Conrad, Joseph - Livros Proibidos

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Conrad Joseph FotoG.jpg Conrad, Alma Russa - capa.jpg Conrad, Joseph - Alma Russa - censura.jpg ConradLivroInglês.jpg

  • Joseph Conrad (1857 - 1924)
Romancista e marinheiro polaco-britânico é considerado um dos maiores escritores de ficção em inglês. Leituras de excertos do livro proibido Alma Russa.
  • Livro proibido - Alma Russa
Em Alma Russa temos uma "narrativa sobre espionagem e movimentos revolucionários ainda na Rússia czarista. Contudo, o censor salazarista considerou que se tratava de “um livro de propaganda revolucionária (...) que deve ser proibido porque este e muitos outros livros que pejam o nosso mercado têm o fim inconvenientíssimo de alimentarem a mística russa” [1]. Com o protesto da editora da tradução portuguesa o livro foi depois autorizado.
Conrad, Joseph - Alma Russa - censura-excerto.jpg
  • Excerto 1
O senhor de P… ia para a estação de caminho de ferro num trenó aberto puxado a uma parelha, com cocheiro trintanário na boleia. Nevara durante toda a noite de maneira a tornar o caminho, ainda não desobstruído a hora tão matutina, muito difícil para os cavalos. Nevava ainda densamente. Mas o trenó deve ter sido objecto de observação, e identificado. Quando se encostava ao lado esquerdo, antes de dobrar uma volta do caminho, o trintanário notou um camponês que seguia vagarosamente pela beira do passeio, com as mãos nas algibeiras do casacão de pele de carneiro, e os ombros em corcova até às orelhas sob a neve que caía. Ao ser alcançado, este camponês voltou-se de súbito, e brandiu o braço. Num instante deu-se uma concussão terrível, uma detonação abafada na imensa abundância de flocos de neve; os dois cavalos da parelha estavam estendidos no chão mortos e e dilacerados e o cocheiro, soltando um grito estridente, caíra da boleia mortalmente ferido.(pág. 18)
  • Excerpt 1
Mr. de P--- was being driven towards the railway station in a two-horse uncovered sleigh with footman and coachman on the box. Snow had beenfalling all night, making the roadway, uncleared as yet at this  early hour, very heavy for the horses. It was still falling thickly. But the sleigh must have been observed and marked down. As it drew over to theleft before taking a turn, the footman noticed a peasant walkingslowly on the edge of the avement with his hands in the pockets of  his sheepskin coat and his shoulders hunched up to his ears under the alling snow. On being overtaken this peasant suddenly faced about and swung his arm. In an instant there was a terrible shock, a detonation muffled in the multitude of snowflakes; both horses lay dead and mangled on the ground and the coachman, with a shrill cry, had fallen off the box mortally wounded.
  • Excerto 2
O trintanário (que sobreviveu) não teve tempo para ver a cara do homem do casacão de pele de carneiro. Depois de arremessar a bomba, este último afastou-se, mas supõe-se, que, ao ver a grande quantidade de pessoas que surgiam do nevão por todos os lados em sua volta, e todas a correrem para o local onde se dera a explosão, lhe pareceu mais seguro voltar para trás com elas. Num espaço de tempo inacreditavelmente curto ajuntou-se em torno do trenó uma multidão exaltada. O Ministro-Presidente, saindo incólume da neve alta, ergueu-se de pé junto do cocheiro, que gemia, e dirigiu-se repetidas vezes ao povo com a sua voz fraca e neutra:
- “Peço-lhes o favor de se afastarem. Pelo amor de Deus, peço-lhes, boa gente, que se afastem.”
Foi nesse momento que um homem novo, o qual até ali estivera perfeitamente imóvel entre os umbrais de um portão de cocheira, avançou para a rua e, caminhando a passos rápidos, atirou com outra bomba por cima das cabeças da multidão. Esta atingiu o Ministro-Presidente quando ele se curvava sobre o seu criado nas vascas da morte, depois, caindo-lhes aos pés explodiu com terrífica e intensa violência, derrubando-o, morto, para o chão, acabando com a vida do ferido e reduzindo a nada o trenó vazio, num abrir e fechar de olhos.
  • Excerpt 2
The footman (who survived) had no time to see the face of the man in the sheepskin coat. After throwing the bomb this last got away, but it is supposed that, seeing a lot of people surging up on all sides of him in the falling snow, and all running towards the scene of the explosion, he thought it safer to turn back with them.In an incredibly short time an excited crowd assembled round the sledge.The Minister-President, getting out unhurt into the deep snow, stood near the groaning coachman and addressed the people repeatedly in his weak, colourless voice: “I beg of you to keep off: For the love of God, I beg of you good people to keep off.”
It was then that a tall young man who had remained standing perfectly still within a carriage gateway, two houses lower down, stepped out into the street and walking up rapidly flung another bomb over the heads of the crowd. It actually struck the Minister-President on the shoulder as he stooped over his dying servant, then falling between his feet exploded with a terrific concentrated violence, striking him dead to the ground, finishing the wounded man and practically nihilating the empty sledge in the twinkling of an eye.
  • Excerto 3
Com um berro de horror, a multidão dispersou e pôs-se em fuga em todas as direcções, excepto no que diz respeito aos que caíram mortos ou moribundos nos lugares em que estavam mais próximos do Ministro-Presidente e alguns outros que só caíram depois de terem transposto uma pequena distância.
(…) Através da neve as pessoas olhavam à distância para o pequeno montão de corpos sem vida estendidos uns sobre os outros junto das carcaças dos dois cavalos. Ninguém se atrevia a aproximar-se, até que alguns cossacos, em serviço de patrulha nas ruas, galoparam para lá e, depois de se apearem, começaram a voltar os cadáveres. Entre as vítimas inocentes da segunda explosão, estendidas no empedrado da rua, havia um corpo vestido num casacão de pele de carneiro, de homem do campo. Mas tinha o rosto irreconhecível; nada absolutamente se lhe encontrou nos bolsos do mísero vestuário e foi ele o único cuja identidade nunca chegou a ser verificada.
  • Excerpt 3
With a yell of horror the crowd broke up and fled in all directions, except for those who fell dead or dying where they stood nearest to the Minister-President, and one or two others who did not fall till they had run a little way.
The first explosion had brought together a crowd as if by enchantment,the second made as swiftly a solitude in the street for hundreds ofyards in each direction. Through the falling snow people looked from afar at the small heap of dead bodies lying upon each other near the carcases of the two horses. Nobody dared to approach till some Cossacks of a street-patrol galloped up and, dismounting, began to turn over the dead. Amongst the innocent victims of the second explosion laid out on the pavement there was a body dressed in a peasant’s sheepskin coat; but the face was unrecognisable, there was absolutely nothing found in the pockets of its poor clothing, and it was the only one whose identity was never established.


