Lúcio, João
- João Lúcio Pousão Pereira
Olhão, 4/7/1880 - 26/10/1918.
Poeta, Advogado, Político, Olhanense e estudante do Liceu de Faro
Patrono da Escola EB 2,3 Dr. João Lúcio, na Fuzeta, que integra o Agrupamento de Escolas Francisco Fernandes Lopes, em Olhão.
Natureza imortal, tu que soubeste dar
Ao meu país do sul a larga fantasia,
Que ensinaste aqui as almas a sonhar
Nessa frescura sã da crença e da alegria:
Que inundaste de azul e mergulhaste em oiro
Esta suave terra heróica dos amores,
Que lançaste sobre ela o canto imorredoiro
Que vibra a sinfonia oriental das cores:
Tu que mostraste aqui mais do que em toda a parte
O intenso poder do teu génio fecundo,
Que fizeste este Céu para inspirar a Arte
E lhe deste por isso o melhor sol do mundo:
Ensina algum pintor a fixar nas telas
Este brilho, esta cor, inéditos, diversos,
E põe a mesma luz que chove das estrelas
Na pena que debuxa estes humildes versos
- Excerto de um texto de João Lúcio que vale pela sua intemporalidade:
"Reconheço com a mais pungente tristeza que em Portugal a Arte se preza menos que os cheviotes ingleses e que a venda das flanelas esmaga e abafa a venda dos livros.
Que entre nós, se lê pouco é evidente e tristemente incontestável. E lê-se pouco pela razão mais deprimente e mais pulverizadora: porque se não sabe ler. Não se cuide que vou agora tocar na banalidade pedagógica do analfabetismo. Não. Além dos analfabetos, há uma grossa ala de espíritos até diplomados que, pela falta de cultura especial, são salientemente inaptos para apreciarem e analisarem, numa conscienciosa leitura, qualquer obra de Arte.
O seu estilo familiar, aquele que lhe é nitidamente compreensível, não vai além da prosa patusca dos ofícios de repartição, ou das turbulências retóricas do seu jornal político.
A Arte, pois, mergulhando as raízes doiradas e finamente sensíveis, neste terreno inconsistente e arenoso do nosso meio, amarelece, definha-se e só raramente, num esforço corajoso e esgotante de seiva, abre as suas flores pálidas e pobres.
A ânsia enorme do artista, a sua energia criadora não encontram recompensa nenhuma. Nem o lêem, quase. Poucos o atendem, raros o animam, estonteada a maioria pelo ruído das charangas políticas que enche o país, levando na sua frente, de casaca, risonhas e gordas, as glórias oficiais que chupam o biberon do orçamento."
- Bibliografia
Descendo (1901)
O Meu Algarve (1903)
'Na Asa do Sonho' (1913)
Espalhando Fantasmas (1921)
Obra Poética de João Lúcio, Olhão, Edição da Câmara Municipal de Olhão / Comissão das Comemorações do I Centenário do Nascimento do Poeta João Lúcio, 1981.
'Poesias Completas de João Lúcio', Lisboa, IN-CM, 2002 [reedição actualizada, organizada e prefaciada por António Cândido Franco, com textos dispersos em verso e em prosa, cartas e uma marginália crítica sobre o poeta].
Veja mais sobre João Lúcio nos seguintes links:
- Na wikipédia
- No Arquivo Distrital de Faro
- No blogue a sophiamar
- João Lúcio no site da APOS
- 1997 -Página da Região de Turismo do Algarve sobre Olhão com referência a João Lúcio
- 2009 -Notícia sobre uma palestra e recital com Nuno Júdice sobre a poesia de João Lúcio