Difference between revisions of "Filipe, Daniel - Livro Proibido"

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Daniel Filipe
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DANIEL FILIPE (1925 – 1964)
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'''DANIEL FILIPE (1925 – 1964)'''<br />
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'''Daniel''' Damásio Ascensão '''Filipe''' nasceu em Cabo Verde, Ilha da Boavista, em 11 de Dezembro de 1925 e morreu em Lisboa, a 6 de Abril de 1964.<br />Combatente contra a ditadura de Salazar, perseguido e torturado pela PIDE, é um poeta nascido em Cabo Verde e que faz parte da história da Literatura Portuguesa do século XX.<br />Obras publicadas: '''Missiva (1946), Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957), O Manuscrito na Garrafa (romance, 1960 - censurado pela PIDE), A Invenção do Amor (1961), Pátria, Lugar de Exílio (1963).'''
  
Combatente contra a ditadura de Salazar, perseguido e torturado pela PIDE, é um poeta nascido em Cabo Verde e que faz parte da história da Literatura Portuguesa do século XX.
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*'''Livro proibido''' - '''"O Manuscrito da Garrafa"'''<br />
https://www.youtube.com/watch?v=ne13E7LzEYI
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Livro dedicado a Adelino Tavares da Silva, Papiniano Carlos (1918 – 2012) e Urbano Tavares Rodrigues (1923 – 2013) – jornalistas e escritores filiados no Partido Comunista Português que desenvolviam intensa atividade clandestina contra o regime de António de Oliveira Salazar. Essa dedicatória poderá ter feito soar o alarme e alertado os censores para um eventual “conteúdo subversivo” da obra. Distribuído para leitura a 7 de Outubro, três dias foram suficientes para se produzir o relatório e outros dois dias para o veredicto dos censores: “Proibido”. O lápis azul foi implacável, sem apelo nem agravo.<br />O autor, sobretudo poeta, chamou a esta obra "novela". Na visão dos editores, o '''Manuscrito na Garrafa''' prova que a criação poética não é incompatível com a criação novelística. A censura de Salazar, que proibiu o livro, considerou-o : "Um livro inconveniente sob os aspetos político, social e moral".
  
1. Daniel Damásio Ascensão Filipe nasceu em Cabo Verde, Ilha da Boavista, em 11 de Dezembro de 1925 e morreu em Lisboa, a 6 de Abril de 1964. Deixou três filhos, Daniel, João e Luís.
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[[File:Filipe Daniel-Censuraexcerto.jpg]]
Chegou a Boavista com cerca de 2 anos de idade – levado pelo pai, aí deportado, o Coronel médico, Gonçalo Monteiro Filipe. A mãe, Rita Maria Ascensão, era natural da ilha das Dunas.
 
Veio para Portugal ainda criança, onde acabaria por concluir o Curso Geral dos Liceus. Foi co-director dos cadernos "Notícias do Bloqueio", colaborador assíduo da revista "Távola Redonda" e do jornal Diário Ilustrado (1956). Foi também realizador, na Emissora Nacional, do programa literário "Voz do Império". Trabalhou na extinta Agência-Geral do Ultramar, na área jornalística. Grande parte da poesia de Daniel Filipe destaca-se pelo combate ideológico e pelo comprometimento social. Morreu em Lisboa, muito novo, aos 39 anos, mas deixou uma obra consistente marcada por sentimentos de solidão e exílio. Ficou conhecido sobretudo pela «Invenção do Amor», um poema muito declamado nos anos 60 do século XX – ainda que sob censura e ameaças da polícia política – em saraus poéticos e em manifestações nas Universidades portuguesas e nos teatros de intervenção. (Foi realmente um dos poemas ícones de protesto contra o regime salazarista)
 
  
Além dos livros que nos deixou, foi um activista cultural e político. Foi preso a 25 de Outubro de 1968. Cordial, amistoso, grande contador de histórias, depressa se relacionou com o grupo de escritores antifascistas Egito Gonçalves, Papiniano Carlos, Luís Veiga Leitão e outros. Com este grupo ajudou a criar «Notícias do Bloqueio» [título de um poema de Egito Gonçalves], uma série de nove fascículos de poesia, publicados no Porto entre 1957 e 1961. A PIDE prendeu-o porque, para o regime de Salazar, animação cultural significava agitação social, mas também por outras actividades antifascistas; e sabe-se que foi torturado.
 
