Difference between revisions of "Costa, Orlando da - Livros Proibidos"

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*'''Orlando da Costa''' (1929 — 2006)
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Romancista, poeta e ''copywritter''. Nasceu em Moçambique, viveu em Goa e mais tarde em Portugal, pai do primeiro-ministro português António Costa e do jornalista Ricardo Costa. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas foi professor até a PIDE o proibir de ensinar. Defensor de ideais democráticos e progressista esteve sempre na linha da frente dos combates antifascistas, militou no MUD Juvenil, envolveu-se em iniciativas antifascistas e em candidaturas eleitorais. Esteve preso três vezes pela Pide. Na última prisão permaneceu na cadeia de Caxias durante cinco meses, acusado de militar em defesa da Paz.
  
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*Livro proibido - '''Sete Odes do Canto Comum'''
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'''Orlando da Costa''' foi um dos autores portugueses com mais livros proibidos pela censura do Estado Novo (cinco no total). Em relação à obra '''Sete Odes do Canto Comum''', o leitor dos Serviços de Censura sugeriu a sua proibição por serem «sete poesias de índole pacifista e comunista, e dedicadas a pessoas que professam ideias comunistas». Essas pessoas eram o escritor '''Armindo Rodrigues''' (1904-1993), o poeta francês '''Paul Éluard''' (1895-1952), a jornalista '''Maria Antónia Palla''' (que veio a ser sua mulher), os militantes comunistas '''Carlos e Maria Adelaide Aboim Inglez''' e a feminista '''Maria Lamas''' (1893-1983). Nesse tempo, eram suficientes as '''Dedicatórias''' para se proibir um livro! [https://www.uc.pt/bguc/atividades/livros-proibidos-durante-o-estado-novo/sete-odes-do-canto-comum/]<br />[[File:Costa, Orlando da - Sete Odes do Canto Comum - censura-excerto.jpg|600px]]
  
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*'''''Ode Quarta''''' À Maria Antónia'' (pág. 25 e 26)  [[File:Ouvir-.png|18px|link=https://agr-tc.pt/bibliotecas/leituras-em-liberdade-25deabril50anos/Costa_Orlando-da-Livro-SeteOdesDoCantoComum-PoemaOdeComum-AMariaAntonia-lido-por-EvaAgostinho-e-CarinSilva.wav]]&nbsp; [https://agr-tc.pt/bibliotecas/leituras-em-liberdade-25deabril50anos/Costa_Orlando-da-Livro-SeteOdesDoCantoComum-PoemaOdeComum-AMariaAntonia-lido-por-EvaAgostinho-e-CarinSilva.wav lido por Eva Agostinho e Carina Silva da turma PIA3]&nbsp;&nbsp;
'''Orlando da Costa''' (Lourenço Marques, 2 de Julho de 1929 — Lisboa, 27 de Janeiro de 2006)<br />
 
  
'''Orlando da Costa''' escritor goês, nasceu em Moçambique,viveu em Goa e mais tarde em Portugal, pai do primeiro-ministro português António Costa e do jornalista Ricardo Costa.<br />Iniciou a sua carreira literária com a publicação de obras de poesia de cariz neorrealista, '''A Estrada e a Voz''' (1951), '''Os Olhos sem Fronteira''' (1953) e '''Sete Odes do Canto Comum''' (1955), todos editados pela coleção “Cancioneiro Geral” e proibidos pela PIDE. É uma poesia empenhada, de exortação fraterna e de esperança.<br /> No domínio da ficção escreveu '''O Signo da Ira''' (1961) e '''Podem Chamar-me Eurídice''' (1964), romances de intenção social que seriam também proibidos pela censura. O primeiro romance, só foi mais  levantada a sua proibição após ter recebido o Prémio Ricardo Malheiros, em 1962 e '''Podem Chamar-me Eurídice''' focado na mulher, nos seus anseios, fragilidades e força, só foi mais amplamente difundido em 1974.<br />Foi preso três vezes pela Pide. Da última vez, permaneceu no cárcere em Caxias por cinco meses e uma semana, acusado de militar em defesa da paz”<br />Orlando da Costa foi o sétimo autor português com mais livros proibidos pela censura do Estado Novo (cinco no total).<br />
 
https://pgl.gal/orlando-da-costa-escritor-tagoreano-de-goa/<br />
 
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'''Sete Odes do Canto Comum'''<br />
 
 
O leitor dos Serviços de Censura sugeriu a sua proibição por serem «sete poesias de índole pacifista e comunista, e dedicadas a pessoas que professam ideias comunistas». Essas pessoas eram o escritor '''Armindo Rodrigues''' (1904-1993), o poeta francês '''Paul Éluard''' (1895-1952), a jornalista '''Maria Antónia Palla''' (que veio a ser sua mulher e ainda viva), os militantes comunistas '''Carlos e Maria Adelaide Aboim Inglez''' e a feminista '''Maria Lamas''' (1893-1983). Nesse tempo, eram suficientes as '''Dedicatórias''' para se proibir um livro!<br />https://www.uc.pt/bguc/atividades/livros-proibidos-durante-o-estado-novo/sete-odes-do-canto-comum/(pág. 25-26)
 
 
*'''Ode Quarta'''(pág. 25-26)<br />
 
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''À Maria Antónia''<br />
 
 
Em cada instante de vida<br />
 
Em cada instante de vida<br />
 
Cabe a pátria do nosso amor<br />
 
Cabe a pátria do nosso amor<br />
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*Poema Ode Sexta,(Pág. 33-34).<br />
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*'''''Ode Sexta''''' (Pág. 33 e 34).
 
