Difference between revisions of "Viegas, Lia"

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'''Marília Viegas (Lia)''' nasceu em Faro em 5 de Abril de 1931, e morreu na mesma cidade em 27 de Dezembro de 2016.<br />
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'''Marília Viegas (Lia)'''<br />
Lutadora antifascista e feminista, advogada e poetisa, tornou-se conhecida pela sua actividade na defesa dos direitos das mulheres e, durante o fascismo, destacou-se como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários.<br />
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Faro, 05/041931 - Faro, 27/12/2016.<br />
Mulher calorosa e de grande generosidade.<br />
 
Lutadora antifascista e feminista<br />
 
Licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e exerceu notariado e advocacia em Macau, Angola e Lisboa.<br />
 
Foi uma das raras mulheres que durante o regime do Estado Novo, corajosamente, aceitou defender presos políticos nos tribunais plenários.<br />
 
Ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos.<br />
 
Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou activamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres.<br />
 
  
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Advogada. Poetisa. Lutadora antifascista e feminista. Ativista na defesa dos direitos das mulheres.
AI DE MIM MINHAS MÃOS REVOLVEM A TERRA QUE DÁ PÃO<br />
 
ESTOU COMPROMETIDA DESDE O INÍCIO<br />
 
VOLUNTARIAMENTE ENLAÇADA NA CADEIA DE MONTAGEM<br />
 
A COMPASSO A HORÁRIO A CALENDÁRIO<br />
 
“ROBOT” MANIPULADO COM ESFORÇO<br />
 
AI DE MIM OUÇO<br />
 
A PASSARADA CUJO DESTINO É O CÉU<br />
 
DENTRO DE MIM RASGANDO CEGAMENTE<br />
 
OS CAMINHOS COM SE HOUVESSE<br />
 
POSSÍVEL PROMETIDA PERMITIDA<br />
 
UMA PORTA QUE DESSE<br />
 
PARA O INFINITO<br />
 
  
In: '''''Náufragos na Ilha'''''<br />
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*'''''PUXAR A REDE DA MEMÓRIA'''''<br />
  
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Puxar a rede da memória<br />
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capturar os ainda vivos peixes e<br />
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atirá-los ao mar e<br />
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atirar ao ar os ainda vivos<br />
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moluscos que vivos puderem mergulhar<br />
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haverá algas lodos e limos<br />
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haverá mortos exumados e por exumar<br />
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haverá trastes mobílias e velhas vestes<br />
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sapatos pequenos farrapos de retratos<br />
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estilhaços de espelhos de maquilhar<br />
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cosméticos e máscaras prontos a usar<br />
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Inventariar as minúsculas caixas de suspiros e ais<br />
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as pontinhas de escrita nos lenços de assoar<br />
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salvar as palavras ditas e não ditas<br />
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repertoriar as feridas os rasgões as suturas e cicatrizes<br />
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soltar as palavras mesmo as escritas<br />
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desapertar os nós alargar as cordas<br />
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abrir a boca da rede e<br />
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deixar que se esgote o manancial represo<br />
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os goles de mar e as bolhas de ar<br />
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deixar escorrer até que se exaure e desagregue<br />
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e sedimente e integre a pescaria<br />
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que ficou para trás<br />
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E a rede poderá voar<br />
  
*'''Biografia'''<br />
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In: '''''Árvore de Fogo'''''<br />
  
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*'''''A ESPADA ENXUTA'''''<br />
  
Enquanto activista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), teve actividade no Movimento Democrático das Mulheres (MDM) e, mais tarde, pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974.<br />Defensora dos direitos das mulheres<br />Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla num julgamento, em 1979. Esta jornalista enfrentou um processo-crime na sequência da transmissão pela RTP, em Maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto e Lia Viegas aceitou defendê-la[3]. O processo contra a jornalista atravessou fronteiras, o julgamento gerou um forte movimento de solidariedade e Maria Antónia Palla foi absolvida, em Junho de 1979.<br />Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. Em 1975 publicou uma monografia sobre A Constituição e a Condição da Mulher.<br /> Além da advocacia, da actividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres” (títulos já desaparecidos).<br />
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A espada enxuta<br />
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Na madrugada húmida<br />
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Onde chove onde choro<br />
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E trespassada alcanço<br />
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In, A Pulso o Horizonte<br />
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AI DE MIM MINHAS MÃOS REVOLVEM A TERRA QUE DÁ PÃO<br />
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Ai de mim minhas mãos revolvem a terra que dá pão<br />
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Estou comprometida desde o início<br />
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Voluntariamente enlaçada na cadeia de montagem<br />
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A compasso a horário a calendário<br />
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“Robot” manipulado com esforço<br />
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Ai de mim ouço<br />
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A passarada cujo destino é o céu<br />
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Dentro de mim rasgando cegamente<br />
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Os caminhos com se houvesse<br />
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Possível prometida permitida<br />
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Uma porta que desse<br />
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Para o infinito<br />
  
