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Os autores abaixo irão ter uma página individual na wiki: <br/>
 
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Algarve, Marcos (Olhão, 1875 - Sintra, 1960); Andrade, Reis de [D'Andrade]; Colaço, Branca de Gonta (Parada de Gonta, 1880 - 1945); Correia, Carlos de Oliveira; Costa, António (Costinha - Pintor); Cruz, Aureliano do Carmo; Cunha, Paulo; Dias, Jacinto Palma; Duarte, Luís (Porto, 26/5/1954 - Reside no Algarve); Gonçalves, Eduardo Brazão (antigo aluno da EICF e do Liceu de Faro); Grade, Fernando (Estoril, 1/4/1943); Pedro, Francisco Basílio Santos; Pereira, Ezequiel (Professor na Escola Pedro Nunes - Séculos XIX e XX); Pinto, Fernando Esteves (Cascais, 1961 - Reside em Olhão desde os 20 anos); Pires, Narciso Alves (Lisboa, 25/11/1928 - Reside em Lagos); Quaresma, José Alberto (Portimão, 3/9/1949); Miranda, Armando de (Portimão, 1904 - 1971?); Murta, Fátima (Estoi, Faro, 22/6/1958); Ramos, Tomás (Mestre Canteiro. Foi Aluno da Escola Pedro Nunes); (Manuel José) Sabino; Sarre, Inês (Pseudónimo literário de Selma Pousão Lopes - Olhão, 20/4/1934); Stockler, J. Santos (Porches, Lagoa, em 1910 - 1989); Vairinhos, Joaquim; Valadas, Jorge Escalço (conhecido por Valadinhas, pintor, diretor da Escola Técnica Elementar Serpa Pinto em 1947/48); Vargues, Rosinda Maria Pereira António de Mendonça; Ventura, António (Mar del Plata, Argentina, 7/1/1952 - Reside no Algarve desde muito novo); ...
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Andrade, Reis de [D'Andrade]; Clara, António Santa; Colaço, Branca de Gonta (Parada de Gonta, 1880 - 1945);Conrado, Júlio(poeta e crítico literário olhanense); Correia, Carlos de Oliveira; Cruz, Aureliano do Carmo; Cunha, Paulo; Dias, Jacinto Palma; Duarte, Luís (Porto, 26/5/1954 - Reside no Algarve); Gonçalves, Eduardo Brazão (antigo aluno da EICF e do Liceu de Faro); Grade, Fernando (Estoril, 1/4/1943); Pedro, Francisco Basílio Santos; Pereira, Ezequiel (Professor na Escola Pedro Nunes - Séculos XIX e XX); Pinto, Pires, Narciso Alves (Lisboa, 25/11/1928 - Reside em Lagos); Quaresma, José Alberto (Portimão, 3/9/1949); Miranda, Armando de (Portimão, 1904 - 1971?); Murta, Fátima (Estoi, Faro, 22/6/1958);Nero (Roberto Simões),Silves,22/9/87; Ramos, Tomás (Mestre Canteiro. Foi Aluno da Escola Pedro Nunes); (Manuel José) Sabino; Sancho, J. Dias ;Sarre, Inês (Pseudónimo literário de Selma Pousão Lopes - Olhão, 20/4/1934); Vairinhos, Joaquim; Vargues, Rosinda Maria Pereira António de Mendonça; Ventura, António (Mar del Plata, Argentina, 7/1/1952 - Reside no Algarve desde muito novo);...
  
Deles, ficam para já alguns textos:
+
== Autores ==
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===Barbosa, Madalena===
 +
[[File:MadalenaBarbosa-hp.png|left]]
 +
[[Barbosa, Madalena | Ativista. EM CONSTRUÇÃO]]
  
'''Algarve, Marcos'''<br/>
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Deles, ficam para já alguns textos:<br/>
(Nasceu em Olhão, em 1875. Faleceu em Sintra, em 1960)<br/>
 
 
 
*'''''Carta a uma Andorinha'''''<br/>
 
 
 