''À Maria Lamas''<br />
 
''À Maria Lamas''<br />
 
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  Primeira edição de uma das mais importantes obras de Orlando da Costa, escritor português, natural de Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique, mas com raízes goesas, e pai do actual Primeiro-Ministro, António Costa. Lê-se no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, que «Podem Chamar-me Eurídice... apresenta-se como um romance cujas linguagem e temática não devem ser desligadas da circunstância que as incubou: as perseguições político-domiciliárias da polícia salazarista, a clandestinidade, o cinzentismo da Lisboa dos anos sessenta – o amor, apesar de tudo.» Não surpreende, assim, que este livro tenha sido proibido pela Censura e apreendido pela PIDE aquando da sua publicação. Pouco comum na edição original.
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  Primeira edição de uma das mais importantes obras de '''Orlando da Costa''' publicada em 1964. Lê-se no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, que «Podem Chamar-me Eurídice... apresenta-se como um romance cujas linguagem e temática não devem ser desligadas da circunstância que as incubou: as perseguições político-domiciliárias da polícia salazarista, a clandestinidade, o cinzentismo da Lisboa dos anos sessenta – o amor, apesar de tudo.» Não surpreende, assim, que este livro tenha sido proibido pela Censura e apreendido pela PIDE aquando da sua publicação.[https://oeiras-a-ler.blogspot.com/2016/03/livros-proibidos-ciclo-de-conversas.html]<br />Trata-se de uma obra publicada em 1964, que relata uma história de amor que tem no contexto histórico a vivência da clandestinidade e repressão da subversão universitária dos anos 60. É também uma metáfora do assassínio do escultor José Dias Coelho, abatido a tiro por agentes da PIDE. Todo este contexto literário e a força narrativa, na defesa de um Estado onde os valores da liberdade, da solidariedade e da democracia fossem efetivamente uma realidade, motivaram um processo de censura e proibição acérrimo, transformando este livro num dos textos capitais do Index do Estado Novo em Portugal.[https://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/livros-proibidos-353823]
https://oeiras-a-ler.blogspot.com/2016/03/livros-proibidos-ciclo-de-conversas.html
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Amanhã terá lugar a segunda sessão do projeto Livros Proibidos, cujo livro em análise será Podem chamar-me Eurídice, de Orlando da Costa. Trata-se de uma obra publicada em 1964, que relata uma história de amor que tem no contexto histórico a vivência da clandestinidade e repressão da subversão universitária dos anos 60. É também uma metáfora do assassínio do escultor José Dias Coelho, abatido a tiro por agentes da PIDE. Todo este contexto literário e a força narrativa, na defesa de um Estado onde os valores da liberdade, da solidariedade e da democracia fossem efetivamente uma realidade, motivaram um processo de censura e proibição acérrimo, transformando este livro num dos textos capitais do Index do Estado Novo em Portugal. Para falar da sua memória vai estar a escritora Hélia Correia e o editor Manuel Alberto Valente.
 
  
https://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/livros-proibidos-353823
 
 
Livros proibidos
 
Maria do Rosário Pedreira
 
Comemorámos há pouco a revolução de Abril e isso recordou-me uma sessão na Biblioteca de Oeiras a que assisti há cerca de um mês, sobre livros proibidos no tempo da outra senhora, sessão que – creio – se repete mensalmente com outras obras e novos participantes (no dia em que fui, o livro era Podem Chamar-me Eurídice, de Orlando da Costa, e falavam sobre ele a escritora Hélia Correia e o Manel). Nessa noite, contou-se uma história extraordinária sobre a incultura e a cegueira dos agentes da censura. O livreiro José Ribeiro, do Espaço Ulmeiro, sofria rusgas periodicamente, porque tinha muitos livros na loja que estavam proibidos pelo regime. Certamente, os censores mandaram agentes à livraria confiscar tudo o que tivesse a ver com Estaline e Lenine; mas os agentes, que não deviam perceber patavina de coisa nenhuma, a Estaline e Lenine acrescentaram também Racine, decerto porque a rima lhes soou perigosa, e apreenderam as peças do dramaturgo francês, que nem nunca soube o que era a União Soviética; como se isso não bastasse, russo por russo, juntaram-lhes ainda um livro sobre Nijinsky, o bailarino e coreógrafo (quiçá pensando que se tratava de um «subversivo») e, mais engraçado ainda, um manual do betão armado (porque o que está «armado», já se sabe, pode ser um problema). Coisas para rir hoje que, na altura, tinham menos graça.
 
