Jorge, Lídia

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  • Lídia Jorge

Boliqueime, Loulé, 18/06/1946.

Escritora. Professora. Patrona da Biblioteca Municipal de Albufeira.


  • Cai a Chuva no Portal

Cai a chuva no portal, está caindo
Entre nós e o mundo, essa cortina
Não a corras, não a rasgues, está caindo
Fina chuva no portal da nossa vida.
Gotas caem separando-nos do mundo
Para vivermos em paz a nossa vida.

Cai a chuva no portal, está caindo
Entre nós e o mundo, essa toalha
Ela nos cobre, não a rasgues, está caindo
Chuva fina no portal da nossa casa.
Por um dia todos longe e nós dormindo
Lado a lado, como páginas dum livro.

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  • Notas Biográficas

Lídia Jorge, nasceu no Algarve mas viveu os anos mais conturbados da Guerra Colonial em África. Estudou no Liceu de Faro e é licenciada pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi professora do ensino secundário. É um dos mais marcantes vultos da literatura portuguesa distinguida com vários prémios quer a nível nacional que a nível internacional. Os seus romances são sucessos editoriais e abordam diferentes temas: a mulher e a sua solidão, a vivência nas terras algarvias, os contrastes humanos, sociais e comportamentais, a sua experiência colonial... O seu primeiro livro "O Dia dos Prodígios" foi um sucesso imediato, pela renovação que introduziu na Literatura Portuguesa. A partir daí nunca mais deixou de publicar, estando os seus romances traduzidos em diversas línguas. O seu trabalho, quer na escrita quer em prol da cultura portuguesa, tem sido reconhecido em Portugal e no estrangeiro com a atribuição de inúmeros prémios e condecorações. "Era uma jovem estudante universitária recém-chegada do Algarve e instalada num lar estudantil na Avenida das Forças Armadas. Nesse início dos anos 60 subia muitas vezes a Avenida Estados Unidos da América e vinha até à Avenida de Roma. Para Lídia Jorge, era esta a Lisboa moderna e cosmopolita. Apaixonou-se pela zona, e é ainda aí que vive hoje.Sentia que as Avenidas Novas, com "a sua geometria, a disciplina", eram "uma zona de futuro". "Talvez tenha a ver com a minha história, com ser uma parvenue, aquela que chega depois". Lisboa era, para uma jovem algarvia, um motivo de fascínio. "Era o sítio do mundo moderno, onde se podia fazer uma experiência de encontro com a cultura e a História muito diferente da que se fazia em Faro, onde os horizontes eram muito limitados".Lisboa nos anos 60 era ainda uma cidade muito provinciana. Mas Lídia Jorge não a via assim. "Sentia-me numa grande capital. Para mim era um mundo aberto, eram horizontes que se rasgavam". Subia até à Avenida de Roma e juntava-se numa tertúlia organizada pela professora Maria Aliete Galhoz (de Boliqueime, tal como ela) e outras alunas na pastelaria Capri. Os bairros populares, longe da geometria rigorosa das grandes avenidas, não a atraíam. "Era como se fosse outra vez a província. Não conseguia apreciar, não tinha distância, achava que tinham demasiadas marcas do passado." Tinha, confessa hoje, "a altivez do olhar provinciano", e roupa estendida e assadores de sardinhas no meio da rua eram para ela "subdesenvolvimento". Depois havia a vida cultural. "Aos fins-de-semana apanhávamos o 31 e íamos à Baixa assistir a espectáculos. Vivia-se com muita intensidade em torno do pouco que tínhamos." Ficou fiel às Avenidas Novas, uma zona onde "se pode manter o equilíbrio entre a vizinhança e o anonimato". Fez parte do grupo de cidadãos que há alguns anos se mobilizaram para impedir que fosse construído um viaduto que transformaria as avenidas "numa espécie de auto-estrada" para os carros "voarem" entre a Ponte Vasco da Gama e a 25 de Abril.E viu a zona envelhecer. "No final dos anos 80, princípio dos 90 sentiu-se nitidamente uma alteração". Muitos jovens partiram, há muitas casas fechadas, prédios com cada vez menos moradores e mais escritórios. Mas Lídia Jorge continua fiel. Gosta até do vento. "Gosto de um pouco de aspereza, do facto de ser um pouco inóspito. Aqui faz vento - acontece uma coisa na cidade."

  • Artigo/Entrevista com apontamentos biográficos do jornal "O Público: (2009/09/26)


  • Bibliografia:
  • Romances

O Dia dos Prodígios - 1980
O Cais das Merendas - 1982
Notícia da Cidade Silvestre - 1984
A Costa dos Murmúrios - 1988
A Última Dona - 1992
O Jardim Sem Limites - 1995
O Vale da Paixão - 1998
O Vento Assobiando nas Gruas 2002
Combateremos a Sombra - 2007
A Noite das Mulheres Cantoras - 2011
Os Memoráveis - 2014
Estuário - 2018

  • Contos:

A Instrumentalina - 1992
O Conto do Nadado - 1992
Marido e outros Contos - 1997
O Belo Adormecido - 2004
O Organista - 2014
O Amor em Lobito Bay - 2016

  • Literatura Infantil:

O Grande Voo do Pardal, ilustrado por Inês de Oliveira - 2007
Romance do Grande Gatão, ilustrado por Danuta Wojciechowska - 2010
O Conto da Isabelinha - Lilibeth's Tale, ilustrado por Dave Sutton - 2018

  • Ensaio:

Contrato Sentimental - 2009

  • Teatro:

A Maçon - 1997
Instruções para Voar - 2016

  • Poesia:

O Livro das Tréguas - 2019

  • Crónicas
  • Colaboradora assídua do Jornal de Letras e do Público.


