Difference between revisions of "Borges, Jorge Luís - Livros Proibidos"

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  Os cavalos roubados num estado e vendidos noutro foram somente uma digressão na carreira delinquente de Morell, mas representavam antecipadamente o método que agora lhe assegurava o seu bom lugar numa História Universal da Infâmia. Este método é único, não só pelas circunstâncias sui generis que o determinaram, mas pela abjecção que requere, pelo seu fatal manejo da esperança e pelo desenvolvimento gradual, semelhante à atroz evolução de um pesadelo. (…) Quanto ao número de homens, Morell chegou a comandar uns mil, todos ajuramentados. Duzentos formavam o Conselho Superior, que promulgava as ordens que os restantes oitocentos cumpriam. O risco recaía nos subalternos. No caso de rebelião, eram entregues à justiça ou arremessados ao rio volumoso de águas pesadas, com uma enorme pedra nos pés. Com frequência eram mulatos. A sua facinorosa missão era a seguinte:<br />
 
  Os cavalos roubados num estado e vendidos noutro foram somente uma digressão na carreira delinquente de Morell, mas representavam antecipadamente o método que agora lhe assegurava o seu bom lugar numa História Universal da Infâmia. Este método é único, não só pelas circunstâncias sui generis que o determinaram, mas pela abjecção que requere, pelo seu fatal manejo da esperança e pelo desenvolvimento gradual, semelhante à atroz evolução de um pesadelo. (…) Quanto ao número de homens, Morell chegou a comandar uns mil, todos ajuramentados. Duzentos formavam o Conselho Superior, que promulgava as ordens que os restantes oitocentos cumpriam. O risco recaía nos subalternos. No caso de rebelião, eram entregues à justiça ou arremessados ao rio volumoso de águas pesadas, com uma enorme pedra nos pés. Com frequência eram mulatos. A sua facinorosa missão era a seguinte:<br />
  
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Borgesfoto.jpg Historia-universal-da-infamia-1935.jpg

  • Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899 — Genebra, 1986)
Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.
  • Livro Proibido História Universal da Infâmia
Historia Universal da Infâmia (1935) Livro divertido e inteligente. São contos do começo da década de 1930 em que o autor se coloca no lugar do leitor, criando releituras de obras alheias que refletem a habilidade distintiva de Borges em fundir elementos filosóficos e literários de maneira única.
  • Excerto 1
Em 1517, o padre Bartolomé de las Casas teve muita pena dos índios que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas e propôs ao imperador Carlos V a importação de negros, que se extenuavam nos laboriosos infernos das minas de ouro das Antilhas. A essa curiosa variação de um filantropo devemos factos infinitos: os blues de Handy, o êxito alcançado em Paris pelo pintor doutor oriental D. Pedro Figari, a boa prosa bravia do também oriental D. Vicente Rossi, o tamanho mitológico de Abraham Lincoln, os quinhentos mil mortos da Guerra de Secessão, os três mil e trezentos milhões gastos em pensões militares, (…).
  • Excerto 2
Nos princípios do século XIX (a data que nos interessa) as vastas plantações de algodão que havia nas margens eram cultivadas por negros, de sol a sol. Dormiam em barracas de madeira, sobre o piso de terra. Fora da relação mãe-filho, os parentescos eram convencionais e turvos. Tinham nomes, mas podiam prescindir dos apelidos. Não sabiam ler. A sua amolecida voz de falsete cantarolava um inglês de lentas vogais. Trabalhavam em filas, curvados sob o azorrague do capataz. Fugiam, e homens de fortes barbas saltavam sobre belos cavalos e cães próprios para caçar feras seguiam o seu rastro.
A um sedimento de esperanças irracionais e medos africanos tinham junto as palavras de Escritura: a sua fé, por conseguinte, era a de Cristo. Cantavam profundos e amontoados: Go down Moses. O Mississípi servia-lhes de magnífica imagem do sórdido Jordão.
Os proprietários dessa terra trabalhadora e desses bandos de negros eram ociosos e ávidos cavalheiros de cabeleira ao vento, que habitavam enormes casarões voltados para o rio – sempre com um pórtico pseudogrego de madeira de pinheiro-branco. Um bom escravo custava-lhes mil dólares e não durava muito. Alguns cometiam a ingratidão de adoecer e morrer. Havia que tirar desses bens instáveis o maior rendimento.
  • Excerto 3
Os cavalos roubados num estado e vendidos noutro foram somente uma digressão na carreira delinquente de Morell, mas representavam antecipadamente o método que agora lhe assegurava o seu bom lugar numa História Universal da Infâmia. Este método é único, não só pelas circunstâncias sui generis que o determinaram, mas pela abjecção que requere, pelo seu fatal manejo da esperança e pelo desenvolvimento gradual, semelhante à atroz evolução de um pesadelo. (…) Quanto ao número de homens, Morell chegou a comandar uns mil, todos ajuramentados. Duzentos formavam o Conselho Superior, que promulgava as ordens que os restantes oitocentos cumpriam. O risco recaía nos subalternos. No caso de rebelião, eram entregues à justiça ou arremessados ao rio volumoso de águas pesadas, com uma enorme pedra nos pés. Com frequência eram mulatos. A sua facinorosa missão era a seguinte:
  • Outros poemas do autor


Nadie rebaje a lágrima o reproche
esta declaración de la maestría
de Dios, que con magnífica ironía
me dio a la vez los libros y la noche.

De esta ciudad de libros hizo dueños
a unos ojos sin luz, que sólo pueden
leer en las bibliotecas de los sueños
los insensatos párrafos que ceden

las albas a su afán. En vano el día
les prodiga sus libros infinitos,
arduos como los arduos manuscritos
que perecieron en Alejandría.

De hambre y de sed (narra una historia griega)
muere un rey entre fuentes y jardines;
yo fatigo sin rumbo los confines
de esta alta y honda biblioteca ciega.

Enciclopedias, atlas, el Oriente
y el Occidente, siglos, dinastías,
símbolos, cosmos y cosmogonías
brindan los muros, pero inútilmente.

Lento en mi sombra, la penumbra hueca
exploro con el báculo indeciso,
yo, que me figuraba el Paraíso
bajo la especie de una biblioteca.

Algo, que ciertamente no se nombra
con la palabra azar, rige estas cosas;
otro ya recibió en otras borrosas
tardes los muchos libros y la sombra.

Al errar por las lentas galerías
suelo sentir con vago horror sagrado
que soy el otro, el muerto, que habrá dado
los mismos pasos en los mismos días.

¿Cuál de los dos escribe este poema
de un yo plural y de una sola sombra?
¿Qué importa la palabra que me nombra
si es indiviso y uno el anatema?

Groussac o Borges, miro este querido
mundo que se deforma y que se apaga
en una pálida ceniza vaga
que se parece al sueño y al olvido.

  • Poema 2

Haicai

¿Es um imperio
esa luz que se apaga
o uma luciérnaga?

  • Para saber mais:

https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535920727/historia-universal-da-infamia-1935 https://deusmelivro.com/critica/historia-universal-da-infamia-jorge-luis-borges-15-4-2015/

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