Difference between revisions of "Sampaio, Jaime Salazar - Livro Proibido"

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*'''Jaime Salazar Sampaio'''(1925-2010)
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*'''Jaime Salazar Sampaio'''(1925-2010)<br />
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Poeta, ficcionista e autor dramático,licenciado em Engenharia. Jaime Augusto Salazar Sampaio foi talvez o autor português contemporâneo mais representado em Portugal por dezenas de companhias profissionais e amadoras que, desde os anos 60, o foram inserindo regularmente nos seus reportórios. A sua primeira peça foi '''Aproximação e 14 poemas''', editada em 1945 na antologia de vários autores '''Bloco –1ª pedra''', logo apreendida pela censura, que viu como sinais ameaçadores o vermelho da capa e as invocações à liberdade no texto.<br />
  
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*Livro proibido - '''''Bloco, Teatro, Poesia, Conto'''''<br />
  
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Dois poemas de Jaime Salazar Sampaio despertaram também a atenção dos censores:<br />
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o sétimo<br />
  
Poeta, ficcionista e autor dramático,licenciado em Engenharia. Jaime Augusto Salazar Sampaio foi talvez o autor português contemporâneo mais representado em Portugal por dezenas de companhias profissionais e amadoras que, desde os anos 60, o foram inserindo regularmente nos seus repertórios. Estreiou-se na escrita com a peça '''Aproximação''' e 14 poemas,editada em 1945 na antologia de vários autores '''Bloco –1ª pedra''', logo apreendida pela censura, que viu como sinais ameaçadores o vermelho da capa e as invocações à liberdade no texto.
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“Não é por bandeiras e fronteiras <br />
 
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que darei o meu sangue.<br />
*Livro proibido - '''''Bloco, Teatro, Poesia, Conto'''''
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Não luto por Cristo<br />
. Dois poemas de Jaime Salazar Sampaio despertaram também a atenção dos censores:
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É por mim, companheiro,<br />
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Por mim e por ti.”, p. 56-57)
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Do homem fardado e armado.<br />
 
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É toda a mentira<br />
E a facada da lei.  
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Que tiver pedestal”<br />
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(p. 57-58).<br />
É o gesto arbitrário
 
Do homem fardado e armado.
 
Legal
 
É toda a mentira
 
Que tiver pedestal”, p. 57-58).
 
 
 
 
 
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E faz bandeiras!...<br />
 
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Cavalo negro de crina ao vento<br />
 
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O jogo era este: um jogo de espertezas e de compromissos.Primeira regra – certos assuntos... nem pensar enfiá-los numa peça!Segunda regra – começando por escolher um assunto que não
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incomodasse (…) era aconselhável ter um outro cuidado: quando eu queria dizer uma coisa que sabia não poder nomear, referia-a... por um outro nome. E se fosse preciso, acrescentava
Segunda regra – começando por escolher um assunto que não
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uma poeira de palavras “descomprometidas”, tentando criar um clima de ambiguidades. O pior é que, por culpa destes malabarismos que eu me sentia obrigado a praticar, a pouco e pouco (…), a auto-censura tomou conta de mim, como se eu fosse, ou tentasse ser, um auxiliar da tal Comissão. (…) E a jogatana tornou-se um vício. Muito embora esse vício, para além
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de ter certas consequências desfavoráveis, tivesse também uma inesperada virtude: ao empurrar o essencial do discurso para as entrelinhas – e era esta uma das regras mais importantes daquele jogo – eu estava a aprender o meu ofício de escriba, já que o essencial nem sempre se pode verbalizar, cabendo ao silêncio das entrelinhas sinalizá-lo; de forma subtil, se formos capazes...<br />
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Comissão. (…)
 
E a jogatana tornou-se um vício. Muito embora esse vício, para além
 
de ter certas consequências desfavoráveis, tivesse também uma
 
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  • Jaime Salazar Sampaio(1925-2010)
Poeta, ficcionista e autor dramático,licenciado em Engenharia. Jaime Augusto Salazar Sampaio foi talvez o autor português contemporâneo mais representado em Portugal por dezenas de companhias profissionais e amadoras que, desde os anos 60, o foram inserindo regularmente nos seus reportórios. A sua primeira peça foi Aproximação e 14 poemas, editada em 1945 na antologia de vários autores Bloco –1ª pedra, logo apreendida pela censura, que viu como sinais ameaçadores o vermelho da capa e as invocações à liberdade no texto.
  • Livro proibido - Bloco, Teatro, Poesia, Conto

Dois poemas de Jaime Salazar Sampaio despertaram também a atenção dos censores:
o sétimo

“Não é por bandeiras e fronteiras
que darei o meu sangue.

Não luto por Cristo
Ou por S. Tiago.

É por mim, companheiro,
Por mim e por ti.”
(p. 56-57)

o décimo

“Legal
E a facada da lei.
Legal
É o gesto arbitrário
Do homem fardado e armado.
Legal
É toda a mentira
Que tiver pedestal”
(p. 57-58).

  • Leitura - Bloco
  • Grito

Rasga! É alma? É alma? É trapo?
Que importa?
Rasga, atira os pedaços ao vento
Rasga e não chores
Ri!
Arranca esses farrapos
Rasga as mãos na pedra
Anda descalça
Despedaça a alma
Rasga!
E faz bandeiras!...

Bloco, Matilde Rosa Araújo

Vento Norte
Cavalo negro de crina ao vento
relincho na cerca
arbusto quebrado

Num muro de sombras
o portão de ferro
e o vento uivando
e o vento uivando

Cavalo negro de crina ao vento
a erva talada na longa alameda
Bloco, Mário Ruivo


O jogo era este: um jogo de espertezas e de compromissos.Primeira regra – certos assuntos... nem pensar enfiá-los numa peça!Segunda regra – começando por escolher um assunto que não incomodasse (…) era aconselhável ter um outro cuidado: quando eu queria dizer uma coisa que sabia não poder nomear, referia-a... por um outro nome. E se fosse preciso, acrescentava uma poeira de palavras “descomprometidas”, tentando criar um clima de ambiguidades. O pior é que, por culpa destes malabarismos que eu me sentia obrigado a praticar, a pouco e pouco (…), a auto-censura tomou conta de mim, como se eu fosse, ou tentasse ser, um auxiliar da tal Comissão. (…) E a jogatana tornou-se um vício. Muito embora esse vício, para além de ter certas consequências desfavoráveis, tivesse também uma inesperada virtude: ao empurrar o essencial do discurso para as entrelinhas – e era esta uma das regras mais importantes daquele jogo – eu estava a aprender o meu ofício de escriba, já que o essencial nem sempre se pode verbalizar, cabendo ao silêncio das entrelinhas sinalizá-lo; de forma subtil, se formos capazes...
In:https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/30094/1/12773-38509-1-SM.pdf


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