  
2. Daniel Filipe iniciou a sua actividade literária em 1946 com Missiva, seguindo-se Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957) – Prémio Camilo Pessanha; o romance O Manuscrito na Garrafa (1960), A Invenção do Amor (1961) e Pátria, Lugar de Exílio (1963).
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*'''Excerto 1'''
Para além do emblemático poema A Invenção do Amor, que marcou uma época, e que foi publicado pela primeira vez em 1961, sob forma de opúsculo, Daniel Filipe, deixou extensa e densa obra.
 
Obteve o Prémio Camilo Pessanha pelo livro "a Ilha e a solidão" (escrito sob o pseudónimo de Raymundo Soares), no ano de 1957.
 
  
3. Obras publicadas:
 
  
Missiva (1946), Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957), O Manuscrito na Garrafa (romance, 1960 - censurado pela PIDE), A Invenção do Amor (1961), Pátria, Lugar de Exílio (1963).
 
  
Nota biográfica da autoria de Helena Pato
 
  
Fontes:
 
  
http://coral-vermelho.blogspot.pt/.../daniel-filipe-poeta...
 
https://pt.wikipedia.org/.../Daniel_Dam%C3%A1sio_Ascens...
 
http://www.escritas.org/pt/biografia/daniel-filipe
 
http://aventar.eu/tag/daniel-filipe/ Ver menos
 
Todas as reações:
 
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[[File:Livroinvencaodoamor.jpg|162px]]<br />
  
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*'''Livro "A Invenção do Amor"'''<br />
  
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'''A Invenção do Amor e outros poemas''' é um livro de poemas, publicado em 1961. O livro é considerado um dos mais importantes da poesia cabo-verdiana, e é uma obra-prima da poesia de resistência contra o regime salazarista.<br />A Invenção do Amor e outros poemas foi um sucesso de crítica e público, sendo considerado um dos melhores livros de Daniel Filipe. “O Século” escreveu que A Invenção do Amor e outros poemas é “um livro que ficará na memória de todos os que o lerem”. O jornal “A Capital” chamou o livro de “uma obra-prima da poesia cabo-verdiana”  onde "um casal é perseguido pela polícia e pelos cidadãos da cidade pelo crime de ter inventado o amor..."<br />https://singularidadepoetica.art/2021/06/23/daniel-filipe-a-invencao-do-amor-poema/
  
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*'''Excerto 2'''<br />
  
1964 - Luis Cília - "Meu país"
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Em todas as esquinas da cidade<br />
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nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas<br />
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janelas dos autocarros<br />
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mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e
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na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém<br />
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no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da<br />
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um cartaz denuncia o nosso amor<br />
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do medo da solidão da angústia<br />
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um cartaz denuncia que um homem e uma mulher<br />
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se encontraram num bar de hotel<br />
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e inventaram o amor com carácter de urgência<br />
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Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e<br />
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Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna<br />
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Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente<br />
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embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta<br />
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de um amor subitamente imperativo<br />
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Um homem uma mulher um cartaz de denúncia<br />
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colado em todas as esquinas da cidade<br />
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A rádio já falou A TV anuncia<br />
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iminente a captura A polícia de costumes avisada<br />
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procura os dois amantes nos becos e avenidas<br />
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Onde houver uma flor rubra e essencial<br />
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é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta<br />
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fechada para o mundo<br />
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É preciso encontrá-los antes que seja tarde<br />
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Antes que o exemplo frutifique Antes<br />
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que a invenção do amor se processe em cadeia<br />
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Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos<br />
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1,1 mil subscritores
 