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In: '''''Náufragos na Ilha'''''<br />
No dia 8 de Março de 1977, um grupo de mulheres entre as quais se encontravam '''Lia Viegas''' e '''Maria Antónia Palla''', entregou ao Presidente da Assembleia da República, '''Vasco da Gama Fernandes''', uma petição assinada por 5 mil pessoas, exigindo a despenalização do aborto. Arquivo A Capital.<br />
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https://www.facebook.com/groups/205408572982640/permalink/205482012975296/ - '''CICLO DE POETAS ALGARVIOS'''<br />
  
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*'''Notas Biográficas'''<br />
  
  
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.<br />
  
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'''Lia Viegas''' licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e exerceu notariado e advocacia em Macau, Angola e Lisboa, durante o fascismo, destacou-se como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários sendo das raras mulheres que durante o regime do Estado Novo, corajosamente, aceitou defender presos políticos. Mulher calorosa e de grande generosidade, ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos. Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou activamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres. Enquanto activista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), teve actividade no Movimento Democrático das Mulheres (MDM) e, mais tarde, pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974. Defensora dos direitos das mulheres. Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla num julgamento, em 1979. Esta jornalista enfrentou um processo-crime na sequência da transmissão pela RTP, em Maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto e Lia Viegas aceitou defendê-la[3]. O processo contra a jornalista atravessou fronteiras, o julgamento gerou um forte movimento de solidariedade e Maria Antónia Palla foi absolvida, em Junho de 1979. Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. Em 1975 publicou uma monografia sobre A Constituição e a Condição da Mulher. Além da advocacia, da actividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres” (títulos já desaparecidos).<br />
  
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[[File:Lia-Viegasfoto2.jpg|512px]]<br />
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No dia 8 de Março de 1977, um grupo de mulheres entre as quais se encontravam '''Lia Viegas''' e '''Maria Antónia Palla''', entregou ao Presidente da Assembleia da República, '''Vasco da Gama Fernandes''', uma petição assinada por 5 mil pessoas, exigindo a despenalização do aborto. Arquivo A Capital.<br />
  
Náufragos na Ilha, Editora Soc. Expansão Cultural, 1971;<br />
+
*'''Bibliografia'''<br />
A Pulso o Horizonte, Editora Ulmeiro, 1985;<br />
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[[File:ContituiçãoLia.JPG|131px]]<br />
Árvore de Fogo, Hugin Editores, 2001<br />
+
'''''A constituição e a condição da mulher''''' 1977<br />
 
 
 
 
Em Janeiro de 2014, a homenagem promovida pelo NAM, na Assembleia da República, aos advogados (cerca de 150, menos de 10 eram advogadas) que haviam defendido defendido presos políticos nos tribunais plenários. Lia Viegas foi homenageada. (Fotografia de José Gema)
 
Advogada e poetisa
 
 
 
 
 
*'''Bibliografia'''
 
Obras de poesia:
 
 
 
'''''Náufragos na Ilha''''', Editora Soc. Expansão Cultural, 1971;
 
''''A Pulso o Horizonte'''', Editora Ulmeiro, 1985;
 
'''''Árvore de Fogo''''', Hugin Editores, 2001
 
 
 
 
 
AI DE MIM MINHAS MÃOS REVOLVEM A TERRA QUE DÁ PÃO
 
ESTOU COMPROMETIDA DESDE O INÍCIO
 
VOLUNTARIAMENTE ENLAÇADA NA CADEIA DE MONTAGEM
 
A COMPASSO A HORÁRIO A CALENDÁRIO
 
“ROBOT” MANIPULADO COM ESFORÇO
 
AI DE MIM OUÇO
 
A PASSARADA CUJO DESTINO É O CÉU
 
DENTRO DE MIM RASGANDO CEGAMENTE
 
OS CAMINHOS COM SE HOUVESSE
 
POSSÍVEL PROMETIDA PERMITIDA
 
UMA PORTA QUE DESSE
 
PARA O INFINITO
 
 
 
Lia Viegas
 
In, Náufragos na Ilha
 
 
 
 
 
 
 
Foi uma mulher extraordinária na defesa dos direitos das mulheres, tendo dado apoio jurídico em muitos casos de forma gratuita”
 
 
 
Manuela Tavares, que a entrevistou para o seu livro sobre o movimento feminista em Portugal “Feminismos: Percursos e Desafios”.
 
