Difference between revisions of "Neruda, Pablo - Livros Proibidos"

From Wikipédia de Autores Algarvios
Jump to: navigation, search
Line 2: Line 2:
 
*Pablo Neruda (1904 - 1973)
 
*Pablo Neruda (1904 - 1973)
  
  Poeta, político e diplomata chileno. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1971.
+
  Poeta, político e diplomata chileno. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1971.<br />
 +
*Livro Proibido - '''Encontro'''<br />
  
 +
*“Hino e Regresso”<br />
  
Leitura – “Hino e Regresso”, Encontro, Pablo Neruda
+
Pátria, pátria minha, a ti regressa o meu sangue.<br />
Pátria, pátria minha, a ti regressa o meu sangue.
+
Mas peço-te, como o filho cheio de pranto<br />
Mas peço-te, como o filho cheio de pranto  
+
pede à mãe:<br />
pede à mãe:
+
Acolhe<br />
                  Acolhe
+
esta guitarra cega<br />
esta guitarra cega
+
e esta fronte perdida.<br />
e esta fronte perdida.
+
Saí a procurar-te filhos pela terra,<br />
Saí a procurar-te filhos pela terra,
+
saí a erguer vencidos com o teu nome de neve,<br />
saí a erguer vencidos com o teu nome de neve,
+
saí a erguer a tua estrela aos heróis feridos.<br />
saí a erguer a tua estrela aos heróis feridos.
+
<br />
 
+
Agora quero dormir na tua substancia.<br />
Agora quero dormir na tua substancia.
+
dá-me uma clara noite de cordas penetrantes,<br />
dá-me uma clara noite de cordas penetrantes,
+
a tua noite de navio, altura de estrelas.<br />
a tua noite de navio, altura de estrelas.
+
<br />
 
+
Pátria minha: quero mudar de sombra.<br />
Pátria minha: quero mudar de sombra.
+
Pátria minha: quero trocar de rosa.<br />
Pátria minha: quero trocar de rosa.
+
Quero pôr o braço na tua frágil cintura<br />
Quero pôr o braço na tua frágil cintura
+
e sentar-me nas tuas pedras calcinadas pelo mar.<br />
e sentar-me nas tuas pedras calcinadas pelo mar.
+
para deter o trigo e olhá-lo por dentro.<br />
para deter o trigo e olhá-lo por dentro.
+
<br />
 
+
Vou escolher a flora delgada do nitrato,<br />
Vou escolher a flora delgada do nitrato,
+
vou fiar o estambre glacial do sino<br />
vou fiar o estambre glacial do sino
+
e olhando a tua ilustre e solitária espuma<br />
e olhando a tua ilustre e solitária espuma
+
tecerei à tua beleza um ramo litoral.<br />
tecerei à tua beleza um ramo litoral.
+
<br />
 
+
Pátria, pátria minha,<br />
Pátria, pátria minha,
+
toda rodeada de água combatente<br />
toda rodeada de água combatente
+
e neve combatida,<br />
e neve combatida,
+
em ti a águia junta-se ao enxofre<br />
em ti a águia junta-se ao enxofre
+
e na tua antártica mão de arminho e de safira,<br />
e na tua antártica mão de arminho e de safira,
+
uma gota incendiando céu.<br />
uma gota incendiando céu.
+
<br />
 
+
Guarda a tua luz, oh pátria! Mantém<br />
Guarda a tua luz, oh pátria! Mantém
+
a dura espiga de esperança no meio<br />
a dura espiga de esperança no meio
+
do cego ar temível.<br />
do cego ar temível.
+
<br />
 
+
Na tua remota terra caiu toda esta luz difícil,<br />
Na tua remota terra caiu toda esta luz difícil,
+
este destino dos homens,<br />
este destino dos homens,
+
que te faz defender uma flor misteriosa,<br />
que te faz defender uma flor misteriosa,
+
só, na imensidade da América adormecida.<br />
só, na imensidade da América adormecida.
+
                     
 
 
                        “Hino e Regresso”, Encontro, Pablo Neruda
 
 
 
 
<br />
 
<br />
 
[[File:Logo25abril50anosleiturascensuradas.png|797px|center]]<br />
 
[[File:Logo25abril50anosleiturascensuradas.png|797px|center]]<br />

Revision as of 15:32, 29 February 2024

PabloNeruda-Fotog.jpg

  • Pablo Neruda (1904 - 1973)
Poeta, político e diplomata chileno. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1971.
  • Livro Proibido - Encontro
  • “Hino e Regresso”

Pátria, pátria minha, a ti regressa o meu sangue.
Mas peço-te, como o filho cheio de pranto
pede à mãe:
Acolhe
esta guitarra cega
e esta fronte perdida.
Saí a procurar-te filhos pela terra,
saí a erguer vencidos com o teu nome de neve,
saí a erguer a tua estrela aos heróis feridos.

Agora quero dormir na tua substancia.
dá-me uma clara noite de cordas penetrantes,
a tua noite de navio, altura de estrelas.

Pátria minha: quero mudar de sombra.
Pátria minha: quero trocar de rosa.
Quero pôr o braço na tua frágil cintura
e sentar-me nas tuas pedras calcinadas pelo mar.
para deter o trigo e olhá-lo por dentro.

Vou escolher a flora delgada do nitrato,
vou fiar o estambre glacial do sino
e olhando a tua ilustre e solitária espuma
tecerei à tua beleza um ramo litoral.

Pátria, pátria minha,
toda rodeada de água combatente
e neve combatida,
em ti a águia junta-se ao enxofre
e na tua antártica mão de arminho e de safira,
uma gota incendiando céu.

Guarda a tua luz, oh pátria! Mantém
a dura espiga de esperança no meio
do cego ar temível.

Na tua remota terra caiu toda esta luz difícil,
este destino dos homens,
que te faz defender uma flor misteriosa,
só, na imensidade da América adormecida.


Logo25abril50anosleiturascensuradas.png

Wiki-nao-censurada-lapisazul.png

Voltar à Página Inicial da wiki 25 de Abril - 50 anos - Leituras em Liberdade