  • Excerto 4
“Sim, Razumov. Sim, meu amigo. Tu um dia hás-de ajudar a construir. Supões-me um terrorista, vamos… - um demolidor do que existe. Mas pensa bem que os verdadeiros demolidores são os que destroem o espírito do progresso e da verdade; não os vingadores que simplesmente tiram a vida aos corpos dos que violentam a dignidade humana. Homens como eu são necessários para darem lugar a homens reservados, a pensadores como tu. Ora muito bem, nós fazemos o sacrifício das nossas vidas, mas, de toda a maneira, quero-me por a salvo, se tal for possível. Não é a minha vida que eu quero salvar, mas sim o meu poder de agir. Não quero viver ocioso, Oh, não! Não faças qualquer confusão, Razumov. Homens como eu são raros. E, além disso, um exemplo como este é mais terrível para os opressores quando o autor se some sem deixar vestígios. Ficam sentados nos seus gabinetes e nos seus palácios, e tremem. Tudo o que eu quero que tu me faças é que me ajudes a desaparecer. Não é preciso muito para isso… Basta que vás logo procurar o Ziemianitch, em meu lugar, no sítio onde eu fui hoje de manhã. Diz-lhe só isto: - “Aquela pessoa que o senhor sabe precisa de um trenó bem atrelado para uma corrida, meia hora depois da meia noite, junto ao sétimo candeeiro do lado esquerdo, a contar de cima, na Karabelnaya. Se ninguém ali aparecer o trenó deve dar a volta ao mesmo lugar passados dez minutos.”
                                                                                