 
 
[3] Numa série de programas feita em parceria com a jornalista Antónia de Sousa, “Nome-Mulher”, o episódio dedicado à questão do aborto defendendo a sua legalização, levou Maria Antónia Palla a julgamento.
 
 
 
As reacções não se fizeram esperar por parte da Ordem dos Médicos e das forças mais conservadoras (…) Foi instaurado um processo crime e o início do julgamento veio a verificar-se em maio de 1979”
 
 
 
Maria Antónia Palla, em testemunho a Manuela Goucha Soares , fala de LV como uma mulher extremamente generosa e recorda que o advogado que a assistia desistira na véspera da primeira audiência e que, em choque, ela fora aconselhada a contactar LV, pois que só uma mulher iria defendê-la num caso como aquele. LV aceitou de imediato.
 
 
 
[4] Lia Viegas foi membro do Conselho Nacional do Movimento Democrático das Mulheres (MDM), eleita em 1977, reeleita em 1980 e em 1984.
 
 
 
Dados biográficos
 
 
 
Manuela Goucha Soares, in Expresso, Morreu Lia Viegas
 
Sul Informação: Morreu Lia Viegas, advogada e defensora dos direitos das mulheres
 
Fernando R. Luís, em Ciclo de Poetas Algarvios nº 18: Lia Viegas
 
Feminismos: Percursos e Desafios (1947-2007), Manuela Tavares. Lisboa, 2011.Texto Ed.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sexta-feira, Junho 25, 2021
 
INÍCIOOPINIÃOPOLÍTICAINTERNACIONALECONOMIASOCIEDADECULTURAESPECIAIS
 
CADERNOSA LIBERDADE PASSOU POR AQUI
 
Lia Viegas
 
Por
 
Helena Pato
 
17 Março, 2019
 
 
25
 
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Helena Pato
 
Antifascistas da Resistência
 
(1931 – 2016)
 
 
 
Lutadora antifascista e feminista, advogada e poetisa, tornou-se conhecida pela sua actividade na defesa dos direitos das mulheres e, durante o fascismo, destacou-se como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários.
 
 
 
Mulher calorosa e de grande generosidade.
 
 
 
Lutadora antifascista e feminista
 
 
 
Marília Viegas (Lia) nasceu em Faro em 5 de Abril de 1931, e morreu na mesma cidade em 27 de Dezembro de 2016.
 
 
 
Licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e exerceu notariado e advocacia em Macau, Angola e Lisboa.
 
 
 
Foi uma das raras mulheres que durante o regime do Estado Novo, corajosamente, aceitou defender presos políticos nos tribunais plenários[1].
 
 
 
Ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos[2].
 
 
 
Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou activamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres.
 
 
 
 
 
 
 
No dia 8 de Março de 1977, um grupo de mulheres entre as quais se encontravam Lia Viegas e Maria Antónia Palla, entregou ao Presidente da Assembleia da República, Vasco da Gama Fernandes, uma petição assinada por 5 mil pessoas, exigindo a despenalização do aborto. Arquivo A Capital.
 
Defensora dos direitos das mulheres
 
Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla num julgamento, em 1979. Esta jornalista enfrentou um processo-crime na sequência da transmissão pela RTP, em Maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto e Lia Viegas aceitou defendê-la[3]. O processo contra a jornalista atravessou fronteiras, o julgamento gerou um forte movimento de solidariedade e Maria Antónia Palla foi absolvida, em Junho de 1979.
 
 
 
 
 
Nesta notícia de A Capital sobre o julgamento lê-se:
 
 
 
“Maria Antónia Palla é defendida pela drª Lia Viegas (…)”.
 
 
 
Edição de 26 de maio de 1979
 
 
 
ARQUIVO A CAPITAL
 
 
 
Enquanto activista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), teve actividade no Movimento Democrático das Mulheres (MDM)[4] e, mais tarde, pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974.
 