  • Veja mais sobre Lídia Jorge nos seguintes links:

- 2012- "Revista Desassossego": Entrevista a Lídia Jorge sobre : “A Literatura Tem um Poder Lento, mas é um Poder Seguro”

- 2014-Site da FNAC onde Lídia Jorge identifica os "10 livros da sua vida"

- 2014- FNAC "Revista ESTANTE": Entrevista a Lídia Jorge sobre os "40 anos do 25 de Abril"


in https://arquivo.pt


- 2004- Biografia da Direção Geral do Livro e das Bibliotecas sobre Lídia Jorge da qual extraímos a seguinte citação: "Nos romances de Lídia Jorge, a condição sócio-cultural das personagens, sobretudo as femininas, reflecte-se em diálogos, testemunhos a que não é alheia a atenção que a autora dispensa à tradição oral, em relação directa com a crónica da nossa história recente, antes e depois da revolução. A sua peça para teatro "A Maçon" procura um tempo mais remoto, os primeiros anos da ditadura, para retratar a condição feminina imposta pela ideologia do Estado Novo e a perda de liberdades (também) por parte das mulheres".

- 2006- Artigo no Público sobre Lídia Jorge e a sua participação no Festival Med com referência a uma conferência realizada no Arquivo Municipal onde Lídia Jorge convidou a escritora espanhola Rosa Montero para debaterem, juntas, "a problemática da mulher".

- 2007- Página sobre a vida e a obra de Lídia Jorge. Nela encontramos alguns poemas e excertos bem como alguns comentários à sua obra. Salientamos o de João Gaspar Simões in Diário de Notícias, 24 /1 /85 que considera que "Lídia Jorge é o maior prodígio das letras pátrias neste último quartel do século".

- 2007- - 2007 - Artigo no Público sobre Lídia Jorge e a sua atividade em conjunto com a Orquestra do Algarve que, para comemorar o seu quinto aniversário, resolveu apostar em novas linhas de programação que não se restringissem à arte dos sons. O maestro Cesário Costa, diretor artístico, lançou um desafio à escritora Lídia Jorge, convidando-a a participar na temporada 2007/2008. "Pretendemos estabelecer colaborações com artistas que não sejam músicos e associar as suas perspectivas à orquestra".

- 2007- Artigo no Público, sobre a cidade de Lisboa vista por várias pessoas entre elas Lídia Jorge. O texto encontra-se acima reproduzido.

- 2010- Página da Biblioteca Municipal de Albufeira Lídia Jorge.

- 2011- Notícia sobre a rubrica de Lídia Jorge no "Público" "Especial Algarve".

- 2011- - 2011 - Texto de Guilherme de Oliveira Martins no Público com referência a Lídia Jorge.

- 2013- Biografia da CM Loulé sobre Lídia Jorge onde se faz referência ao Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído à sua obra “O Vento Assobiando nas Gruas”. Reproduzimos um excerto dessa obra: “Naquela tarde quente de Agosto, o longo corpo da Fábrica Velha ainda lá estava estendido ao sol. Não propriamente intacto, pois nessa altura já o telhado verdoengo abaulava como se a ondulação do mar se prolongasse na cobertura do edifício. Também os parapeitos de algumas janelas ostentavam ramalhetes de ervas finas dispostas em forma de cabeleira, puxando-os para a terra. A própria inscrição frontal, Fábrica de Conservas Leandro 1908, já havia perdido quase todas as letras, e a uma certa distância apenas se decifrava servas e 908, configurando uma espécie de sinal cabalístico inscrito na parede branca. Mas esses factos pouco ou nada interessavam. Milene encontrava-se parada em frente do velho edifício, apenas porque esperava que o portão se abrisse e alguém aparecesse para falar com ela." (...)In O Vento Assobiando nas Gruas.

-2017- Cronica de Lídia Jorge no "Público" sobre Luís Guerreiro. Nas suas palavras "Luís Guerreiro é um leitor de Literatura e um conhecedor dos seus autores, o que lhe tem alargado a visão antropológica e humana com que aborda os temas, no plano da discurso histórico. Devo-lhe horas de incitação intelectual, de amizade, de exemplo pela causa da memória como fundamento da construção do futuro. Devo-lhe que, até agora, desde há dez anos, sempre me tenha incluído na sua área de afectos e que nos tenhamos tantas vezes cruzado em tarefas, a maior parte delas quixotescas, tarefas de tentar combater a linearidade do nosso novo mundo. Nesse sentido, enquanto ele mo consentir, sempre lhe hei-de chamar companheiro."