Difference between revisions of "Costa, Orlando da - Livros Proibidos"

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OrlandodaCostafoto.jpgOrlanoCostaAEstradaeaVoz.jpg Orlando da Costa (Lourenço Marques, 2 de Julho de 1929 — Lisboa, 27 de Janeiro de 2006)

Orlando da Costa escritor goês, nasceu em Moçambique,viveu em Goa e mais tarde em Portugal, pai do primeiro-ministro português António Costa e do jornalista Ricardo Costa.
Iniciou a sua carreira literária com a publicação de obras de poesia de cariz neorrealista, A Estrada e a Voz (1951), Os Olhos sem Fronteira (1953) e Sete Odes do Canto Comum (1955), todos editados pela coleção “Cancioneiro Geral” e proibidos pela PIDE. É uma poesia empenhada, de exortação fraterna e de esperança.
No domínio da ficção escreveu O Signo da Ira (1961) e Podem Chamar-me Eurídice (1964), romances de intenção social que seriam também proibidos pela censura. O primeiro romance, só foi mais levantada a sua proibição após ter recebido o Prémio Ricardo Malheiros, em 1962 e Podem Chamar-me Eurídice focado na mulher, nos seus anseios, fragilidades e força, só foi mais amplamente difundido em 1974.
Foi preso três vezes pela Pide. Da última vez, permaneceu no cárcere em Caxias por cinco meses e uma semana, acusado de militar em defesa da paz”
Orlando da Costa foi o sétimo autor português com mais livros proibidos pela censura do Estado Novo (cinco no total).
https://pgl.gal/orlando-da-costa-escritor-tagoreano-de-goa/

Sete Odes do Canto Comum

O leitor dos Serviços de Censura sugeriu a sua proibição por serem «sete poesias de índole pacifista e comunista, e dedicadas a pessoas que professam ideias comunistas». Essas pessoas eram o escritor Armindo Rodrigues (1904-1993), o poeta francês Paul Éluard (1895-1952), a jornalista Maria Antónia Palla (que veio a ser sua mulher e ainda viva), os militantes comunistas Carlos e Maria Adelaide Aboim Inglez e a feminista Maria Lamas (1893-1983). Nesse tempo, eram suficientes as Dedicatórias para se proibir um livro!
https://www.uc.pt/bguc/atividades/livros-proibidos-durante-o-estado-novo/sete-odes-do-canto-comum/(pág. 25-26)

  • Ode Quarta(pág. 25-26)


À Maria Antónia
Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

Cabe o rosto das papoilas na fome das raízes
O vento que ronda as margens mais sombrias
Que ronda e não chora nos teus olhos
O rosto das companheiras

Como se regressasses de uma noite indefesa
A serena esperança das manhãs
Eu bebo o vento despido nos teus olhos
E nele o sol bravio dos vinhedos

Bebo o vento despido nos teus olhos
Desgrenhado e rumoroso o vento das noites decepadas
Ao dorso magoado dos dias

Como se regressasse de uma noite indefesa
E no teu rosto amanhecesse de repente
A alegria dos homens e dos bichos
Eu bebo nos teus lábios as palavras
E nelas a firmeza da terra renovada
Bebo o vento despido nos teus olhos
E neles a sede que transforma os rios

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

Cabe a linguagem dos homens
E o canto das aves que se encontram pressurosas
A linguagem dos homens nas máquinas de paz
Onde no esforço das madrugadas
Renascem as vozes do canto comum

Em cada instante de vida
Cabe a pátria do nosso amor

  • Poema Ode Sexta,(Pág. 33-34).

À Maria Lamas

«Porque trazes na voz a voz das companheiras
Companheira te chamamos
Porque no teu olhar se alargam os olhos que semeiam e vigiam
O sol a todas as alturas o sol dos meninos e das colheitas
Porque nele se tornam mais límpidos os límpidos olhos das namoradas
Companheira te chamamos
(…)
Porque até o sol remoça na neve tranquila dos teus cabelos
E o vento sopra-te com a mesma força que a nós
Companheira te chamamos
Porque as palavras na tua boca
Têm a medida do mundo e a face dos mortais
Porque no teu ventre a fome e a vida se completaram
Porque no teu rosto fala o tempo até nós
Mãe te chamaríamos
Companheira te chamamos.»

OrlandoCostaEurídice.jpg

Primeira edição de uma das mais importantes obras de Orlando da Costa, escritor português, natural de Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique, mas com raízes goesas, e pai do actual Primeiro-Ministro, António Costa.  Lê-se no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, que «Podem Chamar-me Eurídice... apresenta-se como um romance cujas linguagem e temática não devem ser desligadas da circunstância que as incubou: as perseguições político-domiciliárias da polícia salazarista, a clandestinidade, o cinzentismo da Lisboa dos anos sessenta – o amor, apesar de tudo.» Não surpreende, assim, que este livro tenha sido proibido pela Censura e apreendido pela PIDE aquando da sua publicação. Pouco comum na edição original.

https://oeiras-a-ler.blogspot.com/2016/03/livros-proibidos-ciclo-de-conversas.html

Amanhã terá lugar a segunda sessão do projeto Livros Proibidos, cujo livro em análise será Podem chamar-me Eurídice, de Orlando da Costa. Trata-se de uma obra publicada em 1964, que relata uma história de amor que tem no contexto histórico a vivência da clandestinidade e repressão da subversão universitária dos anos 60. É também uma metáfora do assassínio do escultor José Dias Coelho, abatido a tiro por agentes da PIDE. Todo este contexto literário e a força narrativa, na defesa de um Estado onde os valores da liberdade, da solidariedade e da democracia fossem efetivamente uma realidade, motivaram um processo de censura e proibição acérrimo, transformando este livro num dos textos capitais do Index do Estado Novo em Portugal. Para falar da sua memória vai estar a escritora Hélia Correia e o editor Manuel Alberto Valente.

https://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/livros-proibidos-353823

Livros proibidos Maria do Rosário Pedreira Comemorámos há pouco a revolução de Abril e isso recordou-me uma sessão na Biblioteca de Oeiras a que assisti há cerca de um mês, sobre livros proibidos no tempo da outra senhora, sessão que – creio – se repete mensalmente com outras obras e novos participantes (no dia em que fui, o livro era Podem Chamar-me Eurídice, de Orlando da Costa, e falavam sobre ele a escritora Hélia Correia e o Manel). Nessa noite, contou-se uma história extraordinária sobre a incultura e a cegueira dos agentes da censura. O livreiro José Ribeiro, do Espaço Ulmeiro, sofria rusgas periodicamente, porque tinha muitos livros na loja que estavam proibidos pelo regime. Certamente, os censores mandaram agentes à livraria confiscar tudo o que tivesse a ver com Estaline e Lenine; mas os agentes, que não deviam perceber patavina de coisa nenhuma, a Estaline e Lenine acrescentaram também Racine, decerto porque a rima lhes soou perigosa, e apreenderam as peças do dramaturgo francês, que nem nunca soube o que era a União Soviética; como se isso não bastasse, russo por russo, juntaram-lhes ainda um livro sobre Nijinsky, o bailarino e coreógrafo (quiçá pensando que se tratava de um «subversivo») e, mais engraçado ainda, um manual do betão armado (porque o que está «armado», já se sabe, pode ser um problema). Coisas para rir hoje que, na altura, tinham menos graça.



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