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Honorato santos.JPG Honorato Santos, um ignorado historiador do Algarve

Investigador e publicista, Honorato Artur Pires da Silva Santos, de seu nome completo, nasceu em 1879, na cidade de Faro, mais propriamente na belíssima casa do Cercado da Atalaia, que lhe pertencia e que ainda conheci, naquele peculiar traço arquitectónico genuinamente algarvio, mas que julgo ter sido expropriado para expandir a cidade, erguendo-se no seu lugar uma daquelas inestéticas torres habitacionais, uma “caixotada” de betão, muito similar a pombais humanos. Quando a filha, a Dr.ª Mariana Santos, foi viver para Coimbra e depois para Lisboa, resolveu acompanhá-la e aí continuar as suas aturadas pesquisas sobre o passado histórico do Algarve, tornando-se por essa razão num assíduo frequentador da Biblioteca Nacional e da Torre do Tombo. Faleceu em Lisboa, no amparo da sua única filha, a 4-2-1968, com quase 89 anos de idade.

Era um cidadão muito estimado e bastante respeitado entre os seus conterrâneos, mercê da sua finíssima educação e lhaneza de trato, assim como pela consideração social a que os seus razoáveis bens de fortuna davam plena justificação. Possuía uma privilegiada memória, era inteligente, perspicaz e persistente na sua avidez pelo conhecimento. Tornou-se conhecido pela sua natural apetência para a música, sendo um apreciado instrumentista de piano, frequentador das nobres tertúlias citadinas que se reuniam nas casas mais abastadas para cultuarem a arte de Orfeu. Mais insaciável do que a música era a sua curiosidade em aprender a razão de ser das coisas, quer da simples agricultura até aos mais avançados segredos da ciência. Interessava-se por tudo. Porém, eram as coisas do passado que mais prendiam a sua atenção. Desde as famílias nobres até aos heróis populares, que se haviam distinguido ao longo dos séculos; desde os vestígios das mais antigas ocupações humanas até aos mais nobres edifícios do Algarve, tudo isso o interessava e lhe ocupava as horas de descanso para aprender e saber sempre mais. Tanto em Faro como em Olhão o nome do Honorato Santos era sinónimo de louvável dedicação à leitura, de rara persistência ao estudo e de forte apego à investigação histórica. As centenas de nótulas e pequenos artigos sobre “Velharias Históricas do Algarve” valeram-lhe a nomeação para o Instituto Arqueológico do Algarve, que era aliás o único título de que se orgulhava, e do qual fazia alarde nos seus cartões de visita. Desempenhou diferentes cargos públicos na cidade de Faro, nomeadamente na Fazenda Pública, na Câmara e na Junta Escolar de Faro. Também dava aulas particulares de piano para jovens iniciados nos segredos da arte de Orfeu. Não sei porque razão era vice-cônsul honorário da Bolívia em Faro, mas desconfio que fosse derivado das suas relações de amizade com algumas famílias ligadas ao negócio de exportação de frutos secos, cortiças, azeite e outras mercadorias regionais. Entre os cargos que graciosa e honradamente desempenhou, destaca-se a de Sindico da Ordem Terceira de S. Francisco de Faro, prestando relevantes serviços de assistência social, no combate à indigência e no auxílio à saúde pública.

Em livro, com letra de imprensa, nunca deu à estampa nenhum dos seus trabalhos. É certo que tudo o que escrevia era bastante sintetizado, pequenas súmulas sobre pessoas e factos, instituições e monumentos do passado histórico algarvio. No fundo eram apenas curiosidades que se tentavam aclarar, resumos de teses elaboradas por autores consagrados, compilações de citações avulsas, transcrição de documentos publicados em obras raras, enfim um caudal de “coisas e loisas”, uma espécie de bric-à-brac da História do Algarve. Nunca escreveu uma obra de fundo, com verdadeira importância para o avanço da historiografia nacional. A maioria desses estudos, ou pequeníssimas monografias, “editou-as” ele em curiosos caderninhos manuscritos, guarnecidos com belas molduras geométricas, de cornucópias e arabescos coloridos, ilustrados com o brasão de Faro, esquissos de monumentos e outros desenhos, a maioria dos quais muito infantis e meramente decorativos. Esses “canhenhos” de notas históricas - encapados em papel de fantasia com motivos florais, ou em papel vegetal de diferentes cores – “editava-os” em várias cópias manuscritas, oferecendo-os ainda em vida aos amigos e familiares, encontrando-se hoje dispersos pelas bibliotecas regionais, pelas livrarias particulares de alguns bibliófilos (como é o meu caso) e até pelos alfarrabistas, que os vendem como preciosidades da historiografia regional. Os exemplares que possuo estão datados de Lisboa na década de cinquenta, mas tenho um exemplar sobre o brasão de Faro datado de 1941.