Escrevo-te esta carta para longe,<br/>
 
Sem bem saber a tua direção;<br/>
 
Mas o instinto sereno dalgum monge<br/>
 
Encaminha decerto a minha mão.<br/>
 
<br/>
 
Evoco ainda as tuas melodias,<br/>
 
De manhã cedo, sobre o meu beiral;<br/>
 
Não imaginas quantas arrelias<br/>
 
Por não ser esta carta a um pardal...<br/>
 
<br/>
 
Falaria com toda a liberdade<br/>
 
E o pitoresco exótico da grei;<br/>
 
Diria com meu ar de santidade<br/>
 
O bem e o mal que em tudo constatei.<br/>
 
 
<br/>
 
<br/>
As sardinhas de prata do Algarve,<br/>
 
Hoje comida rara e de valor,<br/>
 
Só as come um endinheirado alarve<br/>
 
Ou um voraz e juvenil prior.<br/>
 
<br/>
 
Ora vê, andorinha, doce amiga,<br/>
 
Como sentimos já as privações;<br/>
 
Cada dia que passa nova briga<br/>
 
Pela falta de couves e feijões.<br/>
 
<br/>
 
Este inverno tem sido de inclemências,<br/>
 
De chuvas e de frios glaciais,<br/>
 
Assim farei as minhas penitências<br/>
 
Para que Deus não nos castigue mais...<br/>
 
<br/>
 
A mágoa que apunhala o pensamento<br/>
 
É uma fera lúgubre e feroz...<br/>
 
Meiga andorinha! Luz de sentimento!<br/>
 
Música divinal da tua voz!<br/>
 
<br/>
 
A Primavera este ano traz agouros,<br/>
 
Talvez até matanças das mais vis,<br/>
 
Homens civilizados que são mouros<br/>
 
Na fúria dos desmandos incivis...<br/>
 
<br/>
 
De resto, minha linda mensageira,<br/>
 
Os meus lamentos são de pecador,<br/>
 
De quem subiu a aspérrima ladeira<br/>
 
À laia de Geraldo Sem Pavor...<br/>
 
<br/>
 
Vaidades minhas, velhas fantasias...<br/>
 
Não venhas cá sem consultar alguém:<br/>
 
Um sábio que revolva profecias<br/>
 
Ou jornalista que defenda o bem.<br/>
 
<br/>
 
Consulta, por exemplo, o Doutor Lopes,<br/>
 
Que é um sábio complexo e pertinaz,<br/>
 
De clássicos harpejos e galopes,<br/>
 
E que apesar de tudo é bom rapaz.<br/>
 
<br/>
 
Pede conselhos ao Dr. Fuzeta,<br/>
 
Que é homem atilado e sabedor,<br/>
 
Romântico dos tempos de Gambeta<br/>
 
E ironista cruel e gladiador...<br/>
 
<br/>
 
Se preferes artistas consumados,<br/>
 
O caso é de ouro como o próprio Sol;<br/>
 
Escreve com segredos e cuidados<br/>
 
Ao poeta Guerreiro... Do Tirol.<br/>
 
<br/>
 
Manda-lhe tirolesas afamadas,<br/>
 
Ou púdicas donzelas do Sião,<br/>
 
Para que ele a horas desoladas<br/>
 
Volte a sentir a sua inspiração.<br/>
 
<br/>
 
Andorinha saudosa que eu ouvia<br/>
 
Nas floridas manhãs do mês de Abril,<br/>
 
Não faças estes anos travessia<br/>
 
Por estas várzeas tépidas de anil.<br/>
 
<br/>
 
Pensarás tu na teimosia minha<br/>
 
Ser um produto de secreto mal?<br/>
 
O jornalista Julião Quintinha<br/>
 
Que te elucide como imparcial.<br/>
 
<br/>
 
À minha secretária está um neto<br/>
 
Para escrever o que o avozinho<br/>
 
diz. Que tal não é agora o meu aspeto<br/>
 
De amargurado S. Francisco Assis!...<br/>
 
<br/>
 
Tempestades brutais e variadas<br/>
 
Arrasaram meu forte coração.<br/>
 
O Mundo com as suas mascaradas<br/>
 
Aniquila saúde, paz, razão...<br/>
 
<br/>
 
Águas passadas não moem moinhos<br/>
 
É um velho provérbio popular.<br/>
 
Castas andorinhas! Até os nossos ninhos<br/>
 
São flocos engolidos pelo mar...<br/>
 
<br/>
 
Mar tenebroso que sacode tudo<br/>
 
E a mesma Humanidade e estupidez...<br/>
 
Vendo a guerra e o meu neto fico mudo!<br/>
 
O resto logo vai para a outra vez...<br/>
 
<br/>
 
'''''(Revista Turismo, Janeiro/Fevereiro de 1942)'''''<br/>
 
  
 
+
'''Colaço, Branca de Gonta''' <br/>
*'''Colaço, Branca de Gonta''' <br/>
 
 
(Nasceu em Parada de Gonta, em 1880. Faleceu em 1945)<br/>
 
(Nasceu em Parada de Gonta, em 1880. Faleceu em 1945)<br/>
<br/>
 
  
'''O seu Algarve'''<br/>
+
*'''O seu Algarve'''<br/>
 
(Nas Homenagens à memória de João Lúcio)<br/>
 
(Nas Homenagens à memória de João Lúcio)<br/>
 
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<br/>
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*'''ARMANDO DE MIRANDA'''<br/>
+
'''Miranda, Armando de'''<br/>
 
(Nasceu em Portimão, em 1904. Desconheço a data do falecimento)<br/>
 
(Nasceu em Portimão, em 1904. Desconheço a data do falecimento)<br/>
  
'''Miragens'''<br/>
+
*'''Miragens'''<br/>
<br/>
+
 
 
Ah! Como a Vida parecia bela!<br/>
 
Ah! Como a Vida parecia bela!<br/>
 
Barquinho esbelto, como de cartão,<br/>
 
Barquinho esbelto, como de cartão,<br/>
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<br/>
 