 
 
 
 
Em Janeiro de 2014, a homenagem promovida pelo NAM, na Assembleia da República, aos advogados (cerca de 150, menos de 10 eram advogadas) que haviam defendido defendido presos políticos nos tribunais plenários. Lia Viegas foi homenageada. (Fotografia de José Gema)
 
Advogada e poetisa
 
Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. Em 1975 publicou uma monografia sobre A Constituição e a Condição da Mulher.
 
 
 
Além da advocacia, da actividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres” (títulos já desaparecidos).
 
 
 
Poesia
 
Obras de poesia:
 
 
 
 
 
 
 
[1]
 
 
 
Marília Viegas foi das raras mulheres que defenderam presos políticos nos Tribunais Plenários fascistas, durante a ditadura do Estado Novo. Em Janeiro de 2014, os cerca de 150 abnegados advogados foram homenageados por iniciativa Movimento Não Apaguem a Memória (NAM), em sessão na Assembleia da República . Marília Viegas colaborou na organização dessa iniciativa”
 
 
 
[2]
 
 
 
Foi uma mulher extraordinária na defesa dos direitos das mulheres, tendo dado apoio jurídico em muitos casos de forma gratuita”
 
 
 
Manuela Tavares, que a entrevistou para o seu livro sobre o movimento feminista em Portugal “Feminismos: Percursos e Desafios”.
 
  
[3] Numa série de programas feita em parceria com a jornalista Antónia de Sousa, “Nome-Mulher”, o episódio dedicado à questão do aborto defendendo a sua legalização, levou Maria Antónia Palla a julgamento.
+
Obras de poesia:<br />
  
As reacções não se fizeram esperar por parte da Ordem dos Médicos e das forças mais conservadoras (…) Foi instaurado um processo crime e o início do julgamento veio a verificar-se em maio de 1979”
+
'''''La Spirale de la rose'''''<br />
 +
'''''Náufragos na Ilha''''', Editora Soc. Expansão Cultural, 1971;<br />
 +
''''A Pulso o Horizonte'''', Editora Ulmeiro, 1985;<br />
 +
'''''Árvore de Fogo''''', Hugin Editores, 2001<br />
 +
 +
[[File:LivrosLia.JPG|445px]]<br />
  
Maria Antónia Palla, em testemunho a Manuela Goucha Soares , fala de LV como uma mulher extremamente generosa e recorda que o advogado que a assistia desistira na véspera da primeira audiência e que, em choque, ela fora aconselhada a contactar LV, pois que só uma mulher iria defendê-la num caso como aquele. LV aceitou de imediato.
+
*Pode saber mais sobre '''Lia Viegas''' nos seguintes links:<br />
 +
https://www.jornaltornado.pt/lia-viegas/<br />
 +
https://expresso.pt/sociedade/2016-12-28-Morreu-Lia-Viegas<br />
 +
https://www.sulinformacao.pt/2016/12/movimento-democratico-de-mulheres-lamenta-morte-de-lia-viegas/<br />
  
[4] Lia Viegas foi membro do Conselho Nacional do Movimento Democrático das Mulheres (MDM), eleita em 1977, reeleita em 1980 e em 1984.
 
  
  
 
[[Category:Autores]][[Category:Poetas]]
 
[[Category:Autores]][[Category:Poetas]]
 
[[Category:Faro]][[Category:Agr. João de Deus, em Faro]]
 
[[Category:Faro]][[Category:Agr. João de Deus, em Faro]]

Latest revision as of 16:54, 14 December 2021

Lia-Viegasfoto.jpg

Marília Viegas (Lia)
Faro, 05/041931 - Faro, 27/12/2016.

Advogada. Poetisa. Lutadora antifascista e feminista. Ativista na defesa dos direitos das mulheres.
  • PUXAR A REDE DA MEMÓRIA

Puxar a rede da memória
capturar os ainda vivos peixes e
atirá-los ao mar e
atirar ao ar os ainda vivos
pássaros marinhos e os
moluscos que vivos puderem mergulhar
inventariar os restos
haverá algas lodos e limos
haverá mortos exumados e por exumar
haverá trastes mobílias e velhas vestes
sapatos pequenos farrapos de retratos
estilhaços de espelhos de maquilhar
cosméticos e máscaras prontos a usar
Inventariar as minúsculas caixas de suspiros e ais
as pontinhas de escrita nos lenços de assoar
salvar as palavras ditas e não ditas
repertoriar as feridas os rasgões as suturas e cicatrizes
soltar as palavras mesmo as escritas
desapertar os nós alargar as cordas
abrir a boca da rede e
deixar que se esgote o manancial represo
os goles de mar e as bolhas de ar
deixar escorrer até que se exaure e desagregue
e sedimente e integre a pescaria
que ficou para trás
E a rede poderá voar

