Costa, Orlando da - Livros Proibidos

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OrlandodaCostafoto.jpgOrlanoCostaAEstradaeaVoz.jpgSete odes.png Orlando da Costa (Lourenço Marques, 2 de Julho de 1929 — Lisboa, 27 de Janeiro de 2006)

Orlando da Costa escritor goês, nasceu em Moçambique,viveu em Goa e mais tarde em Portugal, pai do primeiro-ministro português António Costa e do jornalista Ricardo Costa. Iniciou a sua carreira literária com a publicação de obras de poesia de cariz neorrealista, A Estrada e a Voz (1951), Os Olhos sem Fronteira (1953) e Sete Odes do Canto Comum (1955), todos editados pela coleção “Cancioneiro Geral” e proibidos pela PIDE. Foi preso três vezes pela Pide. Da última vez, permaneceu no cárcere em Caxias por cinco meses e uma semana, acusado de militar em defesa da paz”. Orlando da Costa foi o sétimo autor português com mais livros proibidos pela censura do Estado Novo (cinco no total).


Sete Odes do Canto Comum

O leitor dos Serviços de Censura sugeriu a sua proibição por serem «sete poesias de índole pacifista e comunista, e dedicadas a pessoas que professam ideias comunistas». Essas pessoas eram o escritor Armindo Rodrigues (1904-1993), o poeta francês Paul Éluard (1895-1952), a jornalista Maria Antónia Palla (que veio a ser sua mulher e ainda viva), os militantes comunistas Carlos e Maria Adelaide Aboim Inglez e a feminista Maria Lamas (1893-1983). Nesse tempo, eram suficientes as Dedicatórias para se proibir um livro!
https://www.uc.pt/bguc/atividades/livros-proibidos-durante-o-estado-novo/sete-odes-do-canto-comum/(pág. 25-26)

  • Ode Quarta(pág. 25-26)


À Maria Antónia
Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

Cabe o rosto das papoilas na fome das raízes
O vento que ronda as margens mais sombrias
Que ronda e não chora nos teus olhos
O rosto das companheiras

Como se regressasses de uma noite indefesa
A serena esperança das manhãs
Eu bebo o vento despido nos teus olhos
E nele o sol bravio dos vinhedos

Bebo o vento despido nos teus olhos
Desgrenhado e rumoroso o vento das noites decepadas
Ao dorso magoado dos dias

Como se regressasse de uma noite indefesa
E no teu rosto amanhecesse de repente
A alegria dos homens e dos bichos
Eu bebo nos teus lábios as palavras
E nelas a firmeza da terra renovada
Bebo o vento despido nos teus olhos
E neles a sede que transforma os rios

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

Cabe a linguagem dos homens
E o canto das aves que se encontram pressurosas
A linguagem dos homens nas máquinas de paz
Onde no esforço das madrugadas
Renascem as vozes do canto comum

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

  • Poema Ode Sexta,(Pág. 33-34).

À Maria Lamas

«Porque trazes na voz a voz das companheiras
Companheira te chamamos
Porque no teu olhar se alargam os olhos que semeiam e vigiam
O sol a todas as alturas o sol dos meninos e das colheitas
Porque nele se tornam mais límpidos os límpidos olhos das namoradas
Companheira te chamamos
(…)
Porque até o sol remoça na neve tranquila dos teus cabelos
E o vento sopra-te com a mesma força que a nós
Companheira te chamamos
Porque as palavras na tua boca
Têm a medida do mundo e a face dos mortais
Porque no teu ventre a fome e a vida se completaram
Porque no teu rosto fala o tempo até nós
Mãe te chamaríamos
Companheira te chamamos.»

OrlandoCostaEurídice.jpg

Primeira edição de uma das mais importantes obras de Orlando da Costa publicada em 1964. Lê-se no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, que «Podem Chamar-me Eurídice... apresenta-se como um romance cujas linguagem e temática não devem ser desligadas da circunstância que as incubou: as perseguições político-domiciliárias da polícia salazarista, a clandestinidade, o cinzentismo da Lisboa dos anos sessenta – o amor, apesar de tudo.» Não surpreende, assim, que este livro tenha sido proibido pela Censura e apreendido pela PIDE aquando da sua publicação. Pouco comum na edição original.

https://oeiras-a-ler.blogspot.com/2016/03/livros-proibidos-ciclo-de-conversas.html

Amanhã terá lugar a segunda sessão do projeto Livros Proibidos, cujo livro em análise será Podem chamar-me Eurídice, de Orlando da Costa. Trata-se de uma obra publicada em 1964, que relata uma história de amor que tem no contexto histórico a vivência da clandestinidade e repressão da subversão universitária dos anos 60. É também uma metáfora do assassínio do escultor José Dias Coelho, abatido a tiro por agentes da PIDE. Todo este contexto literário e a força narrativa, na defesa de um Estado onde os valores da liberdade, da solidariedade e da democracia fossem efetivamente uma realidade, motivaram um processo de censura e proibição acérrimo, transformando este livro num dos textos capitais do Index do Estado Novo em Portugal. Para falar da sua memória vai estar a escritora Hélia Correia e o editor Manuel Alberto Valente.

https://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/livros-proibidos-353823

Livros proibidos Maria do Rosário Pedreira Comemorámos há pouco a revolução de Abril e isso recordou-me uma sessão na Biblioteca de Oeiras a que assisti há cerca de um mês, sobre livros proibidos no tempo da outra senhora, sessão que – creio – se repete mensalmente com outras obras e novos participantes (no dia em que fui, o livro era Podem Chamar-me Eurídice, de Orlando da Costa, e falavam sobre ele a escritora Hélia Correia e o Manel). Nessa noite, contou-se uma história extraordinária sobre a incultura e a cegueira dos agentes da censura. O livreiro José Ribeiro, do Espaço Ulmeiro, sofria rusgas periodicamente, porque tinha muitos livros na loja que estavam proibidos pelo regime. Certamente, os censores mandaram agentes à livraria confiscar tudo o que tivesse a ver com Estaline e Lenine; mas os agentes, que não deviam perceber patavina de coisa nenhuma, a Estaline e Lenine acrescentaram também Racine, decerto porque a rima lhes soou perigosa, e apreenderam as peças do dramaturgo francês, que nem nunca soube o que era a União Soviética; como se isso não bastasse, russo por russo, juntaram-lhes ainda um livro sobre Nijinsky, o bailarino e coreógrafo (quiçá pensando que se tratava de um «subversivo») e, mais engraçado ainda, um manual do betão armado (porque o que está «armado», já se sabe, pode ser um problema). Coisas para rir hoje que, na altura, tinham menos graça.



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