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Certamente. Segundo o velho método bem conhecido, podemos dividir todo o domínio do conhecimento em três grandes seções. A primeira abrange todas as ciências que se ocupam da natureza inanimada e que são mais ou menos suscetíveis de ser tratadas matematicamente: matemática, astronomia, mecânica, física e química. Se alguém tiver prazer em aplicar palavras bombásticas a objetos muito simples, poderá dizer que determinados resultados destas ciências são verdades eternas, verdades definitivas em última análise; é por isso que se chamam ciências exatas (F. Engels, Anti-Dühring, capo IX, "Moral, direito, Verdades eternas")

. Na Itália, na França e na Alemanha nasceu uma literatura nova, a primeira literatura moderna. Pouco depois chegaram as épocas clássicas da literatura na Inglaterra e na Espanha. Romperam-se os limites do velho "orbis Terrarum", só então foi descoberto o mundo, no sentido próprio da palavra, e se assentaram as bases para o subsequente comércio mundial e para a passagem do artesanato à manufatura, que por sua vez serviu de ponto de partida à grande indústria moderna. Foi abatida a ditadura espiritual da Igreja; a maioria dos povos germânicos pôs por terra o seu jugo e abraçou a religião protestante, enquanto que entre os povos românticos lançava raízes cada vez mais profundas e abria caminho para o materialismo do século XVIII, uma serena liberdade de pensamento, herdada dos árabes e alimentada pela filosofia grega, de novo descoberta.


As ciências naturais da primeira metade do século XVIII achavam-se tão acima da antiguidade grega quanto ao volume dos seus conhecimentos e mesmo quanto à sistematização dos dados, como abaixo no que se referia a sua interpretação, à concepção geral da natureza. Para os filósofos gregos o mundo era, em essência, algo surgido do caos, algo que se desenvolvera, que havia chegado a ser. Para todos os naturalistas do período que estamos estudando, o mundo era algo ossificado, imutável, e para a maioria deles algo criado subitamente. A ciência achava-se ainda profundamente imersa na teologia. Em toda parte procurava e encontrava como causa primária um impulso exterior, que não se devia à própria natureza. Se a atração, que Newton chamava pomposamente de gravitação universal, é concebida como uma propriedade essencial da matéria, de onde provém a incompreensível força tangencial que deu origem às órbitas dos planetas? Como surgiram as inumeráveis espécies vegetais e animais? E como, em particular, surgiu o homem, a respeito do qual se está de acordo em que não existe eternamente? Ao responder a tais perguntas, as ciências naturais limitavam-se, frequentemente, a apresentar o criador como responsável por tudo. No começo desse período, Copérnico expulsou da ciência a teologia; Newton encena essa época com o postulado do impulso divino inicial. A idéia geral mais elevada alcançada pelas ciências naturais do período considerado é a da congruência da ordem estabelecida na natureza a teologia vulgar de Wolff, segundo a qual os gatos foram criados para devorar os ratos, os ratos para serem devorados pelos gatos e toda a natureza para demonstrar a sabedoria do criador. Devem ser assinalados dois grandes méritos da filosofia da época 79 que, apesar da limitação das ciências naturais contemporâneas, que se desorientou e começando por Spinoza e acabando pelos grandes materialistas franceses esforçou-se tenazmente para explicar o mundo partindo do próprio mundo e deixando a justificação detalhada dessa ideia para as ciências naturais do futuro. Incluo também nesse período os materialistas d (F. Engels, Dialética da Natureza. "Introdução".)

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