  
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'''Luís Cília''', em 1962 conheceu o poeta '''Daniel Filipe''' que o incentivou a musicar poesia. Datam desse ano as suas primeiras experiências nesse campo ("Meu país", " O menino negro não entrou na roda", entre outras), mais tarde incluídos no seu primeiro disco, gravado em França.<br />Esta é [mesmo]a primeira canção do seu primeiro disco ''"Portugal Angola - Chants de Lutte"'' de 1964 com poema do seu grande amigo e poeta, '''Daniel Filipe''', que pode ser ouvido no link seguinte:<br />https://www.youtube.com/watch?v=ne13E7LzEYI
  
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'''1964 - Álbum de Luís Cília - "Meu país"'''<br />
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'''Poema de Daniel Filipe'''<br />
  
 
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Meu país meu país<br />
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Do céu límpido calmo<br />
 
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De campos cultivados<br />
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De praias e montanhas.<br />
 
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26 593 visualizações  18/01/2009
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É para ti meu canto<br />
Esta é a primeira canção do seu primeiro disco "Portugal Angola - Chants de Lutte" de 1964 e reeditada no LP "Meu País" de 1970. Poema do seu grande amigo e poeta, Daniel Filipe.
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A minha esperança.<br />
 
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Meu país meu pais
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Ouço a tua voz triste<br />
Do céu límpido calmo
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Oh, meu país sem culpa<br />
De campos cultivados
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Ouço-a nos dias mornos<br />
De praias e montanhas.
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No amanhecer cinzento.<br />
 
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É para ti meu canto
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E é para ti meu canto<br />
A minha esperança.
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A minha esperança.<br />
 
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Ouço a tua voz triste
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Meu país onde a traição domina<br />
Oh, meu país sem culpa
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E o medo assoma nas encruzilhadas<br />
Ouço-a nos dias mornos
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Meu país de prisões e covardias<br />
No amanhecer cinzento.
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E de ladrões de estradas.<br />
 
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E é para ti meu canto
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Meu país de operários<br />
A minha esperança.
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Cavadores, marinheiros<br />
 
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Meu país de mãos grossas<br />
Meu país onde a traição domina
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Plebeu, sensual, resistente.<br />
E o medo assoma nas encruzilhadas
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Meu país de prisões e covardias
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É para ti meu canto<br />
E de ladrões de estradas.
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A minha esperança.<br />
 
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Meu país de operários
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Para ti meu país<br />
Cavadores, marinheiros
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Levanto a minha voz sobre o silêncio<br />
Meu país de mãos grossas
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Desta noite de angústias<br />
Plebeu, sensual, resistente.
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E de medos.<br />
 
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É para ti meu canto
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Nada pode calar<br />
A minha esperança.
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O nosso riso aberto<br />
 
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Ei-lo que invade<br />
Para ti meu país
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A terra portuguesa<br />
Levanto a minha voz sobre o silêncio
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E vozes juvenis formam o coro.<br />
Desta noite de angústias
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E de medos.
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Por isso é para ti meu canto<br />
 
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A minha esperança.<br />
Nada pode calar
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O nosso riso aberto
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Já ouço passos,<br />
Ei-lo que invade
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Veem na distância<br />
A terra portuguesa
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Desfraldando bandeiras e cantando<br />
E vozes juvenis formam o coro.
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E é para ti oh! meu país liberto<br />
 
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O seu canto de esperança e claridade.<br />
Por isso é para ti meu canto
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<br />
A minha esperança.
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Para saber mais sobre '''Luís Cília''' aceda a: www.luiscilia.com.
 
 
Já ouço passos,
 
Vêem na distância
 
Desfraldando bandeiras e cantando
 
E é para ti oh! meu país liberto
 
O seu canto de esperança e claridade.
 
 
 
Para saber mais sobre Luis Cilia aceda a www.luiscilia.com.
 

Latest revision as of 12:37, 22 April 2024

DanielFilipefoto.jpgFilipe Daniel-Capa.jpg Filipe Daniel-Censura.jpg

DANIEL FILIPE (1925 – 1964)
Daniel Damásio Ascensão Filipe nasceu em Cabo Verde, Ilha da Boavista, em 11 de Dezembro de 1925 e morreu em Lisboa, a 6 de Abril de 1964.
Combatente contra a ditadura de Salazar, perseguido e torturado pela PIDE, é um poeta nascido em Cabo Verde e que faz parte da história da Literatura Portuguesa do século XX.
Obras publicadas: Missiva (1946), Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (1957), O Manuscrito na Garrafa (romance, 1960 - censurado pela PIDE), A Invenção do Amor (1961), Pátria, Lugar de Exílio (1963).

