Fraqueza, Maria José - Murmúrios do Mar

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Maria José Fraqueza - Murmúrios do Mar - Prefácio de JM

Luz Verde e Bandeira Azul
Inicia assim o seu «Murmúrio»... o Ex.mo Sr. Dr. Joaquim Magalhães

Escreveu o Poeta Afonso Lopes Vieira não sei bem onde, nem quando, que poesia é para ser lida com os ouvidos. O que quer dizer, se não me engano, que versos devem ser lidos e, portanto, ditos, em voz alta.
O que nos conduz, ou reconduz, ao tempo da oralidade, predominante sobre a escrita, anterior, digamos, à disciplina da imprensa, ou talvez melhor, dos caracteres impressos.
Vive-se, aqui, no Algarve, um momento curioso de afirmação de uma literatura poética espontânea que pretende e aspira ao estatuto de publicação.
Não são só os que apresentam e representam uma maior, ou menor formação escolar ou académica, mas todos os que se enfileiram na, ou apoiam a chamada literatura popular. Não sei bem se ○ exemplo do que aconteceu com o surto de interesse provocado pelo êxito de António Aleixo, publicado, despertou e impulsionou essa espécie de reivindicação. Nem interessa averiguar. Basta registar o facto.
Curiosamente a autora destes «Murmúrios do Mar», agora em vias de continuação das «Histórias da Minha terra» que foi edição da Associação dos Poetas Populares do Alentejo e Algarve, acompanha a linha desses espontâneos, mas com uma formação académica e aspirações pessoais mais alargadas.
Lendo, como devem ser lidos, estes «Murmúrios do Mar», em voz alta, mas não tanto que se atraiçoe o título, os leitores se aperceberão de que Maria José Fraqueza insiste nesta segunda obra num género literário, digamos, consagrado noutros tempos, mas muito menos usado, hoje em dia. Refiro-me ao soneto, forma de cerca de metade das composições do livro. Não direi que o rigor da métrica seja sempre perfeito, mas registo impulso lírico espontâneo de sinceridade, de que, naturalmente nos apercebemos na tal leitura em voz alta, que, outra vez, se recomenda. E, quando assim lemos, vamos entendendo que não é o metro rigoroso a medida exata da espontaneidade da escrita.
E quem assim se apresenta sem pretensões merece uma saudação amigável e amiga que, pelo que me toca, não só não regateio, como o faço com muita simpatia e recomendo com a maior sinceridade.
Escutem, de alma e coração abertos, estes «Murmúrios do Mar» e leiam-se os sonetos e demais poemas do volume como canções para uma construção de castelos da poesia à beira-mar, deste mar do Algarve, apanhado em «murmúrios».
E fica assim mais alargada a obra de Maria José Fraqueza.
Depois das «Histórias da Minha Terra» ia quase a dizer, histórias «ou murmúrios do meu mar». Também merecem luz verde e bandeira azul.
17 de Outubro de 1989
Dr. Joaquim Magalhães