paço, superando até a infanta D. Maria em beleza e sendo louvada por poetas da época.<br />
| |
| − | A ligação de '''Francisca de Aragão''' com '''Luís de Camões''' é evidenciada pelo mote que ela lhe ofereceu – "Mas, porém a que cuidados?" –, ao qual o poeta respondeu com uma glosa. Segundo '''Mário Lyster Franco''', a relação entre ambos não teria sido um amor arrebatado, mas sim uma "terna amizade-amorosa", expressão de Júlio Dantas, marcada por admiração e ternura, tornando-se um dos mais belos episódios da vida do poeta. Esse vínculo teria começado após o regresso de Camões de Ceuta, por volta de 1551, e durado até sua prisão na cadeia do Tronco, em 1552, após um duelo.<br />
| |
| − | <br />
| |
| − |
| |
| − | *'''Excerto do texto''':<br />
| |
| − | <br />
| |
| − |
| |
| − | ''Em 1980 assinalou-se o 4º Centenário da morte do maior vate da Língua portuguesa. Porém, perdeu-se então a oportunidade de, através de uma singela placa evocativa, se perpetuar a existência no Algarve da casa que foi berço a '''D. Francisca de Aragão''', considerada como a musa inspiradora dos Lusíadas. O edifício, na praia de Quarteira, denominada '''«Estalagem da Cegonha»''', foi, no século XVI, residência de '''Nuno Rodrigues Barreto''', alcaide-mor de Faro e vedor da Fazenda do Algarve, pai da «loira, viva, esperta e azougada» '''Francisca de Aragão'''.<br /> Foi nessa vetusta casa apalaçada do morgadio dos '''Barretos''', que nasceu a formosa '''Francisca de Aragão''', que viria a ser figura de proa nas cortes de Portugal e de Espanha. Trata-se de um assunto pouco conhecido sobre uma jovem algarvia, originária da distinta família dos '''Barretos''', que pontificou na corte portuguesa nos finais do século XVI, no período de transição da perda da nacionalidade para a dominação filipina, cuja descendência foi também eminente na vizinha Espanha.''<br />
| |
| − |
| |
| − | *'''Pode ler o texto completo no link seguinte:'''<br />
| |
| − | In:<br />https://algarvehistoriacultura.blogspot.com/2010/03/uma-quarteirense-que-camoes-amou.html<br />
| |
| − | (artigo publicado na revista «Património e Cultura», Ano II, n.° 8, Dezembro de 1982, pp. 10-11 )<br />
| |
| − | <br />
| |
| − |
| |
| − | *'''Para saber mais''':
| |
| − | '''Casa Senhorial da Quinta de Quarteira / Estalagem da Cegonha'''
| |
| − |
| |
| − | 1.Edificada no século XVI, a '''Estalagem da Cegonha''' é um edifício emblemático situado à entrada de Vilamoura, Loulé, no distrito de Faro, que era a casa senhorial do Morgado de Quarteira e que, segundo os registos, foi visitada por Dom Sebastião em 1573.<br />“Os terrenos da '''Estalagem da Cegonha''' têm particular relevância por se tratar da casa senhorial do antigo Morgado de Quarteira, adquirida no final dos anos 60 do século passado por Cupertino de Miranda, visto como o primeiro visionário de Vilamoura”, apontou o diretor executivo da Arrow Global Portugal, João Bugalho, citado no comunicado.<br />
| |
| − | In: https://eco.sapo.pt/2023/10/17/arrow-global-investe-90-milhoes-na-estalagem-da-cegonha-em-vilamoura/<br />
| |
| − | <br />
| |
| − |
| |
| − | 2.Casa do antigo morgado de Quarteira, construída no séc. 16, ampliada posteriormente e adaptada a instalação hoteleira. Atualmente apresenta planta irregular, composta por vários corpos articulados e de coberturas diferenciadas, o da zona mais antiga em L, formando pátio central. As fachadas evoluem em dois pisos, com vários elementos sublinhados a ocre e rasgadas por janelas retilíneas. A fachada principal, virada a nascente, revela diferença na modinatura dos vãos e no remate, criando como que dois falsos panos, certamente resultantes da ampliação ou fases construtivas de épocas distintas. No pano da direita, abre-se portal quinhentista, em arco apontado, biselado, e, no segundo piso, quase ao centro da fachada, óculo polilobado. Ao longo do piso térreo dispõem-se argolas de prisão, em ferro, sobre azulejos, e, no pano esquerdo, pequena sineira.<br />
| |
| − | <br />
| |
| − | In: http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=36344<br />
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − | Resumo: A ligação de Luís de Camões a D. Francisca de Aragão e a Estalagem da Cegonha
| |
| − | Francisca de Aragão: Musa Inspiradora de Camões
| |
| − |
| |
| − | D. Francisca de Aragão nasceu no Morgadio de Quarteira, na casa senhorial conhecida como Estalagem da Cegonha, no século XVI. Era filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro, e de D. Leonor de Milá. Tinha ascendência régia e conexões nobres em Portugal e Espanha.