  • Livro proibido - "O Manuscrito da Garrafa"

Livro dedicado a Adelino Tavares da Silva, Papiniano Carlos (1918 – 2012) e Urbano Tavares Rodrigues (1923 – 2013) – jornalistas e escritores filiados no Partido Comunista Português que desenvolviam intensa atividade clandestina contra o regime de António de Oliveira Salazar. Essa dedicatória poderá ter feito soar o alarme e alertado os censores para um eventual “conteúdo subversivo” da obra. Distribuído para leitura a 7 de Outubro, três dias foram suficientes para se produzir o relatório e outros dois dias para o veredicto dos censores: “Proibido”. O lápis azul foi implacável, sem apelo nem agravo.
O autor, sobretudo poeta, chamou a esta obra "novela". Na visão dos editores, o Manuscrito na Garrafa prova que a criação poética não é incompatível com a criação novelística. A censura de Salazar, que proibiu o livro, considerou-o : "Um livro inconveniente sob os aspetos político, social e moral".

Filipe Daniel-Censuraexcerto.jpg


  • Excerto 1




Livroinvencaodoamor.jpg

  • Livro "A Invenção do Amor"

A Invenção do Amor e outros poemas é um livro de poemas, publicado em 1961. O livro é considerado um dos mais importantes da poesia cabo-verdiana, e é uma obra-prima da poesia de resistência contra o regime salazarista.
A Invenção do Amor e outros poemas foi um sucesso de crítica e público, sendo considerado um dos melhores livros de Daniel Filipe. “O Século” escreveu que A Invenção do Amor e outros poemas é “um livro que ficará na memória de todos os que o lerem”. O jornal “A Capital” chamou o livro de “uma obra-prima da poesia cabo-verdiana” onde "um casal é perseguido pela polícia e pelos cidadãos da cidade pelo crime de ter inventado o amor..."
https://singularidadepoetica.art/2021/06/23/daniel-filipe-a-invencao-do-amor-poema/

  • Excerto 2

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia
quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e
fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A polícia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos


Luís Cília, em 1962 conheceu o poeta Daniel Filipe que o incentivou a musicar poesia. Datam desse ano as suas primeiras experiências nesse campo ("Meu país", " O menino negro não entrou na roda", entre outras), mais tarde incluídos no seu primeiro disco, gravado em França.
Esta é [mesmo]a primeira canção do seu primeiro disco "Portugal Angola - Chants de Lutte" de 1964 com poema do seu grande amigo e poeta, Daniel Filipe, que pode ser ouvido no link seguinte:
https://www.youtube.com/watch?v=ne13E7LzEYI

1964 - Álbum de Luís Cília - "Meu país"
Poema de Daniel Filipe

Meu país meu país
Do céu límpido calmo
De campos cultivados
De praias e montanhas.

É para ti meu canto
A minha esperança.

Ouço a tua voz triste
Oh, meu país sem culpa
Ouço-a nos dias mornos
No amanhecer cinzento.

E é para ti meu canto
A minha esperança.

Meu país onde a traição domina
E o medo assoma nas encruzilhadas
Meu país de prisões e covardias
E de ladrões de estradas.

Meu país de operários
Cavadores, marinheiros
Meu país de mãos grossas
Plebeu, sensual, resistente.

É para ti meu canto
A minha esperança.

Para ti meu país
Levanto a minha voz sobre o silêncio
Desta noite de angústias
E de medos.

Nada pode calar
O nosso riso aberto
Ei-lo que invade
A terra portuguesa
E vozes juvenis formam o coro.

Por isso é para ti meu canto
A minha esperança.

Já ouço passos,
Veem na distância
Desfraldando bandeiras e cantando
E é para ti oh! meu país liberto
O seu canto de esperança e claridade.

Para saber mais sobre Luís Cília aceda a: www.luiscilia.com.