<br/>
 
<br/>
 
<br/>
*'''Stockler,J. Santos''' <br/>
 
(Nasceu em Porches, Lagoa, em 1910. Faleceu em 1989)<br/>
 
<br/>
 
'''A Torre do Sonho'''<br/>
 
<br/>
 
Para Ferreira de Castro este ramo de palavras orvalhadas pelo
 
humanismo da sua obra<br/>
 
 
Aqui<br/>
 
na Torre do Sonho<br/>
 
a vida pendura sossegadamente<br/>
 
rosas vermelhas<br/>
 
nas orelhas da terra<br/>
 
<br/>
 
Aqui<br/>
 
companheiros dos marinheiros do Outono<br/>
 
a vela do pensamento pode<br/>
 
abrir-se a todo o pano<br/>
 
Pois a palavra atraca tão facilmente<br/>
 
à ilha dos lábios do homem<br/>
 
como as caravelas da saudade<br/>
 
se banham livremente nas margens do rio Sena<br/>
 
<br/>
 
Sim<br/>
 
companheiros das horas amargas e tristes aqui os navios da ideia<br/>
 
atracam livremente<br/>
 
ao cais do desejo<br/>
 
<br/>
 
Aqui<br/>
 
sim<br/>
 
os poetas podem sentar-se<br/>
 
nos largos ombros da manhã<br/>
 
há milénios acesa<br/>
 
dentro dos olhos dos homens<br/>
 
<br/>
 
Portanto vinde para aqui<br/>
 
ó poetas do mundo inteiro<br/>
 
que é deste muro indestilhaçável que sairá<br/>
 
o primeiro canto do hino<br/>
 
que um dia ecoará dentro do peito<br/>
 
da gigantesca montanha humana!<br/
 
 
 
*'''Poema da minha rua<br/>'''
 
Para o Poeta Carlos Faria<br/>
 
<br/>
 
Para lá das ruas desertas<br/>
 
apenas mais ruas desertas<br/>
 
<br/>
 
Para lá das casas vazias<br/>
 
apenas mais casas vazias<br/>
 
<br/>
 
E para lá das muralhas do silêncio<br/>
 
apenas mais muralhas do silêncio<br/>
 
<br/>
 
Só o eco do desejo vibra<br/>
 
dentro da boca dos caminhos!<br/>
 
<br/>
 
'''''(Poemas do Meu Tempo, 1967)'''''<br/>
 
 
  
 
'''Pires, Narciso Alves'''<br/>  
 
'''Pires, Narciso Alves'''<br/>  
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<br/>
 
<br/>
 
*'''Sagres'''<br/>
 
*'''Sagres'''<br/>
<br/>
 
 
Nesta ponta do mundo onde hoje mora<br/>
 
Nesta ponta do mundo onde hoje mora<br/>
 
A saudade sem fim das caravelas<br/>
 
A saudade sem fim das caravelas<br/>
 
O mar é um amante que ainda chora<br/>
 
O mar é um amante que ainda chora<br/>
 
Os barcos que seguiram as estrelas!<br/>
 
Os barcos que seguiram as estrelas!<br/>
<br/>
 
 
<br/>
 
<br/>
 
*'''O Mar'''<br/>
 
*'''O Mar'''<br/>
<br/>
 
 
Se sobre o mar, longe no mar<br/>
 
Se sobre o mar, longe no mar<br/>
 
Cada passagem de cada barco<br/>
 
Cada passagem de cada barco<br/>
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Em que o passado talvez vivesse!<br/>
 
Em que o passado talvez vivesse!<br/>
 
<br/>
 
<br/>
(Para Além do Adeus, 2003)<br/>
+
'''''(Para Além do Adeus, 2003)<br/>'''''
 
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'''Grade, Fernando'''<br/>
 
'''Grade, Fernando'''<br/>
 
(Nasceu no Estoril, a 1 de Abril de 1943)<br/>
 
(Nasceu no Estoril, a 1 de Abril de 1943)<br/>
<br/>
 
 
*'''Variantes de cão e serra, praia pouca'''<br/>
 
*'''Variantes de cão e serra, praia pouca'''<br/>
<br/>
 
 
Ouço o vento a passar bufando com manhas de suão,<br/>
 
Ouço o vento a passar bufando com manhas de suão,<br/>
 
traz ovos de pantera que toda a natureza tem.<br/>
 
traz ovos de pantera que toda a natureza tem.<br/>
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Ilha da Armona, 3 de Setembro de 1989<br/>
 
Ilha da Armona, 3 de Setembro de 1989<br/>
 
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<br/>
'''''(A Minha Pátria É O Sábado,1989)'''''<br/>
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'''''(A Minha Pátria É O Sábado, 1989)'''''<br/>
 
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<br/>
  
 
'''Quaresma, José Alberto'''<br/>
 
'''Quaresma, José Alberto'''<br/>
 
(Nasceu em Portimão, aos 3 de Setembro de 1949)<br/>
 
(Nasceu em Portimão, aos 3 de Setembro de 1949)<br/>
<br/>
 
 
*'''XXVII'''<br/>
 
*'''XXVII'''<br/>
<br/>
 
 
Ainda que a terra esteja serena e morna, a areia sob o vértice da falésia fulva de sol e os corpos inertes a ele entregues em amplexos estáticos. O mar ali imenso e discreto a cingir-se além mais vestígio ao céu.<br/>
 
Ainda que a terra esteja serena e morna, a areia sob o vértice da falésia fulva de sol e os corpos inertes a ele entregues em amplexos estáticos. O mar ali imenso e discreto a cingir-se além mais vestígio ao céu.<br/>
 
Ainda que os páramos do sonho, onde a felicidade é tangível, não vagueiem longe desta plácida antiquíssima harmonia, haverá alguém, um único ser, que não pode estar. Nem partir.<br/>
 
Ainda que os páramos do sonho, onde a felicidade é tangível, não vagueiem longe desta plácida antiquíssima harmonia, haverá alguém, um único ser, que não pode estar. Nem partir.<br/>
<br/>
 
 
*'''XXX'''<br/>
 
*'''XXX'''<br/>
<br/>
 
 
É pela noite que os sonhos ficam mais perto da luz, que a luz fica mais perto da voz e que o corpo passa além da angústia do primeiro encontro.<br/>
 
