Clímaco, Nita - Livros Proibidos

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Nita Clímaco

Nita Clímaco, pseudónimo de Maria da Conceição Clímaco Tomé, terá nascido na década de 20 do século XX. Jornalista e escritora, viveu em Paris, onde foi correspondente da revista “Eva”, e o tema da emigração marcou fortemente a sua produção literária.
A sua relação com a PIDE, no curto período da sua produção literária, é assinalável: a autora escreveu cinco romances (Falsos Preconceitos, 1964; Pigalle, 1965; O adolescente, 1966; A salto, 1967; A Francesa e Encontros, 1968), tendo os três primeiros sido censurados.

Falsos Preconceitos

  • Excerto 1
De facto, é preciso ser português para compreender, para interpretar, o sortilégio do nome Paris. Na verdade, para os portugueses, o mistério e o encanto da capital da Luz começa desde a mais tenra infância, quando, para lhes ser explicado o enigma do nascimento, lhes é respondido, à indiscreta pergunta, que “vieram de Paris”.
Assim, comparando a explicação da “couve” tão grata às crianças francesas, Paris representa para as crianças portuguesas o mais belo e poético sinonimo de mistério e de desconhecido. E, a partir da juventude, o segredo encantador de Paris é diariamente aumentado: as riquezas do Louvre ou do Museu do Homem, que inundam todos os manuais escolares portugueses; os filmes que evocam os recantos mais pitorescos de Paris; mais tarde, a atracção da beleza dos seus manequins de alta costura; os vestidos elegantes e o luxo das sumptuosas festas na Ópera ou em Versalhes; o fruto proibido do espectáculo das “Folies Bergères” ou do “Casino de Paris”, os seus nus e canções atrevidas de duplo sentido;
  • Excerto 2
Nessa noite, quando Mariana chegou a casa para se deitar, a sua antiga cama estava feita, e Monique disse-lhe num tom seco:
- Como estou um pouco constipada, o melhor é passarmos, outra vez, a dormir cada uma na sua cama!
Mariana ficou satisfeita, porque começava a achar insuportáveis as carícias de Monique, cada vez mais positivas e menos platónicas.
Mariana vivia agora só para Eric e o seu amor era apenas contrariado de quando em quando – mas poucas vezes – pelos remorsos sentidos com o aparecimento, na sua memória, da imagem, cada vez mais longínqua, do simpático e bondoso Dr. Filipe.
  • Excerto 3
“Tens a certeza de que poderás fugir à atracção de Eric? Tens a certeza que não lamentarás, amanhã, a decisão que hoje queres tomar? Tinham razão os teus amigos quando te intitulavam “Mademoiselle faux préjugé”!... Lembras –te das tuas noites com Monique? Desculpavas-te a ti própria, afirmando que durante esse período da tua vida nunca tinhas tomado iniciativas e que te limitavas a “sofrer” os assaltos de ternura de Monique. – Mas serás capaz de afirmar que esses “assaltos de ternura” como “inocentemente” tu os classificavas – te não deram prazer e que te não acalmaram os nervos excitados pelos teus primeiros beijos de amor, pelos beijos do Dr. Filipe?

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No relatório concernente a O adolescente, a PIDE considerou que esta obra, assim como Pigalle, se pautava por uma “extrema imoralidade” pela existência de relações homossexuais existentes na obra. O Estado Novo reprimia todas as manifestações de homossexualidade, considerando esta orientação sexual não só imoral mas também criminosa (viria a ser descriminalizada apenas em 1982). Assim, pelas descrições da obra, seria expectável que o regime tentasse escondê-la. A homossexualidade era um assunto tabu e nenhuma obra que a referisse, ainda que levemente, poderia passar pelo crivo da censura.