Magalhães, Joaquim - A aventura poética de Emiliano da Costa
Título: A aventura poética de Emiliano da Costa
Autor: Joaquim Peixoto Magalhães
Local de publicação: Faro
Editora: [s.n.] (sem nome de editora indicado — tipografia local: “Tip. Cácima”)
Ano de edição: 1962
Extensão / formato: 34, [1] páginas; 21 cm.
Excerto do livro A Aventura Poética de Emiliano da Costa
- SENHORAS E SENHORES:
A obra de Emiliano da Costa é um caso sério dentro da panorâmica da poesia portuguesa do nosso tempo. Um caso sério e um caso à parte. Porque não pode apreciar-se pelo padrão comum da produção poética habitual.
Emiliano da Costa não segue nenhuma escola literária; não se deixa levar ou influenciar por nenhuma corrente estética da nossa época; não chega, por assim dizer, a dar-se conta dos movimentos poéticos, que, em vagas sucessivas, com maior Ou menor ressonância, têm fluído e refluído, nesta santa terrinha de impenitentes trovadores.
Isolado na sua tebaida de Estoi; recolhido na solidão da sua aldeia; longe das tertúlias das três cidades maiores do pais, que são as que fabricam as
reputações artísticas; esquecido da critica que faz, ou, pelo menos, julga fazer a opinião pública; ignorado do pequeno mundo dos leitores de poesia, que, ainda que reduzido, é constituído por muito mais de um ou dois centos (e raro terão excedido este número as tiragens de cada um dos seus livros), EMILIANO DA COSTA viveu intensamente estes trinta anos de atividade poética, mais ocupado e preocupado com escrever recantar e exprimir-se do que com a conquista do lugar a que tem direito no panorama da nossa poesia. Estou certo de que, se o Poeta vivesse em Lisboa, ou em Coimbra, e pertencesse a qualquer roda de literatos, o seu nome seria mais retumbantemente conhecido do que é. Nisto concordo inteiramente com a opinião que o poeta Hernâni de Lencastre há pouco desenvolveu na primeira página literária de '0 Correio do Sul, Em todo o caso, como o provou - e bem documentadamente - o também poeta e professor Rocha Gomes, em recente conferência, no Circulo Cultural, estes trinta anos de aventura criadora do Artista não passaram sem que de cada livro seu a imprensa, chamada pequena, mas que, por vezes, nobremente supre as falhas da que se considera grande, sem que a pequena imprensa regional, repito, desse conta do labor poético de Emiliano da Costa.
In: Magalhães, Joaquim - A aventura poética de Emiliano da Costa. Faro, 1962. pág. 4 e 5. Conferência no Salão Nobre da Câmara Municipal de Faro, na sessão solene de homenagem ao Poeta, realizada em 2 de dezembro de 1956.