  • Excerto 5
O velho lamentava as imposições dos tempos… - quando as pessoas não estavam, de qualquer forma, de acordo” e limpou as lágrimas. Não desejava passar o anoitecer da sua vida com a cabeça rapada à navalha numa cela de penitente em qualquer mosteiro… - e ficar sujeito a todos os rigores da disciplina eclesiástica; “porque eles não haviam de mostrar qualquer comiseração por um velho”, dizia, num gemido. Ia quase tendo um ataque e as duas senhoras, cheias de dó, acalmaram-no o melhor que puderam antes de o deixarem voltar para a sua cazita de aldeia. Mas, na realidade, as visitas eram poucas. Os vizinhos – alguns deles velhos amigos – principiaram a afastar-se; alguns, poucos, por timidez, outros com desdém manifesto visto que eram pessoas importantes que ali vinham apenas passar o verão, – explicou-me Natália -, aristocratas, reacionários.
                                                                             
  • Excerto 6
“Sim.” Curvou a cabeça num gesto de assentimento e, teve um instante de hesitação. “Devo confessar-lhe que jamais desistirei de estender o meu olhar para o dia em que toda a discórdia será reduzida ao silêncio. Experimente pôr na imaginação a sua aurora! Acabada a tempestade de golpes e de maldições; tudo será calmo; o novo sol desponta e sobe, e os homens fatigados, unidos por um fim, fazendo as contas, na sua consciência, à disputa terminada, sentir-se-ão entristecidos pela sua vitória, porque foram tantas as ideias que pereceram pelo triunfo de uma só, quantas as crenças que os abandonaram sem remédio. Sentem-se sós sobre a terra e juntam-se todos. Sim, tem que haver muitas horas amargas! Mas, por fim, a angústia nos corações será extinta pelo amor.”
  • Quotes from "Under Western Eyes" by Joseph Conrad (Citações de "Alma Russa de Joseph Conrad):

1.“The belief in a supernatural source of evil is not necessary; men alone are quite capable of every wickedness.”

2.“Words, as is well known, are the great foes of reality.”

3.“To a teacher of languages there comes a time when the world is but a place of many words and man appears a mere talking animal not much more wonderful than a parrot.”

4.“The man who says that he has no illusions has at least that one.”

5.“The belief in a super natural sources of evil is not necessary. Men alone are quite capable of every wickedness.”

6.“I am quite willing to be the blind instrument of higher ends. To give one's life for the cause is nothing. But to have one's illusions destroyed - that is really almost more than one can bear.”

7.“Everything is inconceivable. The whole world is inconceivable to the strict logic of ideas. And yet the world exists to our senses, and we exist in it. There must be a necessity superior to our conceptions.”

8.“In life, you see, there is not much choice. You have either to rot or to burn. And there is not one of us, painted or unpainted, that would not rather burn than rot.”

9.“I can't afford to despise anything. An absurdity may be the starting-point of the most dangerous complications.”

10.“To cut oneself entirely from one's kind is impossible. To live in a desert one must be a saint.”

11.“That propensity of lifting every problem from the plane of the understandable by means of some sort of mystic expression, is very Russian. I knew her well enough to have discovered her scorn for all the practical forms of political liberty known to the western world. I suppose one must be a Russian to understand Russian simplicity, a terrible corroding simplicity in which mystic phrases clothe a naive and hopeless cynicism. I think sometimes that the psychological secret of the profound difference of that people consists in this, that they detest life, the irremediable life of the earth as it is, whereas we westerners cherish it with perhaps an equal exaggeration of its sentimental value. But this is a digression indeed....”

12.“I don't know the world, nor yet the people in it; I have been too solitary - I am too young to trust my own opinions.”

13.“Everybody had to be thoroughly understood before being accepted.”

14.“Yes, the sound of water, the voice of the wind - completely foreign to human passions. All the other sounds of this earth brought contamination to the solitude of a soul.”


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