In: Árvore de Fogo

  • A ESPADA ENXUTA

A espada enxuta
Na madrugada húmida
Onde chove onde choro
E trespassada alcanço
A pulso o horizonte
In, A Pulso o Horizonte
AI DE MIM MINHAS MÃOS REVOLVEM A TERRA QUE DÁ PÃO
Ai de mim minhas mãos revolvem a terra que dá pão
Estou comprometida desde o início
Voluntariamente enlaçada na cadeia de montagem
A compasso a horário a calendário
“Robot” manipulado com esforço
Ai de mim ouço
A passarada cujo destino é o céu
Dentro de mim rasgando cegamente
Os caminhos com se houvesse
Possível prometida permitida
Uma porta que desse
Para o infinito

In: Náufragos na Ilha
https://www.facebook.com/groups/205408572982640/permalink/205482012975296/ - CICLO DE POETAS ALGARVIOS

  • Notas Biográficas


.

Lia Viegas licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa e exerceu notariado e advocacia em Macau, Angola e Lisboa, durante o fascismo, destacou-se como advogada de presos políticos nos Tribunais Plenários sendo das raras mulheres que durante o regime do Estado Novo, corajosamente, aceitou defender presos políticos. Mulher calorosa e de grande generosidade, ao longo da vida defendeu gratuitamente muitas dezenas de mulheres que necessitavam de apoio jurídico para fazer valer os seus direitos. Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, participou activamente nos movimentos de despenalização do aborto, quando este era ilegal e ocorria de forma clandestina, provocando a morte ou problemas de saúde graves em muitas mulheres. Enquanto activista feminista, Lia Viegas foi uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), teve actividade no Movimento Democrático das Mulheres (MDM) e, mais tarde, pertenceu à União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). É autora do livro “A Constituição e a Condição da Mulher”, publicado um ano depois do 25 de Abril de 1974. Defensora dos direitos das mulheres. Um dos momentos mais marcantes do percurso de Lia Viegas foi a sua participação como advogada de defesa de Maria Antónia Palla num julgamento, em 1979. Esta jornalista enfrentou um processo-crime na sequência da transmissão pela RTP, em Maio de 1976, de um programa da sua autoria sobre o aborto e Lia Viegas aceitou defendê-la[3]. O processo contra a jornalista atravessou fronteiras, o julgamento gerou um forte movimento de solidariedade e Maria Antónia Palla foi absolvida, em Junho de 1979. Cedo se interessou pela Literatura, tendo escrito o seu primeiro poema aos 16 anos. Em 1954 foi incluída na Antologia Prémio Almeida Garrett, do Ateneu Comercial do Porto. Colaborou em diversos jornais e revista literárias, nomeadamente no suplemento Artes e Letras do Diário de Notícias. Em 1975 publicou uma monografia sobre A Constituição e a Condição da Mulher. Além da advocacia, da actividade política e como feminista, é autora de vários livros de poesia. Foi também colaboradora de diversos jornais e revistas, entre os quais o suplemento “Artes e Letras” do “Diário de Lisboa” e a revista “Mulheres” (títulos já desaparecidos).

Lia-Viegasfoto2.jpg
No dia 8 de Março de 1977, um grupo de mulheres entre as quais se encontravam Lia Viegas e Maria Antónia Palla, entregou ao Presidente da Assembleia da República, Vasco da Gama Fernandes, uma petição assinada por 5 mil pessoas, exigindo a despenalização do aborto. Arquivo A Capital.

  • Bibliografia

ContituiçãoLia.JPG
A constituição e a condição da mulher 1977

Obras de poesia:

La Spirale de la rose
Náufragos na Ilha, Editora Soc. Expansão Cultural, 1971;
'A Pulso o Horizonte', Editora Ulmeiro, 1985;
Árvore de Fogo, Hugin Editores, 2001

LivrosLia.JPG

  • Pode saber mais sobre Lia Viegas nos seguintes links:

https://www.jornaltornado.pt/lia-viegas/
https://expresso.pt/sociedade/2016-12-28-Morreu-Lia-Viegas
https://www.sulinformacao.pt/2016/12/movimento-democratico-de-mulheres-lamenta-morte-de-lia-viegas/