É pela noite que os sonhos ficam mais perto da luz, que a luz fica mais perto da voz e que o corpo passa além da angústia do primeiro encontro.<br/>
 
Vai surgindo um oceano intáctil onde as palavras adormecem antes dos sorrisos povoarem o escuro êxtase da morte.<br/>
 
Vai surgindo um oceano intáctil onde as palavras adormecem antes dos sorrisos povoarem o escuro êxtase da morte.<br/>
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'''''(A Pose Extática, 1990)'''''<br/>
 
'''''(A Pose Extática, 1990)'''''<br/>
 
<br/>
 
<br/>
'''Ventura, António'''<br/>
+
 
(Nasceu em Mar de Plata, Argentina, a 7 de Janeiro de 1952. Reside no Algarve desde muito novo).<br/>
 
<br/>
 
*'''Vila do Bispo'''<br/>
 
<br/>
 
Os poetas doentes de palavras<br/>
 
habitam litorais enevoados<br/>
 
percorrem praias de calhaus<br/>
 
ao sabor de ventos e marés.<br/>
 
Haverá sempre uma duna<br/>
 
que lhes desperte um sentimento<br/>
 
água límpida, poentes<br/>
 
lágrimas de deuses cinzentos.<br/>
 
<br/>
 
Inútil a solidão<br/>
 
da casa da falésia<br/>
 
dos pinheiros na colina<br/>
 
da vegetação ardida<br/>
 
e de novo renascida<br/>
 
pela inevitável passagem das estações.<br/>
 
<br/>
 
Melhor a perfeição do casario<br/>
 
a simplicidade da praça<br/>
 
as ruas retilíneas e desertas<br/>
 
deste sul com sabor atlântico<br/>
 
e restos de navios.<br/>
 
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'''Duarte, Luís'''<br/>
 
'''Duarte, Luís'''<br/>
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<br/>
 
<br/>
 
*'''Fado Nómada'''<br/>
 
*'''Fado Nómada'''<br/>
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Deixei-te pra trás cidade;<br/>
 
Deixei-te pra trás cidade;<br/>
 
Não sei quando voltarei<br/>
 
Não sei quando voltarei<br/>
Line 402: Line 203:
  
 
*'''Viagem Breve'''<br/>
 
*'''Viagem Breve'''<br/>
<br/>
 
 
Nos braços do vento frio,<br/>
 
Nos braços do vento frio,<br/>
 
Entro na minha cidade;<br/>
 
Entro na minha cidade;<br/>
Line 415: Line 215:
 
E neblinas no olhar<br/>
 
E neblinas no olhar<br/>
 
<br/>
 
<br/>
 
 
*'''Evasão'''<br/>
 
*'''Evasão'''<br/>
 
<br/>
 
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Line 427: Line 226:
 
'''''(Quase Silêncios - Regressos.1999-2002, inédito)'''''<br/>
 
'''''(Quase Silêncios - Regressos.1999-2002, inédito)'''''<br/>
 
<br/>
 
<br/>
 
  
 
''' Murta, Fátima'''<br/>
 
''' Murta, Fátima'''<br/>
 
(Nasceu em Estoi, Faro, a 22 de Junho de 1958)<br/>
 
(Nasceu em Estoi, Faro, a 22 de Junho de 1958)<br/>
 
+
<br/>
 
*'''A minha Rua'''<br/>
 
*'''A minha Rua'''<br/>
<br/>
 
 
A minha rua<br/>
 
A minha rua<br/>
 
tem um fado singular<br/>
 
tem um fado singular<br/>
Line 458: Line 255:
 
<br/>
 
<br/>
  
 
*'''Santos, Manuel Neto Dos''' <br/>
 
<br/>
 
(Nasceu em Alcantarilha, a 21 de janeiro de 1959)<br/>
 
<br/>
 
 
Al-Garbe de Chenchir e Xarajib<br/>
 
Da esplendorosa Xelb da memória;<br/>
 
Reino do sol, da luz, da nossa história,<br/>
 
Do fascínio que tive antes do bibe.<br/>
 
AI-Garbe de AI-Buhera e Aben-Afan,<br/>
 
Da lua nova que no peito guardo<br/>
 
Porque eu, em vez da Cruz, do fel, do cardo<br/>
 
Quero o quarto crescente, o talismã.<br/>
 
Fatemah, Moira Santa do Arum;<br/>
 
Saraus dos versos, das cativas ternas<br/>
 
Prendendo no fascínio-sobre-pernas<br/>
 
A dança, o ramadão e o seu jejum.<br/>
 
Al-Garbe de que sou o porta-voz;<br/>
 
Zagal deste alavão, os versos meus ...<br/>
 
Terra onde vem dormir o próprio Deus<br/>
 
Que as rimas derramou por sobre nós.<br/>
 
Al-Garbe que não canso de cantar<br/>
 
Neste fascínio de alma, embevecido.<br/>
 
Franja da Terra face ao mar estendido<br/>
 
Com a neblina de parta do luar.<br/>
 
Só quando os filhos teus um certo dia<br/>
 
Recusarem o canto de sereia<br/>
 
Que desventra as fazendas, dando a areia<br/>
 
A quem souber falar de "mais valia" ...<br/>
 
Somente então, Al-Garbe, a almedina<br/>
 
Há-de erguer-se no céu sempre estrelado<br/>
 
Do orgulho pelas raízes, pelo passado<br/>
 
Da alma da província mais sulina.<br/>
 
 
<br/>
 
  
  
