Difference between revisions of "Odes escolhidas"
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+ | e no verso "que faz que leia mais do que vê escrito", usar um tom reverente e finalizador.<br /> |
Revision as of 13:54, 20 January 2025
Ode
Composição poética lírica de assunto elevado, própria para ser cantada
Subgénero lírico cultivado, segundo modelos greco-latinos, desde o Renascimento até à época contemporânea, com os temas mais diversos (heroicos, amorosos, etc.) e esquemas métricos também diferentes, mas caracterizando-se pela eloquência, solenidade e elevação de estilo. In: Infopédia
Pode um desejo imenso
Pode um desejo imenso
arder no peito tanto
que à branda e a viva alma o fogo intenso
lhe gaste as nódoas do terreno manto,
e purifique em tanta alteza o esprito
com olhos imortais
que faz que leia mais do que vê escrito.
Que a flama que se acende
alto tanto alumia
que, se o nobre desejo ao bem se estende
que nunca viu, a sente claro dia;
e lá vê do que busca o natural,
a graça, a viva cor,
noutra espécie melhor que a corporal.
Pois vós, ó claro exemplo
de viva formosura,
que de tão longe cá noto e contemplo
n'alma, que este desejo sobe e apura:
não creais que não vejo aquela imagem
que as gentes nunca vêem,
se de humanos não têm muita vantagem.
Que, se os olhos ausentes
não vêem a compassada
proporção, que das cores excelentes
de pureza e vergonha é variada;
da qual a Poesia, que cantou
até aqui só pinturas,
com mortais formosuras igualou;
se não vêem os cabelos
que o vulgo chama de ouro,
e se não vêem os claros olhos belos,
de quem cantam que são do Sol tesouro,
e se não vêem do rosto as excelências,
a quem dirão que deve
rosa, cristal e neve as aparências;
veem logo a graça pura,
a luz alta e severa,
que é raio da divina formosura
que n'alma imprime e fora reverbera,
assim como cristal do Sol ferido,
que por fora derrama
a recebida flama, esclarecido.
E vêem a gravidade
com a viva alegria,
que misturada tem, de qualidade
que üa da outra nunca se desvia;
nem deixa üa de ser arreceada
por leda e por suave,
nem outra, por ser grave, muito amada.
E vêem do honesto siso
os altos resplandores,
temperados co doce e ledo riso,
a cujo abrir abrem no campo as flores;
as palavras discretas e suaves,
das quais o movimento
fará deter o vento e as altas aves;
dos olhos o virar,
que torna tudo raso,
do qual não sabe o engenho divisar
se foi por artifício, ou feito acaso;
da presença os meneios e a postura,
o andar e o mover-se,
donde pode aprender-se fermosura.
Aquele não sei que,
que aspira não sei como,
que, invisível saindo, a vista o vê,
mas para o compreender não acha tomo;
o qual toda a Toscana poesia,
que mais Febo restaura,
em Beatriz nem em Laura nunca via;
em vos a nossa idade,
Senhora, o pode ver,
se engenho e ciência e habilidade
igual a fermosura vossa der,
como eu vi no meu longo apartamento,
qual em ausência a vejo.
Tais asas dá o desejo ao pensamento!
Pois se o desejo afina
üa alma acesa tanto
que por vós use as partes da divina,
por vós levantarei não visto canto
que o Bétis me ouça, e o Tibre me levante;
que o nosso claro Tejo
envolto um pouco vejo e dissonante.
O campo não o esmaltam
flores, mas só abrolhos
o fazem feio; e cuido que lhe faltam
ouvidos para mim, para vós olhos.
Mas faça o que quiser o vil costume;
que o sol, que em vós está,
na escuridão dará mais claro lume.
Nesta écloga, Camões reflete sobre o poder do desejo e da contemplação espiritual. Ele descreve como um desejo profundo e elevado pode purificar a alma, permitindo ao espírito transcender as limitações materiais e alcançar uma visão mais sublime e divina.
O poeta dirige-se a uma figura feminina idealizada, cuja beleza não é apenas física, mas também espiritual e transcendente. Ele elogia as suas qualidades, destacando uma harmonia única entre gravidade, alegria, honestidade e doçura. A sua presença é descrita como irradiando uma luz divina, que inspira e eleva aqueles que a contemplam.
Camões lamenta a ausência física dessa figura, mas celebra como o desejo permite que ele a veja e sinta mesmo à distância. Ele promete cantar a sua beleza e virtudes num poema que transcenderá fronteiras, sendo ouvido em rios famosos como o Tejo, o Tibre e o Bétis.
No final, critica o "vil costume" que obscurece o reconhecimento do valor e da beleza verdadeira, mas confia que a luz divina representada por essa figura superará qualquer escuridão.
Temas principais:
O desejo como força de purificação e elevação espiritual.
A idealização da beleza divina e sua manifestação terrena.
A transcendência da ausência física por meio do pensamento e da poesia.
A crítica à ignorância do mundo e a celebração da virtude que resplandece na escuridão.
Prática recomendada para uma boa leitura:
Ler em voz alta cada estrofe pausadamente.
Variar a intensidade, respeitando as sugestões da emoção.
Gravar-se lendo e ouvir a gravação para ajustar o ritmo e as pausas.
Por exemplo:
1. Estrofe de abertura:
"Pode um desejo imenso
arder no peito tanto
que à branda e a viva alma o fogo intenso
lhe gaste as nódoas do terreno manto,
e purifique em tanta alteza o esprito
com olhos imortais
que faz que leia mais do que vê escrito."
Começar com um tom contemplativo e intenso para expressar o impacto do "desejo imenso".
Fazer uma pausa leve após "imenso" e "tanto" para criar ritmo.
Aumentar o ênfase em "fogo intenso" e "olhos imortais" para destacar a força das imagens.
Ler "Pode um desejo imenso" com tom ascendente.
e no verso "que faz que leia mais do que vê escrito", usar um tom reverente e finalizador.