Difference between revisions of "Sampaio, Jaime Salazar - Livro Proibido"
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+ | Poeta, ficcionista e autor dramático,licenciado em Engenharia. Jaime Augusto Salazar Sampaio foi talvez o autor português contemporâneo mais representado em Portugal por dezenas de companhias profissionais e amadoras que, desde os anos 60, o foram inserindo regularmente nos seus reportórios. A sua primeira peça foi '''Aproximação e 14 poemas''', editada em 1945 na antologia de vários autores '''Bloco –1ª pedra''', logo apreendida pela censura, que viu como sinais ameaçadores o vermelho da capa e as invocações à liberdade no texto.<br /> | ||
+ | *Livro proibido - '''''Bloco, Teatro, Poesia, Conto'''''<br /> | ||
+ | Dois poemas de Jaime Salazar Sampaio despertaram também a atenção dos censores:<br /> | ||
+ | o sétimo<br /> | ||
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− | que darei o meu sangue. | + | (p. 56-57)<br /> |
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− | Não luto por Cristo | + | o décimo<br /> |
− | Ou por S. Tiago. | + | <br /> |
− | + | “Legal<br /> | |
− | É por mim, companheiro, | + | E a facada da lei.<br /> |
− | Por mim e por ti.” | + | Legal<br /> |
− | + | É o gesto arbitrário<br /> | |
− | o décimo | + | Do homem fardado e armado.<br /> |
− | + | Legal<br /> | |
− | “Legal | + | É toda a mentira<br /> |
− | E a facada da lei. | + | Que tiver pedestal”<br /> |
− | Legal | + | (p. 57-58).<br /> |
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Cavalo negro de crina ao vento<br /> | Cavalo negro de crina ao vento<br /> | ||
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− | + | Bloco, Mário Ruivo<br /> | |
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− | O jogo era este: um jogo de espertezas e de compromissos. | + | O jogo era este: um jogo de espertezas e de compromissos.Primeira regra – certos assuntos... nem pensar enfiá-los numa peça!Segunda regra – começando por escolher um assunto que não |
− | Primeira regra – certos assuntos... nem pensar enfiá-los numa peça! | + | incomodasse (…) era aconselhável ter um outro cuidado: quando eu queria dizer uma coisa que sabia não poder nomear, referia-a... por um outro nome. E se fosse preciso, acrescentava |
− | Segunda regra – começando por escolher um assunto que não | + | uma poeira de palavras “descomprometidas”, tentando criar um clima de ambiguidades. O pior é que, por culpa destes malabarismos que eu me sentia obrigado a praticar, a pouco e pouco (…), a auto-censura tomou conta de mim, como se eu fosse, ou tentasse ser, um auxiliar da tal Comissão. (…) E a jogatana tornou-se um vício. Muito embora esse vício, para além |
− | incomodasse (…) era | + | de ter certas consequências desfavoráveis, tivesse também uma inesperada virtude: ao empurrar o essencial do discurso para as entrelinhas – e era esta uma das regras mais importantes daquele jogo – eu estava a aprender o meu ofício de escriba, já que o essencial nem sempre se pode verbalizar, cabendo ao silêncio das entrelinhas sinalizá-lo; de forma subtil, se formos capazes...<br /> |
− | aconselhável ter um outro cuidado: quando eu queria dizer uma | + | In:https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/30094/1/12773-38509-1-SM.pdf |
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Revision as of 15:37, 5 March 2024
- Jaime Salazar Sampaio(1925-2010)
Poeta, ficcionista e autor dramático,licenciado em Engenharia. Jaime Augusto Salazar Sampaio foi talvez o autor português contemporâneo mais representado em Portugal por dezenas de companhias profissionais e amadoras que, desde os anos 60, o foram inserindo regularmente nos seus reportórios. A sua primeira peça foi Aproximação e 14 poemas, editada em 1945 na antologia de vários autores Bloco –1ª pedra, logo apreendida pela censura, que viu como sinais ameaçadores o vermelho da capa e as invocações à liberdade no texto.
- Livro proibido - Bloco, Teatro, Poesia, Conto
Dois poemas de Jaime Salazar Sampaio despertaram também a atenção dos censores:
o sétimo
“Não é por bandeiras e fronteiras
que darei o meu sangue.
Não luto por Cristo
Ou por S. Tiago.
É por mim, companheiro,
Por mim e por ti.”
(p. 56-57)
o décimo
“Legal
E a facada da lei.
Legal
É o gesto arbitrário
Do homem fardado e armado.
Legal
É toda a mentira
Que tiver pedestal”
(p. 57-58).
- Leitura - Bloco
- Grito
Rasga! É alma? É alma? É trapo?
Que importa?
Rasga, atira os pedaços ao vento
Rasga e não chores
Ri!
Arranca esses farrapos
Rasga as mãos na pedra
Anda descalça
Despedaça a alma
Rasga!
E faz bandeiras!...
Bloco, Matilde Rosa Araújo
Vento Norte
Cavalo negro de crina ao vento
relincho na cerca
arbusto quebrado
Num muro de sombras
o portão de ferro
e o vento uivando
e o vento uivando
Cavalo negro de crina ao vento
a erva talada na longa alameda
Bloco, Mário Ruivo
O jogo era este: um jogo de espertezas e de compromissos.Primeira regra – certos assuntos... nem pensar enfiá-los numa peça!Segunda regra – começando por escolher um assunto que não
incomodasse (…) era aconselhável ter um outro cuidado: quando eu queria dizer uma coisa que sabia não poder nomear, referia-a... por um outro nome. E se fosse preciso, acrescentava
uma poeira de palavras “descomprometidas”, tentando criar um clima de ambiguidades. O pior é que, por culpa destes malabarismos que eu me sentia obrigado a praticar, a pouco e pouco (…), a auto-censura tomou conta de mim, como se eu fosse, ou tentasse ser, um auxiliar da tal Comissão. (…) E a jogatana tornou-se um vício. Muito embora esse vício, para além
de ter certas consequências desfavoráveis, tivesse também uma inesperada virtude: ao empurrar o essencial do discurso para as entrelinhas – e era esta uma das regras mais importantes daquele jogo – eu estava a aprender o meu ofício de escriba, já que o essencial nem sempre se pode verbalizar, cabendo ao silêncio das entrelinhas sinalizá-lo; de forma subtil, se formos capazes...
In:https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/30094/1/12773-38509-1-SM.pdf