| |
| − | Desde jovem, destacou-se pela beleza, tornando-se dama da rainha D. Catarina. Rapidamente, conquistou poetas da corte, incluindo Luís de Camões, que manteve com ela uma relação descrita como uma “terna amizade-amorosa”.
| |
| − | Camões glosou o mote que Francisca lhe ofereceu, “Mas, porém, a que cuidados?”, compondo versos que exaltavam a musa, associando-a ao ideal de beleza e inspiração poética.
| |
| − | Relação com Camões
| |
| − |
| |
| − | A relação entre Camões e Francisca de Aragão teria começado após o retorno do poeta de Ceuta, em 1551, e durado até sua detenção em 1552. Era marcada pela admiração mútua e pelos galanteios do poeta, embora não se saiba se houve envolvimento romântico.
| |
| − | A Estalagem da Cegonha: Residência Histórica
| |
| − |
| |
| − | Situada na entrada de Vilamoura, a Estalagem da Cegonha foi construída no século XVI como a casa senhorial do Morgadio de Quarteira, pertencente à família Barreto. O local recebeu visitas importantes, como a do rei D. Sebastião em 1573.
| |
| − | Atualmente, o edifício é um marco arquitetônico, com elementos quinhentistas preservados, como um portal em arco apontado e um pátio central. Foi posteriormente adaptado para uso hoteleiro e, recentemente, passou por investimentos de restauração.
| |
| − | Legado Cultural e Histórico
| |
| − |
| |
| − | A ligação de Francisca de Aragão a Camões reforça a importância do Algarve no contexto histórico e cultural português. A Estalagem da Cegonha é vista como um símbolo desse legado, destacando-se por sua arquitetura e história associada a figuras de destaque na corte e à literatura renascentista.
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − | D. Francisca de Aragão e a Estalagem da Cegonha: História, Cultura e a Inspiração de Camões
| |
| − |
| |
| − | Origens e Ascendência
| |
| − |
| |
| − | D. Francisca de Aragão nasceu no Morgadio de Quarteira, na casa senhorial conhecida como Estalagem da Cegonha, no século XVI. Era filha de Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor de Faro e vedor da Fazenda do Algarve, e de D. Leonor de Milá. A sua linhagem remontava à realeza e à nobreza tanto de Portugal quanto de Espanha. Pelo lado materno, era neta de D. Afonso de Aragão, mestre de Calatrava e duque de Villahermosa, filho bastardo de D. João II de Aragão. Pelo lado paterno, descendia da ilustre família dos Barretos, ligada a figuras como D. Francisco Barreto, vice-rei da Índia, e D. Isabel de Melo Barreto, mãe de D. Leonor de Castro, esposa de S. Francisco de Borja.
| |
| − |
| |
| − | Presença na Corte e Relação com Camões
| |
| − |
| |
| − | Desde jovem, D. Francisca de Aragão destacou-se na corte portuguesa, tornando-se dama da rainha D. Catarina, esposa de D. João III. A sua beleza e vivacidade tornaram-na célebre, chegando a ser considerada uma das mulheres mais encantadoras do seu tempo, ofuscando até a infanta D. Maria.
| |
| − |
| |
| − | A sua ligação a Luís de Camões é um dos aspectos mais fascinantes da sua história. O poeta, já conhecido pelos seus versos arrebatadores, teria sido um dos muitos a render-se aos encantos de D. Francisca. No entanto, sua relação não foi necessariamente um amor consumado, mas uma "terna amizade-amorosa", como definiu Júlio Dantas. Essa afeição mútua resultou em trocas poéticas, sendo célebre o mote que D. Francisca ofereceu a Camões: "Mas, porém, a que cuidados?". O poeta, inspirado, glosou-o de três maneiras diferentes, compondo versos que exaltavam a musa e refletiam sobre os dilemas do amor e da inquietação sentimental.
| |
| − |
| |
| − | A Estalagem da Cegonha: Residência Histórica
| |
| − |
| |
| − | A casa onde nasceu D. Francisca de Aragão, conhecida como Estalagem da Cegonha, é um edifício emblemático situado à entrada de Vilamoura, no concelho de Loulé. Construída no século XVI, foi a casa senhorial do Morgado de Quarteira e uma das mais importantes residências nobres do Algarve.
| |
| − |
| |
| − | A estrutura original apresentava uma planta irregular, com pátio central e fachadas marcadas por elementos quinhentistas, como um portal em arco apontado e um óculo polilobado. Durante os séculos seguintes, o edifício passou por ampliações e adaptações, sendo convertido posteriormente em instalação hoteleira.
