Difference between revisions of "Filipe, Daniel - Livro Proibido"

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*'''Livro proibido''' - '''"O Manuscrito da Garrafa"'''
 
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Livro dedicado a Adelino Tavares da Silva, Papiniano Carlos (1918 – 2012) e Urbano Tavares Rodrigues (1923 – 2013) – jornalistas e escritores filiados no Partido Comunista Português, desenvolvendo intensa atividade clandestina contra o regime de António de Oliveira Salazar – poderá ter feito soar o alarme e alertado os censores para um eventual “conteúdo subversivo” da obra. Distribuído para leitura a 7 de Outubro, três dias foram suficientes para se produzir o relatório e outros dois dias para o veredicto dos censores: “Proibido”. O lápis azul foi implacável, sem apelo nem agravo.
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O autor, sobretudo poeta, chamou a esta obra "novela". Na visão dos editores, o '''Manuscrito na Garrafa''' prova que a criação poética não é incompatível com a criação novelística. A censura de Salazar, que proibiu o livro, considerou-o : "Um livro inconveniente sob os aspetos político, social e moral".
  
O autor, sobretudo poeta, chamou a esta obra "novela". Na visão dos editores, o '''Manuscrito na Garrafa''' prova que a criação poética não é incompatível com a criação novelística. "Um livro inconveniente sob os aspetos político, social e moral", na apreciação da Censura de Salazar, que proibiu o livro.
 
 
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'''*Excerto 1'''
 
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*'''Livro "A Invenção do Amor"'''
 
  
'''A Invenção do Amor e outros poemas''' é um livro de poemas, publicado em 1961. O livro é considerado um dos mais importantes da poesia cabo-verdiana, e é uma obra-prima da poesia de resistência contra o regime salazarista.<br />A Invenção do Amor e outros poemas foi um sucesso de crítica e público, sendo considerado um dos melhores livros de Daniel Filipe. O livro foi elogiado por sua linguagem poética, seus temas universais e seu compromisso com a justiça social.<br />O jornal português “O Século” escreveu que A Invenção do Amor e outros poemas é “um livro que ficará na memória de todos os que o lerem”. O jornal “A Capital” chamou o livro de “uma obra-prima da poesia cabo-verdiana”  onde "um casal é perseguido pela polícia e pelos cidadãos da cidade pelo crime de ter inventado o amor..."
 
https://singularidadepoetica.art/2021/06/23/daniel-filipe-a-invencao-do-amor-poema/
 
*'''Excerto 1'''
 
  
"Em todas as esquinas da cidade, nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos, nas janelas dos autocarros, mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes, na vitrina da pequena loja onde não entra ninguém, no átrio da estação de caminhos de ferro, que foi o lar da nossa esperança de fuga, um cartaz denuncia o nosso amor...
 
  
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*'''Livro "A Invenção do Amor"'''
  
*'''Excerto 2'''
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'''A Invenção do Amor e outros poemas''' é um livro de poemas, publicado em 1961. O livro é considerado um dos mais importantes da poesia cabo-verdiana, e é uma obra-prima da poesia de resistência contra o regime salazarista.<br />A Invenção do Amor e outros poemas foi um sucesso de crítica e público, sendo considerado um dos melhores livros de Daniel Filipe. “O Século” escreveu que A Invenção do Amor e outros poemas é “um livro que ficará na memória de todos os que o lerem”. O jornal “A Capital” chamou o livro de “uma obra-prima da poesia cabo-verdiana”  onde "um casal é perseguido pela polícia e pelos cidadãos da cidade pelo crime de ter inventado o amor..."<br />https://singularidadepoetica.art/2021/06/23/daniel-filipe-a-invencao-do-amor-poema/
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Filipe Daniel-Capa.jpg Filipe Daniel-Censura.jpg

DANIEL FILIPE (1925 – 1964)

Daniel Damásio Ascensão Filipe nasceu em Cabo Verde, Ilha da Boavista, em 11 de Dezembro de 1925 e morreu em Lisboa, a 6 de Abril de 1964.
Combatente contra a ditadura de Salazar, perseguido e torturado pela PIDE, é um poeta nascido em Cabo Verde e que faz parte da história da Literatura Portuguesa do século XX.
Obras publicadas: Missiva (1946), Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957), O Manuscrito na Garrafa (romance, 1960 - censurado pela PIDE), A Invenção do Amor (1961), Pátria, Lugar de Exílio (1963).