*'''Pinto,Fernando Esteves''' <br/>
 
<br/>
 
(Nasceu em Cascais, em 1961. Reside em Olhão desde os 20 anos)
 
  
 +
'''Clara, António Santa'''<br/>
 
<br/>
 
<br/>
 
Ele leva a cidade para casa.<br/>
 
Entra na sala e aí permanece<br/>
 
como se estivesse no meio de uma praça.<br/>
 
Nem o rumor frágil<br/>
 
nem a essência imperdoável<br/>
 
o fazem desistir do falso cenário.<br/>
 
Evita os objectos amados<br/>
 
e sobre a sua cidade se movimentas<br/>
 
tão subtil e intermitente<br/>
 
recolhendo no corpo os sinais<br/>
 
de uma cumplicidade insubmissa.<br/>
 
<br/>
 
As cidades têm as suas palavras,<br/>
 
os seus caminhos solares,<br/>
 
a sua fragilidade tranquila.<br/>
 
A leitura duma cidade é permanente e ágil,<br/>
 
como um transporte verbal,<br/>
 
sólido no seu rumor dinâmico,<br/>
 
entre os blocos residênciais<br/>
 
e um campo nupcial.<br/>
 
As cidades são sempre sem regresso,<br/>
 
em que a inocência inspira<br/>
 
o abandono circular,<br/>
 
como se reunisse na sua existência luminosa<br/>
 
<br/>
 
a fértil lucidez,<br/>
 
o nascimento infigurável<br/>
 
de uma presença harmoniosa,<br/>
 
tão perfeita na sua insubmissa<br/>
 
qualidade habitável.<br/>
 
<br/>
 
'''''(Ensaio Entre Portas, 1997)'''''<br/>
 
<br/>
 
 
'''Santa Clara, António'''<br/>
 
 
 
*'''Excerto 1''' de '''''Incidente de Repartição'''''. 1959.<br/>
 
*'''Excerto 1''' de '''''Incidente de Repartição'''''. 1959.<br/>
 
 
Naquela manhã aconteceu uma coisa estúpida, sem pés nem cabeça... Um dos colegas de Rogério — o Peres — perguntou qual seria o modo mais prático de riscar uma circunferência no terreno do seu quintal, pois desejava fazer um canteiro com aquela forma. Raposo e Apolínárío, que ouviram a pergunta, sorriram. E Rogério explicou:<br/>
 
Naquela manhã aconteceu uma coisa estúpida, sem pés nem cabeça... Um dos colegas de Rogério — o Peres — perguntou qual seria o modo mais prático de riscar uma circunferência no terreno do seu quintal, pois desejava fazer um canteiro com aquela forma. Raposo e Apolínárío, que ouviram a pergunta, sorriram. E Rogério explicou:<br/>
 
—É muito simples : crava-se uma estaca no chão, ata-se-lhe a ponta de um cordel e depois, com o cordel esticado, anda-se com a outra ponta à roda.<br/>
 
—É muito simples : crava-se uma estaca no chão, ata-se-lhe a ponta de um cordel e depois, com o cordel esticado, anda-se com a outra ponta à roda.<br/>
Line 549: Line 270:
 
—Sim, homem! Sai uma circunferência.<br/>
 
—Sim, homem! Sai uma circunferência.<br/>
 
<br/>
 
<br/>
in '''''Incidente de Repartição'''''1959,pág.9<br/>
+
*'''Excerto 2''' de '''''Incidente de Repartição'''''. 1959, pág. 17.<br/>
 
 
<br/>
 
 
 
*'''Excerto 2''' de '''''Incidente de Repartição'''''. 1959, pág. 17.<br/><br/>
 
 
A caminho de casa, meditava no que sucedera nessa manhã. Sentia-se tranquilo. A acusação que lhe dirigiam era um disparate que a ninguém passaria despercebido.<br/>
 
A caminho de casa, meditava no que sucedera nessa manhã. Sentia-se tranquilo. A acusação que lhe dirigiam era um disparate que a ninguém passaria despercebido.<br/>
 
Na verdade, uma cena daquelas daria bem vontade de rir, pelo seu lado cómico, se não revelasse também quanto a ignorância e a estupidez podem tornar precária a acção da justiça. E este era, sem dúvida, o lado triste e lamentável da história.<br/>
 
Na verdade, uma cena daquelas daria bem vontade de rir, pelo seu lado cómico, se não revelasse também quanto a ignorância e a estupidez podem tornar precária a acção da justiça. E este era, sem dúvida, o lado triste e lamentável da história.<br/>
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Viviam numa casa térrea dos arredores da cidade, cultivavam um quintal e possuíam uma dúzia de galinhas e um cão rafeiro, de pelo castanho, — o Janota. Sempre activa, Bárbara olhava pela economia doméstica e pelo arranjo da casa — modesta mas asseada e confortável tanto quanto lhes era possível conseguir. O pequeno ordenado de Rogério não lhes permitia pagar e sustentar uma criada ; ainda assim ela fazia milagres de economia com os ovos das galinhas e vendendo uma vez por outra, alguma peça. de renda de bilros —arte que lhe tinham ensinado na sua aldeia do litoral.<br/>
 