| |
| − |
| |
| − | Além de sua importância arquitetónica, a Estalagem da Cegonha tem um forte valor histórico, tendo recebido a visita do rei D. Sebastião em 1573. No final do século XX, foi adquirida pelo empresário Cupertino de Miranda, um dos visionários do desenvolvimento de Vilamoura. Atualmente, o edifício está a passar por investimentos de restauro e valorização.
| |
| − |
| |
| − | Legado Cultural e Literário
| |
| − |
| |
| − | A relação entre D. Francisca de Aragão e Camões reforça a importância do Algarve no contexto histórico e cultural português. A musa, através de sua beleza e inteligência, tornou-se uma inspiração para a literatura renascentista, enquanto a Estalagem da Cegonha permanece como um símbolo desse passado glorioso.
| |
| − |
| |
| − | O reconhecimento da ligação entre Camões e Francisca de Aragão é fundamental para a preservação do património histórico e literário português. Embora a história tenha deixado poucos registos sobre a sua influência direta nos "Lusíadas", a sua presença na vida do poeta e na corte do século XVI é inegável, marcando um período de transição e mudança na identidade nacional.
| |
| − |
| |
| − |
| |
| − | (...)<br />
| |
| − | Curioso se torna assinalar que a formosa '''Francisca de Aragão''' tinha ascendência régia, pois que era filha de '''D.' Leonor de Mila e neta de D. Afonso de Aragão,''' mestre de Calatrava e duque de Villahermosa, reconhecido como filho bastardo de '''D. João II''', rei de Aragão. Mas, pelo lado paterno as suas raízes não eram menos importantes, na medida em que seu pai (irmão do célebre '''D. Francisco Barreto''' que se notabilizou como vice-rei da Índia) era sobrinho de '''D. Isabel de Melo Barreto e Menezes''', mãe de '''D.' Leonor de Castro''', dama de honor da imperatriz '''D. Isabel''', que casou com '''D. Francisco de Borja''', 4.° Duque de Gandia, que após enviuvar ingressou na Companhia de Jesus. A sua eloquência e bondade de alma haveriam de fazê-lo chegar à mais alta dignidade da Companhia, ao leme da qual viria a falecer com fama e cheiro de santidade, sendo por isso canonizado, no século seguinte, pela Igreja.<br />Descendente de reis e de santos, '''D.' Francisca de Aragão''' prontamente reclamou o seu lugar na corte, para onde partiu com apenas doze ou treze anos, ficando desde logo ao serviço da rainha '''D. Catarina''', esposa de '''D. João III'''. Com o decorrer dos anos, veio esta criança a transformar-se na mais bela dama da corte, ofuscando com a sua beleza a própria '''infanta D. Maria''', sendo por isso fervorosamente adulada pelos poetas do seu tempo que, inclusivamente, lhe dedicaram algumas das melhores composições do nosso cancioneiro geral.<br />
| |
| − | (...)<br />
| |
| − | (...) ficou célebre o mote que '''D.' Francisca''' ofertou ao galante Luís Vaz de Camões, cujo génio poético já ecoava pelos corredores do Paço, e que se resume a esta simples frase: «Mas, porém a que cuidados?».<br />O temperamental e fogoso '''«Trinca Fortes» (alcunha popular do poeta)''', para fazer valer a sua fama de inspirado versejador, devolveu-lhe o mote glosado de três formas diferentes, das quais não podemos escusar-nos a transcrever aquela que mais nos pareceu identificada com ambos:<br />
| |
| − | <br />
| |
| − | «Se as penas que o amor me deu<br />
| |
| − | Vêm por tão suaves meios,<br />
| |
| − | Não há que temer receios;<br />
| |
| − | Que vale um cuidado meu <br />
| |
| − | Por mil descansos alheios? <br />
| |
| − | Tens uns olhos tão formosos <br />
| |
| − | Os sentidos enlevados<br />
| |
| − | Bem sei que em baixos estados<br />
| |
| − | São cuidados perigosos,<br />
| |
| − | Mas, porém, a que cuidados?<br />
| |
| − | <br />
| |
| − | (...)
| |
| − | Efetivamente, tal como afirma o '''Dr. Mário Lyster Franco''', ''«a mais alta figura feminina do Paço rendeu-se aos galanteios do Poeta, entretendo e mantendo com ele, não talvez um amor material e arrebatado, propriamente dito, mas ua "terna amizade-amorosa" na feliz expressão de '''Júlio Dantas''', um amor misto de adoração, de admiração e de ternura, que o acompanhou durante sucessivos anos e que, pela unção espiritual que principalmente o caracteriza, constitui urna das mais belas páginas da vida atribulada de Camões».''<br />
| |
| − | Esta afectuosa amizade com Camões deveria ter início por alturas do seu regresso de Ceuta, talvez na segunda metade do ano de 1551 e durou até à sua detenção na cadeia do Tronco a 16 de Junho de 1552, por ter brigado com Gonçalo Borges.<br />
| |
| − | (...)<br />
| |