Pinto Serra, Joaquim Manuel

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  • Joaquim Manuel Pinto Serra

Loulé, 24/09/1937

Poeta. Escritor. Médico Psiquiatra. Professor.


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  • Excerto de "O Outro Mundo em Nós"

(…) Desde nova que a morte a atemorizava, sobretudo pelas incertezas de que ela se rodeava: o Inferno de que lhe falavam, o Céu que não entendia, o Purgatório desconhecido que não era carne nem peixe. Tudo isso a intrigara quando andara na catequese. Era agora o imaginário a pressioná-la na solidão dos seus pensamentos finais... Sozinha, casada apenas durante alguns meses, procurara na religião o significado da morte, mas ninguém a convencera do que viria depois. Por isso, não queria morrer... Mas a dúvida persistia em tudo o que ela fazia e em tudo o que ela pensava: estaria mesmo viva ou já teria morrido? Esse limiar absurdo, tão nítido para toda a gente, mas para ela imperceptível, porventura inexistente, deixava-a tão indecisa que a passagem imaginária se transformara em pesadelo nos seus próprios pensamentos. Com aquela cara de múmia, observada ao espelho, poderia já estar morta e ter ultrapassado o patamar sem se ter apercebido; teria mudado de margem, sem sentir a travessia, entrando num outro mundo com a naturalidade própria de quem vive por viver...in "O Outro Mundo em Nós"

  • Excerto de "A Importância dos Pormenores sem Importância"

Em todas as famílias, existe sempre alguém que, pelos seus comportamentos invulgares, se distancia das atitudes generalizadas do bom senso. Violando o bom nome do clã, conquistado através de gerações, os traços da sua personalidade vislumbram-se apenas em algum ente querido já falecido, cujo rosto aprendemos a conhecer pelos álbuns escondidos no sótão das nossas memórias. Fotografias e informações deliciam-nos em reuniões familiares e oferecem-nos a desejada tranquilidade, quando se descobre a quem saiu o estranho e inoportuno intruso. Ficam, então, justificados os incómodos provocados por essas criaturas insólitas e aliviadas as consciências. Porque tais incómodos têm a sua origem num qualquer ADN longínquo, que não lhes permitiu escolher a sua maneira de ser. in "A Importância dos Pormenores sem Importância"

(...)
"possuimos um sonho em nossas mãos
mas percorreram-nos as veias do silêncio
como se o mar não tocasse as proas dos navios

e na inutilidade que sentimos
nela nos transformámos

como se nos tivessem modelado à sua imagem
ou tivéssemos nascido de joelhos

in "As Mãos e o Silêncio", p. 17


percorremos a velhice com ternura
e da ternura fazemos solidão
e da solidão nasce-nos mais um gesto
que acariciamos levemente com outro gesto
enquanto sentimos aqui ao lado um coração

e discutimos connosco a nossa própria idade
construindo presente sem futuro
e nem sequer avaliamos se está maduro
o fruto da esperança que ainda cabe
inteirinho na palma da nossa mão

in "As Mãos e o Silêncio", p. 49

  • Notas Biográficas

Joaquim Manuel Pinto Serra médico psiquiatra de formação, exerceu a sua prática clínica em Coimbra, no Hospital Psiquiátrico de Sobral Cid e chefe de serviço no Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes, do qual foi diretor de 1984 a 1996. Atualmente, encontra-se aposentado, mas continua a desempenhar, funções clínicas no Hospital Privado de Loulé e como profissional liberal, residindo em Lisboa. Sensível à problemática do envelhecimento, motivada em parte pelos seus estudos em Gerontologia e da Gerontopsiquiatria, leciona a disciplina «A Arte de Envelhecer»,várias academias de seniores, em Lisboa, num contexto de inserção dos mais velhos nas atuais comunidades que se sentem marginalizados pela sociedade, esperando maior solidariedade nesta fase da vida. Como autor publicou até ao momento, dezassete livros: nove de poesia, quatro coletâneas de contos, dois romances, um de crónicas e um de ficção juvenil, este em co-autoria com Maria Armanda Tavares Belo.

  • Bibliografia:

- As Mãos e o Silêncio, 1998;
- Mágoas de Solidão e Desassossego, 2000;
- De Passagem para o Outro Lado da Ternura, 2003;
- Novíssimos Afetos, 2006;
- As Palavras Sensuais na Nossa Ausência, 2007;
- Uma Professora ao Canto do Olho, 2008; coautoria com Maria Armanda Tavares Belo
- Marginalidades e Alguns Poemas de Amor, 2009;
- Ao Sabor das Pequena Coisas, 2010;
- A Importância dos Pormenores Sem Importância, 2010;
- Livros Abertos, 2016;
- Crónicas do Envelhecer, 2017;
- Emoções Lusófonas, ;
- Rosas Amarelas para a Nossa Ausência, ;
- Viagem através do Nosso Distanciamento, ;
- O Outro Mundo em Nós, ;
- Estas Aparências que Nos Doem, ;
- Cinco Canções de Amor para Violino e Orquestra, ;