Dias, Jacinto Palma

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Jacinto Palma Dias
Castro Marim, 11/10/1945 - Lisboa, 11/09/2020

Historiador. Investigador. Ensaísta. Escritor. Professor.

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  • Momento 1

Coimbra sem travões, 1967/ 68 / 69
Tudo começou numa malvada prova oral de Teoria da História, na Faculdade de Letras da Lisboa de 1966 e na qual o professor Jorge Borges de Macedo me chumbou após ter elogiado a minha literatura por largos minutos. Terminado o discurso amoroso fez-me uma única pergunta à qual eu não respondi em correspondência. E pim! Vi logo por aí que a minha carreira lectiva em Lisboa estava arruinada enquanto aquele psicopata aí residisse como professor. Fui para Coimbra, mas o que eu não sabia era que Salazar tratava aquela universidade com benfeitorias que não abundavam nem em Lisboa nem no Porto. Ele queria que a universidade de Coimbra, que era a sua, fosse a melhor. E de facto quando para lá fui deparei-me com belíssimos professores na Faculdade de Letras, alguns deles dotados de um timbre intelectual muito elevado como foram os casos de Paulo Quintela, Orlando Carvalho, Fernandes Martins e outros mais. No entanto, um pouco mais discretamente, Maria Helena da Rocha Pereira espantava pelo facto de ser o mais notável no plano internacional pois escrevia com frequência nas revistas das então famosas universidades de Oxford e Cambridge. Foi com ela que eu reabilitei a auto-estima que perdera em Lisboa. Foi na sua cadeira de excelência – Cultura Clássica - que eu obtive a melhor nota de toda a Faculdade de Letras, 18 valores. E uma das razões que ela enunciou para tal resultado foi a mesma que conduziu ao meu chumbo em Lisboa, a minha literatura: a capacidade catártica de uma escrita como factor de conhecimento. Lavrei então um tratado de paz com o Jacinto Palma Dias.

  • Momento 2

Coimbra sem travões, 1967/ 68 / 69
Quando fui para Coimbra só estava a pensar em estudos. Não apreciava muito o fado, nem o de Lisboa nem o de Coimbra. Este último lembrava-me os trovadores da Idade Média. Para além disso os meus pais enclausuraram-me durante 4 anos num colégio de frades em Lisboa e aí também aprendi a não gostar nem de batinas nem de capas tanto como não me agradavam vultos sombrios, não era por aí que eu ia para Coimbra. Mas fomos. Eu, o Júlio Carrapato e o José Francisco Soares de Lima fomos para uma casa em Stº António dos Olivais, numa periferia da cidade e aí defrontei-me com uma inesperada revelação. Os "zés pereiras". Desfilavam nas festas das latadas. Eu nunca tinha ouvido daquilo. Fiquei fora de mim. Quando fui desterrado para o colégio dos frades a minha iniciação musical -"clandestina"- foi o rock’n’roll. O meu primeiro 45 rotações foi do Bill Haley and His Comets, tinha eu 13 anos. Os "zés pereiras" reataram essa linhagem de ritmo e percussão. Muito mais que no rock, encontrava eu ali uma sonoridade vulcânica, uma abertura a um xamanismo ancestral que a euforia ambiental criada pelas latadas permitia reviver. O algarvio de má raça estava assim a cumprir a máxima que os seus vizinhos do Alentejo lhe dedicam: "algarvios e cães de caça são todos da mesma raça".
https://www.esquerda.net/artigo/jacinto-palma-dias-coimbra-sem-travoes/71246

Platibandas.jpg

  • Notas Biográficas

Nas palavras do próprio Jacinto Palma Dias "sobre os seus tempos de estudante, primeiro frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa e depois mudou-se para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Durante a sua permanência em Coimbra esteve ligado a vários indivíduos e associações contra a ditatura nacional, tendo sido um dos estudantes que participou na greve aos exames em 1969. O regime reprimiu violentamente o movimento estudantil, tendo vários participantes sido suspensos e outros incorporados nas forças que combatiam na guerra colonial." Na sequência destes episódios Jacinto Palma Dias vai para Bruxelas, onde frequenta a universidade, concluindo a licenciatura em História na Université VIII de Paris, em 1973, permanecendo em França onde inicia a carreira de professor. Após o 25 de Abril regressa a Portugal, em 1975, dando continuidade à sua carreira docente em várias escolas do Algarve e na Escola do Magistério Primário de Faro.
Dedicou-se à investigação e ao estudo da história do Algarve, em diversas dimensões tais como a arte de fazer platibandas, elemento característico da arquitetura algarvia. Jacinto Palma Dias lutou contra descaracterização da paisagem da região, defendendo ativamente a cultura, o património e a natureza algarvias, sendo considerado uma grande figura na cultura algarvia. Era dotado de uma personalidade multifacetada imprimindo um cunho singular em diversas áreas artísticas que iam da pintura até à música. Esteve presente como autor na inauguração da exposição de artes plásticas Peregrinação. Integrava o grupo musical COOL & Zeus, em conjunto com Michael Agostinho, António Cavaleiro, Iuri Maló, Filipe Ferreira e Vítor Afonso. Simultaneamente foi um dos pioneiros da agricultura biológica no Algarve, pugnando ativamente pela proteção da cultura arbórea tradicional mediterrânica e um elemento dinâmico na revitalização das salinas tradicionais em Castro Marim, tendo produzido a flor de sal no Algarve, nesta zona.
Na senda da sua vertente de investigação publicou vários ensaios e livros sobre a região do Algarve, designadamente "O Algarve Revisitado", em coautoria com João Brisso, obra dedicada sobretudo às platibandas, "A metáfora da água, da terra e da luz na mitologia do Algarve arcaico", "Algarve em 3D", "Portugal antes de Portugal", "Estéticas e Inestéticas no Algarve contemporâneo", entre outras. Colaborava regularmente com a imprensa regional onde se destacava pelos seus artigos sobre a corrente artística do Modernismo no Algarve.
in https://jacintopalmadias.wordpress.com/

  • Bibliografia

Livro jacinto1.jpg Livro jacinto.jpg Jacinto capa.png Livro jacinto2.jpg Metafora.jpg 3D.jpg
-O Algarve Revisitado,1994 em coautoria com João Brisso, dedicada ao tema das platibandas.
-A metáfora da água, da terra e da luz na mitologia do Algarve arcaico,1999
-Algarve em 3D, 2015
-Portugal antes de Portugal, 2016
-Estéticas e Inestéticas no Algarve contemporâneo, 2017
-A Caravela Portuguesa, 2019
-Algarve Manifesto, cuja segunda edição foi lançada em 2019.