Lyster Franco, Mário
- Mário Augusto Barbosa Lyster Franco
Faro, 19/2/1902 - Faro, 20/8/1984.
Jornalista, escritor, político, advogado, historiador, professor.
- Do Natural, poema de MLF publicado no jornal Correio do Sul.
Tenho no meu quintal uma figueira
Que não tem grande encanto de roupagem,
Passa parte do ano sem folhagem
E não cresceu bonita nem fagueira.
Nasceu junto à janela do meu quarto,
Faz-me barulho quando a noite venta,
Só a minha paciência a aguenta
Nas muitas vezes em que já estou farto.
Quando aos seus figos é um encanto ver,
Dá-me bastantes que os pardais me levam
Mas dentre aqueles que os marotos deixam
Ainda ficam muitos para comer.
Mas o mais belo que eu encontro nela
Está numa haste que num gesto amigo
Tem qualquer coisa para ver comigo
E vem trazer-me os figos à janela.
São meia dúzia, sua graça vem
Por serem símbolo do que vai por cá
O magro prémio que o Algarve dá
Aqueles filhos que lhe querem bem!...
- Na Morte do Poeta, poema de MLF preservado pelo Arquivo.pt em AJEA.
Mago brando da Forma. Ultimo Esteta.
Buscas a sombra eterna do cipreste,
E o sol imenso ao ver-te se reveste
Duma serena palidez de asceta !
De novas glórias derradeiro profecta
Nas concepções divinas que tiveste
Hinos à terra sacrossanta ergueste
Sonho de Herói em corpo de Poeta !
Vai a carne a enterrar. A alma eleita.
A regiões etéreas já afeita
Subira há muito para a mansão da luz !
E se aos homens cantou o Bem outrora,
Teve o prémio merecido, e vive agora,
Ensinando os seus versos a Jesus !...
- ESTOI
A Emiliano da Costa
Estoi! Hoje é que estou bem... Não há quem tenha
Assim tão belo vinho, nem tão bom
Panito fresco, amassadinho ao som
Do murmúrio da água na azenha!...
Quero beber... Não escolho o vinho. Venha
De fora ou esteja aqui, tem todo o dom
De ser tal como o outro, o mesmo tom
Ao passar na garganta mais rouquenha...
Beber água, por Deus, eu não consinto!
Deixem falar quem fala. O Bernardim
Se tivesse bebido o belo tinto
Não ficava a cantar "menina e moça"
... "Seu verbo panteísta se alvoroçal...
E ... a "Rosairinha" não ficava assim!...
- Memória coletiva
Nesta falésia, tão cortada a pique,
sobre este mar, de choro e de impropério,
surge, longe em longe, uma sombra escura,
existe um não-sei-quê... qualquer mistério...
Como se andasse ainda aqui Henrique
ou chegassem mensagens da Lonjura...
- Aquela praiazinha ao pé de Budens
Naquela praiazinha, ao pé de Budens,
há um qualquer segredo...
Não sei dizer o quê,
fiquei na incerteza
de quem sente, pressente, mas não vê...
... Talvez porque houvesse algumas nuvens.
... Talvez devido ao arvoredo
de não distante mata,
tão basta e verde e só
tão cheia de beleza
e de tristeza abstrata...
- Notas Biográficas
Figura importante da cidade de Faro, filho do pintor, escritor e jornalista Carlos Augusto Lyster Franco, e tal como ele foi jornalista escritor, político além de advogado, arqueólogo e museólogo. A sua carreira literária começou bastante cedo ao escrever os primeiros poemas aos 8 anos de idade para os jornais da região. Em 1914, com 12 anos, Mário Augusto Barbosa Lyster Franco foi o primeiro aluno matriculado no curso elementar de comércio, recém criado na Escola Industrial e Comercial de Pedro Nunes, em Faro / Escola Secundária de Tomás Cabreira, em Faro. Foi também aluno no Liceu de Faro / Escola Secundária de João de Deus, em Faro.
Mário Augusto Lyster Franco lutou sempre pelo desenvolvimento económico e cultural do Algarve, dinamizando conferências, exposições, editando livros e jornais sobre diversos assuntos.
- Bibliografia:
- Praia da Rocha, Monchique, Sagres: A trindade maravilhosa, 1928.
- O Algarve : Exposição Portuguesa em Sevilha, 1929.
- Guia-Album do Algarve - MLF, Roberto Nobre e Zambrano Gomez1932.
- Na romagem de Sagres, 1937.
- Uma inscrição inédita de Ossónoba, 1940.
- Porque me orgulho de ser Algarvio, 1942.
- As ruínas romanas de Milreu: e os últimos trabalhos nelas realizados por intermédio da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 1943.
- Guia turístico do Algarve, 1944.
- Uma estatueta de sileno, 1944.
- Guia turístico do Algarve, 1944.
- O espólio arqueológico de José Rosa Madeira MLF e Abel Viana, 1945.
- As termas romanas de Monchique, 1945.
- A pesca do atum na costa do Algarve: achegas para a sua história, 1947.
- Cemitério da Idade do Bronze nos arredores de Faro - MLF e Abel Viana, 1948.
- Manuel Teixeira Gomes : o homem que regressou, 1950.
- João Lúcio e portugalidade, 1951.
- Júlio Dantas, 1952.
- Cândido Guerreiro : homenagem da casa do Algarve - MLF, José Guerreiro Murta e Luís de Oliveira Guimarães, 1958.
- Alocução em Silves, 1959.
- Breve notícia da presença dos judeus no Algarve, 1978.
- Camões e a algarvia , 1978.
- Salazar Moscovo: um poeta algarvio esquecido : notas bio-bibliográficas e breve antologia ,1979.
- Algarviana: subsídios para uma bibliografia do Algarve e dos autores algarvios, 1982.
- Um historiador algarvio do século XVIII, 1982.
- 100 Cartas a Ferreira de Castro, 1992 (cartas de dezenas de personalidades, entre as quais: MLF, Jorge Amado, Eugénio de Andrade, Raul Brandão, Júlio Dantas, Vergílio Ferreira, Vitorino Nemésio, Aquilino Ribeiro, M. Teixeira-Gomes, ...)
- Veja mais sobre Mário Augusto Lyster Franco nos seguintes links:
- 2001 -"Mário Lyster Franco - figura modelar do regionalismo algarvio, um artigo no Jornal de Lagos".
- 2007 -Texto sobre Mário Lyster Franco de Aurélio Nuno Cabrita.
- 2009 -Texto de Vilhena Mesquita sobre Mário Lyster Franco.
- 2009 -Texto de Vilhena Mesquita sobre Mário Lyster Franco.
- 2013 -Texto com referência a Mário Lyster Franco .
- 2018 -Texto sobre Mário Lyster Franco .
- 2018 -Texto do Arquivo de Faro com o Registo de nascimento de Mário Lyster Franco.