Teixeira, Judith - Livro Proibido

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Leitura – Decadência, Judith Teixeira

“A Estátua” O teu corpo branco e esguio prendeu todo o meu sentido… Sonho que pela noite, altas horas, Aqueces o mármore frio do alvo peito entumecido…

E quantas vezes pela escuridão, a arder na febre dum delírio, os olhos roxos como um lírio, venho espreitar os gestos que eu sonhei… ……………………………………………………………………. - Sinto os rumores duma convulsão, a confessar tudo que eu scismei!

Ó Venus sensual! Pecado mortal do meu pensamento! Tens nos seios de bico acerados, num tormento, a singular razão dos meus cuidados!

                                            Decadência, Judith Teixeira




“O Meu Chinez” Nos olhos de sêda traçados em viez, tem um ar tão sensual o meu Chinez…

Vive sobre uma almofada de setim bordada, pintado a côres.

Às vezes numa ansia inquieta que eu não mitigo, e que me domina, Num sonho de poeta ou de heroína, fujo levando o meu Chinez comigo!

E lá vamos! Nem eu sei para que alcovas orientaes, em que paizes distantes, realisar as horas sensuais, as horas delirantes com que eu sonhei… ………………………………………………………………………………. Eu e o meu Chinez temos fugido tanta, tanta vez!

                                            Decadência, Judith Teixeira

“Os Meus Cabelos” Doirado, fulvo, desmaiado e vermelho, tem reflexos de fogo o meu cabelo! Neste conjunto diverso, quando me vejo assim, ao espelho, encontro no meu todo, um ar perverso…

Gosto dos meus cabelos tão doirados! E enterro com volupia, os dedos esguios, por entre os meus fios doiro, desgrenhados, revoltos e macios!

Fico às vezes a vêr-me e a meditar admirada, nesse oiro fulvo e estridente da minha cabeleira desmanchada, que tão bem sabe exteriorizar, o meu ser estranho e ardente…

Há sol, outono e inverno, brilhos metálicos, poente, a chama do próprio inferno, no meu cabelo egual ao meu sentir! - E eu fico largo tempo a contemplar, a scismar e a sorrir, ao meu perfil incoerente e singular…

                                            Decadência, Judith Teixeira

“A Outra”

A Outra, a tarada, aquela que vive em mim, que ninguém viu, nem conhece, e que enloirece À hora linda do poente palida e desgrenhada –

Vem contar-me, muitas vezes, na sua voz envolvente, incoerente e desgarrada – A estridência da côr, a ansia do momento…

A rubra dôr do sensualismo, no ardôr de cada paroxismo…

Não ha angustia maior que essa tragedia interior: -

A intransigência dos seus nervos, irreverentes servos da sua inconsciencia!

E é sempre a mesma dôr angustiada em cada sensação realisada…

Todo o seu canto morre num clamor!... Nada é verdade. Só existe a Dôr! Nada mais subsiste, - Mesmo o prazer e a sensualidade só na Dôr existe!

                                            Decadência, Judith Teixeira