Viviam numa casa térrea dos arredores da cidade, cultivavam um quintal e possuíam uma dúzia de galinhas e um cão rafeiro, de pelo castanho, — o Janota. Sempre activa, Bárbara olhava pela economia doméstica e pelo arranjo da casa — modesta mas asseada e confortável tanto quanto lhes era possível conseguir. O pequeno ordenado de Rogério não lhes permitia pagar e sustentar uma criada ; ainda assim ela fazia milagres de economia com os ovos das galinhas e vendendo uma vez por outra, alguma peça. de renda de bilros —arte que lhe tinham ensinado na sua aldeia do litoral.<br/>
 
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in '''''Incidente de Repartição'''''1959,pág.17<br/>
 
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*'''Excerto 3''' de '''''Incidente de Repartição'''''. 1959, pág. 59.<br/>
 
*'''Excerto 3''' de '''''Incidente de Repartição'''''. 1959, pág. 59.<br/>
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Na Repartição a vida decorria na rotina normal. Chefe Turíbio ocupava, na respectiva sala, a cadeira que servia a sua secretária.<br/>
 
Na Repartição a vida decorria na rotina normal. Chefe Turíbio ocupava, na respectiva sala, a cadeira que servia a sua secretária.<br/>
 
E esta secretária era, naquele conjunto de mesas de trabalho, a maior e mais luxuosa, pormenor que dava a todo o pessoal presente a consciência de que Turíbio era realmente o chefe. É, sabido que a hierarquia necessita de se anunciar e impor por formas exteriores, adornos e atributos visíveis —única ma¬eira de não se ser induzido em erro na avaliação dos diferentes lugares da escala. Assim, Turíbio impunha-se à admiração e respeito dos seus subordinados pelas dimensões da sua secretária. Sobre aquela mesa apareciam objectos inúteis que se destinavam a ornamentá-la: o grande tinteiro de casquinha de prata, sem tinta, um porta-canetas imponente, sem canetas, e uma série de pequenas bugigangas de mau gosto. Por sua vez esta mesa de chefe Turíbio não era tão notável como a do senhor Diretor, no respetivo gabinete que ocupava uma sala contígua. <br/>
 
E esta secretária era, naquele conjunto de mesas de trabalho, a maior e mais luxuosa, pormenor que dava a todo o pessoal presente a consciência de que Turíbio era realmente o chefe. É, sabido que a hierarquia necessita de se anunciar e impor por formas exteriores, adornos e atributos visíveis —única ma¬eira de não se ser induzido em erro na avaliação dos diferentes lugares da escala. Assim, Turíbio impunha-se à admiração e respeito dos seus subordinados pelas dimensões da sua secretária. Sobre aquela mesa apareciam objectos inúteis que se destinavam a ornamentá-la: o grande tinteiro de casquinha de prata, sem tinta, um porta-canetas imponente, sem canetas, e uma série de pequenas bugigangas de mau gosto. Por sua vez esta mesa de chefe Turíbio não era tão notável como a do senhor Diretor, no respetivo gabinete que ocupava uma sala contígua. <br/>
 
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Latest revision as of 12:07, 6 May 2024

Em construção.
Os autores abaixo irão ter uma página individual na wiki:

Andrade, Reis de [D'Andrade]; Clara, António Santa; Colaço, Branca de Gonta (Parada de Gonta, 1880 - 1945);Conrado, Júlio(poeta e crítico literário olhanense); Correia, Carlos de Oliveira; Cruz, Aureliano do Carmo; Cunha, Paulo; Dias, Jacinto Palma; Duarte, Luís (Porto, 26/5/1954 - Reside no Algarve); Gonçalves, Eduardo Brazão (antigo aluno da EICF e do Liceu de Faro); Grade, Fernando (Estoril, 1/4/1943); Pedro, Francisco Basílio Santos; Pereira, Ezequiel (Professor na Escola Pedro Nunes - Séculos XIX e XX); Pinto,  Pires, Narciso Alves (Lisboa, 25/11/1928 - Reside em Lagos); Quaresma, José Alberto (Portimão, 3/9/1949); Miranda, Armando de (Portimão, 1904 - 1971?); Murta, Fátima (Estoi, Faro, 22/6/1958);Nero (Roberto Simões),Silves,22/9/87; Ramos, Tomás (Mestre Canteiro. Foi Aluno da Escola Pedro Nunes); (Manuel José) Sabino; Sancho, J. Dias ;Sarre, Inês (Pseudónimo literário de Selma Pousão Lopes - Olhão, 20/4/1934);  Vairinhos, Joaquim;  Vargues, Rosinda Maria Pereira António de Mendonça; Ventura, António (Mar del Plata, Argentina, 7/1/1952 - Reside no Algarve desde muito novo);...

Autores

Barbosa, Madalena

 Ativista. EM CONSTRUÇÃO 

Deles, ficam para já alguns textos:

Colaço, Branca de Gonta
(Nasceu em Parada de Gonta, em 1880. Faleceu em 1945)

  • O seu Algarve

(Nas Homenagens à memória de João Lúcio)

Alto subiu, nas asas do talento;
foi grande e celebrado.
Mas o seu monumento
levantou-o com o próprio sentimento;
— que só quem ama pode ser amado!...

(A Nossa Terra, Maio de 1931)
(Colaboração escrita em 1921 expressamente para um número especial de «A Nossa Terra» de homenagem a João Lúcio, que se não chegou a publicar).


Miranda, Armando de
(Nasceu em Portimão, em 1904. Desconheço a data do falecimento)

  • Miragens

Ah! Como a Vida parecia bela!
Barquinho esbelto, como de cartão,
Deslizando, ao sabor da viração
Num lago azul e calmo, de aguarela!

