Magalhães, Joaquim - Ao encontro de António Aleixo
Carta de Joaquim Magalhães "Os de Loulé são assim"
Lígia Laginha, criadora e administradora da página Marafações de uma louletana, diz:
Nem sempre o local em que nascemos é aquele onde criamos raízes e “governamos” a nossa vida. É esse o caso de Joaquim Magalhães (1909 – 1999). Nascido no Porto, tornou-se num fervoroso algarvio, tanto ou mais do que os algarvios de gema. Salienta-se do seu extenso percurso cultural, o esforço que empreendeu para que fosse reconhecido o talento de um verdadeiro algarvio, o poeta António Aleixo, que por sua vez foi um louletano “emprestado”. Os dois desenvolveram um profícua “parceria” que resultou a longo prazo na publicação e reconhecimento da poesia aleixiana.
Muito mais se poderia escrever sobre a vida do Prof. Joaquim Magalhães, no entanto, mais do que tornar este post maçudo discorrendo sobre todas as valências deste “algarvio nascido no Porto”, o que pretendo é dar aqui a conhecer uma carta escrita pelo mesmo e que se intitula “Os de Loulé são assim”. Esta carta, datada de 22 de Novembro de 1992, dá-nos a conhecer um pouco daquilo que caracteriza Loulé e as suas gentes. Relevante neste documento é também, e uma vez mais, o seu apelo para que os louletanos saibam preservar e respeitar a memória do poeta Aleixo, bem como enaltecer a sua obra.
Reza então a referida carta assim:
“Com este título escrevi eu, a pedido de um louletano, bem conhecido, Pedro de Freitas, para a “Gazeta dos Caminhos de Ferro”, um artigo cheiinho de verdades sobre o amor dos de Loulé à sua terra, às suas gentes, às suas devoções.
Achava-os eu, nesse artigo, como exemplares. Um bairrismo bem educado e respeitador de outros bairrismos, é útil e mais que respeitável. Tenho a certeza de que é uma forma de patriotismo centrado na terra em que se nasceu e extensivo a toda a nossa terra nacional.
Tanto quanto me é dado observar essa característica continua a ser marcante. É portanto justo e correcto que os de Loulé não queiram deixar os seus créditos por mãos alheias. E que defendam os valores das coisas e das pessoas que honram a sua terra. Um exemplo bonito é o terem sabido acolher como seu, um filho de Vila Real, mas filho de louletano; e, por isso, de certo modo, louletano também… Todos os possíveis leitores deste apontamento estão a lembrar-se de que me refiro ao poeta Aleixo.
Foi em Loulé que se fez gente. Em Loulé viveu parte da sua vida. E em Loulé acabou seus dias, e não em Coimbra, como alguns por vezes escrevem em jornais.
Ora os de Loulé, lembrando e honrando o fulgor que a obra do poeta alcançou, erigiram um monumento, digno de tal valor.
A autarquia soube dar vulto visível e de alto nível artístico à criação do escultor Lagoa Henriques. Cabe agora aos louletanos conservá-lo e respeita-lo. Para que não fiquemos aquém dos nossos amigos brasileiros, que incluem, hoje, o nome de António Aleixo, em antologia de escritores portugueses e brasileiros, ao lado de Garett, Herculano, João de Deus, Teixeira Gomes, João Lúcio e outros, nossos, além dos que escreveram ou escrevem do outro lado do Atlântico.
Um monumento em Loulé e o reconhecimento do valor literário no Brasil são factos que me parecem de registar e apontar como confirmação de que os de Loulé são assim e merecem que assim continuem a ser.”
In:Gazeta dos Caminhos de Ferro, n.º 1240, 16 de Agosto de 1939, p.380.
DUARTE, António Sousa, António Aleixo: o poeta do povo. Lisboa, Âncora, 1999.
https://marafacoesdeumalouletana.blogs.sapo.pt/os-de-loule-sao-assim-por-joaquim-53901