  • Livro proibido - "O Manuscrito da Garrafa"

Livro dedicado a Adelino Tavares da Silva, Papiniano Carlos (1918 – 2012) e Urbano Tavares Rodrigues (1923 – 2013) – jornalistas e escritores filiados no Partido Comunista Português, desenvolvendo intensa atividade clandestina contra o regime de António de Oliveira Salazar – poderá ter feito soar o alarme e alertado os censores para um eventual “conteúdo subversivo” da obra. Distribuído para leitura a 7 de Outubro, três dias foram suficientes para se produzir o relatório e outros dois dias para o veredicto dos censores: “Proibido”. O lápis azul foi implacável, sem apelo nem agravo. O autor, sobretudo poeta, chamou a esta obra "novela". Na visão dos editores, o Manuscrito na Garrafa prova que a criação poética não é incompatível com a criação novelística. A censura de Salazar, que proibiu o livro, considerou-o : "Um livro inconveniente sob os aspetos político, social e moral".

Filipe Daniel-Censuraexcerto.jpg


*Excerto 1



  • Livro "A Invenção do Amor"

A Invenção do Amor e outros poemas é um livro de poemas, publicado em 1961. O livro é considerado um dos mais importantes da poesia cabo-verdiana, e é uma obra-prima da poesia de resistência contra o regime salazarista.
A Invenção do Amor e outros poemas foi um sucesso de crítica e público, sendo considerado um dos melhores livros de Daniel Filipe. “O Século” escreveu que A Invenção do Amor e outros poemas é “um livro que ficará na memória de todos os que o lerem”. O jornal “A Capital” chamou o livro de “uma obra-prima da poesia cabo-verdiana” onde "um casal é perseguido pela polícia e pelos cidadãos da cidade pelo crime de ter inventado o amor..."
https://singularidadepoetica.art/2021/06/23/daniel-filipe-a-invencao-do-amor-poema/

  • Excerto 1


Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e
fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A polícia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos

(...) Daniel Filipe, in 'A Invenção do Amor e Outros Poemas'



https://www.youtube.com/watch?v=ne13E7LzEYI

1964 - Luís Cília - "Meu país"

Esta é a primeira canção do seu primeiro disco "Portugal Angola - Chants de Lutte" de 1964 e reeditada no LP "Meu País" de 1970. Poema do seu grande amigo e poeta, Daniel Filipe.

Meu país meu pais
Do céu límpido calmo
De campos cultivados
De praias e montanhas.

É para ti meu canto
A minha esperança.

Ouço a tua voz triste
Oh, meu país sem culpa
Ouço-a nos dias mornos
No amanhecer cinzento.

E é para ti meu canto
A minha esperança.

Meu país onde a traição domina
E o medo assoma nas encruzilhadas
Meu país de prisões e covardias
E de ladrões de estradas.

Meu país de operários
Cavadores, marinheiros
Meu país de mãos grossas
Plebeu, sensual, resistente.

É para ti meu canto
A minha esperança.

Para ti meu país
Levanto a minha voz sobre o silêncio
Desta noite de angústias
E de medos.

Nada pode calar
O nosso riso aberto
Ei-lo que invade
A terra portuguesa
E vozes juvenis formam o coro.

Por isso é para ti meu canto
A minha esperança.

Já ouço passos,
Veem na distância
Desfraldando bandeiras e cantando
E é para ti oh! meu país liberto
O seu canto de esperança e claridade.

Para saber mais sobre Luís Cília aceda a: www.luiscilia.com.