Pelas margens corria, paralela,
Fragrante multicor vegetação.
No ar, dormente, errava uma canção...
E a Esperança me impelia a vela!

Mas o lago, traiçoeiro, encapelou-se,
O meu barquinho, frágil, afundou-se,
E eu, náufrago, abraçado a uma tábua.

Gasto a vida a lutar, ingloriamente,
Pr'a resistir à força da corrente,
Pr'a conservar-se à superfície d'água.

(Almanaque do Algarve, 2° Ano, 1943)


Pires, Narciso Alves
(Nasceu em Lisboa, a 25 de Novembro de 1928. Reside em Lagos)

  • Sagres

Nesta ponta do mundo onde hoje mora
A saudade sem fim das caravelas
O mar é um amante que ainda chora
Os barcos que seguiram as estrelas!

  • O Mar

Se sobre o mar, longe no mar
Cada passagem de cada barco
Marcasse o rumo, deixasse um sulco
Que nunca mais se esvanecesse

O mar seria um Universo
E cada gota teria um nome
E cada onda seria um mundo
Em que o passado talvez vivesse!

(Para Além do Adeus, 2003)

Sarre, Inês (Pseudónimo literário de Selma Pousão Lopes.
Nasceu em Olhão, aos 20 de Abril de 1934)

  • Tempo de Culpados

Também tu, vento, tu: Frei Agostinho, lacerado,
Escalando: esta: Arrábida, escabrosa, queres: parte:
Deste tempo rasgado de culpados?

Também: meus pensamentos: se: enlearam:
Calceta: na gaveta: de cetim:
Malteses, violentos e feirantes
Nesta tarde de touros de insolência.

Na berma: desta: estrada: escavada: desigual,
É naufrágio: de espuma: o vendaval.
Debaixo dos beirais, sofre-se: menos:
E a chuva: crisma: os sonhos: por iguais:

Passinhos de xadrez: renda chilena:
Ternura e chuvisco: na : vidraça:
Querido fantasma, que: tropeças: trespassa:
O século: chora. Carlota já não vem:
À noite, ver: se: enquanto dorme

Se ouve o rojo do pobre pela praça:
Se o marítimo passa: cinco: velho: da madrugada,
Assobiando morraça de sonhos para o mar:
Se: a badalada da: meia-noite: dança
Outra vez, nua: pela rua, no calor: o luar:

Ou: se: o chilreio, o trilho e até a gargalhada,
Límpida, da ria: lençol de espuma e junco
Já: abriram: dobra, bordada de algas:
A cama prateada da aurora.

Dialéticas razões do Paraíso:
Pássaros já de mil cores: na fantasia:
Vestido de alma, retalhado: em cifras:
Poalha: escrita: em vão: a que chama Poesia:
Que a noite: editora implacável: a borracha na mão:

Vai: apagando: em: silêncio. Nela: perdi:
Os segredos que a praia me ensinava
Nas marés inocentes da manhã: um gosto:

De: brincar? E me tornei, também, neste jogo: de : azar:
Meu pensamento: almogavar: traidor: fronteiro:
Fazendo munição para os seus tanques
Dessa pólvora: longínqua: da pureza.

Parecer ser e não ser é quase nada,
Na infinda invenção de sempre ser.
E volto velha de: uma guerra: incólume:
As rugas são crateras de pasmar.

(Revista Literária SOL XXI, Dezembro de 1992)

Grade, Fernando
(Nasceu no Estoril, a 1 de Abril de 1943)

  • Variantes de cão e serra, praia pouca

Ouço o vento a passar bufando com manhas de suão,
traz ovos de pantera que toda a natureza tem.
Sete focinhos medem-se por sete beijos de cão
- facas, pedras e flechas bailam entre a madrasta e a mãe.

Ouço o vento a rugir a caminho dos ciprestes
e dos olhos de cão que toda a beleza sofre.
Matei em mim o cínico saber de dez mestres,
e o único que sigo tem narinas de enxofre.

Ouço o vento canino com raiva de treze serpentes,
vem mansinho bater à minha porta de vagabundo,
e saltam-me da boca em vendaval os próprios dentes.

Vejo reses do mar que o vento arrasta pró fundo,
ouço o vento a rasgar a carne a peixes cruéis
- e abro os dedos em chamas pra deitar fogo às leis.

Ilha da Armona, 3 de Setembro de 1989

(A Minha Pátria É O Sábado, 1989)

Quaresma, José Alberto
(Nasceu em Portimão, aos 3 de Setembro de 1949)

  • XXVII

Ainda que a terra esteja serena e morna, a areia sob o vértice da falésia fulva de sol e os corpos inertes a ele entregues em amplexos estáticos. O mar ali imenso e discreto a cingir-se além mais vestígio ao céu.
Ainda que os páramos do sonho, onde a felicidade é tangível, não vagueiem longe desta plácida antiquíssima harmonia, haverá alguém, um único ser, que não pode estar. Nem partir.

  • XXX

É pela noite que os sonhos ficam mais perto da luz, que a luz fica mais perto da voz e que o corpo passa além da angústia do primeiro encontro.
Vai surgindo um oceano intáctil onde as palavras adormecem antes dos sorrisos povoarem o escuro êxtase da morte.

(A Pose Extática, 1990)


Duarte, Luís
(Nasceu no Porto, a 26 de Maio de 1954. Reside no Algarve)

  • Fado Nómada

Deixei-te pra trás cidade;
Não sei quando voltarei
Mas de ti levo a saudade
Com que sobreviverei.