 
 
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OrlandodaCostafoto.jpg Costa-OrlandoDa-seteOdesDoCantoComum-capa.jpg Costa, Orlando da - Sete Odes do Canto Comum - censura.jpg

  • Orlando da Costa (1929 — 2006)
Romancista, poeta e copywritter. Nasceu em Moçambique, viveu em Goa e mais tarde em Portugal, pai do primeiro-ministro português António Costa e do jornalista Ricardo Costa. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas foi professor até a PIDE o proibir de ensinar. Defensor de ideais democráticos e progressista esteve sempre na linha da frente dos combates antifascistas, militou no MUD Juvenil, envolveu-se em iniciativas antifascistas e em candidaturas eleitorais. Esteve preso três vezes pela Pide. Na última prisão permaneceu na cadeia de Caxias durante cinco meses, acusado de militar em defesa da Paz.
  • Livro proibido - Sete Odes do Canto Comum
Orlando da Costa foi um dos autores portugueses com mais livros proibidos pela censura do Estado Novo (cinco no total). Em relação à obra Sete Odes do Canto Comum, o leitor dos Serviços de Censura sugeriu a sua proibição por serem «sete poesias de índole pacifista e comunista, e dedicadas a pessoas que professam ideias comunistas». Essas pessoas eram o escritor Armindo Rodrigues (1904-1993), o poeta francês Paul Éluard (1895-1952), a jornalista Maria Antónia Palla (que veio a ser sua mulher), os militantes comunistas Carlos e Maria Adelaide Aboim Inglez e a feminista Maria Lamas (1893-1983). Nesse tempo, eram suficientes as Dedicatórias para se proibir um livro! [1]
Costa, Orlando da - Sete Odes do Canto Comum - censura-excerto.jpg

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

Cabe o rosto das papoilas na fome das raízes
O vento que ronda as margens mais sombrias
Que ronda e não chora nos teus olhos
O rosto das companheiras

Como se regressasses de uma noite indefesa
A serena esperança das manhãs
Eu bebo o vento despido nos teus olhos
E nele o sol bravio dos vinhedos

Bebo o vento despido nos teus olhos
Desgrenhado e rumoroso o vento das noites decepadas
Ao dorso magoado dos dias

Como se regressasse de uma noite indefesa
E no teu rosto amanhecesse de repente
A alegria dos homens e dos bichos
Eu bebo nos teus lábios as palavras
E nelas a firmeza da terra renovada
Bebo o vento despido nos teus olhos
E neles a sede que transforma os rios

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

Cabe a linguagem dos homens
E o canto das aves que se encontram pressurosas
A linguagem dos homens nas máquinas de paz
Onde no esforço das madrugadas
Renascem as vozes do canto comum

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

  • Ode Sexta (Pág. 33 e 34).

À Maria Lamas

«Porque trazes na voz a voz das companheiras
Companheira te chamamos
Porque no teu olhar se alargam os olhos que semeiam e vigiam
O sol a todas as alturas o sol dos meninos e das colheitas
Porque nele se tornam mais límpidos os límpidos olhos das namoradas
Companheira te chamamos
(…)
Porque até o sol remoça na neve tranquila dos teus cabelos
E o vento sopra-te com a mesma força que a nós
Companheira te chamamos
Porque as palavras na tua boca
Têm a medida do mundo e a face dos mortais
Porque no teu ventre a fome e a vida se completaram
Porque no teu rosto fala o tempo até nós
Mãe te chamaríamos
Companheira te chamamos.»

OrlandoCostaEurídice.jpg

Primeira edição de uma das mais importantes obras de Orlando da Costa publicada em 1964. Lê-se no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, que «Podem Chamar-me Eurídice... apresenta-se como um romance cujas linguagem e temática não devem ser desligadas da circunstância que as incubou: as perseguições político-domiciliárias da polícia salazarista, a clandestinidade, o cinzentismo da Lisboa dos anos sessenta – o amor, apesar de tudo.» Não surpreende, assim, que este livro tenha sido proibido pela Censura e apreendido pela PIDE aquando da sua publicação.[2]
Trata-se de uma obra publicada em 1964, que relata uma história de amor que tem no contexto histórico a vivência da clandestinidade e repressão da subversão universitária dos anos 60. É também uma metáfora do assassínio do escultor José Dias Coelho, abatido a tiro por agentes da PIDE. Todo este contexto literário e a força narrativa, na defesa de um Estado onde os valores da liberdade, da solidariedade e da democracia fossem efetivamente uma realidade, motivaram um processo de censura e proibição acérrimo, transformando este livro num dos textos capitais do Index do Estado Novo em Portugal.[3]



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