Não sei é defeito ou sina
Este constante vaivém...
Meu coração nunca atina
Naquilo em que se detém.

Quando está longe de ti,
A teu seio quer voltar;
Mas logo que vai aí,
Sente a falta doutro mar.

De nostalgias sou feito.
Algum deus mo augurou!
Faço caminhos a eito,
Buscando-me onde não estou.


  • Viagem Breve

Nos braços do vento frio,
Entro na minha cidade;
Ao fundo desliza o rio
E no horizonte um navio,
Em memórias sem idade.

Levo os silêncios herdados:
No peito o bramir do mar,
Nos lábios versos alados,
Corpos nas mãos desenhados
E neblinas no olhar

  • Evasão


Suave luz acobreada
Lembra na praia deserta
A minha infância deitada...

Retiro-me de alma incerta,
Não vá o mar despertá-la.

(Quase Silêncios - Regressos.1999-2002, inédito)

Murta, Fátima
(Nasceu em Estoi, Faro, a 22 de Junho de 1958)

  • A minha Rua

A minha rua
tem um fado singular
um jeito de me falar
que nem a própria lua
à noite sabe dizer
o que a minha rua
me conta ao adormecer.

Saudades vividas
esperanças contidas
o medo na algibeira
a alegria na bagagem
e sempre esta viagem
pla noite sorrateira.

A minha rua
tem um toque singular
um jeito de me tocar
por cada pedra fria e nua
que nem eu sei dizer
tudo o que a minha rua
me mostra ao entardecer.



Clara, António Santa

  • Excerto 1 de Incidente de Repartição. 1959.

Naquela manhã aconteceu uma coisa estúpida, sem pés nem cabeça... Um dos colegas de Rogério — o Peres — perguntou qual seria o modo mais prático de riscar uma circunferência no terreno do seu quintal, pois desejava fazer um canteiro com aquela forma. Raposo e Apolínárío, que ouviram a pergunta, sorriram. E Rogério explicou:
—É muito simples : crava-se uma estaca no chão, ata-se-lhe a ponta de um cordel e depois, com o cordel esticado, anda-se com a outra ponta à roda.
Peres não percebeu. Rogério procurou exemplificar, servindo-se de um lápis e um pedaço de fio.
—Como vê é muito simples. Se fosse uma elipse era mais complicado.
Raposo e Apolinárío continuavam sorrindo.
Peres olhou-os de soslaio e em seguida fixou o colega que lhe dava a explicação ; Rogério mantinha-se calmo e sério. Passado um momento, perguntou :
—E tem a certeza que sai uma circunferência ?
—Sim, homem! Sai uma circunferência.

  • Excerto 2 de Incidente de Repartição. 1959, pág. 17.

A caminho de casa, meditava no que sucedera nessa manhã. Sentia-se tranquilo. A acusação que lhe dirigiam era um disparate que a ninguém passaria despercebido.
Na verdade, uma cena daquelas daria bem vontade de rir, pelo seu lado cómico, se não revelasse também quanto a ignorância e a estupidez podem tornar precária a acção da justiça. E este era, sem dúvida, o lado triste e lamentável da história.
Rogério estava ansioso por chegar a casa e contar a Bárbara o que se tinha passado. Ela havia de rir... E quem sabe ?... Talvez não... Talvez não fosse capaz de entender aquilo... Na verdade, como seria possível dar aquela história um fundamento que a tornasse inteligível ?! Bárbara era uma rapariga simples que passava os dias ocupada com os cuidados da casa, totalmente alheia aos assuntos da Repartição. Não dispunha de muito tempo para se dar ao luxo de meditar na justiça das ações humanas.
Viviam numa casa térrea dos arredores da cidade, cultivavam um quintal e possuíam uma dúzia de galinhas e um cão rafeiro, de pelo castanho, — o Janota. Sempre activa, Bárbara olhava pela economia doméstica e pelo arranjo da casa — modesta mas asseada e confortável tanto quanto lhes era possível conseguir. O pequeno ordenado de Rogério não lhes permitia pagar e sustentar uma criada ; ainda assim ela fazia milagres de economia com os ovos das galinhas e vendendo uma vez por outra, alguma peça. de renda de bilros —arte que lhe tinham ensinado na sua aldeia do litoral.

  • Excerto 3 de Incidente de Repartição. 1959, pág. 59.

Na Repartição a vida decorria na rotina normal. Chefe Turíbio ocupava, na respectiva sala, a cadeira que servia a sua secretária.
E esta secretária era, naquele conjunto de mesas de trabalho, a maior e mais luxuosa, pormenor que dava a todo o pessoal presente a consciência de que Turíbio era realmente o chefe. É, sabido que a hierarquia necessita de se anunciar e impor por formas exteriores, adornos e atributos visíveis —única ma¬eira de não se ser induzido em erro na avaliação dos diferentes lugares da escala. Assim, Turíbio impunha-se à admiração e respeito dos seus subordinados pelas dimensões da sua secretária. Sobre aquela mesa apareciam objectos inúteis que se destinavam a ornamentá-la: o grande tinteiro de casquinha de prata, sem tinta, um porta-canetas imponente, sem canetas, e uma série de pequenas bugigangas de mau gosto. Por sua vez esta mesa de chefe Turíbio não era tão notável como a do senhor Diretor, no respetivo gabinete que ocupava uma sala contígua.